Por Dimitri Belikov.

Deus, como era indescritivelmente bom finalmente voltar a ativa nas funções de Guardião após quase 15 dias cumprindo afastamento, além disso se eu tivesse que passar mais um único dia na administração preenchendo e checando relatórios ao lado do Hans e de Alberta eu provavelmente entraria em parafuso.
Naquela manhã acordei mais cedo que o habitual mesmo que a cada hora durante grande parte da noite acordava para checar se estava tudo bem com ela e com os nossos bebês, tomei um rápido banho no primeiro andar para não acordá-la com o barulho da água, coloquei meu uniforme que estava passado sobre a cômoda com um sobretudo preto ao qual mais tarde descobri que era um dos que minha namorada mais gostava em mim, fiz o café da manhã para nós dois mesmo que fosse comer sozinho dessa vez, separei as vitaminas de Rose receitadas pelo seu médico, lhe deixei um bilhete avisando que iria acompanhar Christian até a cidade para ver ternos já que o casamento dele com Lissa seria daqui 3 meses e então tudo teria que estar perfeito até lá.
Minha doce e amada irmã Rebekah simplesmente não conseguiu manter a boca fechada e com isso noite passada simplesmente tive que ouvir por telefone minha irmã caçula Victória gritar histérica por quase 10 minutos que seria tia e minha mãe não conseguiu dizer a frase completa sem cair em lágrimas de emoção ao saber que seria avó e eu pai. Aliás, indo além da felicidade que eu já estava sentindo desde que havia assumido o que era para ser uma responsabilidade estritamente profissional minha Roza estava grávida de gêmeos e isso era mais que um sonho para mim, ter a mulher que amo esperando o fruto do que sentíamos, eu estava no paraíso!
Andei pelos imensos corredores do primeiro andar rapidamente cumprimentando alguns Guardiões que eram mais próximos a mim pelo caminho, indo direto para a sala de reuniões padrão me encontrar com Christian Ozera, pegamos o carro e dessa vez no que parecia um milagre ele me deixou dirigir.
– Me deixou dirigir o seu carro particular dessa vez, posso perguntar porque essa mudança repentina Majestade? -Pedi manorando um dos carros de Christian para fora do estacionamento da Corte.
– Se isso fizer você parar com esse lance de "Majestade" eu respondo qualquer coisa que quiser saber Belikov, porque além do fato de que somos amigos, eu me sinto realmente velho e assim como Lissa ainda vou fazer 19. -Respondeu Christian com a expressão séria sentado no banco do carona ao meu lado. - Enfim, o julgamento da minha Tia Tasha está acontecendo nesse exato momento, Lissa deixou Rose cuidando de Marie e Lucas na casa do Adam Zeklos junto com a sua irmã Rebekah, porque concordamos que assim como você, ela também deveria ter o mínimo de contato possível com o caso e nós vamos provar ternos numa loja no centro, eu porque sou o noivo da Rainha e você porque têm que ser um padrinho apresentável.
Estacionei o carro na frente de uma loja de ternos específicos para casamento e eventos sociais importantes, mas foi o que estava ao lado daquela loja que me chamou a atenção assim que desci do carro, ajudando Christian a fazer o mesmo antes de travar as portas.
Comecei a pensar no que poderia acontecer exatamente caso eu realmente fizesse o que tinha em mente naquele momento, então por fim passei a mão pelos meus cabelos que já estavam passando do meu ombro e entrei no salão tão nervoso quanto quem entra numa sala para realizar uma cirurgia de risco, virei para uma moça Dhampira de uns 27 anos, que irritantemente parecia estar me comendo com os olhos desde o momento que passei pela porta de vidro temperado e com a voz meio ríspida fechei a expressão e rapidamente lhe informei o que deveria fazer no meu cabelo; Rose iria amar a surpresa ou na pior das hipóteses certamente iria me matar quando descobrisse o que eu havia feito, mas de qualquer forma eu estava disposto a arriscar assim mesmo.
