A filha de Além Mar

Capítulo 19 - Congratulations


—Pedro, meu amor!- disse Mary docemente, causando estranhamento em Ed e Susana, mas principalmente em Pedro. Somente Lúcia, que não estava a par dos últimos acontecimentos, ignorou aquele comportamento, apesar de que Mary nunca o havia tratado dessa forma.

—Eh, bom dia!- disse Pedro aos gaguejos. –Veio se despedir?- perguntou ele.

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—Despedir? Mas por quê?- perguntou Mary ao se fazer de confusa.

—Ontem à noite você me disse que partiria ao amanhecer, pensei que nem a veria mais, parecia tão ansiosa para voltar a Arquelândia. - respondeu Pedro sinceramente.

—Mas porque iria embora se meu noivo está aqui!- disse Mary com um sorriso no rosto e então deu um beijo em Pedro.

No mesmo momento Astride entrou na sala. Usava um vestido num tom de azul bebê com um corpete bem estruturado e mangas longas que pegara emprestado com Susana há alguns dias, nas mãos delicadas segurava uma carta com o selo de Nárnia já aberta, os cabelos negros estavam soltos e enfeitados com uma tiara de estrelas e perolas, e o rosto estava limpo e esbanjava o mais lindo sorriso, sorriso esse que sumiu no instante ao ver Mary e Pedro se beijando.

Ela não conseguiu se mover por alguns segundos, atônita com a cena. Seu coração se partiu em mil pedaços, novamente, e mesmo que ainda amasse Pedro, sentiu imensa raiva dele naquele momento. A primeira coisa que veio em sua mente foi: Havia o perdido, ele preferiu a ela.

—As!- foi Edmundo o primeiro a notar sua presença ali, que até então tinha passado despercebida.

No mesmo momento Pedro separou o beijo e se virou para tentar explicar a Astride o que tinha acontecido, mas antes que o mesmo pudesse falar, Mary tomou a frente dele e sob a magia do feitiço, conseguiu atrapalhar mais ainda as coisas para os dois.

—Bom dia As, já soube da notícia?- perguntou Mary com um sorriso falso.

—Não. - respondeu Astride friamente.

—Bom, vocês vão ser os primeiros a saber, é uma surpresa na verdade... Resolvi antecipar o casamento, que tal daqui a quatro dias?- disse Mary ainda com o mesmo sorriso.

Ninguém falou nada. Pedro ainda estava totalmente estarrecido com aquilo, Edmundo e Susana apenas olhavam de um lado para o outro sem entender o que se passava enquanto tentavam pensar em algo para apaziguar aquela conversa, Lúcia observava enquanto comia, já que de todos ali, ela era a que menos informada, e Astride não esboçava reação alguma, apenas ficava olhando para Mary sem nenhuma expressão em especial na face.

—Mas porque Mary? Pensei que... - começou Susana.

—Devido a atual situação do seu país, achei que um casamento fosse animar um pouco as coisas!- interrompeu Mary ignorante como se Susana não tivesse o direito de falar, fazendo a Rainha gentil se irritar.

Apesar de tudo que passaram Mary ainda era uma súdita dos quatro reis, e tratar Susana assim, foi o fim da picada. Ninguém na sala entendia o porquê dela estar agindo daquela forma, mesmo quando ainda era noiva de Pedro, Mary era reservada e preferia não interferir em nada, quem dirá desrespeitar sua rainha, além disso, sempre fora muito gentil e educada.

—Como é que... - começou Susana, mas parou ao sentir alguém tocar em seu ombro. Era a mão de Astride. Um meio sorriso surgiu em sua face melancólica, e ao olhar para ela, Susana soube o que ela queria dizer: “Deixe pra lá, não vale a pena. Temos problemas maiores pra resolver”.

—Bom, parabéns para os dois então!- disse Astride para Mary, que sorriu em triunfo. –Agora vamos comer, estou faminta... –continuou As e então seguiu Susana até a mesa, se sentando ao lado dela. No lado oposto, estavam Mary e Pedro, que sentou com certa relutância ao lado da então noiva, e ao lado do irmão mais velho Ed sentou, se inclinando de imediato para conversar e tentar entender o que havia acabado de acontecer.

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—O que foi isso? Pensei que tivesse falado com ela Pedro!- perguntou Ed aos sussurros para o irmão.

—E falei, também não entendi o porquê dela está agindo dessa forma. Parece até outra pessoa... - respondeu Pedro no mesmo tom.

—A As parece não ter ligado muito para a notícia!- disse Ed ainda sussurrando ao olhar de relance para Astride, começando a comer logo depois. – Pensei que ela iria fazer um escanda-lo... -

—Não Ed, ela não é assim. É uma garota durona, só não está demostrando fraqueza. Não é a primeira vez que ela faz isso. - disse Pedro melancólico para o irmão, que concordou ao relembrar da primeira vez que a viu. –Ela está sofrendo, e a culpa é toda minha!- concluiu ele.

