Aconteceu

Capítulo 13



— Sua irmã é muito legal. Ela tem os seus olhos.
— Na verdade, temos os olhos de nossa mãe.
— Ela deve ser linda.
—Ela é. Marcella é uma versão mais nova dela. Imagine minha irmã, morena, mais baixa e com 50 anos. Essa é a minha mãe.
— Você tem mais irmãos?
— Agora só ela. – o queixo dele trincou e eu me calei. Certamente não queria falar no assunto. – No assalto que eu te falei aquele dia, acabaram matando minha irmã mais nova. – disse me surpreendendo
— Nossa, eu... sinto muito. Deve ter sido horrível.
— Foi, e ainda é. Mas não vamos falar disso. Vamos falar sobre você!
—Sobre mim?
— É, seu namorado achou problema eu te dar o vestido de presente e você estar me acompanhando?
— Não tenho namorado. E mesmo se tivesse, não teria problema algum. Aliás, Dr. Duarte eu gostaria de pagar pelo vestido.
— Não é necessário. Foi um presente.
— Os funcionários podem entender errado. – disse me lembrando de que Alice disse que ele nunca havia presenteado os funcionários, nem mesmo a amada e saudosa dona Sônia que o acompanhava nesses eventos.
— Eles não têm nada a ver com isso. Posso presentear quem eu quiser, como eu quiser e quando eu quiser. E se der algum comentário, não se preocupe, eu dou um jeito.
— Vantagens de ser o chefe – resmunguei baixinho, mas ele ouviu.
— Se um chefe não puder conter seus próprios funcionários ele está perdido.
— Acho que sim. – um silêncio se instalou, e eu não sabia mais o que falar. Não sabia para onde estávamos indo, mas ele disse que era longe, o que significava que essa viagem talvez fosse desconfortável.
— Eu não sabia que você e a senhorita Brandão moravam juntas.
— Já tem um bom tempo que moramos juntas. É tão estranho ver todo mundo a chamando de “senhorita Brandão”. Pra mim ela é só a Alice, minha doce e louca Alice.
— Você gosta muito dela né?!
— Ela é como uma irmã para mim. Esteve do meu lado nos piores e melhores momentos da minha vida. É em quem eu mais confio.
— É bom ter amigos assim.
— Você não convive muito com o pessoal né?!
— Como assim?
— Ah, você nunca participou de algum “Happy Hour”, ou foi em algum aniversário. Na verdade, eu só vejo você conversando com o Daniel. A não ser ele, você é bem distante dos outros funcionários.
— Daniel é da minha família.
— Sério?
— De certa forma sim, eu nunca participo, pois sempre tenho receio de vocês não se divertirem o suficiente por minha causa. Tem pessoas ali que têm medo de mim. Não sei por que, sou inofensivo.
— É porque você é o chefe. Mas você é legal.
— Sou?
— Bem, eu não posso dizer muito sobre você, temos pouco contato e tudo mais. Mas o pouco que pude conhecer de você, me mostrou que é um cara bem bacana. Às vezes, eu sinto que você sai da posição de chefe por alguns momentos, e são nesses momentos que eu posso ver um pouquinho quem é o Rafael por trás do Dr. Duarte.
— E você gosta do que vê?
— Ah, gosto. Mas acho que devia mostrar mais ele.
— Antes ninguém o via. É novidade pra mim também. Tem pouco tempo, ainda não me acostumei direito.
— Quanto tempo?
— Uns dez meses – disse olhando no fundo dos meus olhos. E tem exatamente dez meses que trabalhamos juntos. Desse jeito fica muito difícil não criar expectativas.. – Chegamos. Ana, eu não quis parecer indiscreto quando perguntei se tinha namorado. Perdoe-me se dei essa impressão.
— Ah, imagina, não se preocupe.
— Perguntei porque vai ter alguns fotógrafos e pode sair algumas fotos nossas por ai, não queria que se sentisse mal por isso. Mas se não quiser tirar as fotos, pode se recusar a qualquer momento.
— Não tem problema. Só estou acompanhando um colega de trabalho, que mal tem nisso? – ele sorriu.
— Pronta? – assenti e assim, ele saiu do carro e deu a volta numa velocidade absurda, de modo que pôde abrir a tranquilamente a porta para mim.

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Quando ele disse que haveria fotógrafos eu pensei que seria uma coisa mais sutil, que eles ficassem perambulando em meio às pessoas e ocasionalmente tirassem uma foto ou outra. Jamais imaginei que eu iria participar de um evento como aquele. Era como o tapete vermelho do Oscar. Milhares de fotógrafos, dezenas de pessoas bem-vestidas (e ricas), e literalmente tinha um tapete vermelho. Enquanto desfilávamos sobre ele – porque desfilar é a única coisa que fizemos e eu quase não respirei por medo de tropeçar na barra do vestido e cair de cara no chão bem na frente dos fotógrafos, envergonhando Rafael – vários cliques foram feitos, pessoas murmuravam e perguntavam: “Quem é ela?”. É claro que perguntariam, acho que nem mesmo esse vestido caríssimo conseguiria mascarar que eu nunca fiz parte desse meio social.