Crise 136 – O Último Fragmento

—É isso mesmo – disse Estrela, depois de conferir o radar mais uma vez – Está nas mesmas coordenadas do Setor W.

—Setor W? - repetiu Mabi – É sua terra natal, não?

—Sim. Justamente o lugar que estamos enfrentando – retrucou Estrela – Não acredito que não percebi isso antes.

—V-Você...não sabia mesmo? - perguntei.

Estrela suspirou e desligou seu Portal Gun.

—Bem, não estava me importando muito com a ordem – respondeu ela – Bem, mas talvez seja melhor que lá fique por último.

—Mas se você já conhece o Setor W não é mais fácil? - perguntou Mabi.

—Creio que não – respondeu Eduardo – Se entendi bem tudo que Estrela e Vitor nos contaram, o Setor W agora é inimigo dela.

—Não que eles vão me prender ou algo assim – disse Estrela – Ou talvez prendam...já que eu deveria aguardar a chegada deles na Terra, estaria contrariando uma lei diplomática.

É meio irônico um lugar em que os habitantes podem ir e vir por portais dimensionais para qualquer parte do universo ter diplomacia. Mas quem sou eu para discutir...

—Bem, se o fragmento está mesmo no Setor W – disse Estrela, enquanto começava a caminhar pelas ruas do festival gastronômico – Certamente, não está de posse dos governantes.

—Como pode ter tanta certeza? - perguntei.

—Simples. Se eles estivessem com o fragmento, já teriam usado tecnologia para procurar as outras partes há muito tempo – respondeu ela, enquanto comprava alguns doces em uma das barracas – Como eles nem sabiam que existe mais de um fragmento, com certeza não está com eles.

—Olha, isso pode ser uma vantagem – disse Estrela.

—Bem, tome – disse ela, entregando um doce para mim.

—Puxa, obrigado – falei.

—É bom comer bem – disse ela – Se vamos mesmo para o Setor W, não sabemos quando teremos outra refeição decente de novo.

—A situação está tão ruim assim? - perguntou Mabi, sem desgrudar do troféu que ganhara no concurso.

—É, podemos dizer que não vai ser lá muito fácil – disse Estrela – Mas não se preocupe, difícil não quer dizer impossível. Se o Setor W conseguir o que quer...

—Irá abrir portais para outras dimensões provavelmente – disse Eduardo – É, é um plano bem ambicioso.

—Mas dá mesmo para fazer isso? - perguntou Mabi.

—Bem, conhecemos pouco do universo – disse Eduardo – Não sabemos nem se ele é o único que existe. Nossa ciência tem várias teorias de multiverso.

Sim, ele iria começar. Estrela devia ter comprado pipoca ao invés daquele doce (que eu não sabia dizer direito se era um bolo ou um pudim).

—Por exemplo, se nosso espaço-tempo for fechado, ele poderia estar em um espaço-tempo maior, junto com outros universos. Talvez os universos sejam apenas bolhas espalhadas por um grande hiper-espaço – disse ele.

—Será? - indagou Mabi.

—Mas existem teorias mais simples. De acordo com uma interpretação da física quântica, sempre que você faz uma escolha, o universo se divide em várias linhas diferentes. Se for verdade, vivemos em apenas uma das várias linhas do tempo possíveis.

—Isso não é novidade – disse Estrela – Afinal, já alteramos a linha do tempo quando viajamos para o passado aquela vez, não alteramos? Só que deu muito trabalho...

—Então...será que existem universos com pessoas iguais a nós? - perguntou Mabi.

Pensei nisso um pouco. Será que existe um universo em que Mabi e eu estávamos juntos? Seria ótimo!

—Talvez. Mas elas seriam apenas parecidas com a gente – disse Eduardo – Acho que cada indivíduo é único.

—Não acha que estamos complicando demais as coisas? - comentei – Eles precisariam dos cristais Eternium para fazer isso, não precisam?

—Sim – disse Estrela – E já temos quase todos os três. Só precisamos pegar esse último fragmento lá no Setor W. Então, vamos?

—Puxa, queria muito conhecer sua terra natal, Estrela – disse Mabi – Mas tenho um compromisso com a minha família hoje. Eduardo também vai comigo.

—Que seja. Mas você não tem compromisso nenhum, não é, Vitor? - perguntou Estrela, olhando bem nos meus olhos.

—N-Não – gaguejei.

—Ótimo. Vamos nisso até o fim agora – disse ela – Afinal, se sobrevivemos até aqui, podemos continuar sobrevivendo. Se bem que o Setor W pode ser um desafio bem grande...

—Esse discurso não está me motivando – falei.

—Vocês..realmente se dão bem, né? - reparou Eduardo.

—O que exatamente você quer dizer? - perguntei.

—Ah, isso é verdade. Eles se dão bem mesmo – disse Mabi – Acho que é até melhor não irmos. Não queremos atrapalhar.

—O que é isso? Vocês não atrapalham em nada – foi o que respondi (se bem que o Eduardo, bom, deixa para lá).

—Vitor, vamos logo – disse Estrela, já abrindo um portal – Vamos levar Mabi e Eduardo de volta para a Terra.

—Tá...vamos lá – respondi prontamente.

—Ah, sim. Obrigada pela oportunidade – falou Mabi – Nunca imaginei ganhar um prêmio em uma competição intergaláctica!

—Imagine - comentei - Nós é que agradecemos. Sem você, seria bem mais difícil pegar o fragmento.

—E o que irá dizer para seus pais quando perguntarem que concurso foi esse? - perguntou Eduardo.

—Ah, é verdade. Precisamos inventar alguma história, né? - concordou Mabi.

—Pensem nisso lá na Terra – falou Estrela – Vamos logo.

E assim entramos no portal e deixamos o casal próximo à casa de Mabi, na Terra. Depois disso, voltamos para a casa de Estrela e deixamos o terceiro fragmento lá.

—Bem,Vitor. Agora é o último – disse ela, enquanto eu tentava me livrar de Plum que, para variar, quase me derrubou – Mas não sei se vou conseguir passar pelo Setor W sem ser percebida.

—Se eles descobrirem que estamos lá, teremos problemas, não é? - perguntei.

—Sim – respondeu Estrela – Na situação em que estamos, não seria bom se Aster me pegasse por lá. Mas não é como se estivéssemos proibidos de pisar no Setor W.

—Então...vamos nessa – disse, tentando expressar uma animação – Preciso confessar que estou curioso para saber como é esse Setor W que você tanto fala.

—Você verá logo – Estrela abriu um portal e entramos nele imediatamente. Caímos em um local muito branco, praticamente sem mobília e alguns tubos estranhos na parte de cima. Parecia ser algum tipo de sistema de refrigeração ou algo assim. Apesar disso, a temperatura estava bem agradável.

—Então...aqui é o Setor W? - perguntei. Queria olhar pela janela, mas não tinha nenhuma por perto.

—É – disse Estrela – Mais precisamente...aqui é a minha casa ou, talvez seja melhor dizer, a casa dos meus pais.

—Seus pais? - repeti. Caraca, será que eu iria conhecer os pais dela? Realmente, eu estava curioso. Como será que eles são?