Alguém Como Você

Capítulo XXXV - Redenção


Alguém Como Você

Por Myuky e ReH-San

Capítulo XXXV – Redenção

- SUIGETSU!!! – gritou incrédula, dando-se conta de quem era aquele homem.

- Você se lembra de mim, Raio de Sol! – sua voz soou extremamente feliz, já que nunca imaginou que a veria novamente, fez menção de ir até ela para abraça-la, mas a ruiva deu um passo para trás, aparentando querer distância olhando desconexa para o chão. Na verdade sua mente estava sendo bombardeada por lembranças – Raio de Sol... Você está bem? – indagou ao perceber a reação da moça. Karin levantou a cabeça com uma expressão sombria.

- Não me chame de Raio de Sol, sou Uzumaki Karin, você deve ter me confundido com outra pessoa e se te reconheci foi mera coincidência, agora faça o que veio fazer e vá embora – disse a ruiva friamente. Suigetsu por um momento ficou sem reação ao ouvir aquelas palavras, como uma pessoa muda assim tão de repente? Foi o que se perguntou, mas recomposto do susto e ainda analisando a ruiva que o encarava determinada, ouviu seus lacaios entrar no hall.

- Averiguem cada centímetro dessa casa, só saímos daqui quando tivermos certeza que Uzumaki Toshyo não está, entendidos? – falou autoritário.

- HAI!! – foi à resposta que ouviu antes dos homens se moverem.

- Uzumaki-san aqui estão os mandados e realmente você não é a Raio de Sol, ela era bem diferente... – disse com certa decepção, entregando-lhe as folhas e desaparecendo em seguida. A ruiva sentiu uma pontada no peito ao ouvir aquilo misturado com a vontade de chorar, fechou os olhos, respirando profundamente, para em seguida abrir e dar um sorriso de canto “Ele realmente conseguiu” pensou. Fitou os papéis em sua mão, não entendia muito sobre questões da justiça, mas se tinha algo que podia ver claramente era que seu pai estava encrencado e que havia levado a família junto, pois não foi apenas pela prisão que a polícia estava ali, em anexo outra folha informava que tudo estava sendo confiscado por tempo indeterminado, ao ler isso uma vertigem lhe tomou, só não caiu, pois o mordomo vinha ao seu encontro e a segurou.

- Senhorita Karin, você está bem? – indagava o homem.

- E... E... Es-t-o-u – tentou responder, enquanto por instinto queria se por de pé, apesar de tudo estar girando.

- A senhorita não está bem... – insistiu.

- Não se preocupe Jin, estou bem – agora sua voz não falhara, mas ainda estava atônita.

- Jin, pode me dizer o que... Karin, filha você está bem? – a voz soou pelo lugar, a passos rápidos se aproximou da ruiva, envolvendo-a – Jin pegue um copo d’agua para ela, rápido. Venha meu amor, venha... – Karin foi guiada até ao pé da escada onde foi colocada sentada – Querida você está bem? Fale comigo, por favor! - implorou a voz insistente, a ruiva por impulso a abraçou chorando – Karin querida está tudo bem, está tudo bem... – repetiu afagando os cabelos da moça, tentando acalmá-la.

- Senhora aqui está à água – avisou o mordomo.

- Karin, meu bem beba um pouco de água e se acalme, preciso saber o que está havendo – explicou a mulher, enquanto afastava a mais nova, Jin entregou-lhe água que a ruiva recebeu com as mãos tremulas. – Jin, sabe o que está havendo? – indagou a mulher levando o mordomo para um canto.

- Não sei Mariem-san, eu ia perguntar o mesmo para a senhorita Karin – explicou.

- Claro... – a mulher falou fitando a filha que tomava água. – Vou ver se ela se acalmou, arigatou Jin – o homem se retirou, enquanto a mulher de com seus 39 anos, orbes castanhos, cabelos da mesma cor, pele alva, estrutura mediana dirigia-se até a mais nova – Karin? Está melhor? – a ruiva a fitou chorosa.

- Perdemos tudo okaa-san, tudo... – repetiu.

- Como assim? – Karin estendeu-lhe a mão com os papéis – Ele está sendo acusado de estelionato? – indagou incrédula levando uma das mãos sobre a boca – Isso é definitivamente o fim, o fim... – falou com fúria – Karin, vá para o carro e ligue para o advogado. – pediu a mulher visivelmente nervosa.

- Okaa-san... – a ruiva tentou protestar.

- Faça o que estou pedindo pelo menos uma vez Karin! – bradou, a mais nova apenas assentiu, deixando a mãe só. Avistou um homem descer as escadas. – Toshyo, não está aqui – avisou.

- É o que estamos verificando – respondeu ríspido – Você é?

