__ PDV KIM __

Remexo-me desconfortavelmente na poltrona com um meio sorriso no rosto. Desde ontem essa pequena demonstração de alegria não sai de meu rosto e, pela primeira vez em cinco anos, eu dormi bem.

A declaração do meu Mello para mim, e sim, eu realmente o vejo como meu, parece ter me revigorado, me deu uma certa alegria que há muito tempo não sentia. Claro que eu continua apaixonada por ele, senão não estaria tão feliz por isso. Já disse a mim mesma milhares de vezes que estava enganada, mas desde aquela conversa com Near eu comecei a aceitar que o amo mesmo... E agora, sabendo que ele me ama, acho que tenho um problema. Mas quem liga? Mello me ama! E... Infelizmente eu me recuso a voltar para ele. Não quero sentir aquela dor de novo. Tentarei esquecer o que aconteceu naquele quarto.

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Fecho o caderno, desistindo de trabalhar no perfil de Rester por hoje. Há muita coisa em minha cabeça para eu conseguir pensar nisso. Fecho os olhos, pensando em Mello. Eu não reclamaria se ele estivesse aqui hoje. Near ainda não acordou, pois ele só acorda as 8:30 e são 7:50, então nós estamos de folga por enquanto.

Matt passou a noite aqui de novo, mas desta vez não escutei gemidos saindo do quarto de Íris. Ainda tenho que falar com ela sobre isso... Bem, de qualquer forma o Matt é o único que já acordou e não quis tirar a Íris de seu sono profundo. Nós dois tomamos café da manhã juntos, ele comentando sobre como isso lembra o Wammy’s House. Senti falta da amizade de Matt, devo admitir.

- Ei, Kim, o Mello falou com você ontem, não falou? – Ele me tira de meus devaneios.

- Falou, sim... Por quê?

- Vocês dois...

- Não. Não tenho a intenção de me deixar levar outra vez. – Respondo, vendo a expressão de Matt ficar um pouco triste, quase que culpada.

- Isso é uma pena... Se soubesse o estado do Mello nos últimos cinco anos...

- Matt, sem querer ofender o Mello, mas eu não ligo. Não neste momento. Ele já me machucou demais para que eu volte correndo para ele depois de todo este tempo. Ele me machucou demais para que eu sequer cogite voltar para ele sem, no mínimo, estremecer de medo.

- Ok... Entendo o seu ponto. Mas ele ama você. – É bonito o quanto Matt tenta ajudar Mello. Uma verdadeira amizade, uma que só poderia vir de companheiros de vida.

- Matt, eu acho muito legar que esteja apoiando o Mello e isso tudo, mas eu realmente preferiria não falar dele agora. Eu só quero esquecer que ontem aconteceu, ok?

- Falar de quem? O que aconteceu? – Uma voz conhecida toma o ambiente. Mello está aqui de novo.

- Oi, Mello... – Digo baixinho, corando.

- Oi. – Ele se aproxima de mim e passa a mão em meu cabelo. Estremeço, mas ainda assim me afasto dele. – Desculpe, Snowdrop... Er... Tudo bem se eu te chamar de Snowdrop?

- Ok, acho que tudo bem... – Digo, desconfiando um pouco do jeito como ele me trata.

- Oi, Matt! – Ele quase sorri para o ruivo. Sinto uma vontade repentina de abraçar Mello com toda a minha força, mas me contenho.

- Oi, Mello. Como foi sua noite?

- Melhor do que tem sido nos últimos anos... – Sinto meus lábios se franzirem, entendendo a mensagem que Mello me passa.

- Preciso conversar com você. Venha aqui. – Guio-o para fora da sala e me viro para ele. Seus olhos me encaram como se eu fosse pequena e frágil, ou como se ele estivesse a ponto de se jogar sobre mim e me abraçar. Para ser bem sincera, eu adoraria sentir outra vez o calor e a segurança que seus braços me trazem.

- O que foi, Kath?

- Eu... Eu preciso esquecer disso, Mello. De ontem, quero dizer.

- Esquecer o quê? Não aconteceu nada!

- O que você me disse... Aquilo não chegou nem perto de ser nada. E eu realmente preciso esquecer disso tudo.

