A Última Chance

Parte I - Capítulo 31 - Bônus II


Capitulo 31

Bônus II

A tensão no lugar era palpável, enquanto a garota fechava os olhos e seu sorriso morria. Mas seus dedos frágeis que se apegavam á mão de Daryl e agora se soltavam não foram largados por ele.

- Delilah? – Daryl a chamou apertando sua mão contra a dele, na esperança de que ela acordasse.

Mas ela não acordou.

Então Daryl se inclinou sobre seu corpo, encostando o ouvido em seu peito, tentando escutar seu coração, esperando que fosse apenas um desmaio. Mas não havia nenhum som, nada. Nenhuma batida, mesmo que fraca, e não sabia se era porque seus ouvidos zumbiam com sua pulsação – pelo menos era o que esperava. Mas sabia que não era. Ele se endireitou e olhou atentamente para Delilah, que permanecia parada, sem nem mesmo o movimento da respiração.

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O homem suspirou e andou até o outro lado da sala com a expressão austera, como se estivesse pensando. Mas na verdade ele apenas tentava não sentir. Não sentir o que ele sentiu todas as vezes que perdera alguém. Conhecia aquela garota havia apenas um mês! E no entanto sentia a mesma dor e fúria que sentiu todas as vezes que havia perdido alguém. E além disso um sentimento estranho que o consumia por dentro.

Chutando a mesa com flores murchas ali no canto da sala, fazendo-a virar, Daryl andou furiosamente até a faca que havia jogado no chão e a pegou, logo andando até a porta na intenção de abri-la para matar alguns zumbis. Era isso o que fazia, não era? Matava essas coisas.

Mas, no momento em que retirava com toda a sua força o armário que tampava a porta, um estrondo foi ouvido nos fundos e Ethan, acompanhado de Rick e Reed, entrou vindo de lá, com um ar desesperado e assustado. Ele correu para Delilah, desacordada no sofá e se agachou ao seu lado.

- Delilah? Por favor, acorde. Por favor! – Ethan falava cada vez aumentando mais o tom de voz, encostando o ouvido em seu peito e verificando o pulso.

Daryl se virou para o outro lado, se poupando da cena. Já era o bastante o estranho sentimento que o corroia por dentro, não precisava ver alguém entrando em desespero vendo a garota morta. Mas logo ela atenderia a todos os pedidos para despertar e então teriam que matá-la definitivamente. Daryl não sabia por que, mas sentia que isso era sua responsabilidade. Talvez porque se culpasse por todo o acontecido; se tivesse a acompanhado nada teria acontecido. Talvez. Arrumou a besta, pronto para agir a qualquer movimento, permanecendo de costas.

Como se lesse sua mente, uma respiração alta e arfante foi ouvida e ele se virou bruscamente apontando a besta para Delilah, e qual foi sua surpresa quando viu a garota se contorcendo e lágrimas saíam de seus olhos. E, mais que surpresa, alívio.

- Está doendo. – ela falou entre os soluços.

- Hey, se acalma. Já vamos para casa. – Ethan segurou sua mão, mas ela não parecia ouvir nada.

- Não... Não... – resmungou antes de desmaiar novamente.

Reprimindo um suspiro de alívio e pena, Daryl andou rapidamente até o sofá e antes que alguém o fizesse, colocou apenas a jaqueta de volta em Delilah e a pegou no colo.

- Vamos logo. A porta não vai aguentar muito tempo mais. – falou olhando para as rachaduras na porta e ouvindo o barulho de coisas se quebrando que vinha do lado de fora.

Rick foi na frente segurando um facão pronto para atacar, e Daryl foi logo atrás sendo acompanhado pelos outros dois homens. Sua camisa, já suja de sangue, ficava cada vez mais úmida, o que deixava bem claro que se Delilah não morresse pelos ferimentos, seria pela falta de sangue. Ele sabia muito bem que se não fossem rápido a próxima vez que ela acordasse não seria da mesma maneira.

- Cuidado! – Reed falou pegando uma flecha e afundando-a na cabeça de um errante – Fiquem de olho nas árvores.

Eles foram andando mais rápido e Daryl ficava atento a qualquer movimento suspeito. O maior problema apareceu quando conseguiram dar a volta na casa e a horda de zumbis que permaneciam na rua se virou para eles.

- Corram. – Rick falou, se preparando – AGORA!

E todos partiram enquanto os grunhidos se intensificavam na esperança dos zumbis de um enorme banquete. Apesar de levar Delilah no colo, Daryl continuava ágil, e talvez ainda mais rápido; para ele a garota era tão leve quanto uma pena. Depois de passos largos e alguns – muitos - zumbis mortos, conseguiram entrar no carro e pela primeira vez Daryl abrira mão de ir na frente.

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Rick não hesitou em pisar no acelerador, mesmo com toda a neve e o risco de um acidente. Não queria mais uma morte, e era imperativo levar rapidamente tudo o que sua esposa e bebê precisavam, e já tinham perdido tempo demais.

- Droga, isso é praticamente uma hemorragia! – Ethan exclamou enquanto levantava sua jaqueta para examinar o corpo da garota, que estava banhado em sangue e ficava cada vez mais pálido – O que aconteceu?