- Uzumaki Mariem - apresentou-se.

- Capitão Hozuki Suigetsu, senhora por mais que digam que ele não está às ordens são claras, saímos apenas quando for certo.

- Eu entendo – respondeu meneando a cabeça – Ele está desembarcando daqui 20 minutos no aeroporto... – avisou enquanto saia da casa.

...

- Finalmente darei um fora daqui, já não aguentava mais! – comentou extremamente animado enquanto terminava de fechar a pequena mala.

- Ainda bem, mas terá de fazer acompanhamentos, ouviu o que médico disse otou-san – avisou à morena. Yuichi fez uma careta tentando arrancar um sorriso de Hinata, mas essa permaneceu séria.

- Não se preocupe anjo, farei os acompanhamentos – respondeu tentando acalmar a garota.

- Claro que fará, iremos nos revezar e te acompanhar – disse sorrindo.

- Já está tudo resolvido, estamos prontos? – indagou entrando no quarto.

- Hai!! – pai e filha responderam.

- Então vamos...

Seguiram os três para o estacionamento do hospital em meio há conversas e risadas, Hinata estava radiante depois daquele final de semana turbulento, agora tudo seria diferente, sentia como se nada do que vivera meses antes fosse real, era apenas uma lembrança que caia pouco a pouco no esquecimento.

- Otou-san agora você pode escolher... – comentou rindo.

- Não sei, é tentador ficar na mansão, mas aquele apartamento na cobertura foi definitivamente a melhor compra que fiz – disse pensativo.

- Vai me deixar? – indagou com um ar preocupado o Hyuuga mais novo.

- Verdade, preciso ficar de olho no Neji – brincou – Já sei, temos dois quartos vagos, se quiser um é seu e pode ficar conosco sempre que quiser, o que acha?

- Será ótimo, mas posso levar o Snow? – inquiriu à morena.

- Snow? – o homem tentava lembrar-se de quem se tratava.

- Sim, meu cachorro – respondeu sorrindo.

- Sempre quis ter um cachorro – comentou frustrado Neji.

- Quis é? Por que nunca falou? – indagou Yuichi preocupado por não saber o desejo do filho.

- Achei que não ia deixar... – lamentou.

- Ah, que isso, meu filho é um adulto frustrado por não ter tido um animal de estimação na infância. Pode falar, qual a raça? Compramos no caminho de casa! – Hinata gargalhou do que o pai falara e Neji o fitava perplexo – Que foi? Você disse que queria um cachorro, vamos comprar um – explicou o óbvio para o mais novo, que em seguida riu. Assim saíram do hospital dentro do carro que era conduzido por uma Hyuuga sorridente.

...

Estavam sentadas no banco esperando a liberação para entrar, a ruiva fitava o nada pensando como as coisas ficariam dali em diante, pois o que era “perfeito” estava desmoronando, mas não era de agora e sim à muito tempo, só que o ocorrido significava de fato o fim, que ela antes não queria enxergar. A mulher ao seu lado séria queria mais do que nunca enfrentar aquele ser desprezível e dizer que aquilo era o fim do relacionamento, não fizera isso antes por se preocupar com a filha, mas agora faria, ela e Karin ficariam bem, claro que Karin teria de se acostumar a não ter todo o luxo, já que por mais que ganhasse uma boa quantia trabalhando como publicitária, não se comparava a tudo que a filha tinha. Odiava que Toshyo tenha apoiado a postura tomada pela moça enquanto criança, quando encontrara Karin naquele orfanato se encantara por ela ser justamente o oposto, agora era uma mulher mimada e cheia de se achar melhor que os outros. Suspirou cansada, vendo uma silhueta se aproximar.

- Hiroshi-san! – falou surpresa, ao ver o homem alto, cabelos castanhos escuros, olhos azuis, pele branca, com idade aproximada de quarenta anos, se aproximar.

- Mariem-san, Karin-san – a ruiva acenou com a cabeça levemente – Toshyo me ligou, pediu para que viesse.

- Hum... – murmurou a mulher pensativa – Quer mesmo trabalhar para ele? – indagou o fitando curiosa.

- Como assim? – Karin ouvia tudo calada.

- Quero dar entrada no divórcio e preciso de um advogado, se não for trabalhar para ele, eu gostaria que trabalhasse para mim. – explicou de uma vez sem rodeios, a ruiva que observava arqueou a sobrancelha, agora mais que nunca tinha certeza, de seus pensamentos anteriores.

- É sério? – indagou o homem perplexo, não imaginava uma atitude daquelas.

- Sim, é sério! – respondeu. Um policial se aproximou do trio, avisando que a entrada já era permitida. Karin se pôs de pé – Querida é melhor ficar aqui e me esperar! – pediu a mulher preocupada.

