A Vida de Uma Garota Nada Popular

Mais um final de mais um capítulo


A primeira coisa que fiz quando pousamos em terra firme de Washington foi comprar uma miniatura da Casa Branca. E um toblerone. Thiago acabou comendo este escondido. Isso porque está de dieta. Depois que entrou na universidade, criou uma barriga considerável. Daquelas que não é possível esconder nem de bata. Tive que dar uma bronca nele, porque não estava cuidando de sua saúde.
–Você odeia exercícios físicos. - ele retruca. - E eu sou o gordo?
–Pelo menos, também odeio Mc Donald's.
O que era mentira. Eu amo o milkshake de lá.
Mas os lanches? Eca. Quando vejo fotos, penso em apenas uma coisa: gonorreia. Mesmo que não faça sentido, só consigo pensar em gonorreia.
Quando chegamos em nosso hotel, Thiago fica um pouco pasmo. Sabe, estamos passando por dificuldades financeiras, não precisamos de luxo, e também temos o que mais importa: saúde.

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Ele se esqueceu de tudo isso, muito fácil, só porque eu reservei um albergue.

Albergue é uma especie de hotel, só que sem privacidade. Dividimos quarto com desconhecidos e usamos um banheiro comunitário. Sabe, nada do outro mundo. É possível viver assim por uma semana.
–Só tem homens aqui. - retruca.
–Oportunidade de fazer amigos!
–Vamos dormir numa beliche? Sério? Voltamos a ter doze anos?
–Qual é! É divertido! Deixo você até ficar na cama de cima.
–Mari... - choraminga. - eu quero dormir na mesma cama que a minha namorada!
–E vai - respondo. - Daqui uma semana.
Ele não entendeu muito bem a situação. Mas, sabe, nem iríamos passar tempo lá dentro.

É justo esse tipo de economia.

Tínhamos apenas uma semana em Washington. Nada a mais, nada a menos. Sete dias contados e absolutos.
Nos três primeiros dias, Thiago atuaria no papel "social". Iria encontrar alguns amigos e conheceria pessoas influentes. Vestiria um traje elegante e falaria coisas bonitas, assim o disse. Sairia cedo e voltaria tarde. (Acho que esta decisão foi de última hora, por causa de nosso humilde hotel.) Nos próximos dois dias, o workshop. Voltaria, então, muito tarde. Enquanto aos últimos dois dias, passearíamos.

Eu tinha cinco dias para achar Matheus, ver se ele está bem, e fingir que nada aconteceu.

Pelo menos, eu já sabia onde ele morava.

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Eu sei que grande parte da sua curiosidade está voltada a este individuo em particular. Este mimado em particular.
"E então? O que aconteceu?".
Eu nunca esqueci Matheus. Nunca mesmo.
O mais engraçado é que quando eu o esquecia, alguém me lembrava da existência dele.
Depois daquela última vez que nos vimos e o episódio aconteceu, eu me recusei por muito tempo a falar ou a pensar sobre ele. Eu fiquei irada. Pasma. Indignada. Triste. Irritada. E tudo de negativo que pode existir, eu senti.
Mas depois de um tempo, depois do término com Thiago, quando namorava George, ou mais especificamente no finalzinho do namoro, ou melhor! no dia vinte e três de outubro, na minha casa em Miami, às duas horas da manhã, pensei em Matheus. Pensei nele por consequência da ironia do destino, entende? Se não entende, te explicarei agora mesmo:

Lá em outubro, ainda namorando George, tinha intimidade suficiente para andar de pijamas pela casa. Naquela ocasião, em especial, eu derrubara molho de tomate na calça felpuda roxa do meu conjunto noturno (vulgo, pijama). Consternada e contrariada, coloquei a calça no cesto.

O que isso tem a ver com Matheus? Calma, pois continuarei a explicar:

Com a calça devidamente no cesto de lavar roupa, andei livremente de calcinha pela casa (afinal, tinha intimidade para isso). Despreocupada, ao avistar George no lado esquerdo extremo do sofá, armado com seu notebook e papeando com alguém no skype (algo que só me dei conta depois), decidi dar um susto nele. E no intuito de assustá-lo, pulei nele.

Isso mesmo. Você leu certo, caro leitor. Eu PU-LEI nele.

(creio que, nesta altura da narrativa, você já saiba como a estória se resume)

Depois de assustar George (e ele quase estraçalhar a tela do notebook com o grito que deu), ouço aquela voz familiar. Ouço aquela voz que há muito não ouvia, e não sabia que almejava, de tanta saudade.

–Então, essa é sua namorada?

Olho para frente. E inesperadamente, subitamente, imprevistamente e surpreendentemente, deparo-me com um sorriso amarelado, de orelha a orelha, que conheço muito bem.

