Alien Panic

Crise 18 - Mercado Intergaláctico


Crise 18 - Mercado Intergaláctico

Eu já havia usado o buraco de minhoca gerado pelo Portal Gun algumas vezes e o experiência não poderia ser mais simples. É como atravessar uma porta e entrar em outro cômodo. A diferença é que o outro cômodo pode ser qualquer lugar do universo. E era justamente isso o que estava acontecendo. Estrela sugeriu que fôssemos para um mercado em outro planeta para procurar um fermento realmente poderoso para a pizza que Mabi estava fazendo. E lá estávamos nós; Estrela, eu e...o Eduardo. Ele parecia estar se divertindo bastante, aliás.

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– Então realmente é um buraco de minhoca que conecta partes distantes do espaço - comentou ele - Muito interessante mesmo!

Mais importante do que isso: ele tinha noção de onde estávamos? Era uma outra região do universo, um local extremamente distante de nossa Terra. Isso era assustador!

– E-Estrela. A que distância estamos da Terra? - perguntei.

– Acho que mais ou menos uns quinhentos mil e duzentos e vinte anos-luz - respondeu ela.

– Anos-luz? - repeti em tom assustado.

– Oh, sim. É uma distância relativamente grande - disse Eduardo, com toda a tranquilidade do mundo - Você sabe, não é? Muitas pessoas confundem anos-luz como uma medida de tempo, mas é uma medida de distância. Simplesmente é a distância que a luz percorre em um ano. Isso é previsível, considerando que a velocidade da luz é limitada, apesar de alta. Na Terra, por exemplo, a luz do Sol demora cerca de oito minutos para nos alcançar. Você já parou para pensar que se o Sol apagasse de repente demoraria oito minutos para percebermos isso? Afinal, é a luz que carrega a informação do que acontece no Sol. Intrigante, não acha?

Aquilo era o que menos me importava naquela hora.

– E-Eu nunca fui tão longe de casa assim antes - comentei, olhando meio que assustado em volta. O local onde havíamos "desembarcado" era como se fosse uma enorme região plana, repleta de máquinas esquisitas. Qual não foi minha surpresa quando vi duas criaturas verdes, com uma cabeça enorme e apenas um olho na cara, entrando em uma delas, dando a partida e...voando!

– São mesmo naves espaciais - disse Eduardo, ainda mantendo a tranquilidade (como ele conseguia?) - A tecnologia daqui é tão avançada a ponto de naves desse tipo funcionarem como carros. Muito interessante mesmo.

– Sim. Comparado com a Terra aqui é um local bem mais equipado - disse Estrela, começando a andar à nossa frente. Tratei de acompanhá-la na mesma hora, afinal, me perder ali era a última coisa que eu queria. Apesar dos pesares, o local não parecia muito diferente da Terra. Até o céu era azul. Olhei para Eduardo. Ele amassou um pedaço de papel que tinha no bolso e o deixou cair.

– Parece que a gravidade daqui não é muito diferente da Terra - disse ele - E o ar também é respirável. Tem muitas coisas que dá para explorar nesse lugar.

– Esse lugar apenas tem condições necessárias para sustentar vida - disse Estrela - Embora a gravidade pudesse ser um pouco diferente, mas coincidentemente é a mesma da Terra.

– Então...o mercado fica muito longe? - perguntei.

– Já estamos nele - disse Estrela - Mais precisamente, no estacionamento dele.

– Mas não estou vendo o prédio - comentei.

– Claro que não. Ele fica há muitos quilômetros de distância daqui - respondeu ela.

– Como? Não temos tempo para andar tudo isso! A Mabi vai sentir nossa falta! - reclamei.

– Não pense que está na Terra - disse Estrela, apontando para um tipo de esteira dentro de um caminho cercado por um tipo de tubo transparente - Eles possuem uma esteira rolante aqui.

– Esteira rolante? - perguntei.

– Basta entrarmos nela e chegaremos rapidamente ao prédio - disse Estrela, já se dirigindo até a tal esteira.

– E-espere!

Eduardo parecia estar gostando bastante da viagem, apesar de seu jeito tranquilo. Eu estava mesmo preocupado. Será que aquele lugar era mesmo seguro? Assim que entrarmos na esteira, nossos tornozelos foram presos por um tipo de algema automática. Uma espécie de grade também subiu automaticamente e nos fechou pela frente. Seria uma armadilha?

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– O que é isso?! - gritei assustado.

– Não precisa gritar, Vitor - reclamou Estrela - Isso é só uma medida de segurança.

– Segurança?

– Sim. Você já vai entender.

A esteira foi ligada e fomos acelerados à uma velocidade absurdamente alta. Era muito, muito rápido mesmo. Nem em um parque de diversões eu sentiria o que acabei de passar. Em poucos segundos, já havíamos chegado à entrada do mercado.

