All Out Of Love

Famosas últimas palavras


Tony sabia que estava completamente fodido quando viu, através das paredes de vidro de seu laboratório, o Coronel James Rhodes digitando seu código de acesso no teclado eletrônico da porta de entrada. Seu melhor amigo ainda estava vestido em um uniforme formal, o que significava que ele havia acabado de chegar ao país e precisou reportar sua estadia para algum de seus superiores. Havia uma pequena ruga entre suas sobrancelhas, o que indicava que ele, muito provavelmente, se encontrou com Pepper antes de descer até ali. Ops.

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— Olá, Honeybear. – Tony o cumprimentou sem se mover de seu assento, bem no meio de centenas de hologramas brilhantes. – Eu não sabia que você estava voltando ao país.

Rhodes não respondeu de imediato. Ele contornou as bancadas de aço, dando tapinhas carinhosos nos bots que zumbiram alegremente em recepção à sua chegada e parou, bem em frente a cadeira de Tony, sem se importar nem por um segundo em estar atrapalhando o trabalho em progresso.

— Porque, diabos, tem um braço metálico na sua mesa de trabalho, Tones?

E é claro que essa foi a primeira coisa que ele notou.

Não os novos vidros espelhados e que podiam captar energia solar instalados em toda a fachada da torre Stark e nem as luzes de led que acendiam progressivamente a medida em que as pessoas andavam pelos corredores da torre. Não. O que ele notou foi o maldito braço metálico na bancada de trabalho.

— Oh, isso? É apenas um projeto paralelo, nada demais...

— Corte a besteira, Tones. Pepper me disse que você passou os últimos três dias trancado aqui em baixo trabalhando nisso sem nenhuma pausa para dormir e se nutrindo de café. Para quem é o maldito braço?

Não pela primeira vez em todos aqueles anos de amizade, Tony pegou a si mesmo analisando todos os prós e contras de ter um melhor amigo que o conhecia tão bem. Em momentos como aquele, era adoravelmente frustrante perceber que a lista dos prós era bem maior que a de contras.

Ele se levantou da cadeira, estralando as juntas enquanto andava distraidamente pelo laboratório fechando gráficos de luz azul.

— Você sabia que James perdeu um braço no exército? – E é claro que, ele até tentou ser casual sobre isso, mas o leve tremor em sua voz o traiu imediatamente.

Rhodes se encostou em uma das bancadas desocupas e cruzou os braços no peito firmemente. Naquele ponto, a pequena ruga entre suas sobrancelhas já havia se aprofundado tanto que, Tony tinha certeza, haveria um vinco marcado na pele dele por horas.

— Você quer dizer James Barnes? – Ele perguntou cautelosamente e Tony acenou em concordância. – Não, Tones, eu não sabia que ele perdeu um braço no exército e você também não deveria saber, porque ele é o melhor amigo do seu maldito ex marido caçador de ouro e nós prometemos não pesquisar a vida de Steve Rogers, certo?

Tony torceu suas mãos juntas e continuou a andar pelo laboratório. Aquela foi uma promessa que eles fizeram dez anos atrás, quando Tony passou semanas em sua cama, bebendo seu peso em álcool e chorando um volume quase proporcional ao seu liquido corporal. Havia sido bastante inteligente da parte deles para falar a verdade. Se Tony não soubesse onde Steve estava ele não poderia ir até ele e implorar para que ele ficasse. E se Rhodes não soubesse onde Steve estava, ele não iria caçá-lo e faze-lo engolir seus dentes.

Funcionou bem por dez anos, até que Tony resolveu, impulsivamente, ir resolver seus recentes problemas civis sozinho e acabou se agarrando com seu ex marido por quase cinco minutos inteiros em uma sala apertada nos fundos de um bar temático dos anos 50. Não funcionava mais tão bem agora. Tony havia passado os últimos três dias enterrado em todos os buracos da internet, vasculhando a vida de Steve como um maldito stalker sedento por informação.

— Pois é, sobre isso, talvez algumas coisas tenham mudado nos últimos dias...

— Mas que porr-...