- Kath... O que quer dizer com isso? Não quer mais me ver?

- Não é isso, eu só... Vamos fingir que noite passada não aconteceu, por favor.

- Kim, eu sinceramente não sou capaz de fingir que o momento que mais esperei na minha vida não aconteceu. Se você quiser fingir, tudo bem, mas eu não consigo.

- Não minta para mim. Não me diga que não foi embora porque quis.

- Mas, Kim, eu não fiz aquilo porque quis! Eu fiz aquilo porque era necessário.

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- Sim, muito importante mentir para mim. Se me amava, deveria ter lutado um pouco pela nossa relação. Eu te amava mais do que tudo, Mello. E você jogou o meu amor fora como se não passasse de lixo. – Encaro-o, sentindo meu olhar tornar-se frio. Não, frio não, gélido. – Eu não consigo acreditar em você agora. Não mesmo, me desculpe.

- Snowdrop, eu entendo que tenha sofrido, eu também sofri, mas não veja por esse lado... – Ele tensa se defender, mas eu não quero ouvir. Não posso ouvir. Agora mais do que nunca tenho que me proteger. Recuso-me a me expor àquela dor outra vez, por mais que ame Mello. Faço que não com a cabeça.

- Desculpe. Mesmo. Não consigo confiar em você agora. Talvez depois de algum tempo, quando isso tudo passar, possamos falar sobre isso. Talvez um dia você possa me explicar melhor isso tudo. Mas falar com você agora significa me envolver em uma situação...

- Você me ama?

- Como?

- Você me ama, Kim? – Ele repete a pergunta que me interrompeu. Preparo minha boca e meus olhos para que não me denunciem. – Sente alguma coisa?

- Não. – Meu louro fecha os olhos, como que desejando não ter feito a pergunta. E eu gostaria de não ter dado esta resposta, mas mantenho o meu olhar tão frio quanto o possível. Ele me avalia, escaneando minha expressão e avaliando cada mínimo detalhe de meu rosto. Já vi esta expressão em seu rosto. Ele a usa quando quer me testar. Antes eu a respondia com um beijo. Hoje, não podendo fazer isso por questões de orgulho, apenas me mantenho fria. Ele toca meu rosto suavemente e aproxima meu rosto do meu. A principio acho que ele vai me beijar. Mas então ele desvia os lábios para meu ouvido e sussurra:

- Koishiteru, minha pequena. Não importa o quanto tente mentir para mim, eu te conheço. Não vou te forçar a nada, nem mesmo a admitir para mim. Ou para si mesma. – Congelo. Ele sabe. – Ainda assim, eu te esperarei para sempre se preciso for.

- Mello, por favor, não faça isso... Não quero te prender a mim, mesmo ficando com raiva por você ter feito aquilo eu quero a sua felicidade!

- Você é a minha felicidade, Kim. Estou fazendo isso independentemente do seu desejo. – Seus lábios depositam um beijo doce em minha testa. Sinto meu corpo querer derreter, mas rapidamente me recomponho e o olho com o olhar endurecido. Não posso.

- Sinto muito por isso. – Acho que o jeito é ficar furiosa com Mello outra vez. Talvez se eu o maltratar ele desista de mim e, por mais que seja doloroso pensar, encontre outra pessoa. Alguém que não guarde mágoas. Se ele não me amar será mais fácil esquecer dele, creio eu. Ele baixa os olhos, mas assente.

- Sinto muito por tudo, Katie. Nunca quis te ferir. – Diz enquanto me afasto. Deus, eu só quero voltar correndo para os braços dele. Mas não. Não posso me arriscar. Não posso arriscar sentir aquela dor de novo. Só me resta manter a cabeça erguida, e desta vez, com Mello observando, não posso baixar a guarda de novo. Não será apenas uma máscara, mas uma concha.

Apenas continuo caminhando sem olhar para trás. Como ele fez comigo.