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Ainda no hostel, estou com Thiago. Prestes a ir embora.
–Eu não vou demorar. -diz ele.
–Vai sim. -respondo.
Ele ri e me dá um beijo na testa.
Thiago está engraçado; está de terno e mochila esportiva nas costas. Ele está de sapato. Sapato. Ele quer impressionar de verdade aquelas pessoas.
No portão do hostel, antes de cada um seguir seu caminho, Thiago deixa uma caixinha de veludo vermelho cair do bolso de sua calça.
Arregalo os olhos para ele. Estática.
Sem jeito, totalmente nervoso, ele não consegue olhar para mim e não hesita em arrancar a caixinha de minha vista.
–Hmmm, tchau, até mais.
E voa direto para outro lugar.
Não consigo me mexer. O vento gelado estapeia minhas bochechas.

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Gosto de me classificar como a História: a época pré, antes da escrita; e a de verdade, que estudamos no colégio com mais precisão, a pós invenção da escrita.

Depois que me aventurei a escrever, para dar um basta na morosidade cotidiana, uma novela passou a se suceder na minha vida. Te juro! Inacreditável o quanto a vida virou de cabeça para baixo e passou a ser prazerosa de ser narrada. Todos os conflitos, as alegrias, as estranhezas, traduzidas em palavras! Quando as releio hoje, cara... me envergonho (porque essas coisas muito pessoais geram esse tipo de comoção) mas não me arrependo nenhuma vírgula colocada erroneamente.

São essas palavras que se observaram e criaram faíscas entre si, se transfigurando, e formando novas frases, quais redijo hoje. Essas palavras são história. Literalmente.

Se eu pudesse aconselhar a Mari de treze anos do passado a uma só coisa seria ir para a academia. Naquela época eu tinha muito tempo livre e muita banha a queimar. Mas como eu sei que a eu-do-passado não iria acatar esse conselho, então apelaria para meu único conselho da vida "B": escreva. Escreva, rabisque, dialogue com o papel, poetize, profetize, discorra, justifique e escreva. O quanto antes, melhor.

É impagável o sentimento que vem depois, com o tempo, ao reler o passado. Reler História.

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Subsequente ao avistar uma caixinha vermelha veludo (nada suspeita) caindo do bolso de meu namorado, faço pesquisas no GPS acoplado do nosso carro alugado.

Não é de se esperar de minha pessoa uma reação estridente e exagerada ao notar uma caixinha inofensiva, certo? Super certo! Tanto que eu nem paralisei por meia hora na rua. Enquanto o vento gelado brincava de me judiar. Pfft, lógico que não. Mantive a compostura e a seriedade. Sem arregalar olhos. Sem desespero. E sem pensamentos cabulosos. Isso é coisa de gente louca. O que não é meu caso.

Finalmente, dentro do nosso carro alugado (com aquecedor, para quebrar o gelo que se tornou o meu corpo, ao permanecer meia hora de pé na rua) foquei-me na tarefa que me dispus a realizar em Washington: achar Matheus.

O trabalho todo estava tremendamente dificultoso. Não fui capaz de me concentrar em outro cara conscientemente sabendo que talvez outro cara pediria minha mão em casamento.

Eu sei. Uma falha do meu ser humano não ser fria e calculista. Na minha próxima encarnação, corrijo isso.

Foco, Mariana!

Consigo dedilhar o endereço no GPS e sigo meu caminho. Minha mente desvia-se para Thiago, e na possibilidade de uma vida de casados...

"O dia do casamento: Mariana Sward em um longo vestido azul (nunca quis casar de branco) e flores por todos os lados. É um casamento no quintal! Como nos filmes! Está nevando em Boston, e é noite! Há velas que cercam meu caminho até o altar. Meu pai (quem amo demasiadamente agora) entra de mãos dadas comigo para me levar até o noivo. Meus dedos tremem de emoção. É o dia mais feliz da face da Terra. Ao passo que meus passos se alongam, vejo o castanho brilhoso de Thiago, e seu terno bege. Até a neve se derrete com a beleza desse meu noivo. O amo demais! ENVELHECEREMOS JUNTOS E SEREMOS O CASAL MAIS FELIZ DA GALÁXIA!"

Mas logo, a mente atravessa um cruzamento e a faixa de pedestres:

"Mariana Sward. 32 anos. Olheiras profundas. Pontas duplas. Braços cansados de tanto segurar um bebê e mau-hálito por não conseguir arranjar tempo para as necessidades básicas. Isso sem contar o outro filho! (Thiago não se contentaria com um) que balança minha perna incessantemente à procura de sorvete. E eu, sem faculdade, sem desenhos (porque os filhos teriam TODO o meu tempo) e sem Thiago (porque ele estaria fora trabalhando)."

Não estou nem um pouco pronta para isso.