— Nada demais, não se preocupe. Eu liguei para Bruce aliás, você se lembra do Bruce? Do MIT? – Tony desviou do assunto, não tão sutilmente assim. – Ele tem me ajudado a conseguir fazer com que as redes neurais aceitem a prótese como parte integrada do corpo. É fascinante, Honeybear, fascinante.

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— Ton-...

— Eu também falei com a Helen. Helen Cho. Você tinha uma quedinha por ela na faculdade, lembra? – Ele continuou, ignorando o olhar desesperado que Rhodes estava lhe enviando através da sala. – Ela está trabalhando na Coreia no momento, mas disse que pode vir até aqui fazer a cirurgia se nós marcarmos isso com antecedência...

A verdade era que a falta de sono sempre fazia com que Tony ficasse um pouco maníaco. Juntando isso ao fato de que ele tinha lido todo o histórico médico de Steve e Bucky no exército, e descoberto não só que o ‘surto de crescimento’ de Steve não havia sido tão natural quanto ele fizera parecer, quanto que o acidente de James foi muito pior do que o esperado; Tony não achava que ele estava tão mal quanto poderia estar. Ele estava bastante bem na verdade.

Em algum momento entre suas divagações, Rhodes havia chegado até ele através da sala. Ele segurou os braços de Tony e fez com que ele parasse de andar e o olhasse. Ele o ancorou, porque era isso que seu Rhodey fazia.

— Tony, o que aconteceu?

E foi ai que Tony finalmente lhe contou tudo. Desde o momento em que Pepper havia entrado em seu laboratório com as notícias sobre sua nova situação matrimonial em território americano até a visita ao Comando Selvagem. Ele contou a ele sobre como Steve parecia diferente agora, muito maior e mais cru, sobre o beijo no escritório e sobre como a imagem de Bucky, sem o braço esquerdo, parecia firmemente presa na parte de trás de suas pálpebras toda vez que ele tentava fechar os olhos.

— Eu posso fazer alguma coisa sobre isso, Sugarplum. Eu posso consertar. – Ele terminou, seu rosto firmemente plantado no peito uniformizado de seu melhor amigo, as mãos agarradas à barra do blazer.

— Jesus Cristo, Tones. Você vê o cara por menos de quinze minutos depois de dez anos e já está construindo uma prótese de milhares de dólares porque o melhor amigo dele perdeu um braço em missão. – Apesar de tudo, a voz de Rhodes ainda parecia afeiçoada. Gentil. – Você é inacreditável.

Tony respirou o cheiro limpo do uniforme de seu melhor amigo e finalmente passou os braços pela cintura dele. Apoiando seu peso no outro homem, deixando que ele o segurasse. Ele confiaria sua vida a Rhodes sem sequer pensar duas vezes. Não que ele já não tivesse feito isso, sua situação no Afeganistão se enquadrava perfeitamente nesse exemplo.

— Custou oitocentos mil dólares. – Ele corrigiu suavemente. – O braço. Custou oitocentos mil dólares, porque eu tive que desenvolver uma liga de titânio e ouro pela durabilidade e para auxiliar na sensibilidade sensorial que Bruce está me ajudando a implementar.

E é claro que isso fez Rhodes soltar uma risadinha entrecortada e apertar Tony ainda mais em seus braços. Alguns minutos depois, ele pegou Tony no colo, como uma noiva, e o levou de volta para seu andar residencial para que ele tivesse, pelo menos, algumas horas de sono merecido.

Aquela conversa ainda não tinha acabado. Tony sabia. Mas Rhodes sempre foi melhor que ele em aguardar o momento certo para travar suas batalhas.

***

Dois dias depois de sua chegada, Rhodes estava esparramado no sofá do laboratório, jogando uma bolinha para Dum-E e Tony estava fazendo os últimos ajustem no sistema sensorial da prótese quando Pepper entrou pelas portas de vidro.

Ela tinha aquele olhar preocupado preso em seu rosto outra vez. O mesmo que ela deu a Tony quando ele lhe explicou sobre como seu envolvimento com Steve tinha acabado. E foi assim que Tony soube exatamente o que tinha acontecido, mesmo antes que Pepper tivesse a chance de dizer qualquer coisa.

