Na manhã seguinte, fui para o centro de Kantou comprar maças com Ryuuku. Ele estava sofrendo de abstinência há alguns dias, mas eu estava ocupado demais para prestar atenção.

Na verdade, eu passava tanto tempo dentro da Central de Investigação, que Ryuuku acabou se afastando por um tempo. Segundo ele, lá era mais entediante do que o Mundo Shinigami.

Eu também estava com o Death Note dentro da mochila. Near sugeriu que eu não tirasse os olhos dele até falarmos com B novamente. Era perigoso ficar com ele durante todo esse tempo, então eu marcara de encontrar meu pai na praça Krishna às 19h. Ele concordara em guardar o Death Note. Mesmo deprimido ele não desistiria tão facil de capturar Kira, e durante esse tempo eu me viraria com o caderno da Misa.

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Sentei em um banco e deixei a sacola de maças ao meu lado. Ryuuku começou a comê-las esfaimadamente.

– Você ficou tanto tempo fora, pensei que já tinha encontrado uma macieira perdida por aí... - Comentei.

– Ah, quando eu saio para ver coisas novas, nem penso em procurar macieiras - Ele deu uma dentada na maçã e me olhou - A propósito, não encontrei nenhuma.

Eu sorri e estendi a mão dentro da sacola. Ryuuku se levantou e tacou o miolo da maçã que ele estava comendo diretamente na minha cabeça.

– Ei!

– Minhas maçãs! Vá comprar mais para você. - Ele agarrou a sacola com suas mãos esqueléticas e saiu voando.


Mais tarde, Ryuuku me acompanhou até a costa deserta de Shinshu. Ele não era um Shinigami muito falante, então fizemos a caminhada em silêncio. Isso era bom, porque assim teria tempo para pensar em tudo o que estava acontecendo.

Beyond Birthday, então quer dizer que ele é só um psicopata doentio, que quer o Death Note para incrementar seus assassinatos e sua “habilidade” dos olhos do Shinigami?

Não... eu era o deus do novo mundo. Só existe uma pessoa capaz de usar o Death Note para um bem maior, e essa pessoa sou eu. Eu tinha que matá-lo, mas eu não poderia...

Primeiro, apenas a SPK e o QG sabiam do sequestro. Se B morresse, automaticamente ligariam Kira à um desses grupos de investigação. E também, “Além do Aniversário” é um nome estranho para alguém, a possibilidade de ser falso é grande.

Eu tinha que fazer alguma coisa. Deve haver algum modo. Ele não podia ficar vivo. Se eu consegui pôr um fim em L, eu posso pôr em qualquer pessoa.

Mas o que...

Quando olhei para Ryuuku, ele estava curvado, segurando a maçã na ponta dos dedos e observando-a. Aquilo não era uma atitude muito comum para ele. Olhei em volta para ver se estávamos realmente sozinhos; ninguém podia ver Ryuuku, mas qualquer um poderia ver a maça voando.

– O que está fazendo, Ryuk?

– Esta é a última maçã e não sei quando vou comer outra vez.

– Se você guardá-la, ela vai apodrecer. – bufei.

Ele deu de ombros.

– Ryuk, é possível humanos nascerem com os olhos de Shinigami?

Ele me observou curioso, e pensou bastante antes de responder.

– Já vi casos como esse antes, mas não me pergunte como isso acontece. Eu não sei dizer.

Ryuuku deixara claro para mim no início, que ele não tinha a obrigação de me contar todas as regras do Death Note. Só as principais, que vinham escritas no caderno.


Quando cheguei à praça Krishna, meu pai já estava esperando. Parecia que ele não dormia a tempos, com olheiras profundas e olhos cansados. Ele realmente acreditava que Sayu estava morta, então ele não arriscaria entregar o Death Note para o suposto sequestrador.

Eu o cumprimentei e me sentei ao seu lado. Permanecemos em silêncio por um tempo, até ele suspirar e dizer:

– Você acha que um dia vamos capturar Kira? Quero dizer, L era uma mente brilhante, a maior do século. Se ele não conseguiu, será que nós somos capazes? – Ele baixou a cabeça, e sua voz se transformou em um sussurro – O que mais nós precisaremos sacrificar pela justiça?

– Acho que nós, juntos, conseguimos ser tão bons quanto L – Afirmei. Eu era tão bom quanto L, eu era melhor que L, eu o venci. Ele agora está debaixo da terra graças a mim!

Meu pai não conseguia dizer muita coisa, estava deprimido e totalmente indisposto para uma conversa “pai e filho”, não que eu fizesse questão de um diálogo agora. Trocamos as mochilas – um esquema que bolamos para que o Death Note fosse passado de mim para ele sem que ninguém percebesse. Viemos com mochilas exatamente iguais, uma estava com o Death Note, e a outra estava com um caderno preto comum – e decidi acompanhá-lo para casa.

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Já era tarde, então decidimos pegar o caminho mais curto pela rua Kanochi. e permanecemos em silêncio boa parte do caminho.

– Pretende voltar para o QG?

Ele suspirou.

– Sim, não desistirei agora. Minha filha não morreu em vão.

Andamos mais um pouco, e percebi que não ouvia mais os seus passos atrás dos meus. Virei-me e percebi que ele parara subitamente, com a boca semiaberta e uma das mãos no peito.

– Pai? O que está havendo? – Corri até ele. Havia sangue escorrendo de sua boca, e ele caiu no chão antes que eu pudesse ampará-lo.

Uma faca de cozinha estava pregada em suas costas, bem em cima do pulmão esquerdo. O sangue se espalhava rapidamente pelo asfalto, e pra variar, não havia sinal da mochila.

Uma figura de olhos cor de vinho se aproximou ao meu ouvido direito. Sua voz cortante e familiar foi sussurrada nele.

– Boa sorte, Kira.