Astride comia seu café como se nada tivesse acontecido silenciosa e quieta, não falava com ninguém, e nem olhava para ninguém, envergonhada por ter acreditado no que Pedro disse, que poderiam realmente ficar juntos e que Mary iria partir de volta pra casa. Eram tantos sentimentos, tristeza, raiva, decepção... Que a Senhora de Nárnia não sabia qual mostrar.

Conforme o tempo ia se passando, os lordes e o pequeno conselho iam se acomodando na enorme mesa da sala, e depois que todos tomaram seus cafés da manhã, e a mesa foi limpa, a reunião matinal começou.

—Primeiramente bom dia majestades!- disse Orieus com sua voz grave e imponente. – Tomei a liberdade de entregar a carta Senhora Astride... -

—Me desculpe, acabei me esquecendo de entregar a ele quando vi... enfim, está aqui!- disse ela calmamente, e então entregou a carta que havia aberto e lido antes para Pedro.

No ato suas mãos se encontraram e ela finalmente olhou nos seus olhos. Pedro sorriu e sussurrou rapidamente: -Preciso falar com você!- Astride queria apenas revirar os olhos e nunca mais olhar para ele, mas não conseguiu. No fundo sabia que ele não havia mentido na noite passada, sabia principalmente que o que eles tinham era forte demais para acabar daquele jeito e sabia o que sentia por ele, talvez desistir não fosse uma opção. A jovem e bela menina sorriu discretamente e concordou com a cabeça, fazendo Pedro relaxar um pouco, nem tudo havia se perdido.

—Pois bem, chegaram notícias hoje cedo de que um exercito montou acampamento próximo ao Grande Rio. Nossos informantes desconfiam que seja a feiticeira. - continuou Orieus, enquanto Pedro lia atentamente o que dizia na carta.

—É ela, só pode ser!- disse Pedro ao terminar de ler a carta e passa-la para o irmão.

—Estamos atrasados, ela se adiantou e está na nossa frente, temos que reunir nosso exercito e qualquer um que possa ajudar!- disse Astride para Orieus, que concordou com a cabeça.

—Sim minha senhora, vou reunir os que estão em Nárnia!- disse o general Orieus.

—Em Nárnia?- perguntou Astride sem entender.

—Sim, Pedro, meu noivo... - começou Mary, ao dar ênfase na palavra noivo. –Enviou três frotas do seu exercito para ajudar meu pai na luta em meu país. Ele não é um doce?- terminou Mary, fazendo Pedro esconder o rosto com uma das mãos e respirar fundo para não surtar.

—Mas o conflito na Arquelândia já foi cessado, pensei que Luna tivesse mandado eles de volta pra casa!- disse Ed, entrando na conversa.

—E mandou, depois que ele foi embora, um dia depois recebi uma carta dele agradecendo mais uma vez e dizendo que nossas tropas já haviam retornado para Nárnia!- disse Susana. –Pensei que eles já tivessem chegado!- completou.

—Alguma coisa deve tê-los atrasado, que Aslan os proteja e não deixe que nada de ruim aconteça!- disse Lúcia preocupada.

—De qualquer forma, ainda temos um bom número de soldados aqui não é?- voltou a perguntar Astride.

—Sim majestade, contudo mesmo com as três tropas atrasadas, o exercito da feiticeira nos supera em numero e armas, são quase 10 deles para cada um de nós. - informou um dos conselheiros preocupado.

—Isso não é importante, ninguém pode superar meu Pedro em batalha!- se intrometeu mais uma vez Mary, coisa que estava sendo recorrente naquele dia em especial.

Astride respirou fundo, irritada com a falta de respeito e senso de Mary, e quando ia abrir a boca para brigar com ela, Pedro a surpreendeu e tomou a frente.

—Agora já chega Mary! Você passou dos limites!- disse ele sério.

—Mas eu apenas... - começou a princesa, sem resultados.

—Por favor, queira se retirar... Está é uma reunião do conselho, e você não faz parte do mesmo. - terminou Pedro.

Mary olhou de um lado pro outro, a procura de alguém que protestasse contra a sua saída, mas ninguém abriu a boca. Furiosa com aquilo, o colar enfeitiçado pela feiticeira brilhou mais forte e ela soltou um sorriso malicioso, se aproximou dos ouvidos de Pedro e sussurrou.

—Vejo você mais tarde, meu amor!- e dito isso, ela saiu com ódio fulminando nos olhos.

Por alguns segundos, houve silêncio na sala, até que Lúcia quebrou o clima estranho que pairava sobre eles.

—O quê que deu nela hoje em? Está estranha... - disse Lúcia com risinhos descontraídos, fazendo todos rirem juntos, e voltarem para o assunto principal.