Volto para a na sala e me sento sob o olhar constante de Matt, que tenta ler o que aconteceu. Não permito que nenhuma emoção passe por meu rosto enquanto volto a me enterrar no caderno, terminando o perfil de Rester e iniciando o de Gevanni. Mello chega a sala logo depois de mim e se senta ao lado de Matt, começando a conversar com o ruivo em um volume baixo demais para que eu entenda. De vez em quando sinto seu olhar sobre mim.

__PDV LEILA__

Não estou com muita vontade de levantar da cama hoje. Estou cansada. A única coisa que me dá motivos para acordar é saber que Near estará na sala. Nunca tornamos nosso relacionamento público, exceto por Kim, que descobriu só de olhar para Near. Mesmo assim, mesmo só ficando com meu albino no quarto, nossa relação é como o paraíso para mim. Não mudou tanto assim, as conversas são as mesmas, fazemos às mesmas coisas... A diferença é o jeito como ele me olha, como me abraça.

Espreguiço-me, saindo da cama. Adoro ficar deitada por mais alguns minutos antes de levantar. Geralmente isso não é possível, porque sou do tipo que acorda tarde e tem que pular da cama e sair correndo para a sala de investigações. Esta é a nossa rotina, temos até às 8:30 para dormir. Às nove tomamos café da manhã e às nove e meia começamos a investigar desesperadamente. De vez em quando há tempo para almoçar, mas geralmente Near apenas pede que um dos agentes compre alguma coisa e traga para nós. Paramos de investigar por volta da uma da manhã, quando nenhum de nós aguenta mais ficar acordado. Bem, ao menos eu não aguento. Às vezes eles ficam até mais tarde, em especial a Kim, que não dorme direito desde que Mello se foi. Às vezes gostaria que o louro voltasse permanentemente para cá. Era mais divertido com ele. E Matt! Sim, adoraria que Matt voltasse de uma vez. Ele sempre foi um ótimo amigo.

Arranco minha camisola de ursinhos e vou para o banheiro tomar banho. Meus cachos ruivos simplesmente precisam ser molhados de manhã para que eu possa penteá-los direito, ou então viram um emaranhado nodoso que lembra um pouco um ninho de rato. Não me demoro mais do que o suficiente para passar o xampu, o condicionador e o sabonete, pois sou preguiçosa demais para usar algum outro produto para acalmar a rebelião vermelha que eu chamo de cabelo.

Saio do chuveiro coberta por uma toalha e me visto antes de secar o cabelo e escovar os dentes. Não estou a fim de tomar o café da manhã hoje, mesmo sabendo que me arrependerei mais tarde. Batem na porta e eu olho o relógio. 8:40. Deve ser Near. Abro a porta e recebo um caloroso abraço de bom dia. Mal preciso ficar na pontas dos pés para beijá-lo. Realmente acho que acabarei da altura de Near.

- Vamos? – Ele me estende a mão.

- Nãão... Eu quero dormiiir... – Resmungo.

- Você já saiu da cama, tomou banho e escovou os dentes. Vamos descer.

- Ok... – Desisto e pego sua mão. Ele me puxa pelo corredor e vamos para a sala de investigações. Aparentemente Near também não tomará café da manhã hoje.

Na sala de investigações estão Kim, Matt e... Veja, é o Mello! E aparentemente a Kim não está nem aí para ele, o que é uma pena... Eles sempre foram tão fofos juntos! Olho para Near, que me encara como se eu fosse uma completa retardada. Eu devo estar com aquela cara de romântica sonhadora outra vez...

- O quê?

- Às vezes me surpreendo com o quanto consegue ser infantil, Leila! – Ele ri e se encolhe todo quando passo a dar vários tapinhas em seu braço como se fosse um cachorro pedindo carinho. Ele pousa a mão no topo de minha cabeça. – Quer me ajudar com o quebra cabeças?

- Aham! – Sorrio antes de ver a expressão de vitória no rosto de Near. – Ok, você venceu, eu gosto de quebra cabeças e sou infantil. Feliz?

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- Muito!

- Posso ser infantil também? – Nos viramos ao mesmo tempo para ver Kim deitada toda encolhida em uma poltrona, olhando para nós.

- Claro. – Near sorri.

- Posso ajudar? Estou entediado... – Resmunga Mello sentado ao lado de Matt.