Minha mente se curva, agora, para a última discussão séria que tive com Thiago:

"-Não entendo o porquê de, subitamente, querer fazer faculdade! É só isso!

–Por que eu não iria querer fazer faculdade?

–Porque não tem necessidade! Você já faz o que gosta, e faz bem!

–Mas com a faculdade eu vou melhorar ainda mais!

–Você pretende pagar como, então?

–Sei lá, eu dobro meu trabalho, faço bicos, faço tudo, inclusive a faculdade.

–Mas e nós?

–Nós o quê?

–Como é que nós ficamos? Mal nos vemos! O plano era: eu termino a faculdade, mudamos para outro país e lá constituímos uma família.

–Esse é o seu plano. Você sabe que não quero engravidar tão cedo assim. Ainda tem muita coisa para fazer! A faculdade, em primeiro lugar...

–Mariana, essa faculdade é na Florida! Longe daqui!

–Você muda comigo! Assim como fiz com você!

–Mas esse não era o plano..."

E assim continua. Houve vezes que, de tão "p" da vida, alavanquei uma cadeira em cima dele.

Não deixou marcas, pelo menos.

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Chego em sua casa. Agora é a hora. Estou na frente da casa branca de Matheus

Meu coração palpita.
Espero um pouco.
E silêncio se faz.
Bato na porta de novo.
Meu coração acelera um pouco mais.
Espero mais um pouco.
E ninguém atende.

Ok, então, e se ele atendesse? E se Matheus estivesse na porta? O que eu diria?

"Oi, atravessei o país com meu namorado especialmente para te ver. Não ache estranho, porque eu faço muito isso. Inclusive, suspeito que Thiago vá me pedir em casamento. Como você tá?"

Pensando bem, foi uma péssima ideia vir pra cá.
O desespero se alastra por mim e não resta feixe. De todas as más escolhas da galaxia, sou dona de 90%. Onde é que estão as lamparinas de meu juízo? O quê é que vim fazer aqui?!?!

Na rua da frente uma lanchonete abre as portas. Decido comer para clarear a mente, e decretar o que fazer com esta situação.

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"-Então, essa é sua namorada?"

Ele sorria.

Eu sorria também, e não conseguia parar.

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–Matheus?!

George, incomodado com o frenético do reencontro, anuncia sua ida ao banheiro. E não volta mais.

A partir de então, começamos a tagarelar:

Exatas cinco horas e três minutos, Matheus e eu não perdíamos o fôlego. Tanta coisa para dizer que não foi possível dizer tudo. Pensava que nosso reencontro teria por base desconforto e aspereza. Entretanto, só uma troca de olhares via web can derreteu toda a geleira-destruidora-de-Titanic de meu coração. Eu não queria discutir a relação, satisfazer aquela raiva que tive quando ele se foi, ou remoer seus argumentos para que eu me sentisse melhor. Eu simplesmente queria saber como ele estava, e queria ouvi-lô fazer piada.

Não sei o que ele sentiu, e nem quero saber. Mas ele fez piada, então presumo que estivesse feliz.
Ele contou sobre a faculdade de arquitetura, e o quão diferente era estar "de volta em casa". Estava morando com sua mãe. E tinha deixado o cabelo crescer.
Ele estava bem. Muito bem.

Ele falou falas bonitas, que não resisti, como "Mais linda do que nunca, Sward." ou "Seus desenhos continuam maravilhosos, se não melhores" ou "Ah, se eu tivesse ficado...".

Porém, entretanto, contudo, todavia, revelou que estava namorando.

O que eu não gostei. Mas eu também estava namorando então não poderia expressar descontentamento, né?

Foi a conversa mais prazerosa que tive em cinco anos. Estava com muita saudades dele e não me aguentava.

Juramos que continuaríamos a conversar, mesmo que brigássemos e que estivéssemos à zilhões de milhas de distância.

E por mais engraçado que pareça, dessa vez, isso aconteceu.

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Terminado meu sétimo milkshake de 500ml e marcada três horas da tarde, ergo o queixo e tenho os pelos da nuca arrepiados. Vejo Matheus na rua paralela.

Perco a vela que acende as lamparinas de meu juízo e levanto, instintivamente, e grito por seu nome.

E ele olha de volta. E é ele de verdade. É o Matheus.

–MATHEUS!

