A mulher do retrato 2
Capítulo 2
A potencial compradora das propriedades de Vitória era a Vinícola Beraldini, sediada em São Paulo e comercializava vários rótulos de vinhos, principalmente para o exterior. Uma busca pela internet deixou Bento a par do tipo de empresa que viria conhecer a Ventura em poucos dias.
— Quero mais, Vitória! Não importa o preço que oferecerem, pediremos mais! São muito ricos, muito bem estabelecidos no mercado. Que não pensem que vão levar tudo o que é nosso a qualquer preço...
— Mas, Bento, estariam nos fazendo um favor comprando uma vinícola falida, meu Deus! Como podemos querer negociar o que não é negociável? Você já arruinou tudo, Bento! Não vai arruinar este último bom negócio para nós!
— Vamos ver, Vitória! É isso o que vamos ver! Trata-se da herança do meu paiI! E Bento saiu batendo a porta da entrada.
Vitória sentia-se cada vez mais amarrada ao temperamento de Bento. Jamais poderia tomar qualquer decisão que a beneficiasse sozinha e ele certamente daria por perder esta oferta também...
Em São Paulo, Emília Beraldini arrumava as malas para a viagem ao sul. Não importa quanto pedissem da vinícola, ficaria com ela. Faria-lhe companhia a sobrinha Luíza, não para tomar qualquer decisão mas para um estágio nas cooperativas locais já que Emília já havia se decidido quanto a uma permanência indefinida em Campobello.
Luíza não conhecia em detalhes os negócios da tia, mas estranhou o súbito interesse por uma propriedade que nem mesmo conhecia.
— Tem certeza que ficaremos alguns meses, tia? Não viu ainda a tal vinícola...
—Certeza absoluta, Luíza. Faça suas malas com roupas de frio, muito frio, calor...é uma região com muito potencial. E certamente comprarei a propriedade por um preço muito conveniente. Seu tio faria o mesmo, confie em mim!
— Eu não tenho que confiar ou não em você, tia. Não entendo nada de negócios...mas este estágio na região, não sei...deixei de aceitar outros para acompanhá-la. Receio que não me ajudem muito...
— Não me ouviu falar que a região é ótima? Não comercializamos vinhos semelhantes. Se te convidei é porque preciso de sua ajuda. E você é uma companhia. Mas se não quiser ir, ainda é tempo...
— Eu quero, tia! Só me ocorreu que talvez não ficássemos tanto tempo lá como está planejando.
— Espero que não fique entediada...é uma cidade pequena. Mas terá seu trabalho, então não estou me sentindo tão culpada de arrastá-la comigo.
Luíza abraçou a tia. Desde que o tio havia morrido e Emília ficado viúva, tanto ela quanto os pais tornaram-se muito dedicados a ela e lhe confiavam a presidência da Beraldini completamente. Se ela havia decidido pela tal vinícola, provavelmente faria um bom negócio e novos ares por alguns meses lhe fariam muito bem.
Dois dias depois, Emília e Luíza chegaram a um pequeno hotel de Campobello. Era, na verdade, o único da cidade. As outras eram pousadas. Para não passar nenhuma informação a desconhecidos de suas intenções na cidade, decidiu, ainda em São Paulo, faze a reserva para quatro dias e depois a renovaria, sempre por poucos períodos, conforme caminhasse a negociação. Luíza sentiu um aperto no peito assim que chegou a ponto de começar a sentir-se mal na recepção. A tia insistiu para que se chamasse um médico, mas depois de alguns copos de água, a sensação passou.
— Acho que estava ansiosa demais com a viagem, tia!
— Hoje mesmo vou ligar para a proprietária da vinícola e tentar um encontro já para amanhã. Se quiser pode ficar dormindo.
— Eu prefiro! Também não serei de nenhuma ajuda. Mas acho que está se precipitando. Talvez se mostrando interessada demais...não acha que podem elevar o preço ao perceberem seu interesse?
— É uma vinícola falida, Luíza. Elevar o preço? Não seriam loucos.
Emília telefonou para Vitória e marcou o encontro na manhã seguinte. Luíza percebeu-a muito tensa durante a ligação e mesmo depois.
—Não vai me dizer o que lhe está preocupando tanto? Está nervosa, é visível, mesmo que esteja tentando esconder de mim.
— Ah, Luíza...um negócio bom assim não se faz todos os dias. Não se preocupe.
E na manhã seguinte Emília bateu à porta da casa de Vitória.
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