Assim que voltei para a loja de ternos avistei imediatamente Christian Ozera saindo do provador nos fundos da loja com um termo preto habitual, gravata verde numa coloração semelhante as cores que compunham o brasão dos Dragomir e assim que me viu ele rapidamente franziu a testa parecendo realmente confuso com o que viu.
– Espero que tenha uma vida reserva na manga Belikov, porque sinceramente falando eu acredito de verdade que provavelmente a Rose vai simplesmente te matar quando ver isso. -Disse ele apontando para o meu cabelo enquanto tentava segurar o riso.
Eu simplesmente havia me livrado do meu cabelo grande completamente, havia deixando bem curto. Não que eu não gostasse do meu cabelo da forma que estava, mas sentia que em algum momento teria que fazer algo daquele tipo, então porque não fazê-lo naquele momento? Era só cabelo, iria crescer de volta antes que eu tivesse tempo para me arrepender disso.
– Prefiro pensar que não Christian, estou esperando que ela goste do que fiz ou então vou mesmo precisar de uma vida extra. -Falei dando de ombros com um sorriso.
– Vou rezar pela sua alma, porque você realmente vai precisar Belikov, caso ela não goste do corte, mas ficou bem legal. -Brincou Christian rindo e então apontou para o terno que vestia. - E ai, o que acha disso aqui?
– Lissa com certeza vai aprovar Christian, foi realmente uma ótima escolha. -Respondi com sinceridade.
– Estou contando com isso... Agora para de me enrolar e vai provar o seu terno também Belikov. Preciso que meu padrinho de casamento esteja devidamente descente ou então quem vai precisar de uma vida extra sou eu. -Disse Christian de uma forma autoritária, essas eram as vantagens de pertencer a realiza e estar prestes a casar com a nossa Rainha.
Honestamente, terno social não era exatamente o meu estilo de roupa favorito para uso, mas eu teria que vestir aquilo só por um dia durante algumas horas, além disso no fim das contas havia encontrado um que fosse apropriado para a ocasião em questão, mesmo que eu não pudesse usar um sobretudo por cima de tudo.
O caminho de volta para a Corte Real foi quase silêncio a maior parte do tempo, assim que entramos no estacionamento um Guardião ainda do primeiro turno ajudou Christian com as poucas sacolas que retirei do porta-malas, então após ser dispensado o restante da tarde segui para o meu apartamento na ala leste, uma rápida olhada na cozinha mostrou que minha namorada havia passado por ali em algum momento, arranquei os sapatos os deixando na lavanderia, entrei no corredor caminhando devagar ainda descalço, abri a porta do quarto devagar, as janelas estavam fechadas e a luz apagada então presumi que como estava de folga após passar o dia anterior acompanhando a Rainha em suas intermináveis reuniões, Rose havia aproveitado para dormir até mais tarde, tirei o casaco e me guiando pela beirada de nossa cama fui contornando a mesma até sentir algo pegajoso e molhado me fazendo ficar confuso.
– Rose, por acaso você derrubou alguma coisa na cama? Amor, está me ouvindo? Rose? Está me ouvindo? -Questionei franzindo a testa ainda confuso, tateando o ar as cegas afim de encontrar o abajur.
Encontrei o interruptor do abajur e o liguei quase gritando com a cena que encontrei a minha frente quando a claridade atingiu o ambiente, a primeiro momento tudo parecia perfeitamente normal, mas então meus olhos foram para a cintura de Rose onde o lençol até então branco preso na cintura dela estava completamente ensopado de sangue formando uma pavorosa cratera vermelha, rapidamente temendo pelo pior a peguei em meus braços e sai do nosso apartamento correndo o mais rápido que podia, ignorando o fato de que ainda estava descalço, imediatamente avistando minha irmã Rebekah andando de mãos dadas no corredor principal de forma distraída a minha frente com Adam Zeklos ao seu lado. Assim que me viram correndo desesperado com Rose em meus braços ambos trocaram olhares horrorizados e imediatamente perceberam que havia algo tremendamente errado uma vez que viram todo aquele sangue e correram ao meu encontro.