— Ele não vai assinar, não é? – Ele perguntou, concentrando sua atenção nas pequenas ligações de circuitos e não na pena abertamente estampada no rosto de sua assistente.

— Nossos advogados disseram que ele abriu mão do valor oferecido, mas ele quer passar pelas audiências de conciliação e mediação. – Ela o informou.

— Dobre o valor.

— Tony, eu não acho que essa seja uma boa ideia... – Pepper tentou persuadi-lo.

— Dobre o valor. – Ele repetiu antes de colocar suas ferramentas na bancada e voltar sua atenção para a mulher parada a alguns metros de distância.

— Vamos lá, Tony, são apenas três audiências de uma hora cada, você entra lá, ouve o que quer que ele tenha a dizer e vai embora. Não parece tão ruim.

— Sem chances, isso não vai acontecer.

Pepper o encarou por alguns instantes. Ela estava apertando os lábios em uma linha fina e lhe dando aquele olhar, aquele que ela lhe dava sempre que achava que Tony não estava sendo racional ou razoável. Agora, era apenas uma questão de tempo antes que ela começasse a gritar. Mas isso não aconteceu, porque Rhodes escolheu junto aquele momento para se levantar de seu lugar no sofá e suspirar, tão alto e teatral que era completamente impossível que aquele fosse um suspiro real.

— Ok, chega dessa porcaria. – Rhodes bateu as mãos juntas, chamando a atenção dos dois. – Tones, vá tomar banho e colocar uma roupa descente. Pepper avise o Happy que nós três vamos sair em quarenta minutos.

— O que-...

— Mas, Rhod-...

— Eu não quero ouvir reclamações de nenhum de vocês dois. – Rhodes reiterou, seus braços agora estavam cruzados sobre o peito e a voz firme. – Tony, eu não vou deixar você se esconder no seu laboratório, não quando você teve todo esse trabalho para fazer um maldito braço de um milhão de dólares para o melhor amigo do cara. Se você quer que ele saiba que você não vai a essas audiências, você vai dizer por você mesmo.

— O braço custou oitocen-...

— Pepper, você não conhece o Steve, então eu vou te dar um desconto por pensar que essas audiências vão ser qualquer coisa além de um desastre de níveis astronômicos. – Rhodes continuou, ignorando Tony completamente. – Aparentemente, você precisa de uma amostra do que é Steve Rogers na vida do Tony, então nós estamos indo para o ‘Comando Selvagem’, Jesus esse nome é péssimo, em quarenta minutos.

Pepper pareceu analisar suas possibilidades por um instante, ela abriu e fechou a boca algumas vezes, pronta para contra argumentar as afirmações de Rhodes, mas não disse nada. Por fim, ela acenou duramente com o queixo e saiu do laboratório sem qualquer outra palavra. Tony, por outro lado, ainda estava encarando seu melhor amigo, incrédulo.

— Você quer que eu me encontre com ele outra vez? – Ele perguntou com descrença. Rhodes apenas suspirou, de verdade dessa vez.

— Tony, vocês tem um problema que exige que ambos estejam de acordo para ser resolvido e pelo que eu me lembro de Steve, ele responde muito melhor a conversas diretas do que a recados e chantagem. – Rhodes explicou. – Além do mais, você não pode se esconder e esperar que seus problemas simplesmente desapareçam, foi exatamente essa atitude que gerou o problema em primeiro lugar.

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— Mas Rhodey...

— Sem ‘mas’, Tony. Você vai subir, tomar banho e vestir alguma coisa que não esteja completamente suja de graxa e nós vamos falar com Steve Rogers.

— Ok, ok! Jesus, quando foi que você ficou tão mandão? – Tony resmungou, mas se dirigiu ao andar superior mesmo assim. – Mas eu quero que você esteja ciente de que se eu acabar transando com meu ex marido caçador de ouro no banheiro de um bar temático dos anos 50, a culpa vai ser toda sua.

— Eu e Pepper vamos estar lá para manter suas calças fechadas, Tones. – Rhodes revirou os olhos para ele enquanto subia as escadas ao seu lado. – Não tem como isso acontecer.

E o que é mesmo que as pessoas dizem sobre famosas últimas palavras?