Ele dá três passos em direção à mim e semi-cerra o olhar.
Encurva a coluna e saca do bolso um óculos.
Matheus usa óculos agora.
Enfim, percebe que sou eu. Manifesta todos os dentes e grita:
–MARIANA SWARD!
Ele voa até a faixa de pedestres. Voo até o outro lado da faixa. Os carros passam e espero ansiosa para abraça-lo. Espero. Espero. Espero. Perco a ansiedade e fico nervosa.
O sinal fica vermelho à nosso favor!
Volto a estar ansiosa! Matheus tropeça no fim do trajeto. Gargalho alto e depois corro para ajudá-lo:
–Só eu que tive um dejà vú agora? - satiriza, levantando de joelhos ralados.
Rio largo:
–Antes, porém, eu que caí, e você que me levantou.
Quando nos vimos pela primeira vez. Ele lembra!
Corremos para fora da rua, quando os carros voltam a atravessar, e aí, então, nos abraçamos.
–Você tá mais alto, né?
–E você continua baixinha.
–Há. Há. Engraçado. Bom te ver.
–Sabe que eu tô zuando - volta ao abraço. - Mais ou menos - murmura.
–Ei! - desvencilho-me.
E caímos no riso.
Por um momento, sinto que esses cinco anos nunca aconteceram.

~♡~♡~♡~♡~♡~♡~♡~♡~♡~♡~♡~

"-Mariana Sward, tenho uma coisa para te falar."

Todo fim de dia, por volta das 23h, Matheus e eu trocávamos conversas. Ora os alienígenas, ora as condições das coisas que a natureza dá, ora faculdade, ora velhos tempos. Assunto era o último de nossos problemas.

–Eu também!

E tinha mesmo: eu terminara com George. E estava a uma semana de rever Thiago! Estava extremamente animada e entusiasmada e grata e tudo-de-positivo-que-existe para rever meu melhor amigo.
Lembra quando eu te contei que, no final do namoro com George, voltara a falar com Thiago? E estávamos praticamente reatando? Essa era a segunda novidade.
Sabe, no começo me sentia desconfortável de falar sobre Thiago e George com ele, principalmente sobre Thiago, mas depois de um tempo desencanei. Afinal, ele estava namorando e parecia sério o lance. Logo, sem arrependimentos.
–Você primeiro. -diz ele.
–É melhor não... Tenho muito pra contar. Vai demorar.
–Ah, então, eu começo.
Na hora, eu estava comendo Nescau cereal com leite desnatado. Matheus estava com um ar tenso, um tanto quanto ansioso.
Ele inicia:
–Essas últimas semanas foram incríveis, não acha?
–Sim! Estava com saudades sua - confesso.
Ele se anima:
–É... Eu também... Bastante. E, sabe, eu voltei a sentir coisas que...

Cuspo parte de meu Nescau:

–Matheus. - intervím, com o coração na guela. -Qual é o seu ponto?

–Da última vez que isso aconteceu, resolvi guardar essa coisa -ele olha para o lado esquerdo do peito. - sabe, essa coisa para mim. E hoje percebo que besteira isso foi. Então eu decidi...

–Matheus- corto. Não consigo acreditar no que ele diz. Não é possível que isso aconteça bem agora. -Já sei onde você vai chegar. Então eu devo te dizer o que iria te dizer antes: Eu terminei com George. E estou voltando para Boston. Voltando para Thiago. Porque eu o amo. E isso - aponto para nós dois. - não pode acontecer. Não agora. Não é justo. Não posso mancar com Thiago desse modo, e não outra vez. Nós tivemos nossa chance. E você sabe.

–Mari...

–Não. -outra vez. Meu coração quica de um lado para o outro dentro de meu corpo. É impossível professar palavras sem nenhuma dor. -Por favor.

–Eu terminei com minha namorada. - confessa.

–Eu sei. Eu sei... - meu peito aperta.

Depois daquele dia, volto para Thiago. E Matheus se afasta.
Outra vez.

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–Você é louca, sabia?
Matheus me leva para um parque próximo de sua casa. Diz que é seu lugar favorito de Washington, depois de sua cama.
–Por quê?
–Você... -para de andar e me olha de cima para baixo- Você está aqui!
–É - rio. - Mas eu te avisei que viria para cá.
–Você não acha isso muito louco? Sabe, em um instante estamos em um ponto do planeta e, depois de alguns momentos, estamos em outro lugar, em outra realidade!
–Pois é... Surreal. -ando observando meus dedos abraçando o úmido da flor da grama.
–Mas, é ainda mais surreal o quanto um segundo pode mudar anos de trabalho. Sabe, demora-se muito tempo para construir uma imagem e ser íntegro e a melhor versão de si mesmo para, uma hora, num mau humor, tudo se arruinar.

Me espanto com o quanto ele traduz meus pensamentos em precisas palavras.

Ai, ai.

–Perdi uma grande garota por causa disso. - fita-me sem vergonha.

Prefiro não acrescentar comentários. Sento-me debaixo da árvore de tronco mais alto.

