Steve se esticou um pouco nas pontas dos pés, apenas para observar melhor o prédio projetando-se imponente a sua frente. A Torre Stark era sempre uma visão a ser apreciada, não importava quantas vezes você passava por ela. Não que a estética futurista da construção em si fosse sua favorita, mas isso não diminuía nem um pouco o impacto visual.

Respirou fundo antes de empurrar a porta de vidro e se dirigiu a recepcionista, no canto do enorme saguão:

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— Boa tarde senhor, em que posso ajudá-lo? – A mulher, jovem, bonita e excessivamente animada o cumprimentou. Um sorriso, grande demais, grudado em seu rosto. Parecia fora de lugar naquele ambiente tão sóbrio.

— Tony-... hum... Tony Stark. Eu tenho um encontro com Tony.

Ele se sentiu ainda mais deslocado quando ela o olhou de cima embaixo. Uma expressão de descrença condescendente presa em seu rosto.

— Qual o seu nome, senhor?

— Hum-... Eu sou Steve. Steve Rogers.

Steve sentiu vontade de se virar e sair correndo, mas ele simplesmente não podia desistir ali. Foram cinco dias antes que Tony entrasse em contato. Cinco longos dias em que ele literalmente se arrastou pelos cantos, tentando fazer com que seu corpo se acostumasse novamente a ausência do moreno.

Nos últimos dez anos, Steve se contentou em fingir. Quando estava no exército, ele fingia que Tony estava esperando por ele em casa, um dia, ele iria voltar e então, os dois estariam juntos outra vez. Quando foi dispensado, tudo ficou um pouco mais difícil. Ele fingia que iria entrar em contato com Tony no próximo mês, sempre no próximo mês, quando teria um pouco mais do dinheiro para paga-lo de volta e um pouco mais de coragem para dizer a ele a verdade. Tudo aquilo não passava de besteira, é claro. No fundo, Steve sempre soube que era tarde demais. Não existia nenhum motivo plausível pelo qual Tony iria querê-lo em sua vida outra vez, restava apenas aceitar.

— Senhor Rogers? – A recepcionista o tirou de seus devaneios. A testa ligeiramente franzida enquanto o observava. – O senhor Stark está esperando por você, é só entrar no primeiro elevador.

Ele acenou afirmativamente e agradeceu antes de se dirigir ao elevador indicado. Ao entrar, deparou-se com a própria imagem no espelho. Havia olheiras roxas e profundas embaixo de seus olhos, evidencias das últimas noites passadas em claro, rolando em seu colchão e rezando por um milagre que nunca viria. Sua barba estava mais longa que o normal, mais desgrenhada e até mesmo os olhos azuis pareciam sem graça na imagem como um todo.

Quando o elevador sinalizou, as portas se abriram diretamente em uma ampla sala de estar. As paredes contrarias eram inteiramente feitas de vidro, dando-lhe uma visão panorâmica da cidade, sofás de couro escuro adornavam a sala e havia um grande piano de calda no canto. Mas nada daquilo importava porque Tony estava lá, parado no meio da sala esperando por ele, parecendo tão perfeito quanto um modelo recém saído de uma revista de moda.

— Steve! Entre, sente-se, você quer uma bebida? – Perguntou, conduzindo-o para dentro.

— Oi Tony. Não, hum... eu não quero nada.

Enquanto se sentava, seus olhos foram puxados diretamente para a caixa de cartas, cuidadosamente fechada, em cima da mesa de centro. Ele engoliu em seco e tentou segurar as lagrimas ameaçando sair. Era isso então. Foi para isso que Tony o chamou até ali, para devolver as cartas e terminar tudo de uma vez por todas.

— Steve, eu vou direto ao ponto aqui. Eu passei os últimos dias pensando sobre tudo o que aconteceu com a gente... – Tony se sentou na poltrona em frente a ele. Uma distância segura, mas que ainda assim, casual o bastante. – Eu li suas cartas sabe, todas elas.

