Abracadabra!

CAPÍTULO III — "RENOVAR"


Seus olhos sequer haviam se pregado, depois desta lembrança. O sol já vinha se deslocando entre os rochedos da cidade onde viviam em extrema paz com a natureza, e a magia lacrada no cofre que era o coração da jovem Kristina. Se levantou da cama com um impulso, calçando as pantufas e invadindo o corredor da casa emadeirada que viviam. Caminhou passando pelas estantes, vasilhas, e rosas pelas paredes tinham diversos quadros, pinturas, e documentos pregados. Abriu uma porta que dava para o quarto da sua mãe, que lia um livro com os óculos no nariz como sempre lia. Kris, subiu na cama a balançando animada.

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— Mãe, mamãe. Desfoca deste livro, e foca em mim! — exclamava, quase aos berros a encarando c om um bico que se formava nos seus lábios finos.

Sua mãe retirou os óculos o colocando em cima do criado mudo e olhando para ela estranhando a animação — Oque foi desta vez? Kristina. — temeu pela resposta.

Kris acumulou um pouco de ar nos pulmões e jorrou as informações só de uma vez — Mamãe, deixa eu conhecer a vovó? — pulou com mais força na cama — por favor! É logo ali, do outro lado do mundo! Eu tenho 20 anos, e já posso viajar sozinha. — reclamou com bico.

Sua mãe respirou novamente fundo, experimentando o seu capuccino — não vou relutar. Ok, pode ir logo ali do outro lado do mundo. Porém tem uma condição.

Kris revirou os olhos e fez gesto para que a mãe prosseguisse, e então assim fez — vai ter que me ligar assim que chegar lá. — Kristina comemorou por dentro por não ser mais um daqueles acordos malucos, como “um ano levando o lixo para fora” ou “tá proibida de comer lasanha por um mês”.

Os tempos passaram e a vida da Kristina só se complicava mais e mais. Se dividia entre trabalhar na lanchonete como garçonete. E também na faculdade nos últimos meses, suas notas haviam diminuído, a cada passo que dava via como apenas uma frase na sua mente: A vida não pergunta se você está preparada ou não. Se você se machucou ou não. Ela apenas vem com os socos, e você que prepare para desviar.

Estava mais uma vez na aula de álgebra, soprando os restos da borracha do caderno e jogando seu material na bolsa. Correndo em meio a multidão, empurrando algumas pessoas e sendo empurrada. Entrou no ônibus e colocou seus fones de ouvido para ouvir uma musica em fins de passar o tempo até ir para a lanchonete, começar seu período.

Seus dias se resumiam em pressa, mais em alguns dias tudo era calmo. Conversava mais com sua vó sobre sua mãe verdadeira.

“Sua vó respirou fundo e a encarou — sua mãe foi forçada a casar querida. Seu avô confundiu as coisas, bateu na sua mãe até ela perder o filho do Matt. E a coitadinha… Ah, ela ficou um pouco biruta. Concordou em se mudar, jogar fora a sua vida e seus sonhos. Até conhecer seu pai, e se apaixonar novamente. Ela enxergava tudo isso como uma segunda chance, para quem tinha tido um passado tenebroso, demorou bastante para ela ceder para o seu pai, mais ela cedeu completamente quando ele a salvou de se jogar na barragem. A doida, chorou nos braços dele, até se beijarem e então você surgiu na vida deles depois de 3 meses que ela descobriu a gravidez depois de inúmeros enjoos. Eles eram um casal perfeito! Pena que tudo terminou assim… — sua vó respirou fundo, e a encarou novamente olhando-a no fundo dos seus olhos — Só se case com quem amar de verdade!”

— Se casar com quem amar de verdade? Besteira… — resmungou, se afundando no travesseiro. Pegou seu diário, estava realmente decidida. Iria levar a vida normal, de uma garota normal, de 20 anos. Abriu o diário, e pegou uma caneta azul céu e preparou-se para escrever.