—Então, a feiticeira andou recrutando os antigos aliados de sua mãe... Eis o que vamos fazer: Mandarei alguém ir em busca das duas tropas perdidas, e enquanto isso, reuniremos os que estão aqui e partiremos para o campo de batalha. Teremos tempo o bastante para organizar um bom plano para suprir a falta de soldados. - disse Pedro confiante, fazendo Astride sorrir orgulhosa.

—Uma boa estratégia, é do que precisamos. Vamos nos reunir hoje à tarde para discutimos sobre isso... – completou Ed.

—Agora só resta saber quem irá atrás das tropas perdidas... – disse Susana. –Posso ir se quiserem, nunca foi boa em planos de batalha mesmo e sou a mais rápida entre nós. – brincou a rainha gentil tirando risos de alguns lordes.

—Precisamos de você aqui majestade, temos alguns recrutas a arqueiros que precisam ser treinados, e ninguém melhor que a arqueira mais talentosa de Nárnia para isso!- disse um dos Lordes com simpatia.

—Ele tem razão Su. - completou Pedro.

—Eu vou!- disse Astride ao olhar pra Pedro, que imediatamente recusou.

—Não, fora de cogitação!- disse o Grande Rei, sem medo de demonstrar o que sentia por ela.

—Mas porque não Pedro? Não servirei de nada aqui, todos já tem seus deveres, menos eu. Ninguém vai precisar de mim. - afirmou Astride ao relutar, tinha que admitir que ficar longe um tempo para por as ideias e os sentimentos em ordem não era uma má ideia, além de que, poderia ajudar os narnianos, que segundo sua intuição, estavam em perigo.

—Eu vou precisar!- disse Pedro e então Astride se calou surpresa. –Eu preciso de você perto de mim!- continuou ele. –Você não vai e ponto final!- concluiu Pedro firme, sem abrir lugar para reclamações de sua amada. Não iria deixa-la sair sozinha a procura do desconhecido, vai saber se isso não é uma armadilha da feiticeira, e só de pensar em perdê-la, o Grande Rei ficava louco.

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Orieus percebeu o que havia entre os dois e sorriu ao entender o real significado da profecia: seu destino ao lado do filho de Adão, meu sangue irá resolver. Eles tinham que ficar juntos, ou tudo estaria perdido, então o centauro teve uma ideia brilhante.

—Ou vou majestades!- disse o centauro com sua voz grave com um sorriso estampado na face. –Conheço bem o caminho para a Arquelândia, e além do mais, eles devem ter apenas se perdido ou pararam para descansar. –

—Mas você é o general do exercito meu amigo. - disse Astride.

—Sim, e em minha ausência, deixo o comando e organização das tropas com você, claro se vossas majestades concordarem!- continuou Orieus.

—Eu concordo!- disse Lúcia rapidamente ao levantar a mão animada.

—Eu também, Ed?- perguntou Susana.

Ed abriu um sorriso sapeca e concordou com a cabeça.

—Então está decidido, Astride será nomeada General suplente do Exercito de Aslan até que você retorne meu amigo!- disse Pedro com um sorriso. –Tenho certeza que ela fará um ótimo trabalho. - terminou com um sorriso aliviado no rosto, ela iria ficar por perto para poder vigiá-la e cuidar dela. Era tudo que o mais velho dos Pevensie queria.

—Então, se tudo está decidido, partirei agora mesmo! Não quero demorar. - concluiu Orieus com um sorriso. –Os trarei o mais rápido que puder. Majestades, senhores... - e depois de uma mesura , o grande centauro saiu da sala.

—Algo a mais que queria discutir Grande Rei?- perguntou Tumnus, atencioso como sempre.

—Nada que tenha muita importância agora, mas espero que todos estejam aqui depois do almoço para planejarmos uma estratégia. Precisamos de todas as ideias que puderem ter. Quando mais cedo decidirmos isso, mais cedo podemos começar a organizar tudo. - terminou Pedro. –Um bom dia para todos!-

E dito isso, os Lordes e conselheiros foram saindo da sala aos poucos. Astride olhou para Pedro e sorriu ao ver que ele esperava algum sinal dela de que iriam realmente conversar para acertar novamente as coisas. Aquilo já estava se tornando rotina na vida dos dois.

A senhora de Nárnia concordou levemente com a cabeça e então se levantou rapidamente e se despediu de Susana, Ed e de Lúcia, a última, passando umas das mãos sobre os cabelos loiros da rainha, que sorriu em resposta.

E em passos ligeiros, Astride saiu da sala de jantar e foi correndo para o grande salão dos quatros tronos. O mesmo estava vazio e silencioso e pouco iluminado, apenas os raios de sol penetravam por entre as enormes janelas, dando a sala um tom dourado nostálgico. Astride procurou com os olhos o melhor local, e avistou atrás dos tronos uma sacada que dava de frente pra praia, e pra lá caminhou. E com o coração acelerado ela esperou ansiosa que Pedro chegasse, curiosa para ouvir mais uma de suas explicações.