Absinthe

Capítulo 15


A Floresta Tortuosa. O nome não era exatamente esse, porém, era como popularmente se conhecia. Aleivosa e predatória, a floresta somente recebia visitas de suicidas. Porque, só para pretender a morte é que se entrava lá.

Contudo, Ártemis estava examinando seu portal. Ela retirou uma lâmina argêntea e a girou no ar segurando seu cabo em seguida.

Eu não tenho medo.

E a deusa entrou na mata.

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Veja isso como uma aventura. Você adora aventuras, Ártemis.

Ao primeiro passo para dentro do arvoredo mítico, o mundo pareceu escurecer.

Mas era dia lá fora! Ártemis pensa, olhando ao redor.

Ainda era possível ver os tons verdes, marrons e seus degrades. Porém, nada era claro. Não era um breu, mas o ar se tornou mais fino e uivos eram ouvidos. Como de uma forma doentia, as criaturas estavam saudando a deusa.

Não era como seus bosques. De maneira nenhuma. Naquele lugar não se sentia a vitalidade e fantasia que suas terras transpiravam. Lá não existiam clareiras, ou fechos de luz como nos seus territórios. As raízes das árvores pareciam furar o chão - como uma espada entra no peito de um inimigo. Elas eram de um tom acinzentado e desfiguradas. De modo que, se não olhasse duas vezes pareciam rir para a garota. Um riso cheio de pontas afiadas. Tudo muito ilusório.

Também era úmido. Não, Ártemis se corrigiu: Lamacento. E pegajoso.

A deusa a comparou como uma grande bolha. As copas das árvores cobriam o céu igual a um enlaço. Ela começou a caminhar, atenta. O cheiro era desagradável, todavia, dava para aturar. Cheiro de sangue antigo, ferrugem e plantas.

Mas onde estavam os corpos? Se a floresta era tão assassina assim, onde estavam os cadáveres? Ártemis fitou o chão, a procura de respostas.

Nas laterais, onde as folhas não cobriam o chão, a terra parecia engolir lentamente ossos enfeitados com armaduras e elmos. Como uma serpente consumindo uma presa. Então, tudo que morria era ingerido pelo chão que ela pisava?

Higiênico, ela ironizou em pensamento.

Ártemis diria que estava tudo indo muito bem até o momento. Nada muito assustador ou terrificante.

Sim, está tudo indo mui-

Ártemis gritou ao notar que seus pés não tocavam mais sólido algum. E sua coluna ralava pela inclinação onde estava caindo. Ao finalmente constatar que estava efetivamente despencando, ela tentou se segurar a algumas raízes. Entretanto, estavam secas e se quebravam nas mãos dela, abrindo buracos em sua manga e ferindo seu antebraço. Seu pé bateu em uma pedra e a partir daí, Ártemis começou a rolar sobre as folhas até seu corpo se chocar violentamente em algo que emitiu um rugido descomunal.

Ártemis levantou sua cabeça rapidamente, fazendo seus cabelos baterem com força contra suas costas. Ela arregalou os olhos, estupefata.

É uma maldita Manticora?!

O mostro alado, fungou e pôs uma pata no focinho. Porém, logo, colou os olhos na deusa, essa se levantou muito rápido e por alguns segundos sua visão turvou. Ela balançou a cabeça e segurou com intensidade sua adaga.

Manticora era um leão com asas, patas e caldas de escorpião. Com um veneno maligno e eficiente como ácido. Além de uma coisinha extra: a criatura também cuspia fogo.

E foi isso que a besta fez, aspirou o ar enchendo os pulmões e despejou fogo em direção a Ártemis.

A deusa pulou para o lado. Os solados do coturno fazendo zoada ao deslizar na terra. Ela soltou um rugido e correu em direção a Manticora. Ela escorregou no chão, passando por debaixo da barriga do grande animal e riscou um traço de sangue em seu abdômen. Ártemis deu uma cambalhota e se pôs de pé, rindo ao ouvir o lamuriar da fera.

– Ah, vamos! Só foi um arranhãozinho. – Ela exclamou sentindo a força de ter sangue divino.

A criatura estreitou os olhos para deusa e começou a usar suas asas, alçando voo.

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– Maldição! – Ela sussurrou ríspida. No escuro, um monstro voando ao seu redor. Ele poderia se esconder em qualquer lugar. Ela seria uma presa fácil.