- Não okaa-san, eu quero ir... – Karin respondeu calmamente, ouviu um “Tudo bem” da mãe e seguiram para o lugar.

A sala de interrogatórios era espaçosa, mas praticamente vazia, uma mesa com cadeiras em volta, uma enorme vidraça fumê, onde provavelmente os investigadores observavam os suspeitos, não sabia como estava prestando atenção naquilo quando entrou na sala, talvez por ver séries demais, a ruiva permitiu-se dar um sorriso de lado, mas seu foco era o pai, queria ouvir da boca dele que a acusação era verdadeira.

- Oh! – foi o que o homem, por volta dos cinquenta anos, olhos escuros, cabelos vermelhos, mas marcados por fios brancos, com algumas rugas e marcas de expressão na face, disse ao ver a entrada de sua filha, esposa e advogado.

- Otou-san, o que está havendo? – por mais que tivesse noção do que acontecia, perguntava para ter plena certeza.

- Estou sendo acusado de um crime que não cometi... – respondeu com ar de lamentação – Foi um verdadeiro efeito em cadeia, mas não tenho culpa, eles estão enganados – disse tentado através das palavras manter convicção, já que tinha suspeitas de que era observado do outro lado.

- Efeito em cadeia? – indagou confusa a ruiva.

- Exatamente, os Uchiha’s estão acusando seu pai de estelionato, ou seja, roubo. Quando a acusação foi feita outros empresários fizeram o mesmo – falou o advogado sério, analisando alguns papéis. A Uzumaki mais nova assustou-se ou ouvir aquelas palavras, arregalando os olhos e abrindo levemente a boca para dar um grito que não veio.

- É isso mesmo, mas não passa de uma verdadeira farsa – disse Toshyo. Mariem bufou impaciente, já que aquele diálogo não parecia levar a nada.

- Por... Por isso que ele me odeia – comentou em voz baixa.

- Ãnh? – falou confuso.

- É POR ISSO QUE ITACHI ME ODEIA, POR SUA CAUSA, SE NÃO TIVESSE O ROUBADO! – gritou irritada, Mariem segurou levemente o braço da filha com o intuito de mantê-la calma.

- HÁHÁHÁ! – o homem riu alto, assustando a mais nova – Karin me poupe de suas cenas, a verdade é que se você o tivesse levado seu relacionamento até o fim, eu não teria feito o que fiz. – os olhos da jovem saltaram novamente tão surpresa quanto antes. – Aprende Karin, esse sempre foi meu plano e quando decidimos adotar insisti por uma menina, justamente para conseguir o objetivo, mas você se tornou inútil quando o Uchiha imbecil decidiu terminar, por isso tive de agir dessa for... – um estalo ecoou por toda a sala, com o rosto virado e as mãos sobre a bochecha Toshyo fitava incrédulo sua ex. Karin ainda estava atônita pelas palavras e o que se seguiu, sentiu uma pontada no peito, enquanto uma lágrima corria solitária de seus olhos, de súbito tomou rumo para fora da sala em uma corrida rápida.

- KARIN! – gritou sua mãe ao ver a jovem se distanciar – Toshyo, você é um homem desprezível... – falou com fúria - Hiroshi, providencie os documentos o mais rápido que puder, quero me livrar logo disso – disse referindo-se ao homem sentado, enquanto caminhava até a porta, com intuito de ir atrás da filha.

...

- Acho que temos uma confissão. – disse um dos subordinados.

- Pelo visto temos sim, segura as pontas pra mim? – indagou.

- Hai Suigetsu-san – foi o que respondeu o rapaz, enquanto o chefe saia apressado.

...

- Karin... – foi o que falou enquanto olhava para os lados procurando a jovem, mas as pessoas que caminhavam nas diversas direções, atrapalhava sua visão, juntamente com as lágrimas, se a jovem estava surpresa com a atitude do pai, Mariem ficara mais ainda. Pegou o celular na bolsa pedindo aos céus que a filha atendesse – Droga! – disse irritada por não conseguir nada.

- Mariem-san?! – chamou.

- Capitão... – sua voz soou fraca – Minha filha ela... – olhou novamente para os lados.

- Eu sei – falou poupando-a de continuar – A senhora precisa se acalmar, vou tentar encontra-la.

- Sério? – indagou surpresa.

- Hai... – respondeu e por instinto a mulher o abraçou – Arigatou, arigatou – disse, pois sabia que sozinha seria difícil acha-la.

- Não precisa agradecer, agora tem alguém que possa ficar com você? – inquiriu, enquanto a mulher se afastava pensativa.

- Eu me responsabilizo – informou se aproximando.

- Hiroshi... – sua voz soou em gratidão, o homem apenas sorriu.

