Tudo o que eu pude sentir no momento foi um alívio arrebatador. Minha respiração começa a diminuir a ponto de poder escutar as batidas frenéticas do meu coração. "Não foi Lucy. Graças a Deus não foi Lucy!".

Charlizi Greenwood? - Ela chama novamente. Por um momento nada acontece. Nenhuma garota chamada Charlizi Greenwood sobre ao palco, até que um os pacificadores, com passos ligeiros corre até o prefeito e lhe diz algo no ouvido. O prefeito se levanta e repassa a mensagem para a mulher no microfone.

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Mas isso deveria ter sido comunicado com mais antecedência. - Diz a mulher reagindo com surpresa diante da mensagem. O prefeito dá de ombros e se senta novamente. Philippa se volta para a multidão abrindo um sorriso escandalosamente brilhante. - Bom, meus jovens. Como é o nosso primeiro dia, é de se esperar que alguns problemas técnicos ocorram. - Problemas técnicos? Que tipo de problemas técnicos?! Sinto que minha respiração está ficando novamente ofegante. Alguma coisa está errada. - Fui informada de que Charlizi Greenwood está se recuperando de uma pneumonia e não pôde comparecer à colheita. O que não nos deixa escolha à não ser sortear outra corajosa dama.

Me esqueço de como respirar. Pontinhos dourados invadem a minha visão e meu coração está a mil. A mulher cruza o palco novamente amassando a tira de papel com o nome de Charlizi Greenwood. Ela enfia a mão na esfera de vidro e retira outra tira de papel. Ela volta para o microfone com passos curtos e rápidos sobre seus sapatos verde limão de salto alto.

Lysa Shephard!

Então o mundo parou. Isso simplesmente não pode estar acontecendo. Um azar deste tamanho não tem como existir! Por um momento fico imóvel apenas fitando a camisa levemente amassada do garoto na minha frente, mas foi os passos de Lucy seguindo pelo corredor humano que me puxam novamente para a realidade. Vejo o medo estampado claramente em seu rostinho inocente. Ela sobe com as pernas trêmulas as escadas do palco enquanto Philippa lhe oferece a mão como apoio. Ela aceita de bom grado. A doce e gentil Lucy. Uma menininha sensível e chorosa que enchia os olhos de lágrimas ao ver uma borboleta morta. Nunca conseguirei entender seu amor por borboletas, na verdade, nunca conseguirei intender o seu amor por qualquer outra coisa com vida. Principalmente, seres humanos. Agora essa sensível garotinha está sendo levada para uma carnificina.

Geremy me lança um olhar desesperado. Como se estivesse gritando em silêncio: "Alguém precisa parar com isso". Mas sei que não podemos fazer nada. A culpa dele deve ser avassaladora levando em conta de que foi ele o primeiro a concordar com que Lucy se candidatasse às tésseras. Talvez um papelzinho à menos já faria toda a diferença, e isto não estaria acontecendo. Por um momento de raiva o culpo também, mas se a culpa fosse inteiramente dele, eu mesmo não estaria me sentindo tão culpado. Naquele dia poderia ter batido na mesa e dito que Lucy estava proibida de se candidatar às tésseras, mas não o fiz. O que torna grande parte do evento minha culpa também, e isso é algo com que eu não vou conseguir conviver.

A mulher no palco está falando, mas suas palavras se perdem no ar. Apenas escuto quando ela pronuncia o nome em alto e bom som.

Sandler Clegane!

Não é nenhum de nós, e invés de alívio, o que sinto é terror. Quem irá proteger a inocente Lucy? Que nem mesmo tem a força necessária para levantar uma espada? Isso não pode ficar assim. Observo as costas tensas de Geremy enquanto um garoto pequeno porém da minha idade, sai do meio da multidão e muito lentamente vai caminhando para o palco. Tenho vontade de gritar para que Geremy faça algo, mas então penso na minha parte desta culpa que agora compartilhamos. E antes mesmo de perceber estou seguindo o garoto para o palco. Sinto os olhos todos em mim enquanto abro o caminho pela multidão. Dois pacificadores barrão meu caminho mas driblo os dois e corro.

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Chester! O que vai fazer?! - Escuto Geremy gritar com a voz carregada de agonia mas o ignoro. Continuo correndo até que mais dois pacificadores me rendem pelos braços. Me contorço e lanço os pés em todas as direções até que encontro minha voz.

Eu quero me voluntariar! - Grito em pleno pulmões. O silencio chega a doer nos ouvidos. Os pacificadores já não estão mais me rendendo e começo a me acalmar. Olho para uma Lucy perplexa no palco. Os olhos encharcados e vermelhos.

Bem. - Começa Philippa. - Admiro sua coragem, rapaz. Mas não foi nos dito que o voluntarismo era uma opção. Nada consta na lista das regras.

– Então, crie uma regra! - Meus olhos começam a latejar.

O mesmo pacificador que trouxe a notícia sobre Charlizi Greenwood está se movimentando pelo palco. Ele novamente fala no ouvido da mulher até que ela explode.

Mas que falta de organização é essa?! Pelo jeito não estou sabendo de nada por aqui! Suba no palco meu jovem! - E com as pernas bambas começo a me movimentar para o palco.

Não! Não pode fazer isso!! Chester!! - Vejo Geremy correndo até mim, os pacificadores o rendem assim como fizeram comigo enquanto ele se debate às lágrimas, em puro desespero. - Eu quero me voluntariar. - Ele grita, e por um momento de terror pensei que ele poderia me substituir. Mas dessa vez é o pacificador informante que assume o microfone.

Segundo às regras dos Jogos, os voluntários apenas poderão comparecer uma vez. Assim que um jovem se voluntaria, nenhum outro poderá tomar o seu lugar. - Isso faz com que Geremy desabe de joelhos aos prantos, como uma criança. A imagem é simplesmente chocante.

Por favor. - Ele balbucia em meio às lágrimas. - Não posso ficar sozinho aqui.

Me desculpe. - É só o que eu consegui dizer, pois antes de eu me dar por conta estou com as bochechas úmidas de lágrimas, e vejo que quebrei minha promessa pela primeira vez.

Caminho até o palco e subo os degraus.

– E como é o seu nome? - Perguna Philippa.

Chester Shephard. - Respondo com a voz trêmula.

Oh! É a sua irmãzinha? - Ela questiona apontando para uma Lucy chorosa. Apenas faço que sim com a cabeça. - Então, senhoras e senhores, esses serão os primeiros tributos à representarem o distrito 9 na primeira edição dos Jogos Vorazes. Lucy e Chester Shephard, os irmãos do distrito 9. Por favor, apertem às mãos.

Apertar as mão? Isso é ridículo. Corro até Lucy e lhe envolvo em meus braços. Ela enterra o rosto na gola da minha camisa enquanto soluça. Dois pacificadores nos separam e então, sumimos para o interior do edifício da justiça.