–Você sabe que -ele se senta ao meu lado. - depois daquele dia no telefone, da última vez que conversamos antes do meu embarque, eu tentei te chamar, né? - diz, olhando para o céu. - Não só tentei como passei a te ligar todos os dias por um mês. Falei até com sua irmã! Mas nunca consegui uma palavra sua. Parece que você fugia de mim, sei lá.

–E fugi. - assenti.

–Ah, -ele ri sarcasticamente. - então, realmente, não foi por falta de tentativa minha.

–Matheus. -esbravejo-me. - quer que eu te relembre toda a situação que você criou?

–Mariana. -imitou-me. -Quer que eu te relembre tudo o que você me fez sentir? E sofrer?

–Por que é que você me deixou, então? -fico irada. Decido vomitar tudo o que senti durante cinco anos nele: -Eu me descobri apaixonada por você, e me arrisquei. Eu me joguei em você. E não se esqueça que eu tinha um compromisso com Thiago por nenhum instante! Mas você se foi. Não pensou duas vezes. Sacou as malas e se foi. Então, sim, eu fugi de você. Fiquei magoada. Fiquei com raiva. Fiquei nervosa. Fiquei com saudades sua. Posso até não ter descobrido gostar de você no mesmo tempo em que você descobriu gostar de mim, mas isso não diminuiu a intensidade da coisa.

Silêncio. Mas intenso contato visual.

–Por que é que você me faz sofrer tanto? - por fim, ele murmura, com o olhar de cachorro pidão.

Olho para o âmago do esverdeado de seus olhos, e não tem como negar:

–Eu não deveria estar aqui.

Debruço-me sobre a grama verde do parque.

–Por quê? - pergunta, franzindo a testa.

–Eu namoro Thiago. Gosto dele. Amo ele. Moramos juntos há cinco anos. -vomito em pesar.

Eu não deveria sentir o que sinto agora.

Ele faz uma expressão e curvatura de "O Pensador", apequena o lábio superior, e com humor, assenti:

–Hmmm... Isso não quer dizer nada.

–Quer dizer sim! - declaro, incrédula, e estapeio seu ombro direito virado para mim.

–Por quê? -aproxima-se. -Somos só amigos, não?

A ironia me entristece. Parte maioria de meu ser gostaria que isso que dissera fosse verdade.

Não digo nada.

–Então, somos o quê? -persiste, no meu silêncio.

Meu coração late.

–Não sei.

Silêncio.

–Nem eu. - por fim, conclui. - Nem eu, mas é melhor assim.

Não respondo.

Assim ficamos. Com o silêncio reinando.

E os sentimentos no calabouço.

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Após um hiato de quarenta e cinco dias, quando voltei para Thiago, Matheus expõe as cordas vocais novamente. Calculei que, depois do furo que se sucedeu, eu deveria me afastar por um tempo. (Haja vista que arruinei um segundo namoro dele, né?) Mas, por incrível que pareça, ele volta:

"-Juramos que íamos continuar a conversar, lembra? Mesmo que a gente brigasse e mesmo que a gente estivesse à zilhões de milhas de distância."

Own.

Oooown.

Logo então nossa amizade se fortalece, em medidas incomensuráveis. Apesar e mesmo com Matheus sabendo de meu amor por Thiago.

Acho que ele não sabia que começou a me confundir novamente, novamente.

~♥~♥~♥~♥~♥~♥~♥~♥~♥~♥~♥~♥~♥~♥~♥~

Ao nascer, o bebê compromete-se com um fado já escrito e planejado pela sociedade em que habitará. O bebê, por ser iletrado, não pôde assinar de próprio cunho os "termos de uso e condição" do planeta Terra. Logo, o simples fato de sair do ventre materno fora aceito como confirmação de sua sentença: o bebê viverá com os pais até uma certa idade, entrará na escola e cursará até o terceiro ano do colegial para que, em seguida e sem perda de tempo, entre numa faculdade renomada.

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Nada disso seria tão complexo e árduo se, nesse ínterim escolar, o bebê houvesse aprendido a lidar com a vida. O formato comedido e direto das escolas não dá margem para o desenvolvimento subjetivo do aluno, como a prática do autoconhecimento. As instituições educacionais preferem atacar matéria, conteúdo e fórmulas na cabeça da criança, e desprezam as questões interiores que afligem o psicológico do pequeno. Ademais disso, na infância, talvez por excesso de amor, os pais costumam a esconder a realidade, e consequentemente afastam a criança do amadurecimento.

Sobretudo, a realidade escolar, da maior parte do mundo, sintetiza-se num modelo fragmentado de quatro etapas: educação para crianças ainda imaturas, educação para crianças quando mais sábias, educação para adolescentes e educação superior para adultos. Nessa transição de adolescência para a fase adulta, explora-se questões nunca antes saboreadas. Questões que, talvez, pareçam assustadoras com o súbito de sua chegada. É natural exigir-se um tempo para meditar sobre isso, com a intenção de amadurecer o que deveria ter amadurecido antes. No entanto, a sociedade não perdoa. A sociedade requer daquele adolescente a resposta pronta e certa o quanto mais rápido possível.