– O que foi isso? - perguntei, ainda atordoado.

– Certamente alguma tecnologia de forte aceleração - teorizou Eduardo - Muito útil, considerando a distância que o prédio fica.

– Estrela! Se você tinha o Portal Gun, por que não nos levou direto para dentro do prédio? - reclamei.

– Até poderia, mas o lugar é muito cheio e estabeleceram uma regra que proíbe uso de portais dimensionais ali dentro. Faz sentido, afinal, um lugar lotado com pessoas aparecendo do nada só ficaria mais caótico - respondeu ela.

– Tudo isso só para comprar fermento - lamentei.

– Tenho certeza que Mabi fará uma ótima pizza com um fermento daqui - disse Estrela, em uma frase terna, mesmo que ela não esboçasse muita emoção.

– Fico feliz que esteja preocupada com Mabi - disse Eduardo.

– Tive uma certa empatia por ela - prosseguiu Estrela - Mabi tem um sonho, assim como eu também tenho. Quero me tornar uma autoridade em ecologia espacial. Preciso estudar muito para isso e ainda tenho minha missão a cumprir. Sei como é difícil correr atrás dos seus sonhos.

É verdade. Estrela tinha a missão de descobrir a origem dos buracos de minhoca que estavam pipocando lá na Terra. Isso também era um sonho, não era? E agora eu ainda me sentia mal por não ter um sonho bem definido.

– Mudando de assunto - disse Eduardo - Imagino que o mercado também seja muito grande por dentro.

Sim, é verdade. Se o estacionamento era daquele tamanho, imagino como deveria ser o mercado. E, de fato, assim que entrei quase cai para trás. O lugar era enorme, gigantesco. E também devia usar o princípio de ser maior por dentro. Aquele local devia ter o tamanho de uma cidade.

– Bem, quero pegar uns doces. Ainda bem que a sessão de doces é bem perto da entrada - disse Estrela - Depois podemos pegar a esteira interna e passar na sessão de fermento.

– É realmente muito lotado, não é? - reparou Eduardo.

Eu não sei nem por onde começar. Andando pelos corredores estavam as criaturas mais bizarras que já vi. Era como se eu estivesse dentro de um filme de Star Wars. Seres rosas com tentáculos, criaturas com quatro braços, bolhas com um olho só flutuando e até mesmo algumas criaturas humanoides, parecidas conosco (mas se você olhasse com mais cuidado, perceberia que elas tem duas cabeças). Talvez o mais curioso de todos fosse um funcionário idêntico a um panda levando um carrinho cheio de queijos.

– Como eu disse, é um ponto comercial famoso por vários locais do universo - disse Estrela - Não se preocupem, eu pago o fermento. Tenho um cartão intergaláctico para essas coisas mesmo.

– Não acho que a Terra considere cartões intergalácticos em sua economia - disse Eduardo - Como você consegue pagar as coisas lá?

– Ouro - respondeu ela.

– Ouro? - perguntei.

– Ouro é um material encontrado em vários lugares no universo e é valioso no planeta de vocês. Só precisei trocar a verba que recebi por ouro em um outro planeta e vender esse ouro na Terra para conseguir dinheiro do seu planeta. Pelos meus cálculos, tenho verba o suficiente para sobreviver na Terra por mais de dez anos.

– Bem, vai depender dos momentos de crise também. Nossa economia pode ser bem complicada - disse Eduardo.

– Imagino. Vocês ainda usam dinheiro em papel, quando já poderiam usar dinheiro virtual. Vocês ainda estão engatinhando na tecnologia da informação - respondeu ela, para variar, criticando o atraso da Terra mais uma vez.

– Outra pergunta - continuou Eduardo (aquele cara realmente não cansava de falar) - Se há tantos nativos de regiões diferentes do universo, como eles se entendem?

– Existem várias tecnologias de tradução universal capazes de reconhecer padrões de significado independente do idioma. Eu consigo me comunicar com vocês na Terra graças a um chip que tenho implantado - dessa parte eu já sabia. Estrela havia me contado algo assim quando nos conhecemos - Mas aqui no mercado nem precisaria ter um desses. Eles usam um aparelho que envia ondas eletromagnéticas especiais que permitem a tradução. É como o wi-fi da Terra, mas para tradução automática de idiomas.

– Muito interessante mesmo - disse Eduardo, cada vez mais admirado - O universo é mesmo fantástico. É lamentável que a Terra ainda esteja tão atrasada.