Querido diário,

Vou apelida lo de Sune, porque eu não sou uma garota normal, então meu diário precisa de um nome. Sune, minha vida tem sido difícil desde então. Queria tanto que a mamãe tivesse aqui, não que a minha outra mãe não tenha sido uma ótima pessoa neste meio tempo que passamos juntas, mais… Eu sinto saudades da voz da mamãe, cantando para eu dormir, ou quando eu chorava querendo colo. Isso é egoismo, mais eu também sinto falta do papai. Ele nem sequer esperou que o corpo da minha mãe esfriasse. E já se enrolou com outra, me diga Sune… isso é justo? Não, por isso eu me mudei. Além disso, passei quase minha adolescência toda no colégio interno. Se não fosse por um antigo amigo, que se chamava Thiago, eu nem teria sobrevivido. Mais minha terceira mãe, que seria minha vó… ela é tão boa, ela está bem mais boazinha do que quando eu era pequena, pois ela puxava minha orelha e realmente doía. Fora as suas histórias, que eu amava. Enrolados, Pequena Sereia, Cinderela… todas contos de fadas. Por este motivo sempre acreditei no amor, queimando minhas mãos por quem sequer sabia da minha existência. Agora eu não acredito mais, desde aquele dia que eu fiquei presa no quarto com o Thiago e ele começou a falar sobre uma paixão. E eu podia cruzar os dedos e pedir aos deuses que fizessem com que o tempo passasse mais rápido. Não passaria. Sune, vou ir dormir! Amanhã tenho mais um dia para enfrentar na faculdade. E ainda tenho que trabalhar na lanchonete. Então espero que me sobre tempo para escrever mais em você. Pois estou ficando animada com esta história de ter diário.

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Com carinho, Kris”

Afundou novamente sua cabeça no travesseiro procurando um lugar onde espancaria até seu coração parar de doer. De repente, aquela noite se sustentou por diversos flashbacks. Sem sequer pregar o olho, ou um movimento de músculo, só tinha forças para encarar ao teto, e pensar, refletir, questionar a vida. Como era cruel e boa ao mesmo tempo. Cruel por separar duas pessoas, uma delas achou se seu grande amor. E boa por livrar daquela pessoa que só a fazia ficar parada no tempo. Até raciocinar, no primeiro dia no internato, ela entrou no quarto errado, ficaram amigos. Ele a ensinou ler e a escrever. Que clichê mais adoravelmente clichê… Aquela história não havia sido terminada, raciocinou em uma situação inicial para a história, levantou novamente na cama eram 5:45, iria terminar aquela história. Pegou um papel, e releu totalmente tudo que até então havia sido escrito naquele pedaço de pergaminho amassado, e velho.

— Eve era a princesa das trevas, não saia nem para comer daquele calabouço sujo e escuro. Recebia a comida por uma brecha na porta, como uma prisioneira. Porém não era isso que era? Uma simples prisioneira. — suas lágrimas começaram a brotas nos olhos esverdeados, agora um pouco avermelhados por causa do sono — Aurora era a princesa de luz, linda e adorável. Cuja gostava de animais e era uma pessoa amada por todos do reino. Recebia tudo na hora, e sempre ajudava no que podia. — bocejou, levando a mão na boca. E se jogou na cama, zunindo o objeto que até então tinha em mãos na parede. Virou para o lado, e pegou em sono profundo.

*-*

Lá estava ela, com uma touca para esconder os fios mal arrumados do cabelo, meio quilo de maquiagem tinha somente no rosto para esconder a vermelhidão dos olhos, e as olheiras profundas. Uma blusa que continha uma estrela verde, uma calça desbotada, e um sapato de franjas cano médio. Tudo estava perfeito até pela segunda vez no dia o professor de literatura chamar sua atenção por está “pensando na vida” como ele mesmo usou. — Kristina! Vou pedir para você explicar todo o trabalho, se eu te ver novamente olhando para fora da classe. Está pensando na vida alheia?. — A sua salvação! O sinal havia tocado, e todos os alunos se retiravam apressadamente. A próxima aula era de teatro, fazia par com um garoto novo da outra classe. Nem sequer sabia seu nome. Hoje era somente para sortear as peças cujas seriam apresentadas no encerramento do semestre.

