Na Scotland Yard eram resolvidos os mais complicados casos policiais da Inglaterra. Seus inspetores eram conhecidos no mundo inteiro por sua perspicácia, complexidade e... Obstinação. Quando eles investigavam um caso eles mergulhavam até as profundezas da questão, desvendando completamente o caso, às vezes surpreendendo até os que haviam solicitado a investigação.

Watson era um dos Inspetores mais requisitados da força. Neto de policiais, diziam que ele herdara a famosa teimosia do avô que, lenda ou não, inspirara Sir Arthur Conan Doyle em seu personagem mais famoso.

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– Etienne! Há quanto tempo! Está muito ocupado para os amigos, não? Só consigo ver você através dos jornais.

– Justin. Como vai? Também tenho saudade do tempo da caserna. Lembra-se aquela vez em Dieppe? Aquela festa do Coronel? Agora quase não tenho tempo para encontrar os amigos e recordar os velhos tempos.

– Eu ainda consigo ver, de vez em quando, o O'hara o Clarkson e o Tennyson. Mas porque eles trabalham aqui comigo. Então nos reunimos naquele pub, lembra?

– O mesmo ainda? Pensei que o dono já havia proibido a entrada de vocês lá por causa daquele episódio com as filhas dele.

– Que nada! Eu acabei me casando com a filha dele mais velha. Então ficou tudo resolvido. Mas a que devo a honra de receber o subsecretário de relações exteriores de Sua Majestade.

– Você deve ter visto nos jornais que eu me tornei tutor de uma menininha, não?

– Vi. Só você mesmo pra se tornar pai, sem se casar. Quando é que eu vou ver você enlaçado, hein, Etienne?

– Daqui a seis meses, meu caro. Estou de casamento marcado. Não oficialmente, é claro.

– Ora, vejam. E quem é a felizarda? E por que não oficialmente? O pai dela é bravo?

– O nome dela é Samantha. E o pai dela não é bravo. Ela é órfã de guerra. Ela está de luto por lady Ernestine Benson.

– É uma das irmãs Whitmoore? Rapaz, você tem sorte. Além de rica, é uma mulher belíssima. Já vi a fotografia dela nos jornais.

– É. Ela é linda, realmente. E culta, agradável, uma mulher digna. Além de ter sido uma heroína de guerra. Você acredita que antes de dar baixa depois da guerra do Pacífico ela foi até o Japão ajudar os sobreviventes da bomba? Ela é formidável.

O amigo o observava com o sorriso nos lábios. Etienne fora o solteiro mais cobiçado de Londres, mas ele sempre escapava de mamães ansiosas para ter-lo como genro. E uma menina consegue o que há anos nenhuma outra mulher conseguiu.

– É. Você está mesmo amando, meu rapaz. Bem vindo ao clube dos apaixonados S.A. – Justin declarou rindo. – Mas em que eu posso lhe ajudar?

– Então, a minha noiva e a minha pupila desapareceram. Minha noiva até se feriu tentando impedir os bandidos de levar a menina. Eu estava no campo e ela ficou desacordada por dois dias.

– Vocês têm algum suspeito?

– Bem, Samantha sempre falava em um empresário norte americano interessado nas terras dos Benson na Escócia. Com a morte de lady Benson, a menina Isabella é a herdeira do clã. E inexplicavelmente ela começou a sofrer pequenos acidentes.

– Que tipos de acidentes?

– Bem, um dia o cavalo preferido dela tentou escoiceá-la depois de ser espetado por um dardo. E outro dia ela debruçou na grade na varanda do seu quarto e ela simplesmente cedeu. Se Samantha não fosse ágil, e menina teria rolado pelo telhado e caído no chão.

– Bem, agora complica um pouco. Se você está falando de Virgo van Keffler, eu não vou poder prendê-lo.

– Mas por quê?

– Ele não está sujeito às leis inglesas, Etienne. Não é um cidadão britânico. Além disso, ele é convidado da Embaixada Americana e sendo assim possui imunidade diplomática.

– E o que se pode fazer? – perguntou desalentado.

– Bem, não oficialmente, é claro. Eu posso tentar descobrir onde elas estão.

Etienne pensou um pouco e perguntou:

– E se um cidadão britânico estivesse envolvido.

O Inspetor deu um risinho.

– Aí, eu poderia espremê-lo como a uma laranja...

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Ethel Bloomfield sabia que estava perdida quando viu o carro de Etienne parar em frente a sua casa. E ver sua expressão furiosa, só fez aumentar sua preocupação.

– Etienne, querido! Quanto tempo não vem à minha casa. Aceita uma xícara de chá?

– Vamos deixar a cortesia para depois, Ethel. Você sabe por que eu estou aqui.

– Para me ver novamente? - ela bateu as pestanas, querendo seduzi-lo Ah, Etienne fico lisonjeada...

– Não. Não foi para vê-la. Aliás, eu quero que nossos caminhos nunca mais se cruzem depois de hoje. O que eu quero é simples. Onde estão Isabella e Samantha. Eu sei que você sabe, então nem perca tempo em mentir. – ele a encurralou na parede.

– Não sei do que está falando. – Ela fugiu dele e sentou-se no sofá, coquete.

Watson se adiantou:

– Senhora Bloomfield. Se não nos ajudar será acusada em co-autoria de seqüestro e cárcere privado. O que geralmente dá uns 10 anos em regime fechado. Não acredito que a senhora tenha todo esse tempo ainda de beleza e um ano em uma prisão acaba com qualquer um imagine então dez anos. Sugiro que a senhora pense bem, Sra. Bloomfield.