Ele parecia estar gostando de cada minuto do passeio. Embora para Estrela fosse apenas uma ida ao mercado, para nós era uma experiência única. Estávamos em um lugar onde nenhum humano jamais esteve. A maioria das crianças pensa em ser astronauta quando crescer. Bem, no fundo eu nunca pensei nisso. E olha só onde estou agora: a mais de quinhentos mil anos-luz do meu planeta. Imagino quantas crianças estavam com inveja de mim agora. Se eu contasse, ninguém acreditaria. E foi aí que, ao me virar para uma das prateleiras da sessão de doces, vi algo que ninguém acreditaria mesmo!

– Ei - falei, apontando para uma porção de balas na prateleira - São balas Joquinha! Elas eram vendidas perto de casa.

– Do que está falando? - perguntou Estrela.

– Tenho certeza absoluta - teimei.

– É verdade - confirmou Eduardo - Faziam muito sucesso nos bares e padarias.

– Exato - continuei, pegando várias delas na mão - Pararam de fabricar essas balas há pouco tempo. Como vieram parar aqui?

– Mas a embalagem nem está no seu idioma - disse Estrela.

– Mas reconheço o logotipo! - falei - Como você explica isso?

– Talvez o fabricante tenha sido um alienígena. Ou algum alienígena pegou a receita da bala. Essas coisas acontecem - explicou a garota.

– Então você admite que chegam a pegar ideias da Terra? - perguntei.

– Pegam ideias de vários lugares. Ah, sim, aqui está o doce que eu queria - disse Estrela - Vamos pegar o fermento agora.

Apesar do tempo ser curto, gostaríamos muito de passar mais tempo ali. Eram muitas coisas inacreditáveis. Comidas exóticas, objetos tecnológicos dos mais avançados aos mais estranhos e produtos muito difíceis de explicar em palavras. Algumas coisas eram bem pequenas, outras mais espalhafatosas. Não sei dizer. Você precisa ir lá algum dia para saber! Bem, é um pouco longe: mais de quinhentos mil anos-luz e será difícil chegar sem um buraco de minhoca, mas é realmente incrível.

Depois de finamente acharmos um tablete de fermento biológico, pegamos mais uma longa viagem de esteira até o caixa. Pelo menos a esteira no interior do mercado tinha uma velocidade mais suportável. E, por sorte, o caixa não era muito longe. Mas eu não podia contar com algo que aconteceria no intervalo de tempo mísero entre descer a esteira e chegar até o caixa. Ali perto de nós estava uma mãe de pele verde gelatinosa, quatro dedos e um único olho gigante acompanhada de seu pequeno filho, com o mesmo tipo de corpo, mas usando um boné que continha uma pequena hélice no topo.

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– Mãe, compra, por favor! - gritava ele.

– Mas já compramos tudo que precisávamos, inclusive doces.

– Mas eu quero! - dizia ele, berrando cada vez mais. Então quer dizer que essas coisas também existem fora da Terra.

Estrela apenas ignorava o que ocorria e entrou na fila. Eu observava a cena constrangido (como também acontecia na Terra quando via algo assim). Parece que o pequeno alienígena estava interessado em um tipo de doce roxo que eu não reconheci. Tente desviar o olhar da cena e nada disso parecia que iria nos afetar, até que o garotinho resolveu sair correndo (e chorando).

– Você não gosta de mim, mesmo! - dizia ele, berrando.

– Splut, volta aqui...ai, você fica onze meses chocando um ovo para isso - reclamou a mãe. O garoto simplesmente saiu correndo e, no meio do caminho, acabou me empurrando. Sem querer, acabei tropeçando na gôndola de produtos logo à minha frente, derrubando várias garrafas de bebida que, por sua vez, atrapalharam um pobre funcionário humanoide azul e de orelhas pontudas que estava de patins, fazendo-o mudar seu caminho para uma seção de toalhas, onde uma das toalhas o atingiu no rosto, impedindo sua visão e fazendo-o derrubar toda uma prateleira de latas de ervilha (eu acho).

– O que você fez? - indagou o rapaz no caixa, um humanoide parecido com os terráqueos, mas tinha três olhos e não parecia nada feliz.

– Foi...o garoto que me empurrou - reclamei.

– Então vai culpar a pobre criança, agora? - retrucou o funcionário do caixa.

– O que você fez, Vitor? - reclamou Estrela - Por sua culpa, todas aquelas latas de arpules caíram.

– Ar...o quê? Não são ervilhas?

– Não seja bobo! Ervilhas são coisa comum. Mas arpules são muito difíceis de cultivar. Tudo aquilo é super caro! - Estrela não expressava, mas parecia nervosa.

– E agora? O que vamos fazer? - lamentou Eduardo.

– Vai ser um saco explicar isso - reclamou Estrela.

– Vão ter que ficar aqui - disse o funcionário do caixa - Vão ter que resolver isso com o gerente!

Mas a culpa não foi minha! Eu acho...