Alien Panic

Crise 10 - Cabelos e Insetos


Crise 10 - Cabelos e Insetos

Acompanhei Estrela até a casa dela (de qualquer modo, ela provavelmente me puxaria pela camisa se eu não o fizesse). O impressionante efeito de espaço compacto ainda me impressionava muito e, claro, assim que coloquei os pés lá dentro fui imediatamente atacado por uma samambaia em forma de cachorro (ou talvez um cachorro em forma de samambaia...sei lá). Era a Plum. Ela pulou em cima de mim, me derrubando e me lambendo, sem dar a menor chance para que eu reagisse.

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– Olha só - disse Estrela, se virando rapidamente para trás - Ela já está gostando de você.

– Se acostumou tão rápido assim? - questionei.

– É como eu disse. Ela só precisava se acostumar com o seu cheiro. Cães plantas são muito amigáveis - respondeu Estrela. Mas devo lembrar que a lambida de Plum era uma das coisas mais esquisitas que você pode experimentar. Apesar dos pesares, consegui me desvencilhar dela e segui Estrela até um tipo de plataforma. Ela faz um sinal para que eu suba junto e, puf, somos transportados para outra área da enorme casa dela.

– O-onde estamos? - perguntei.

– Na minha casa - respondeu ela secamente.

– Aqui também faz parte da sua casa? - não conseguia parar de fazer perguntas. Veja, saí de uma sala gigantesca para entrar em um outro tipo de sala, tão gigantesco quanto e com ainda mais aparelhos tecnológicos que eu não conhecia. Tinha também algumas coisas estranhas mergulhadas em líquidos borbulhando ou algo assim. Elas não pareciam vivas, mas talvez já tenham vivido algum dia.

– Aqui é o meu laboratório - respondeu Estrela - É aqui que costumo estudar e pesquisar.

– E-espero que eu não acabe nesses tubos gigantes algum dia - comentei, apontando para as coisas mergulhadas.

– Relaxe. Só mexo com criaturas já nascidas em laboratório. Mas é muito difícil fazer isso com seres como humanos, que não conseguimos controlar muito bem.

A opinião dela sobre terráqueos nunca mudaria. De qualquer modo, a intenção de Estrela era analisar o fio de cabelo que ela conseguiu de Bruna. Iríamos ver, afinal, qual era o problema daquela garota. Estrela colocou o fio de cabelo em um tipo de compartimento em uma das máquinas do canto da enorme sala e ligou o computador. Após alguns poucos segundos, o sistema já havia retornado um resultado. Os números estavam bagunçados demais para mim, mas Estrela parecia entender tudo muito facilmente.

– Oh, entendo - disse ela.

– O que aconteceu? Qual o problema?

– Veja - ela apertou um dos botões e a tela exibiu um tipo de inseto ou algo assim. Não era muito diferente do que já vi em livros de ciências, mas naquela situação certamente era um tipo de alienígena.

– O que tem esse bicho?

– Nesse planeta existe um tipo de criatura que pode se reproduzir no couro cabeludo de uma pessoa, não tem?

– Piolhos? - indaguei.

– Exato - respondeu Estrela - Esse é o caso.

– Está dizendo que a Bruna tem piolhos? Com um cabelo tão bonito essa era a última coisa que eu pensaria!

– Não é o mesmo piolho da Terra - disse Estrela - Isso é um nanoinseto de cabelos.

– Um o quê?

Estrela suspirou, mas continuou a explicar.

– É um tipo de inseto alienígena, mas é nanoscópico. Significa que é um milhão de vezes menor do que um milímetro.

– Caraca, mas isso é muito pequeno! O seu Portal Gun conseguiu detectá-lo mesmo assim?

– O poder de computação do Portal Gun é absurdamente alto - respondeu Estrela, orgulhosa - Mas isso é ruim, precisamos retirá-lo do cabelo da Bruna o quanto antes.

– Ele se reproduz rápido? Ele pode causar uma epidemia de piolhos!

– Acalme-se. Ao contrário do piolho da Terra, ele causa coceira ou algo assim. Ele é tão pequeno que certos tipos de bactérias são ainda maiores do que ele. Na verdade, caracterizá-lo como um inseto seria até incorreto na biologia de vocês, mas há muitos seres complexos fora da Terra com tamanhos muito reduzidos. Ele é uma estrutura bem mais organizada do que você imagina.

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– E por que uma forma de vida pequenininha dessas seria tão perigosa?

– Respondendo sua pergunta: sim, ele se reproduz rápido. E o problema está justamente no tipo de reações que ocorrem no cabelo de uma pessoa.

– Como assim?

– Essa Bruna certamente deve usar xampus e condicionadores, certo?

– Imagino que sim.