Ele desviou o olhar e acenou para a caixa na mesa de centro e Steve sentiu-se desmoronar ainda mais. No fim, pelo menos Tony leu suas cartas. Os sentimentos de Steve foram entregues, e não importava se eles seriam rejeitados ou não, eles chegaram ao seu destinatário. Isso, por si só, já tirava um grande peso das suas costas.

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— Steve, na nossa última conversa, no seu apartamento, você me disse uma coisa. Você me disse que não conseguia ficar sem mim...

O loiro apenas acenou. Aquela conversa mal tinha começado, mas a garganta dele já estava fechada demais. Tony o olhou nos olhos e, pela primeira vez desde que ele chegou ali, havia algo quente lá, uma certeza imutável. Parecia muito pior do que qualquer coisa que Steve tinha imaginado nos últimos dias.

— Steve, você tem vivido a dez anos sem mim. – Ele sentiu quando a primeira lagrima escorreu pelo seu rosto e se perdeu na barba espessa. Suas mãos tremeram, então ele segurou uma na outra. – E você tem feito um bom trabalho, sabe? Você foi para o exército, cumpriu seu tempo lá com honras. Você fez novos amigos, amigos maravilhosos, e você tem um bar incrível no Brooklyn.

Eu não tenho você.

Era o que ele queria dizer, mas Steve manteve sua boca fechada. Ele não iria fazer isso, seja o que quer que isso fosse, ainda mais difícil do que já estava sendo. As lagrimas correndo abertamente por seu rosto eram mais do que suficientes no momento.

Eu não tive você por dez anos.

— Eu-... eu também vivi esse tempo todo sem você Steve. Eu fechei o negócio de armas do meu pai, eu reconstruí a empresa com energia verde e eu me tornei um dos homens mais bem sucedidos do mundo. Eu. Só eu. E eu estou fodidamente orgulhoso de mim mesmo.

A voz dele quebrou. Só então, Steve percebeu que Tony também estava chorando. Mesmo que a expressão firme continuasse lá, mesmo que a certeza não tivesse mudado, ele estava chorando por eles. E isso o devastou, porque tudo aquilo era culpa dele. Se não fosse por todas as incertezas infantis e todas as suas más decisões, eles não estariam ali naquele momento.

— Eu li as suas cartas Steve e então eu pensei: Certo, é isso, nós nos amamos, mas isso não significa que nós vamos ficar juntos. Eu sempre vou amar você, isso é um fato, mas nossos caminhos são muito diferentes agora e eu não sei se eles podem se encontrar outra vez. Eu pensei tudo isso Steve e de repente, parecia que conseguir o divórcio e seguir nossas vidas separados parecia minha única opção. A opção mais logica.

Foi ai que o loiro quebrou de vez, um soluço alto escapou de sua garganta e Tony se moveu, ele se ajoelhou no tapete diante de Steve, as mãos apoiadas nos joelhos dele, os olhos lindos e sinceros o encarando enquanto ambos choravam juntos.

— Tony-... eu sint-...sinto muito. – Ele soluçou, tentando inutilmente limpar as próprias lagrimas escorrendo. – Voc-... você é tã-... tão forte e e-... eu estou tão orgulhoso...

— Eu não terminei.

O moreno o cortou e Steve apenas assentiu, porque se Tony precisava falar, ele iria ouvir. Se aquela era a última vez que eles iriam se falar, ele faria qualquer coisa que estivesse a seu alcance no momento, apenas para fazê-lo feliz, mesmo que isso fosse destruí-lo. Steve teria o resto da vida para juntar os pedaços, no momento, tudo o que importava era Tony.

— O problema Steve, é que eu odeio essa opção. Eu não quero ficar sem você outra vez. Eu não quero seguir minha vida sem você.

O choque momentâneo fez com que ele parasse de chorar por um instante. As palavras, lentamente, se encaixando em sua mente.