Ethel sabia que não tinha mais muitos anos de beleza pela frente. O que aconteceria com ela se fosse para a prisão? E os comentários durante o julgamento? Não seria capaz de agüentar.

Ela endireitou o corpo, levantou o nariz e perguntou:

– Se eu responder as perguntas dos cavalheiros, eu poderei sair livre?

Os dois homens se entreolharam e sorriram.

O caldo havia entornado. Nunca o ditado de sua avó fora tão verdadeiro. Samantha se sentia presa embora estivesse na suíte mais luxuosa daquele hotel. Fora uma loucura vir a toca do lobo acompanhada somente por Minoru.

Então, o desânimo tomou conta dela. Etienne a achava uma traidora, Isabella desaparecida e Minoru preso também em algum lugar daquele prédio.

A chave virou na fechadura e dois brutamontes entraram no quarto precedidos por um alto e magro.

– O Sr. Van Keffler quer vê-la, senhorita. – o homem magro informou.

– E se eu não for? - desafiou.

– A senhorita verá que esses dois podem levá-la sem problemas. - indicou os dois atrás dele.

– Você é bom na argumentação. - ironizou Samantha. Mas foi acompanhando os homens.

No outro quarto, reclinado numa chaise-longue, Virgo saboreava sua vitória. Tinha a menina e Samantha nas mãos. Agora era só atraí-la para seus braços e sua amada Samantha esqueceria aquele político insignificante.

Ele se congratulava com uma taça de champanhe na mão quando Samantha entrou na suíte acompanhada de perto pelos três homens.

– Samantha, minha querida! Aproxime-se. Aceita champanhe? - ela não respondeu - Claro que aceita. Sempre se usa champanhe para comemorar.

– E estamos comemorando o quê? - ela recusou a taça. O gorila pegou sua mão rudemente e forçou Samantha a pegar a taça.

– Ora, querida... Nosso noivado e futuro casamento.

– Você é louco. Nunca vou me casar com você.

– Ah, vai sim. Por que senão você nunca mais vê sua querida sobrinha. - ele dizia cada palavra devagar, como que para gravá-las em fogo na mente de Samantha.

– Você não ousaria. Está blefando. - Ela levantou da cadeira. Os brutamontes a forçaram a se sentar novamente.

– Acho que não. - riu-se ele. - Cliff, traga nosso pequeno convidado.

O sinistro homem saiu da sala por alguns minutos e logo voltou com um pacotinho nas mãos.

Depositou-o no colo de Samantha e com sádica delicadeza abriu o pacote.

Nele estava Teddy, o cãozinho de pelúcia de Isabella.

Aquilo fez que o sangue fervesse em Samantha e ela explodiu em atividade.

Deu um salto pra frente, se livrando dos brutamontes. Quando eles foram para cima dela, ela deu uma chave de pernas em um derrubando-o. Em seguida bateu-lhe com o calcanhar no peito, fazendo o sujeito arfar.

Quando ela ia enfrentar o outro, Cliff encostou um cano de pistola em sua cabeça, a fazendo recuar.

Virgo bateu palmas:

– Maravilhoso! Totalmente inacreditável! Agora vi com meus próprios olhos o que você é capaz. Realmente três homens não são capazes para você. Espero que você possa ensinar aos nossos filhos essa... essa luta japonesa. Pra que vou querer guardas costas, tendo uma esposa como você.

– Nunca serei sua esposa! Eu vou descobrir onde minha sobrinha está, nem que para isso eu vasculhe sala por sala, quarto por quarto deste hotel.

– Meu amor, - ele se levantou da chaise-longue e foi para perto dela – você, primeiro, precisa sair daqui.

– Isso eu já estou fazendo. - Num gesto rápido ela tomou a arma das mãos de Bamburguer e apontou para o peito de van Keffler.

– Cliff, seu idiota! Não sabe ainda com que está lidando?

– Cale-se, van Keffler! - Samantha ordenou. As circunstancias haviam acabado com seu controle e ela estava quase como que durante a guerra. Enérgica e autoritária. - Nós vamos sair daqui e você vai me mostrar onde está minha sobrinha. Agora!

E saiu puxando Van Keffler pela gola do robe.

Mas van Keffler não era homem de se dominar por uma mulher. Ele se soltou das mãos dela e se Samantha tivesse usado o revolver e não tivesse o usado apenas para intimidar, talvez ela sozinha pudesse ter encontrado Isabella.

Van Keffler era um homem grande e um tapa a jogou contra a parede, fazendo que ela tonteasse por alguns segundos e permitisse que van Keffler a dominasse.

– É assim que se domina um cavalo bravio, Bamburguer, não se esqueça. Agora vá se divertir com o japonês. Eu sei que você está louco por uma desforra.

E puxando Samantha pela longa trança, ele perguntou:

– Eu já disse a você que Cliff Bamburguer estava em Pearl Harbor? E que o irmão cacula dele servia no USS Arizona? É, o coitado nunca se recuperou da perda do irmão caçula e dos pais. - diante do silêncio dela, ele completou – É que quando os pais dele receberam a notícia, Cliff foi dado como desaparecido. Isso foi demais para eles. Os dois tiveram um ataque fulminante. E quando ele voltou da guerra, se viu completamente sem família. Uma pena, não acha?

Samantha não precisou de mais nada para saber que seu amigo iria sofrer muito na mão do americano.