Em suma; o bebê do início é inserido nesse sistema frenético sem previsão de pausa. Espera-se dele o desempenho especulado e um perfil psicológico bem resolvido, para que de imediato escolha uma profissão a seguir pelo resto da vida. Pode-se contra-argumentar alegando que essas expectativas tradicionais foram parcialmente mudando no decorrer das décadas. É verdade que, hoje, nos situamos ao redor de escolhas de carreira mais livres. Contudo, ainda é mal visto aquele que não acerta na primeira decisão de curso. Desse modo, não há escapatória; Danificam o começo da magia de entrar numa faculdade. A pressão vem de todos os cantos e cada vez mais intensa! Ao tornar a faculdade o propósito de êxito na vida, se encarcera o jovem a um desastre iminente.

Tudo isso me assustou profundamente no começo, sabe? Logo, optei por não me encabeçar em um curso, na esperança de um dia amadurecer e poder escolher uma faculdade como um alicerce na construção de minha vida profissional.

O meu lado-sombra costumava a cantar para mim o meu fracasso nesse quesito; nunca seria capaz de concluir um curso. Porém, conforme fui alcançando autoconfiança e meu autoconhecimento, passei a escutar meu lado-luz: eu estou mais do que preparada.

Não adianta ter pressa, sabe?

Assim, agora, o momento chegou. E estou mais do que com pressa.

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Nos dias que se seguiram em Washington, continuei saindo com Matheus. Havia cinco anos de conversa para colocar em dia, afinal. Eu vi Thiago em apenas duas ocasiões: dormindo e tomando café da manhã. Tentei conversar com ele, eventualmente, mas ele estava muito tenso. Ou, pelo menos, era a impressão que eu tinha. Estava monossílabo, sabe? Só respondia "sim"s, "não"s, "aham"s e "hmm"s.

Incomunicável.

Antes de vir para Washington cheguei a avisá-lo sobre Matheus. Que o visitaria, e tal. Incólume, não demonstrou um pingo de ciúme. O que eu ainda não compreendo, mas prefiro que seja assim. De qualquer jeito, é um passe-livre para a paz reinar em minha consciência.

Eu só tenho mais um dia aqui em Washington. E, finalmente, Thiago teria tempo para conversar comigo.

Jantaríamos em um lugar chique. Um lugar onde, para respirar, já custa um dólar.

Arrumando-me, dei-me conta do que talvez aquele jantar num lugar chique poderia significar; talvez pudesse ter alguma correlação com a caixinha de veludo vermelha.

Ou seja, vish.

No carro, no caminho ao restaurante, mando:

–Thiago, precisamos conversar.

–Diga, Marusca.

–Pode confessar.

–Eu vou fazer faculdade.

As rodas do carro cessam imediatamente, produzindo a lei da inércia sobre nossos corpos e nos jogando para frente, mas graças a invenção genial do cinto de segurança, somos poupados.

QUÊ? - esganiça ele.

–É - palavreio assustada com o breque do carro. - Eu vou fazer faculdade.

–Mas Mariana, nós já discutimos sobre is...

–Não - corto. - Você discutiu e resolveu sozinho. E eu discerni o melhor para mim. Eu tenho que fazer isso. Sei que se eu deixar essa oportunidade passar, essa oportunidade em que ainda sou jovem e tenho um E-Loren para me indicar, vou me arrepender profundamente no futuro e serei uma vovó frustrada e triste. Todas as vezes que estiver meramente feliz relembrarei o passado e entristecerei o coração porque não fiz o que deveria ter feito, e não fui íntegra a mim. Logo, meus filhos entrarão em depressão porque têm uma mãe ausente. Você me largaria para uma outra gostosa, que fosse mais feliz, e eu acabaria gorda no meu funeral, devido ao excesso de Donuts que eu deglutiria. Portanto, a faculdade é minha solução.

–Mas e o plano, Mari?

–Thiago, eu gosto do plano. Realmente gosto! Mas não agora, não no começo de nossas vidas. Eu sou muito imatura ainda para ter filhos, e saí da adolescência praticamente ontem! Eu quero estar devidamente pronta para o plano, e creio que só estarei completa depois dessa faculdade.

–Mas, Mari... A faculdade é lá na Florida. - choraminga.

–Eu não entendo qual é o problema disso. Pela quantidade de mudanças que já fizemos...