Daryl fechou as mãos em punho e virou o rosto para a janela. Se tivesse que explicar, provavelmente saltaria do carro só para dar mais alguns tiros no imbecil que havia causado tudo aquilo.Em sua mente ele repassava várias formas de tortura que adoraria tentar nele e por um momento desejou que ele não estivesse morto para realizar aquilo. Então, se contendo, deixou Reed contar, e ficou com muita raiva ao vê-lo contar apenas a parte dos tiros.

Com a velocidade em que iam, em menos de uma hora chegaram em casa – é claro, depois de algumas derrapadas e um quase atolamento – e Reed foi na frente com Rick, com os remédios e o equipamento que Herschel precisava para ajudar Lori e, logo depois, Ethan foi acompanhando Daryl.

- Ah meu Deus, o que aconteceu? – Carol perguntou, sendo a primeira a ver a garota ensanguentada e desacordada, atraindo a atenção do resto que se juntou para ver como Delilah estava.

- Um maluco atirou nela. – Daryl falou entredentes, entrando na casa – Depois de tentar abusar dela.

- É O QUE? – Ethan gritou, olhando enraivecido para Reed.

- Preferi não te contar essa parte. – ele escorou na parede despreocupado.

- Ah, cala a boca. – Daryl pediu – Precisamos cuidar disso. Ela já perdeu muito sangue.

Herschel, se sentindo dividido pela situação de Lori e Delilah, pediu para que levassem a garota para o quarto e fizessem um torniquete não muito forte para atrapalhar sua respiração enquanto cuidava rapidamente de Lori, afinal também tinha que pensar no bebê.

Assim que Daryl fez menção de ir em direção á escada, uma voz veio dela numa falação alegre.

- Vocês voltaram! Foi até rápido. Onde está a Lia, eu quero mostrar para ela o... – Gael parou nos pés da escada, olhando para o corpo da irmã – O que aconteceu com ela?

A sala ficou num silêncio absoluto enquanto a pequena garota olhava para todos com seus olhos marejados esperando uma resposta que não vinha. Até que Savannah, que estava quieta num canto com os olhos arregalados, foi até ela.

- Venha, vamos conversar. – ela segurou a mão de Gael, mas essa não se deixou ser levada.

- Eu quero saber o que aconteceu com ela!

- Ela está bem, só teve um acidente. Ela está bem! – Savannah se abaixou até ficar na sua altura, e olhou para Carol pedindo sua ajuda.

- Vamos lá, eu te conto o que aconteceu. – ela falou olhando sugestivamente para Ethan que acompanhou a as três até o quarto.

Assim que eles desapareceram no final da escada, Daryl subiu com Delilah até o quarto dela, deixando-a na cama. Retirou novamente a jaqueta, com cuidado, e a colocou de qualquer maneira sobre a cômoda. Tirou o cinto de sua calça e passou pelo tronco da garota, sentindo sua pele arder de tão quente ao toque.

- Ouch. – uma voz rouca e baixa falou – Levar tiro realmente dois, Duplamente. Entendeu? Duplamente.

Delilah riu bobamente, os olhos entreabertos, passando para uma careta de dor.

- Devia ficar quieta. Quanto mais se mexer mais vai doer. – ele instruiu, apertando o cinto.

- É difícil com você me tocando desse jeito. – ela riu mais uma vez.

- Isso não é engraçado. – Daryl reclamou. Aquela garota não parava nem mesmo estando á beira da morte?

- Não do seu ponto de vista. Mas se quiser ver do meu é só deitar do meu lado. – Delilah fechou os olhos, com um sorriso fraco no rosto.

- Para o inferno. – ele resmungou baixo.

- Já estamos nele. – ela rebateu com a mesma resposta dada por ele semanas antes, e então foi fechando os olhos novamente para a inconsciência.

Daryl continuou calado e, alguns segundos depois, se sentindo desconfortável ali, saiu indo para o lado de fora. Não aguentaria ficar lá mais nem um minuto. Tinha a impressão de que ela não sobreviveria, não importava os esforços que fizessem, e, bem no fundo, imaginava que alguém teria que atirar. E o modo como se sentia sobre isso era horrível. Já havia feito isso antes, mas nunca fora tão ruim. Como Dale. Daryl o respeitava. Apesar de nunca ter gostado muito de receber conselhos e sempre respondê-lo nefastamente quando o fazia, o escutava. E quando aquele zumbi apareceu e o pegou, tinha sido ele quem atirara, havia poupado-o da dor. Mas se acontecesse com Delilah, faria a mesma coisa? Talvez a prezasse demais para fazê-lo. O que o levava a outro pensamento.

Amar.

Era um conceito tão vago em sua vida que era difícil até mesmo pensar nisso. Seu irmão, Merle, sabia muito bem que se importava com ele, mas não passava de um “dever”, um “eu me importo” praticamente obrigatório pelos laços de sangue. Pelo menos era assim que pensava. Mas uma garota como aquela? Que ás vezes agia como mimada, irritante e reclamava de tudo? Que tinha metade da sua idade?

Nunca, pensou ele.

Mas apenas pensou. Porque, no fundo – bem no fundo - sabia que a realidade era outra.