- Aqui está o meu cartão, me ligue assim que encontrar a Karin-san – avisou entregado o papel ao mais novo.

- Claro – recebeu o cartão o guardando – Garanto que até o final da tarde eu já a terei encontrado. – avisou, atravessou a rua com agilidade e entrou no carro.

...

As palmas soaram pelo lugar, o falatório que tomava o ambiente sessou, agora todos fitavam a mulher de estatura mediana, corpo rechonchudo, cabelos escuros presos em um coque, olhos mel, vestida com um vestido simples no tom azul claro e calçando sandálias baixas. Sorriu ao correr os olhos pelo ambiente, o refeitório repleto de crianças algumas mais novas e outras mais velhas, a olhavam curiosos.

- Bom dia crianças, desculpe interromper o café, mas quero apresentar-lhes o mais novo membro do orfanato – um burburinho tomou o lugar – Esse é Hozuki Suigetsu – falou afastando-se para que todos vissem o menino por volta de seus nove anos orbes roxos, cabelos brancos, de feições sérias, vestindo jeans e camiseta. – Espero que o recebam bem, agora podem voltar a comer... – avisou, assim que terminou de falar todos já estavam concentrados no café novamente. A mulher abaixou-se na altura do garoto e sorrindo disse - Junte-se a eles, deve estar com fome não é mesmo? – o garoto não respondeu, mas parecia entender bem o que a mulher falava, suspirou levemente frustrada – Suas malas serão levadas para o quarto, pode ir se sentar – foi à última coisa que disse, o deixando sozinho em pé fitando o refeitório.

...

Sentada em um velho balanço, no jardim abandonado de uma casa acabada, na qual ninguém parecia ir a muito tempo fitava o nada, distante em seus pensamentos, por mais que tentasse voltar à realidade, era levada novamente para eles, apesar das lágrimas insistentes sorriu ao lembrar-se da chegada de seu velho amigo e amor de infância.

“Era tudo tão diferente” – pensou, observando a fonte sem vida, houve uma época em que jorrava água em abundância, podia fazer barquinhos de papel e coloca-los para “navegar”, mas agora tudo fazia parte de um passado distante, vivido naquele velho orfanato.

...

- Ei... – chamou a menina por volta dos sete anos, cabelos vermelhos presos em duas Marias-chiquinhas, orbes da mesma cor, trajando um vestido amarelo florido – Suigetsu certo? – indagou, mas o menino não respondeu, a ruiva revirou os olhos, o puxando pelo braço, até o balcão – Você deve estar com fome não é? O café é servido as 8h30, todos os dias. – avisou entregando uma bandeja, que ele recebeu sem protestar – A não ser que você vá para escola, então o horário é outro, para os que ainda não tem sete anos, às 10h temos aulas para aprender o básico, ler e escrever – falava enquanto colocava sobre a bandeja o café – Ao 12h o almoço – 13h todos voltam à aula, às 15h são dispensados para o café da tarde e fazer o que quiser nesse horário o pessoal mais velho também está chegando. – agora o arrastava novamente, conduzindo o menino até onde estava sentada – Alguns dos mais velhos são legais e outros chatos, mas de um modo geral conseguimos sobreviver sem nos matar – informou divertida, já sentando-se à mesa – Quanto aos horários que disse antes, eles não são totalmente seguidos, por causa do período de férias, o bom é que depois delas eu poderei finalmente ir a escola. – disse extremamente feliz - Ah! Desculpe, não me apresentei, me chamo Karin.

- E eu sou o Juugo – o menino de cabelos laranja, olhos avermelhados, de feições calmas, vestindo bermuda e camiseta, sentado ao lado de Karin se apresentou – Seja bem vindo! – disse animado, recebendo o novato, que assim como antes não proferiu uma palavra sequer. Mas comeu o que a garota colocou em sua bandeja.

...

Ouviu o farfalhar das folhas, virou-se assustada, não esperava que alguém ainda viesse ali, ficou surpresa com quem viu, Suigetsu caminhava a passos lentos em sua direção, mantendo uma expressão indecifrável, não disse nada, sentou-se no balanço ao lado tão velho quanto o qual Karin sentara. A ruiva fitou todo o trajeto do homem sem dizer uma palavra, esperava que o mesmo explicasse o motivo de estar ali, mas isso não veio, então se voltou para frente, tendo a mente tomada pelo passado outra vez.

...

Voltava da escola passando pelo parque, o lema do orfanato era “Os mais velhos cuidam dos mais novos”, mas isso não incluía ir onde eles queriam ir, incluía? Era o que se perguntava quando decidira entrar. Karin corria na frente animada, procurando o primeiro balanço, onde pudesse “voar”. Juugo ia um pouco atrás queria uma árvore grande para descansar e sozinho ao longe vinha Suigetsu, mesmo depois de quatro meses continuava calado, ou melhor, nem sempre, mas ainda permanecia misterioso para os dois amigos.