A deusa pegou o arco e uma flecha e seguiu a Manticora. Ela no ar e Ártemis em solo. A besta mexia suas patas dianteiras como uma ameaça e fazia uma careta. Agora, se ela conseguisse acertar em suas asas algumas vezes quem sabe...

Ártemis não teve tempo de terminar o pensamento, a Manticora vinha ao seu encontro com a boca aberta e um urro vindo de suas entranhas.

A jovem se abaixou automaticamente. Talvez não estivesse mais tão confiante assim. A garra do monstro a jogou contra um tronco mais próximo. Sem muita estabilidade, Ártemis deixou sua cabeça pender para o lado. Não estava mais com o arco e a flecha. Ela tocou em suas têmporas ao sentir algo líquido deslizar. Ícor.

– Droga. – um estalo saiu de sua boca em chateação:

– Agora eu estou brava. – Ártemis olhou para a Manticora erguendo as sobrancelhas, enquanto passava uma mão pela testa.

A adrenalina chamou mais alto, ela correu e com todo impulso que poderia dar, saltou. Pousou suas mãos sobre o focinho e deu um último arranco que a fez, em milissegundos, montar o lombo do animal. Ela foi ágil e para sua sorte, a Manticora era tão irascível quanto estúpida.

Ártemis retirou duas adagas que estavam escondidas nas panturrilhas e abriu um grande buraco no dorso da Manticora. A besta emitiu um grito feral, perdendo o sustento nas patas da frente. Enterrando por um momento, a cara na lama. Em seguida ela começou a se debater, com o intento de tirar a garota de suas costas.

Ártemis se segurou às duas adagas enterradas na carne da Manticora. Todavia, as asas de morcego do monstro batiam nela sem parar, deixando-a tonta. Ela teria que sair. Porém, não antes de furar as asas, tornando-as frangalhos.

Bem, se antes ela estava brava, agora era a vez de a Manticora sibilar em um silvo primitivo.

Ártemis caiu com as costas no chão. Ah, isso vai doer muito mais, depois. Ela pensou, quando o impacto fez sua cabeça chacoalhar.

A calda da Manticora rachou o chão à centímetros do crânio da garota. Ártemis escancarou o ferrão com terrorismo. Ela queria xingar, sua cabeça ferida desfocava tudo. A Manticora continuou a apunhalar seu ferrão, tentando alcançar a deusa.

Ártemis virou e rolou. Esquivando-se velozmente, a terra explodindo em seu rosto, era árduo de inalar oxigênio. E, oh, céus! Como a sua cabeça latejava.

Ártemis tinha que se levantar, afastar-se ou, eventualmente, seria acertada.

A jovem girou de uma vez e no momento que pôs-se de pé, a Manticora carregou suas bochechas de ar e o cheiro de enxofre inebriou sua mente, de modo que não pode se mover tão rápido quando a rajada de fogo foi atirada. Ártemis podia ver as brasas correndo por seu braço esquerdo. Enterrando-se em sua pele.

A Manticora exprimiu um som de pura agonia ao passo que um vulto colidia com seu corpo. E Ártemis ouviu uma outra voz. Algo como um grito de ódio. Entretanto, ela já estava no chão, entorpecida pela dor. Ela só conseguia ver figuras indistintas naquele momento.

Um barulho de algo se quebrando.

Um choro.

E as pálpebras dela se fecharam.

***

Ártemis sentiu sua testa pegajosa. Molhada e gelada. A deusa abriu os olhos com dificuldade. Ela desejaria ver o céu. Ao invés disso, deu de cara com as mesmas copas cavernosas da Floresta Tortuosa.

Lembrou-se da luta.

Ártemis se levantou do que ela constatou ser um tronco de uma árvore oca colocada ao chão. Ela franziu os olhos em confusão tirando um pedaço de pano da testa embebido de água, enxergando uma fogueira ao seu lado.

Minha ferida! A garota encarou seu braço e não existia mais queimadura. Ou melhor, não havia nenhuma injúria. Sua pele alva intacta, como se ela nunca tivesse entrado numa briga naquele dia. Porém, os rasgos em sua manga evidenciavam que aquilo não tinha sido uma ilusão.

– Ei, você acordou. – Uma voz falou atrás dela.