Seus ombros arqueiam. De súbito, sua voz declama tensa:

–Eu recebi uma ótima oferta de emprego aqui. Em Washington. É por isso que estamos passando uma semana inteira aqui. Eu fui visitar o escritório e conheci o meu futuro chefe. Além dos meus futuros colegas de trabalho. E, Mari, é irrecusável. É o que eu sempre quis na vida. Depois de tantas noites em claro estudando, tenho a melhor das oportunidades! Raríssimos recém-formados saem da faculdade já com emprego definido, e com o salário que me proporão. Eu ia te contar isso agora, no jantar, e iria te propor o começo do nosso plano...

–Uau.

–É - ele assente. - E se eu recuso, pode apostar que nunca mais vejo uma coisa dessas acontecer na minha vida.

–Uau. -repito.

–É. - ele balança a cabeça.

–Uau.

–Pois é. -dá o start no carro, e as rodas voltam a andar.

–Uau.

Prosseguimos até o restaurante e deliciamo-nos com pesar e nervosismo.

O jantar mais saboroso do século.

~♥~♥~♥~♥~♥~♥~♥~♥~♥~♥~♥~♥~♥~♥~♥~

Na manhã seguinte ao prazeroso jantar com ausência de revelações bombásticas, tínhamos um voo marcado para logo cedo. Matheus combinou conosco que nos deixaria no aeroporto, já que devolvemos o carro ontem à noite. Thiago e Matheus se veem pela primeira vez. Contrariando, porém, mais uma vez minhas expectativas, não houve faíscas de intriga ou qualquer coisa do gênero entre os dois. Apenas um normal cumprimento.

Já no aeroporto, Thiago vai ao banheiro, deixando Matheus e eu sozinhos. Matheus começa:

–Essa última semana foi a melhor semana do meu ano. -diz, por fim, Matheus. - Como agradecimento, eu te trouxe uma coisa que você adora.

Animo-me. Adoro presentes!

Ele pega de sua mochila um saco de Donuts e estende para mim:

–Owwwwwwn! -abraço-o. -Muito obrigada! Eu adoro engordar.

Ele se desmancha em risos.

–Você sabe que, se eu pudesse voltar no tempo, eu nunca teria ido embora de Nova York, né?

–Eu sei. -afirmo.

E sei mesmo.

Não falamos mais nada por um tempo.

Thiago volta e nosso nome é anunciado no interfone. Temos que embarcar.

Thiago despede-se de Matheus e entra primeiro no avião. Logo, eu...

–Então, isso é um tchau. - digo.

–É - ele ri sem graça.

–Hm... então - estendo os braços para um abraço - tchau!

Matheus me abraça.

–Tchau.

Mas não nos soltamos.

Esperamos o interfone anunciar novamente meu nome para, só então, nos desvencilharmos:

–Muito obrigado pelos donuts. - agradeço.

–E, você, por ter aparecido.

Rio sem graça.

Pego as malas e adentro o avião.

Olhando para trás, para acenar um último adeus.

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Durante o voo, abro meu pacote de donuts a fim de acabar com o silêncio que impera meu lugar e de Thiago.

Apenas após uma hora e meia, Thiago se aventura:

–Sabe, meus colegas me mostraram umas casas bonitas em Washington...

–Ah, Thiago, não faça isso comigo.

–Nós temos que conversar sobre isso. Temos que ver o que é que faremos com o plano.

Viro-me completamente para ele e afirmo a postura:

–Amor, eu não estou pronta para o plano.

–Como não?

–Encaremos os fatos, querido: você é muito mais adulto que eu. Sempre foi.

Sinto uma pontada no peito. Creio que o improvável tornou-se inevitável:

–Eu quero que você siga seus sonhos. Quero que seus sonhos se realizem. Quero que você vá para Washington e arrase no que você faz de melhor. Eu te amo. Eu te amo mais do que o melhor do meu trabalho. Você é sempre será o meu melhor amigo. Não consigo imaginar minha vida sem você, mas, mesmo com tudo isso, ainda não sou madura o suficiente. Vivo em uma realidade completamente diferente da sua, e me sinto uma criança ao seu lado. É hora de crescer, querido. Eu tenho que fazer isso. Eu tenho que fazer essa faculdade. Eu tenho que virar adulta. Está mais do que na hora. Então... -me surpreendo com meu discurso. - eu não queria que isso fosse verdade... mas... chegou a hora de seguirmos caminhos diferentes, Thiago.

–Uau. -ele solta, após zilhões de séculos. -Uau.

–É. -assento, desolada.

–Como... Como nós ficamos? -meu melhor amigo pergunta, ainda em choque.

–Acho que... -não gosto do que sairá de minha boca: -

Thiago olha em intenso amor para mim:

–Eu te amo.

Aproximo-me de sua pessoa e repouso a cabeça sobre seu ombro:

–Eu te amo também.

Thiago beija minha testa e envolve seu braço em mim.

–Esse é o nosso término?