Juugo após encontrar um lugar para ficar adormeceu a sobra da árvore, Suigetsu que ficara com ele, já se entediava, vendo Karin ao longe entretida com um cachorro, o dono se aproximou cumprimentando a menina e depois levando o animal para longe, a ruiva alegre despediu-se acenado para o bichinho. Assim que ambos estavam distantes correu em direção à árvore.

- Suigetsu-san, poderia me balançar? – pediu – Eu não consigo sozinha... – explicou. O menino a fitou ainda sério, mas levantou-se e a acompanhou até os balanços.

Quanto mais alto ia, mais achava graça, adorava aquela sensação, ria como se nunca tivesse rido na vida, como se a infância nunca fosse passar. Aos poucos o balanço ia ficando fraco, olhou para trás fitando Suigetsu.

- Estou cansado – foi o que disse.

- Tudo bem – assentiu levemente com a cabeça. Suigetsu que estava em pé saiu do seu posto sentando-se no balanço ao lado e ambos passaram a olhar o parque. Após alguns minutos em silêncio, Karin o olhou sorrindo – Suigetsu-san... – disse chamando sua atenção – O quer ser quando crescer? – indagou. A resposta não veio de imediato, o menino parecia concentrado.

- Policial! – foi o que se limitou a dizer.

- Por quê? – inquiriu curiosa.

- Pra que, quer saber sobre isso? – rebateu sério, ignorando a seriedade do amigo se pôs a falar animada.

- A professora pediu que pensássemos o que gostaríamos de ser quando crescer e disséssemos o motivo.

- Já que é assim, o que quer ser quando crescer? – perguntou tentando tirar o foco de si. A ruiva fitava com os olhos brilhando uma borboleta roxa que passava voando, retirando seu foco em responder, quando a mesma foi embora sorriu.

- Gosto dos animais... Então... Acho que serei veterinária. Sabia que o Juugo-san quer ser lutador? – indagou animada – Acredito que ele se daria bem sabe? Sempre que se irrita quer brigar, daria muito certo – disse rindo de sua conclusão. Suigetsu meneou a cabeça em concordância, após isso permaneceram calados, fitando as pessoas indo e vindo.

Karin batia os dedos na corrente que sustentava a tábua de madeira que compunha o balanço, queria fazer uma pergunta, mas não sabia se deveria, no entanto, sua curiosidade aguçava a cada segundo, principalmente com a cena que via, não aguentando mais, mesmo com receio indagou.

- Suigetsu-san... Co-co-mo é ter pais?

O garoto não havia tocado naquele assunto até ali, ainda era doloroso saber que não veria os pais nunca mais, no entanto, via inocência na menina, ela não era culpada, muito menos sabia o que acontecera.

- É ótimo... – começou a responder – Eles te abraçam, enchem de beijos, te tão bronca, mas estão sempre dispostos a ajudar. Levam no primeiro dia de aula, deixam dormir no quarto deles quando se tem pesadelos, se preocupam quando estás doente, levam para passear e acima de tudo dão carinho e amor – explicou nostálgico, aquelas eram palavras verdades de tudo o que vivera, antes do fatídico dia em que seus pais foram assassinados.

- Então... Eles são simplesmente incríveis! – exclamou animada com a explicação – Espero que quando me adotarem eu possa ter pais assim – disse com convicção e os olhos cheios de um brilho incomum, sendo banhados pelo sol no horizonte, dando um aspecto iluminado para a face e os cabelos vermelhos, era a esperança que se transmitia através da pequena ruiva sorridente.

- Raio de Sol – foi que o menino disse ao ver aquela imagem.

- O que? – indagou confusa.

- Você parece um Raio de Sol – respondeu, as bochechas da menina ganharam um aspecto rosado, iria responder, mas fora cortada por Juugo que vinha ao encontro de ambos.

...

- Como o Juugo está? – indagou sobressaltada ao lembrar-se do amigo.

- Bem... Está dando aula para o primário em Otogakure.

- Aulas? – estava perplexa, não imaginava Juugo como professor.

- Sim, educação física, acho que fica mais fácil para entender... – Karin permitiu-se dar um leve sorriso, agora que as lágrimas desistiam de cair.

- O que houve aqui? – inquiriu fitando a estrutura destruída pelo tempo.

- A casa estava correndo risco, por isso à uns sete anos remanejaram os órfãos para uma casa maior e bem mais estruturada na região leste – explicou.

- Hum... E... E vocês? Foram adotados?