Ártemis não soube o que sentiu. Um misto de alegria, incompreensão e nostalgia. Ela abriu a boca, contudo, não encontrava as palavras. Somente fitava Apolo dos pés a cabeça.

Apolo despejou alguns gravetos e galhos de árvores na fogueira e se sentou ao seu lado. Uma expressão severa e um risco entre suas sobrancelhas.

– Mas o que deu em você? – Ele parecia lívido. Seus olhos escurecidos fixos nos de Ártemis. – Você não pode simplesmente-

– Como... Como você me encontrou? – Ela perguntou com a voz rouca em desuso. Ela queria tocá-lo. Só para ter certeza que ele estava ali.

Apolo ficou sem reação por um pequeno momento, entretanto, respondeu passando a mão pelo queixo:

– Eu voltei ontem. Eu... Fui atrás de você, mas você não estava em casa. As ninfas me disseram sobre o quanto você ter andado estranha – Ártemis abaixou o olhar, fitando seus pés. – e viram você sair às pressas sem dar qualquer satisfação. Você não tem ideia do quanto me preocupou. – Ele sussurrou, trincando o maxilar.

– Eu esbarrei com Atena e ela me disse que você fez uma série de perguntas sobre a antiga deusa do destino. – Ele disse mais como uma afirmação duvidosa.

– Ok, isso é um exagero. Eu não perguntei tanto assim. – Ártemis comentou.

– Como se isso fosse relevante! – Apolo exclamou impaciente ela viu o quanto ele estava tenso.

– Você não deveria ter vindo. Eu sei me cuidar muito bem.

– Sim, eu vi. Em que parte você estava no controle? Quando a Manticora quase te fritou viva ou quando você caiu inconsciente?

Ela franziu o cenho, zangada e eles se encararam por um tempo.

– Há quanto tempo você não toma o néctar? – O deus perguntou, quebrando o olhar.

– Eu...Mmmm.

– Foi o que eu pensei. Por isso estava tão fraca. Dormiu por quase doze horas. – Ártemis se puniu por ser tão impulsiva. Na pressa, ela tinha esquecido de levar um suplemento com ambrosia e néctar.

– Para sua sorte eu trouxe e a primeira coisa que eu fiz quando te vi foi fazer você beber. - Apolo se virou para ela novamente:

– Só não faça mais isso comigo, Ártemis.

A voz baixa e vacilante acomodou-se em seus ouvidos e Ártemis se viu queimar com o jeito que ele falava seu nome. Ela nunca tinha percebido isso? Essa sensação tão boa de escutar seu nome sair daqueles lábios?

– O que você quer com Ananque? Ela é uma prisioneira de Zeus, por que esse interesse repentino? – Apolo indagou, batendo um joelho contra o dela para chamar sua atenção.

Por sua causa?

– Ela profetizou algo para mim há muito tempo atrás. – Ártemis comentou pondo uma mecha atrás da orelha. Apolo seguiu o ato e molhou os lábios:

– Pensei que ela só contasse mentiras.

– Talvez. – Ártemis engoliu em seco.

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– Então, o que você faz aqui? – Apolo não entendia.

– Eu não sei! – Droga! Ela queria que ele parasse de perguntar. Ártemis não pensava em admitir o porquê de estar nessa jornada louca à Anaque. – Você não devia estar aqui!

– Tudo bem. Se não quiser, não diga. – Ele falou na defensiva. – Mas, eu não vou te deixar.

Ártemis suspirou e somente assentiu.

– Meu arco? Eu o perdi de vista na luta. – Ela imediatamente recordou e mexeu a cabeça para os lados, procurando.

– Aqui. – Ele sorriu. – Eu quase pisei nele quando estava te carregando, mas, ele está inteiro. – Apolo segurou o arco prateado para Ártemis e suas mãos se tocaram por um instante antes da deusa passar o braço por entre a curva da arma.

– Obrigada. – E Apolo sabia que o agradecimento não era só por ter mantido a arma a salvo.

– Nós deveríamos continuar. – Ártemis apontou o queixo no sentido da mata. – É perigoso ficar parado por aqui.

Apolo concordou com um aceno e começou a despejar solo na chama a sua frente.

Ártemis o observou pelo canto do olho e sussurrou para si em um alívio doloroso:

– Eu senti sua falta.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.