A previsão de Consuelo se confirmara. As melhores famílias de Belarrosa, inclusive da região, faziam convites à Condessa Vitória para jantares, chás da tarde, festas ao ar livre. Luíza não poderia estar mais feliz e a mãe compartilhava desta alegria. Finalmente havia o que fazer, as pessoas se encontrariam mais, novas possibilidades surgiriam, embora ela não soubesse exatamente de quê. Até as pessoas na cidade sentiam a mudança de ares, ainda que não fossem convidadas para festa alguma.

Recebiam, naquela noite, os Oliveiras, num jantar semelhante ao que a condessa havia oferecido. Luíza agradecia aos céus que tivessem lhe colocado um lugar à mesa oposto à condessa, assim poderia observá-la, matar a estranha curiosidade que lhe atormentava desde sua chegada. E percebeu-a reservada, taciturna, arrogante até, como diziam as pessoas da cidade. E pertubadoramente atraente. Luíza cuidou para que seus olhares fossem discretos, mas, como era inevitável, em um momento os olhos de ambas se encontraram. A condessa levantou as sobrancelhas e lhe deu um meio sorriso, como um cumprimento. Luíza sorriu timidamente e abaixou os olhos.

Após o jantar, se reuniram todos os convidados na sala. As mulheres se serviam de licores, os homens fumavam. Luíza só desejava que a senhora não mais percebesse seu interesse. Andava pelo salão, como se admirasse as pinturas nas paredes, os objetos de decoração, atitude imediatamente interrompida por Consuelo, que puxando-a pela mão, trouxe-a junto ao pequeno grupo em que estava: -”Não comporte-se como criança. É preciso conversar com as pessoas!”

Luíza, como que automaticamente, procurou a condessa pela sala: estava sentada em uma poltrona, rodeada de convidados, e novamente, sob um leque, seus olhos encontraram os da menina, que ruborizou. Fez-lhe então um sinal que fosse até ela. Luíza permanceu imóvel por segundos, até que caminhou em sua direção.

— Meu, bem, me faça um favor? Avise meu sobrinho que comece a despedir-se das pessoas. Estou muito cansada! Luíza acenou com a cabeça, sem dizer palavra. Após o recado dado, correu para a frente da casa, sentindo que o ar lhe faltava. “Por Deus!” Entendia tudo agora. Tudo. Completamente. Como não havia percebido antes? Sentiu uma felicidade plena encher-lhe o peito e sorriu. Sorriu incrédula. Deixou que a brisa noturna lhe refrescasse o rosto e a alma antes que pudesse voltar.