ALL THAT DRUGS

CAPITULO 19: Foco

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“Como on over, and do the twist

Over-do it, and have a fit

Love you so much, it makes me sick

Como on over, and shoot the shit

- Aneurysm - Nirvana

Deixá-la na Clinica de Reabilitação tinha sido um erro no ponto de vista de Travis, mas algo dentro dele não queria contrariar Frances ali, no estado em que estava, algo nos olhos dela o impediram de puxá-la para dentro do carro e pisar fundo no acelerador, fugir para qualquer lugar longe de todos os conhecidos.

Já na parte movimentada da cidade, Travis dirigia em uma velocidade razoável pelas ruas de Aberdeen, olhando para os lados a procura de uma pousada, ou um hotel, mas nada era exatamente visível, nada se parecia com um lugar para hospedar pessoas que vinham de fora. Depois de um tempo rodando por locais indicados e encontrou; parou o carro na frente do local, mas não parecia uma pousada ou um hotel, não era chamativa, e sim humilde.

Procurou a carteira, e ficou analisando-a, tinha dinheiro ainda, mas talvez não fosse muito, talvez para uma diária, ou duas, se ele economizasse na comida. Pegou o violão e a mochila, e entrou na pousada.

- Bem vindo - um ancião de aparente mente sessenta anos disse, quando Travis entrou. - Posso ajudá-lo?

Travis suspirou, colocou o cabelo para trás, ajeitou o violão em suas costas e depositou a mochila encostada em seu pé esquerdo.

- Tem um quarto livre?

- Acho que... hum - o ancião foi até uma espécie de mural de madeira com algumas chaves penduradas em pregos e alguns pregos vazios - Todos esses.

- Hum, entendo, posso vê-los?

- Claro - o ancião pegou as chaves que estavam penduradas e começou a subir o primeiro lance de escadas. Travis pousou a mão no corrimão e inclinou a cabeça para olhar o centro; deveriam ser talvez cinco ou seis andares, teve pena do velho homem, e depois o seguiu.

Aquele andar tinha quatro portas, e aparentemente não eram cômodos pequenos, pelo que vira quando chegou, mas também não deveriam cômodos ser tão grandes, talvez medianos. Havia uma porta no primeiro andar sem uma plaquinha na maçaneta, deveria ser o disponível. O velho da recepção abriu a porta e Travis viu um lugar quase do tamanho de um apartamento de dois quartos e uma sala. Travis ajeitou a alça do case do violão nas costas e entrou no apartamento; tinha uma sala não tão grande, uma pequena cozinha, separada da sala por uma bancada de mármore branco com dois bancos de metal, depois tinha um corredor um pouco estreito, provavelmente passava uma pessoa e meia lado a lado, no meio, havia uma porta, abriu-a, tinha um banheiro que não era grande, mas pelo menos não era apertado, e no fim do corredor tinha um quarto, do tamanho da sala, com um armário branco e uma cama de casal encostada na parede, com um ar condicionado instalado na parede da cama, e do lado do armário tinha uma cortina cinza que chegava até o chão, Travis se aproximou, chegou a cortina para o lado, e tinha uma pequena varanda.

Sorriu, era um bom lugar, com uma boa vista, só esperava que não fosse tão caro.

- Parece-me que o rapaz gostou do local - o ancião arriscou com um meio-sorriso.

- Certamente - respondeu Travis - É um bom lugar, arrumado, quanto seria?

- Cento e cinquenta a diária - respondeu o velho recepcionista. Travis tirou a carteira do bolso, abriu e analisou o que tinha dentro, ele tinha duzentos dólares na carteira, teria que trabalhar para pagar o tempo necessário que fosse ficar ali. Seu sorriso sumiu aos poucos - Pelo que vejo, se me permite dizer, veio despreparado para essa viagem, faço cem dólares para você.

O sorriso surgiu novamente no rosto de Travis.

- Obrigado. - apertou a mão do velhote - mas não sei quanto tempo vou ficar, então... Sabe onde posso arranjar emprego?

Ele sacudiu a cabeça negando, Travis viu o ancião deitar o olhar em seu violão, ajeitou a alça que caía novamente por seu ombro e pigarreou, um pouco desconfortável com o olhar do ancião.

- Você toca? - perguntou o homem. Travis confirmou com a cabeça - Canta?

- Sim, senhor. - não era uma má ideia tocar em algum lugar para ganhar dinheiro, mas não sabia se daria dinheiro.

- Pode tocar em algum lugar, pode dar algum dinheiro.

Pensou no parque em que passara enquanto procurava os Hotéis, tinham muitas crianças, mas de vez em quando passavam adultos, idosos fazendo uma caminhada, e pessoas indo e voltando de seus trabalhos, ou fazendo compras nas lojas que tinham por ali.

- Obrigado pela ideia, senhor – disse entregando uma nota de cem dólares ao senhor.

- Eu que agradeço, fique a vontade.

Quando o ancião voltou-se para a escada Travis fechou a porta e foi até o corredor, indo em direção ao quarto, deixou a mochila caída na frente do armário, fechou a cortina da janela, deixando o quarto um pouco mais escuro, ainda claro pela porta aberta, foi até a porta e a fechou, deixando o quarto quase totalmente escuro sem as possibilidades de visualização dos objetos que se encontravam ali.

Pensou um pouco na situação que estava. Sentia-se confuso para saber mais alguma coisa, sentia-se como se seu cérebro estivesse sem funcionar, e não conseguia raciocinar direito, não sabia o que era o certo ou o que era errado naquela situação.

Pegou um cartucho de cigarros de dentro da mochila e acendeu um, sentiu uma leve sonolência e sentou-se na cama com o violão e seu celular ao seu lado. Logo havia uma nuvem de fumaça sobrevoando o quarto escuro, fazendo a fumaça parecer branca. Abriu o case do violão, o tirou de dentro e viu que haviam folhas de papel dentro, uma cifra de alguma música, analisou-as por um tempo, era uma das músicas que escrevera havia um bom tempo, leu-a, e fez uma careta, era uma letra melosa, e provavelmente uma das piores que já escrevera, ia amassá-la, mas algo o fez parar no mesmo instante, amassando apenas um pouco das pontas dos papéis, suspirou e voltou a guardar as folhas onde estavam. Guardá-las-ia para o dia em que estivesse no auge do sucesso, com ótimas músicas e olharia para aquela letra horrível, e diria: ”foi assim que eu comecei.”

E enquanto pensava nisso, lembrava-se de tudo o que tinha dito uma vez, dizia a si mesmo que nunca mais faria promessas para ninguém, e fizera inúmeras promessas para Frances, sem saber se poderia cumpri-las.

Pensou em o por que de que ainda tinha esperanças em conseguir fugir com Frances, ele sabia que o melhor seria ele voltar para Seattle e tentar esquecer Frances Lorance, como ela já havia lhe dito na clinica, tinha que voltar para Seattle, uma parte dele lhe dizia isso, mas outra parte gritava em seu cérebro para ele continuar em Aberdeen, e tentar fugir com Frances, e ele ia ouvir a parte que gritava, Travis já fora longe demais para desistir assim.