– Ah meu Deus Dimitri, o que aconteceu com a Guardiã Hathaway? -Questionou Rebekah tirando seu casaco e jogando sobre Rose enquanto entravamos no elevador.
– Fala sério, não precisa chamar a Rose assim e sabe disso. Vocês são cunhadas agora, esqueça as formalidades, por favor. Eu não sei explicar Bex, acabei de chegar em casa e a encontrei deitada na cama com todo esse sangue na cintura. -Expliquei lutando para me controlar.
Merda! Isso definitivamente não podia estar acontecendo com nós dois justo quando tudo estava finalmente indo tão bem em nossas vidas, Rose não podia simplesmente estar perdendo nossos bebês.
Por Deus que não tenha sido isso.
Entramos na ala hospitalar da Corte ainda correndo mais do que podíamos, rapidamente vários enfermeiros me cercaram por todos os lados e Rose fora arrancada de meus braços, imediatamente sendo encaminhada para a ala da UTI sob código de emergência com um tubo de respiração sendo encaixado em seu rosto pálido e ainda com ar angelical e todos tagarelando ternos médicos que me eram totalmente desconhecidos tornando tudo ainda mais aterrorizante, por quase uma hora inteira ninguém saia da maldita sala de emergência com informações sobre o que havia acontecido com a minha Roza, na porta do lado oposto avistei a Rainha Lissa e Christian com seus filhos nos braços, atrás deles avistei Abe Mazur com a expressão visivelmente nervosa.
– Dimitri, faça a gentileza de explicar de forma resumida o que exatamente aconteceu com a minha Guardiã Pessoal? -Questionou Lissa colocando Lucas no chão e me abraçando.
– Eu não sei explicar com exatidão Majestade, acho que têm algo errado com os bebês. Eu cheguei em casa depois de levar Christian até a cidade, entrei no quarto e vi muito sangue pela cama toda, não tive tempo para pensar muito sobre o que havia acontecido... Eu só a peguei nos braços e corri com Rebekah e Adam até o carro deles e... Agora simplesmente ninguém fala mais nada a respeito. -Falei tentando falhamente controlar o desespero que tomava conta de mim.
Abe Mazur parou ao meu lado com a expressão completamente séria para disfarçar seu desespero, então no que pareceu uma tentativa de consolo ergueu a mão e apertou amigavelmente meu ombro e o encarei ainda mudo, apenas assentindo com a cabeça mostrando agradecimento por seu gesto. Lucas estava sentado no chão próximo aos pés de Christian brincando com um urso azul médio e as vezes me encarava com seus olhos verdes claros assim como os de Lissa eram e antes dela seu pai Eric Dragomir também possuía tal coloração nas órbitas, o garoto estava completamente alheio ao clima tenso que acontecia a sua volta, preso em sua encantadora bolha de inocência junto ao urso de pelúcia azul em algum mundo só deles, então num ato automático, dei um pequeno sorriso lateral sem conseguir me conter com relação a energia do garoto, estendi os braços mesmo estando sujeito a uma recusa e para minha surpresa logo ele estava brincando em meu colo.
Em determinado momento que pareceu durar uma eternidade uma médica Dhampira de cabelos vermelhos, aparentando uns 35 anos saiu pela porta que eu evitava contato visual.
– O responsável ou parentes da Srta. Hathaway Mazur se encontram? -A médica perguntou olhando uma ficha em suas mãos.
Rapidamente me coloquei em pé ainda com Lucas preso em meus braços brincando com seu fiel e inseparável urso azul juntamente com Abe Mazur e Rebekah me cercando por um lado do corpo e Lissa com Christian pelo outro. Todos com expressões tensas, uma vez que dividiamos a mesma inquietação e temor.