A resposta foi modesta. É claro que sim. Na verdade, ela deve lavar o cabelo umas três vezes por dia, para ter um cabelo tão perfumado daquele jeito (mas ainda prefiro a Mabi).

– Colônias desse tipo de nanoinseto podem gerar um efeito emergente de catalisação dos efeitos de cosméticos capilares.

– Como? - desculpe se sou apenas um aluno do Ensino Fundamental. Estrela suspirou de novo.

– Espere um pouco.

Ela abriu um dos armários e pegou um pequeno frasco. Ela pingou algumas gotas do líquido no frasco naquele fio de cabelo e esperou alguns segundos.

– O que aconteceu? Para mim não mudou nada! - disse, mas Estrela praticamente puxou minha cabeça para olhar na tela do computador.

– O computador acusou um aumento no comprimento do fio de cabelo - disse ela - Resumindo: esses bichinhos conseguem se adequar aos produtos químicos de xampus e condicionadores para gerar crescimento do cabelo. É algo parecido com as teias produzidas por aranhas. O fenômeno é simplesmente fantástico do ponto de vista científico.

– Tá brincando? Isso resolveria todos os problema de calvície aqui da Terra!

– Foi o que os pesquisadores pensaram. Mas o fenômeno é muito difícil de controlar. Se ela não remover logo essa praga, o cabelo da Bruna pode crescer sem parar.

O cabelo de Bruna já era um pouco comprido. Se crescesse mais poderia chamar a atenção. Sei lá, não gosto tanto assim de cabelos muito, muito compridos. Mas ela disse...crescer sem parar?

– Vamos ver...colocando alguns valores iniciais... - Estrela jogou alguns números no computador e um gráfico surgiu na tela - Partindo do cabelo como está agora e supondo que ela use produtos capilares todos os dias, por esse gráfico, dentro de umas três semanas a partir de agora, ela já deve ter uns dois metros de cabelo.

– Dois metros? Qualquer um perceberia que tem alguma coisa errada se o cabelo passasse da cintura, não acha?

– Bem, não posso prever o comportamento de todos vocês, terráqueos.

– Tá, tá. E dá para evitar isso, certo?

– A festa é só no sábado. Até lá talvez ela não perceba tanta diferença no crescimento do cabelo.

– Vai esperar até sábado? Não pode fazer alguma coisa até lá?

Mesmo sendo a Bruna, é claro que eu estava preocupado. Apesar disso, Estrela não pareceu muito tolerante com a minha ansiedade.

– Para resolver esse problema preciso fazer com que Bruna use um xampu com efeito reverso. Eu não tenho ele aqui e não vendem algo tão específico assim nas farmácias comuns do universo. Vou ter que prepará-lo e isso demora pelo menos uns dois dias para ter o efeito esperado. Além disso, o melhor jeito de fazer isso sem levantar suspeitas é colocando o antídoto no próprio frasco de xampu que a Bruna usa. A melhor hora que terei para fazer isso é na própria festa do pijama dela. Tenho ou não tenho razão para esperar até sábado?

– Tá, tudo bem, entendi - respondi - Apenas fiquei preocupado...

– Ela vai ficar bem. O crescimento não é linear. Por outro lado, se os nanoinsetos se adaptarem, o crescimento pode aumentar muito em um curto intervalo de tempo...mas até a festa ainda podemos ficar tranquilos.

– Sendo assim, não parece difícil, né? Não vou precisar ir com você nessa festa só de meninas, correto? - perguntei, vendo que, apesar do risco em relação à Bruna, a ameaça não era tão complicada assim.

– Do que está falando? Claro que sua presença será necessária.

– Como? O que eu tenho para fazer lá? Você só precisa entrar e trocar os frascos, não?

– Seria fácil se fosse apenas o xampu da Bruna. Bastaria entrar no banheiro dela e trocar. Mas tenho que fazer isso em todos os frascos de xampu da casa.

– Todos?

– Sim. Não há nenhuma garantia de que os nanoinsetos não tenham sido passado para os pais ou parentes dela. Não vai ser fácil fazer isso sozinha.

Então eu tinha mesmo que ir na festa?

– Mas é uma festa só de meninas. Não vai querer que eu me vista de menina e entre lá, vai? - falei isso, tentando afastar da minha imaginação a figura de mim mesmo usando vestido, maquiagem e maria-chiquinhas no cabelo.

– Não daria certo. Você não tem uma boa aparência para isso e também nem foi convidado.

– Então o que vou fazer?

– Vai ter que se infiltrar na casa sem ser visto - disse ela - Essa é a sua missão, Vitor.

Entrar na casa sem ser visto? Acho que não joguei videogame o bastante para isso...será que consigo?