- Juugo sim, uns dois meses depois que você partiu, eu fiquei até ter 18 anos – uma certa tristeza tomou à ruiva ao ouvir aquilo - Esse lugar trás boas lembranças não é? – apesar da perca dos pais e de não ser adotado o tempo que passou no orfanato em seu ponto de vista tinha sido ótimo, principalmente por fazer amigos como Juugo e Karin.

A ruiva esboçou um sorriso, mas o desfez em segundos, em seu ponto de vista ter vivido naquele local tinha sido o causador de muitos problemas que sucederam após sua adoção.

- Não, não trás boas lembranças – respondeu com a voz irritada. Suigetsu se virou para ela com uma expressão de surpresa, analisando as feições da mulher, tentado entender o que teria acontecido.

- Você tem razão... – começou a falar virando novamente – Não é a Raio de Sol, é apenas a Karin, ou melhor, não sei se ainda existe um pouco de Karin em você. – disse friamente. Como ocorreu mais cedo à ruiva sentiu uma dor no peito, de certa forma ainda adorava aquele apelido.

- Você não entende... – lamentou cabisbaixa.

- Não entendo? – inquiriu com certo sarcasmo.

- Isso mesmo, eles eram horríveis, fui expulsa de oito colégios em dois anos, tudo por que insistiam em implicar, “A garota pobre que foi salva”, “A adotada”, “Não é bem vinda aqui”. E esses são os mais simples deles, quando não era isso falavam do orfanato e então me tiravam do sério, nunca aceitei falaram daqui, foi o meu lar por muitos anos. Então quando decidiram me mandar para um internato, eu analisei bem e cheguei a conclusão de que não deveria falar sobre mim, agiria como eles, superficiais, egocêntricos, gastando o dinheiro dos pais, menosprezando os menos afortunados, simplesmente sem amor ao próximo, ou valores, virtudes e ideais, já que não apreciavam isso. – disse visivelmente irritada e triste.

- ENTÃO É ASSIM? – ele gritou assustando a ruiva que o fitou perplexa – Deixar tudo de lado, para seguir a tendência ditada por um bando de mauricinhos? Essa sua justificativa não é a resposta. Quer dizer que tudo que foi passado nesse velho orfanato, não valeu de nada? As amizades, os risos, os cafés da manhã, Nezami-sama que sempre nos tratou com carinho, nada disso valeu? E a promessa que nos fez? – aquela foi à última cartada, Suigetsu ficara irritado, por mais que entendesse o fato de sofrer provocações, não justificava esquecer o que realmente tinha sido bom.

...

- Mas, eu não quero ir Nezami-sama – protestou à ruiva.

- Karin querida, precisa ir, esse casal dará a você as melhores oportunidades, essas que estando aqui não pode receber – tentou argumentar a mulher rechonchuda.

- Eu sei, mas o Juugo e o Suigetsu? Eles também precisam de um lar, não podem adotá-los? – indagou chorosa. Então a mulher entendeu por que de repente Karin recusava ir.

- Infelizmente não, eles querem uma menina como você, mas tenho certeza de que logo seus amigos encontraram um lar – respondeu gentilmente, a menina meneou a cabeça e saiu andando.

Duas semanas depois:

- Está animada? – indagou Juugo enquanto Karin fechava a mala.

- Não – disse emburrada...

- Hum... – murmurou – Você vem me visitar não é? - perguntou.

- Hai – respondeu sorrindo, apesar de não estar no clima para aquilo.

- Se ela não vier, iremos atrás dela – foi o que disse ao entrar no quarto, apesar de estar chateado com a partida de sua querida Raio de Sol tentou não se mostrar abalado.

- Jamais esquecerei vocês, é uma promessa – falou convicta, estendendo o dedo mindinho em sinal de veracidade – E virei vê-los assim que der.

- Karin, é hora de ir... – avisou Nezami-sama na porta.

- Já estou indo – respondeu, a mulher se afastou deixando o trio sozinho. – Acho que é isso não?

- É... – choramingou Juugo, Karin sorriu e o abraçou puxando Suigetsu para um abraço triplo. Separam-se após alguns segundos de silêncio.

-Tenho que ir – pegou a mala e se afastou, Juugo a seguiu enquanto Suigetsu permaneceu no quarto. No andar de baixo a ruiva se despediu dos demais, enquanto seus novos pais a aguardavam para irem embora de vez, caminhou lentamente pelo jardim da entrada quando as mãos de seu “pai” pegavam a mala e sua “mãe” estendia a mão para ela, apesar da hesitação aceitou sendo conduzida até o carro. Dentro do luxuoso automóvel, vislumbrou pela última vez aquele que fora seu lar e na janela do último andar pode ver Suigetsu parado vendo o carro se distanciar.

“Esse não é o fim... Apenas o começo, jamais esquecerei vocês”. Pensou repetindo as palavras para si.