- Ok. – Respondo. No fim Matt também se junta a nós e Near acaba pegando um quebra cabeças de 2000 peças ao invés do que pretendia pegar a princípio, um de apenas 1000. Nos sentamos ao redor do espaço do quebra cabeças e começamos a montar. Não demora para que Íris, Ushio e Ino cheguem e também se juntem a nós. Queria que L e BB estivessem aqui agora. Então isto estaria completo. Perfeito. Nós todos estaríamos juntos.

Lembranças felizes e engraçadas com eles começam a passar por minha mente. BB atirando dardos na velha foto de Naomi Misora, L fazendo constatações inteligentes durante os raros almoços durante os quais aparecia... Um meio sorriso surge em meu rosto com as lembranças. Depois lágrimas enchem meus olhos e eu pisco com força. Odeio pensar nos bons momentos com eles e me lembrar de que eles jamais voltarão a acontecer. Que nunca mais rirei de uma das atitudes violentas de BB ou me impressionarei com a inteligência de L. Por outro lado, simplesmente não quero lembrar deles com dor no coração. Se quero vingar sua morte? Mais do que tudo. Mas eu sorri com eles e é com um sorriso no rosto que quero me lembrar, como Íris fazia quando Matt estava ausente. Neste ponto a morena é a pessoa que mais admiro entre nós.

- Queria que BB e L estivessem aqui. – Digo baixinho.

- Sim, também sinto falta deles. – Mello concorda.

- E eu. – Kim coloca seu ponto de vista.

- O Beyond era irritante e me assustava às vezes, mas ele simplesmente... Eu não conseguia não gostar dele. – Ushio suspira enquanto joga os cabelos roxos para trás e os prende em um longo rabo de cavalo. – E o L... Sempre foi meu ídolo. Não acredito que eles morreram.

- Ao menos eles estão juntos. Né? – Ino acaricia as costas de Ushio, que assente. Nunca entendi porque eles não ficam juntos de uma vez, porque sinto que foram feitos um para o outro.

- Aham. Eles ficavam bem juntos... – Íris sorri enquanto junta duas peças brancas. – Ainda assim seria melhor se eles estivessem aqui com a gente.

- O Beyond estaria jogando dardos naquela foto. – Ri Ushio.

- Sim, Shio-chan! E L estaria montando uma pilha de cubinhos de açúcar.

- E nos estrangulando se fizéssemos algum som que o assustasse e o fizesse derrubar tudo. – Kim ri. Sim, ri. Não um risinho forçado daqueles que ela dá de vez em quando, mas uma verdadeira gargalhada, do tipo que só Mello a fazia dar. E nós todos a acompanhamos neste momento delicioso que apena a nossa união, um momento com nós todos juntos (ou ao menos quase todos) pode nos proporcionar.

O tempo se passa e o quebra cabeças vai se montando diante de nossos olhos.

- Meu Deus, Near, como você aguenta fazer isso o dia inteiro? – Mello reclama, jogando um par de peças no chão.

- É que ele é infantil... – Brinco, abrindo um enorme sorriso para meu namorado.

- Se eu sou você também é!

- Eu tenho motivos para isso, sou a mais nova entre vocês.

- Por isso deveria ter amadurecido mais rápido! – Provoca, fazendo-me saltar sobre ele e iniciar uma luta de brincadeira enquanto Near tenta me conter.

Escuto comentários envolvendo pedofilia vindo de terceiros. Mal eles sabem o quanto estão corretos.

Depois que Kim finalmente me puxa de cima de seu irmão é que realmente começamos a investigar. Sento-me a frente de um dos computadores e passo a avaliar os últimos atos de Kira, comparando-os com o perfil traçado por Kim com a ajuda de L, nosso maior guia para achar o “justiceiro”. Sim. Sua identidade não mudou, embora aparentemente ele tenha colocado mais pessoas em seu joguinho.

Mello também está sentado em frente a um computador, buscando por notícias e registros do caso. Muito me surpreendo por Near não o expulsar, considerando que ele não faz parte da SPK.

E é então que nosso desespero começa. Quando Halle entra correndo na sala, alegando que estamos sendo atacados.