— E então eu falei com o Rhodey, você sabia que ele está namorando a Pepper agora? Completamente inacreditável, se você quer saber minha opinião. Fofo, mas inacreditável. Mas isso não vem ao caso agora. O ponto é que eu falei com o Rhodey e ele me disse que não importa a opção mais logica. Ele me disse que pessoas não são como maquinas e que se eu estivesse disposto a te dar outra chance, eu deveria simplesmente te dar outra maldita chance. E então ele mandou eu sair do quarto porque ele e a Pepper estavam tentando dormir...

Steve não esperou que ele terminasse, ele apenas o puxou para cima e enfiou o próprio rosto na curva do pescoço de Tony, fazendo com que o moreno precisasse manobrar o corpo para se encaixar no colo de Steve, um joelho de cada lado das coxas dele. Ele inalou o cheiro dele e o segurou apertado, permitindo-se desfrutar daquela sensação incrível que parecia muito com estar em casa outra vez.

— Você está me dando uma segunda chance?

— Eu estou te dando uma segunda chance.

Depois de dez anos, o universo inteiro se encaixou outra vez.

***

Bucky acordou lentamente. Sua cabeça parecia pesada demais, a consciência ainda nadando na nevoa drogada dos remédios. Levantou as mãos e apertou as pálpebras, tentando obter alguma clareza outra vez e gemeu quando o metal gelado tocou seu rosto.

Mãos. No plural

Abriu os olhos subitamente. O braço de metal reluziu sob a luz artificial e os dedos se moveram, dançando diante de seus olhos de acordo com seus comandos involuntários.

Uma risada alta e ritmada fez com que ele se virasse para porta. Tony estava parado lá, um sorriso aberto preso no rosto bonito, os olhos castanhos e quentes o encarando.

— Então? O que você acha do seu novo braço? – Ele perguntou, finalmente se aproximando e sentando no canto da cama.

Lentamente, as lembranças voltaram a mente de Bucky. Eles haviam feito a cirurgia para implementar o suporte do ombro a três meses e, somente depois que seu corpo se adaptou totalmente com ao encaixe, eles decidiram finalmente instalar o braço em si. Ele precisou ser sedado, porque a ligação das terminações nervosas seria dolorosa demais para qualquer ser humano normal.

— É brilhante. – Foi tudo o que ele conseguiu responder. Sua mente ainda muito dispersa no momento, as emoções temporariamente contidas pelo efeito da anestesia.

— Eu posso desenvolver algum tipo de pele sintética, ele ficaria quase imperceptível. – Tony ofereceu e Bucky podia ver nos olhos dele as possibilidades já sendo calculadas, os ajustes sendo feitos. Então ele puxou uma das mãos do moreno com a sua, dedos de metal contrastando na pele bronzeada.

— Eu gosto que ele seja brilhante. Me lembra que foi um presente que você me deu. – Respondeu simplesmente e Tony sorriu.

— Para de flertar com o meu marido, idiota. – Steve os interrompeu, um sorriso enorme quase partindo seu rosto ao meio.

— Eu não posso evitar, seu punk. – Bucky gracejou quando Steve parou ao lado da cama também, rodeando Tony em um de seus braços. – Alias, onde está a Nat?

— Ela foi buscar um pouco de café, você está apagado a quase oito horas agora. – Steve respondeu.

— Eu mal posso esperar para tocá-la com minhas duas mãos outra vez. – Bucky confessou. Segurar Natasha tinha sido uma das coisas que ele mais sentiu falta em todo esse tempo. – Eu nem sei o que fazer para te agradecer por isso, Tony.

Tony apertou os dedos ao redor da mão de metal e rodeou a cintura de Steve com o outro braço.

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Nos últimos dez anos, ele havia passado por muitas fases de sua vida. Realizações pessoais e profissionais. Dificuldades, tortura, medo. Ele foi destruído e se reconstruiu mais vezes do que poderia contar nos dedos. Ainda assim, ele não se lembrava de nenhum momento em que ele tivesse sido mais feliz do que ali, com os braços de Steve ao redor dele e todas as pessoas com quem ele se importava no mundo felizes e completas.

— Você não precisa, eu tenho tudo o que eu quero bem aqui.