...

- Eu não os esqueci... – começou – Só achei que ficar distante seria melhor, que sobreviveria ao caos, que não decepcionaria meus pais, até que funcionou...

- A custo de que Karin? – a ruiva sentiu um arrepio ao ouvir aquela pergunta, mas sabia bem a resposta.

- De vocês e da minha felicidade, afinal vivi uma farsa que criaram para mim – explicou, uma lágrima correu de seus olhos.

- Não criaram farsa alguma para você...

- Como não? – fitou Suigetsu confusa.

- Aquele homem, pode ter feito o que fez, mas sua mãe ela... Realmente te ama. – disse reflexivo com os acontecimentos que sucederam após a saída da ruiva da delegacia.

...

- Senhorita Uzumaki? – chamou, a ruiva desviou a atenção do livro para a mulher – Sua mãe veio te ver, está te esperando na entrada – rapidamente Karin se levantou acompanhando a mulher. Ao sair do outro lado, Mariem a aguardava, com os braços abertos, a menina agora com seus onze anos correu ao seu encontro abraçando a mulher.

- Senti sua falta meu amor... – disse carinhosamente.

- Eu também okaa-san, onde está o otou-san? – indagou olhando para o carro estacionado esperando que o homem estivesse ali.

- Ele não pode vir, aliás nem estamos na época de visitas, é só que não resisti em saber como estava, está gostando daqui?

- Hai – respondeu sorrindo.

- Que ótimo, agora adivinha quem conseguiu uma autorização para sair?

- A melhor mãe do mundo – disse em meio aos risos.

- Exatamente, vamos? – indagou visivelmente animada, a menina meneou levemente a cabeça em concordância e ambas foram para o carro.

...

- Ela me ama – repetiu para si mesma. – Mas, a decepcionei com toda certeza, agora é muito tarde... – Suigetsu levantou espreguiçando-se, o sol já se punha e logo tudo estaria escuro.

- Só vai ser tarde Karin se você quiser – a ruiva o encarou – Suigetsu-san, me desculpa – pediu.

- Passado é passado, só não sei se o Juugo te perdoa – Karin sorriu contente, enquanto o homem se afastava. – Vai ficar aí? Sua mãe está esperando! – De súbito a ruiva levantou e correu para acompanha-lo.

- Só uma coisa Suigetsu-san, me chame de Raio de Sol – pediu.

- Só se parar de usar o “san” quando falar comigo – disse divertido.

- Feito! – respondeu com o dedo mindinho levantado.

...

Duas semanas depois

Caminhava a passos largos estava atrasada, tinha perdido a hora, já que Itachi a segurara na cama, quando se deu conta era 7h20, sendo que sua aula começava às 8h00. Agora carregava além da bolsa, uma pasta que teria de ser organizada, já que seu ateliê estava uma verdadeira bagunça. O som de seu sapato fazia eco pelo corredor vazio, iria virar a direita para pegar o elevador, mas antes que se desse conta a pasta com as folhas soltas voaram para todos os lados.

- Droga! – bufou nervosa, enquanto abaixava para juntar as folhas.

- Sinto muito Hina, eu não queria... – a morena parou ao ouvir a voz, fitando a pessoa que lhe ajudava.

- Kiba – foi o que se limitou a dizer levantando, já que os papéis tinham sido recolhidos, o rapaz deu um sorriso mínimo.

- Suas folhas... – estendeu a mão e a morena pegou os papéis.

- Arigatou! – agradeceu, afastando-se em direção dos elevadores. Kiba permaneceu parado pensativo, precisava resolver aquela questão.

- Hina! – chamou se aproximando, parou alguns centímetros da moça – Eu... Eu sinto muito, por tudo aquilo, deveria reconhecer que estava feliz e agir de forma madura, eu entendo se não quiser falar comigo e espero de verdade que possa me desculpar – sem mais nada a dizer calou-se, os orbes perolados o fitavam analiticamente, pelo silêncio da morena deu as costas para ir embora.

- Eu já te perdoei, mas... Por favor, seja meu amigo, não finja, mas seja... – respondeu, Kiba a fitou sorrindo.

- Serei, pode ter certeza – disse extremamente feliz.

- Então te vejo no almoço – foi à última coisa que disse antes de entrar no elevador. Kiba voltou a andar, agora que a velha aliança estava refeita, o peso da culpa se esvaiu, poderia dormir à noite, finalmente em paz.

...

À tarde naquele mesmo dia

- Isso só pode ser alguma brincadeira – protestou sério.

- Não é brincadeira – respondeu – Mas, se discorda da decisão eu posso ir embora – explicou, o rapaz olhou incrédulo novamente para a ficha, não era um curriculum de se jogar fora, ainda mais se seus pais tinham escolhido antecipadamente, com certeza a queriam ali e o matariam se não aceitasse.