– Sou Ibrahim Mazur; Abe, pai da Rosemarie Hathaway. Por favor, que sejam boas notícias. -Disse Abe com a voz ligeiramente ríspida.
– Sou a Doutora Hetzel, a Senhorita Hathaway Mazur teve um descolamento da placenta de nível médio por questões que ainda estamos tentando descobrir, o que gerou o início de um aborto natural, mas por um milagre conseguimos estabilizar e por enquanto está tudo bem com ela e os bebês. - Informou a médica mantendo a expressão séria.
– Tem um preocupante "mas" vindo aí, eu como pai da sua paciente consigo sentir. Qual a pegadinha que não está nos contando Dra. Hetzel? - Questionou Abe franzindo a testa parecendo prestes a perder o controle que pouco havia lhe restado desde que havia chegado ali e instintivamente me preparei para segurá-lo, porém Rebekah o fez por mim.
– Ainda preciso fazer alguns exames para ter certeza do que está acontecendo com sua filha Senhor Mazur, mas a primeiro momento parece que o corpo de Rose por alguma razão desconhecida está rejeitando a gravidez, se isso acontecer temos algumas opções. -Disse a médica com a mesma expressão apática.
Senti meu sangue até então quente de preocupação, imediatamente gelar em minhas veias, engoli em seco travando o maxilar com força para controlar a náusea que me atingiu ao processar aquelas palavras que haviam me atingido tão sutilmente quanto levar um soco.
– Roza acaba de entrar no quinto mês de gestação, se o corpo dela continuar com a rejeição vamos ser obrigados a realizar uma cesária de emergência para retirar os bebês e isso pode ser um grande problema se os pulmões dos bebês não estiverem totalmente prontos. - Respondeu a Doutora mantendo-se séria enquanto falava. -Eu sei que minhas palavras assustam um pouco, mas se não decidirem Rose e os bebês morrem em 48 horas, se arriscarem as chances de ambos sobrevivem são muito significativas.
Pelo amor de Deus, porque o destino gostava de me torturar daquela forma machucando a única coisa boa que me aconteceu em anos? Que merda, eu definitivamente não conseguia tomar uma decisão, não dava.
– Ela já acordou? -Perguntou Rebekah mantendo os olhos em mim e a agradeci mentalidade por estar sendo forte por nós dois quando deveria ser o contrário.
– Sim, mas estamos considerando mantê-lá totalmente sedada por enquanto, até vocês decidirem o que estamos autorizados a fazer para proteger os bebês e a ela. -Esclareceu a Doutora travando os labios em linha reta. Eu conhecia muito bem aquela postura rígida que ela assumiu, ela estava realmente preocupada com a saúde de minha Roza; sua paciente e amor da minha existência.
– Por acaso eu posso vê-la por alguns minutos, por favor? -Praticamente implorei lutando ferozmente para manter o que me restava de controle, eu estava a ponto de desmoronar.
Rebekah me lançou um olhar preocupado que não tive como ignorar uma vez que ela estava quase que virada para mim, Christian ao meu lado contornou a lateral de meu corpo em silêncio e sutilmente tirou Lucas dos meus braços vendo Lissa sentada numa cadeira ao lado embalando Marie Rhea que aparentemente estava travando uma verdadeira batalha contra o sono, Abe Mazur por sua vez novamente apertou meu ombro levemente como se estivesse tentando me encorajar a ser forte.
– Pode, mas não poderá demorar muito tempo por ela ainda estar na ala da UTI e queremos sedar ela o mais rápido possível. -A Doutora cedeu com um olhar compreensivo.
Assenti e segui ao lado da Doutora sem me atrever a olhar para trás uma única vez, o maldito corredor branco cercado por portas de ambos os lados me deixava incrivelmente incomodado, então finalmente páramos na frente de uma das inúmeras portas e respirando bem fundo acompanhei os passos da médica para dentro da pavorosa sala.

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