Torcia para que não ficassem com a peça Romeu & Julieta. Teriam que adaptar para uma peça mais para os dias de hoje. Teriam muito trabalho, seria “trabalhoso”. Marcou por sms, que ele viria de blusa verde só para ela saber que é. E se encontrariam na cantina para se conhecerem, jogou seu material para dentro da bolsa de carteiro, e pegou seus livros os levando para fora da sala. Se pois a frente do seu armário já pondo a combinação. Os arrumou ali dentro e fechou o armário. Foi a caminho da cantina, empurrando, sendo pisada nos pés, pisando nos pés das pessoas, e sendo quase esmagada como um picles, em um sanduíche. Abriu a porta da cantina, totalmente arrumada e limpa, todos os grupinhos reunidos e somente uma mesa vazia e lá estava seu colega de peça, cabelo longo platinado, olhos pretos negros, pela branca como a neve, e uma cicatriz na testa, magro e alto. Se aproximou sem faz sequer algum barulho. A timidez podia ser constrangedora, e também um ponto fofo em uma garota.

Puxou a cadeira, e recebeu um sorriso tímido que veio da parte do garoto até então desconhecido.

Respirou fundo e o encarou tentando sorrir e não parecer uma louca morrendo pela timidez — O-olá… — acenou e se sentou quase escondendo o rosto no panfleto das peças.

Ouviu um riso desajeitado, e percebeu o garoto estendendo a mão, e a aperto sorrindo sem jeito — Prazer sou Thiago. — riu, seus dentes eram não de um tom totalmente brancos, mais eram brancos. Usava aparelho, e tinha um piercing no septo.

Toci um pouco quase se engasgando com a própria saliva — sou Kristina, prazer! Faz tempo que entrou nesta escola? Sabe eu sou meio…

Riu novamente, mais uma risada desajeitada como a anterior — amnesiada? Eu sou novo nesta escola.

Conversa vai, conversa vem. Até terminar a hora do recreio, era como se Kristina se sentisse estranha ao se olhar no espelho. Queria mudar, renovar. E procuraria uma pessoa indicada. Lupicya. Ela é tatuadora, e cabeleireira. Era tudo do que precisava.

*-*

Encontrou Lupicya na saída como haviam marcado, foram para a casa da menina onde tinham diversas agulhas de tatuagem espalhadas pelo quarto a maioria embalada. Tesouras, e fios de cabelo. Sentou em uma cadeira giratória, e se observou no espelho e focou seus olhos nas próprias pernas. Abaixando a cabeça e deixando o pescoço mole, ouviu o barulho da maquina de tatuagens, em ação. Era uma dor doida, dava para aguentar. Havia escrito “confidence”. A tesoura entrou em ação a deixando com um novo visual, seus olhos verdes foram reacendidos o brilho. Seu cabelo em um chanel perfeito, pontudo. E rosa, com algumas mexas azuis, uma combinação perfeita. Abraçou Lupicya, quase a amassando — não sabe como estou agradecida, precisava mudar. Sorte que minha vó concordou! Esqueci de te falar, ela que me ajudou a decidir oque fazer, e como cortar meu cabelo. — riu fraco, tropeçando nos travesseiros. — Obrigado de coração Lupi, você me salvou, eu preciso realmente mudar. Oque tem aqui dentro… — riu com os olhos de ternura.

A garota logo a sua frente passou a mão pelo cabelo curto e riu — deus você está linda. Se quiser eu posso treinar sua pegada — riu dando uma piscadela — se você pedir com jeitinho. — se aproximou.

Kristina corou do couro cabeludo até as unhas do pé. Ficando igual um tomate, com as folhinhas rosas e azuis. Arrancou uma gargalhada da Lupicya, que balançou negativamente. Até ouvir algo sair dos lábios finos da Kris.

A encarou ainda recuperando a cor — fica pra próxima! — acenou — novamente obrigado pelo corte e a tatoo. — fechou a porta, e desceu as escadas passando pela sala principal e correndo assim que o ônibus parou em frente a casa da moça sua amiga.

Balançava a blusa desesperada, tentando arrumar um jeito para se livrar dos fios no seu cabelo ex somente rosa. Quando avistou um garoto ao longe do ônibus, entrar e se sentar bem do seu lado, tirar os fones e perguntar seu nome.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.