- Tudo bem... Será contratada – disse resignado – Começa amanhã, no entanto, se não andar na linha, a expulso daqui, estamos entendidos Karin?

- Hai – falou visivelmente animada – Obrigada Kiba-san, não vai se arrepender. – foi à última coisa que disse ao sair da sala para ir embora, enquanto isso ligava apressada para a mãe que estava tão ansiosa pela resposta quanto à ruiva. – Okaa-san?! Consegui... A vaga é minha! – foi o que disse antes de ouvir o grito histérico do outro lado.

...

- Aqui está o último prato – informou sorrindo de ponta a ponta para os presentes.

- ITADAKIMASU! – gritaram juntos, servindo-se em seguida. Na mesa posta de seis lugares Yuichi ocupava o lugar principal, fitando a todos alegremente. Nunca imaginou que sua mesa antes composta apenas por ele e Neji tivesse, mais três lugares, um para sua filha e os outros dois para o genro e nora, aquilo definitivamente o deixava feliz.

- Otou-san a comida está ótima, mas não vai comer? – indagou à morena, sentada na cadeira próxima a ele, preocupada ao ver o prato vazio.

- Ah! Distraí-me um pouco, irei comer sim – respondeu sorrindo amarelo. Hinata sorriu de volta e continuou conversar com os outros. Vislumbrou mais uma vez os presentes, sentindo aquela boa sensação invadi-lo e a certeza de que iria aproveitar muito aqueles momentos.

...

Três meses depois

- Esse é o último não é Hana-san? – inquiriu à ruiva.

- Sim, aliás, já estão esperando, pode entrega-lo?

- Claro – respondeu – Até amanhã – despediu-se, já que sairia mais cedo naquele dia, com a coleira na mão conduziu o cachorro não tão pequeno até a entrada. Parou assustada ao ver a silhueta familiar de costas para si, ainda não tivera a oportunidade de falar com o homem, mas talvez agora fosse à hora.

O ainda filhote Snow agitou-se, chamando a atenção do moreno distraído, fazendo-o voltar-se para ver o “amigo”, surpreendendo-se ao encontrar Karin ao lado do mesmo. A ruiva respirou fundo e seguiu.

- Aqui está ele – disse entregando o animal – Itachi-san, eu gostaria de me desculpar, por mim pelo que fiz a você, foi muito errado e em nome da minha mãe, não sabíamos das armações do meu pai, se fizéssemos ideia nada disso teria acontecido – explicou-se – Agora preciso ir, obrigada pela preferência – concluiu saindo do pet shop com um sorriso imenso nos lábios, fitou o céu com sua mistura de azul e branco, que contrastava com as folhas amareladas do outono.

Ajeitou a gola do casaco ao sentir o vento gelado, virou-se para seguir seu rumo deparando-se com os orbes pérola, Hinata carregava uma sacola nas mãos, parou surpresa ao ver à ruiva. Karin sem medo foi em direção à morena

- Hinata-san, eu sinto muito por tentar fazer você e o Itachi se separar, acho que o “monstro verde” do ciúme me mordeu, gomen de verdade – tomou seu caminho passando pela morena, esbanjando alegria.

Hinata permaneceu parada atônita, sem compreender o que acontecia. Itachi apareceu ao seu lado fitando os cabelos vermelhos longe virando à esquina.

- Aquela era mesmo a Karin? – indagou tentando assimilar as coisas.

- Pra dizer a verdade, nem eu sei – explicou Itachi, que ainda não se recuperara do choque. Hinata sorriu, sentindo Snow querer passar em baixo de sua mão.

- Seja lá o que for, fico feliz que tenha mudado – comentou afagando a cabeça do animal.

- Errr – foi o que conseguiu dizer.

- Vamos embora... – disse entrelaçando a mão na do moreno, para seguirem o caminho oposto na qual à ruiva fora embora.

...

- Achei que tinha esquecido – comentou afastando-se da parede ao qual estava encostado – Tudo isso é felicidade em me ver? – indagou ao ver a expressão no semblante da ruiva.

- Sim... – disse mordendo o lábio inferior ao se aproximar, sendo enlaçada pela cintura e recebendo um selinho – E não – continuou.

- Não? – inquiriu arqueando a sobrancelha.

- Exato! – respondeu, enquanto passavam a caminhar – Hoje descobri uma coisa amor – falou com os olhos brilhantes.

- E posso saber o que é? – a ruiva sorriu-lhe, enquanto Suigetsu esperava uma resposta.

- Descobri que a redenção é simplesmente libertadora...

Acredito que nunca é tarde para algumas coisas,

que é sempre possível recomeçar e

o amor pode nos salvar...