–Sim. Creio que sim. - assumo.

–Então... - após um tempo, ele manda. - esse é o nosso fim?

–Com a gente não existe fim. -respondo. - E nunca existirá.

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Não acredito que um ser humano só consegue achar a felicidade plena quando em um relacionamentoe

Que morte horrível.

Eu vou te contar a verdade: viver as borboletas rebeldes que voam dentro do estômago é mágico. O amor de verdade não é o carnal, o beijo, o sexo. O amor não é uma foto fofa multiplicada na internet. O amor não é tangível. O amor de verdade é sabedoria. O amor de verdade é aquele que te traz conforto, entusiasmo, felicidade e motivação para conhecer cada vez mais desse universo. Eu sou apaixonada pela minha mãe, pelo meu pai, pela minha irmã, pelo meu melhor amigo, pelos meus novos amigos, pela minha casa, pelo meu país, pela arte, pela ciência, pelas pessoas difíceis e pelos amores perdidos. Sou ainda mais apaixonada pelas pessoas e lugares que nunca conheci. Porque eles que me movem a aprender mais.

Ao reler minha história, soube lucidamente concluir: Matheus, não sei dizer, mas ele marcou uma grande etapa da minha história. Ele foi o Moisés do meu mar vermelho; ele separou a Mariana aficionada por trama adolescente infundada da Mariana que quer dominar o mundo do seu jeito.

Matheus foi um cara importante para mim. Não tem discussão.
Mas antes de qualquer Matheus, sempre houve um Thiago. Um Thiago que me viu crescer e cresceu comigo. Um Thiago que mesmo sendo camuflado muitas vezes pela minha imaturidade e ignorância esteve ali de braços abertos. E ofereceu chaves de um futuro para alguém que não tinha perspectiva de futuro algum.

Sim, eu amo os dois. Amo o que eles significam para mim e amo o que fizeram por mim.

Eles construíram parte da Mariana de hoje. Construíram parte da Mariana que mais tenho orgulho.

Quem diria que uma garota nada popular seria a garota mais confiante do século?

Ah, o amor.

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No mês seguinte, a mudança para à Florida está devidamente acabada. Moro, agora, no campus da Rollins College, no campus da minha primeira faculdade.

Sabe, dentre as minhas várias mudanças de morada, dessa vez, em especial, encontrei uma caixa de papelão pesada e fedida. Uma caixa que, logicamente, atraiu minha atenção. Ao abri-la desbravejo pilhas e pilhas de cadernos. Mais especificamente, journals. Vulgo, diários.

Emociono-me ao relembrar de tanta história já escrita e vivida dentro dessas páginas. Escolho aleatoriamente um desses mil e um cadernos. O abro e deparo-me com a seguinte passagem:

" (...) Larguei a chave. Corri até suas costas, há alguns metros de distância, e o empurrei de leve. Ele olhou estranho.

–Cale a boca. - disse, voraz.

–Quê?

–Cale a boca! - repeti.

–Ahn?

Suspirei.

–Você deveria dizer vem calar... Mas ok.

Cheguei mais perto dos seu cachinhos, fechei os olhos, e num ímpeto, me aventurei a beijar o filho do presidente. Beijar de verdade."

Meu coração tenta sair da caixa torácica.
Morro de saudades, não consigo aguentar.

Há um mês me mudei para a Flórida. Continuo conversando com Audrey, Steeven e principalmente com Thiago. Converso com meu melhor amigo todos os dias, e fico feliz que, felizmente, nós não nos arrependemos de nossas decisões. Thiago está realizado em seu emprego, enquanto eu estou realizada em começar a vida adulta.
Há três meses voltamos de Washington. E há três meses Matheus não me responde.
Não entendo como isso aconteceu de novo, já até perdi as esperanças.

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No meu primeiro dia de aula, deparo-me com uma folha sulfite com "VÁ ATÉ A ESCULTURA DA RAPOSA!" grafado à bic debaixo de minha porta. Como já estava atrasada mesmo, decido ir até a escultura da raposa para conferir o comando da folha de sulfite.

Ao chegar lá, avisto um guarda-chuva cor de rosa e com bolinhas brancas cobrindo uma pessoa. Estranho, pois não está chovendo.

–Moça -grito, por observar um cabelo relativamente grandinho debaixo do guarda-chuva. - Você sabe me dizer o que tem hoje por perto dessa escultura?

Meu peito explode ao fitar a "moça" levantar, e perceber que, na verdade, não é uma moça.

Mas o meu Matheus.

Meu maxilar não aguenta e cai.

–Sei sim, para falar a verdade - ele responde. - Hoje... - ele vem caminhando em minha direção. - Hoje é o dia em que tudo começa de novo. Tudo começa de novo porque dessa vez eu peguei o avião certo. -Matheus se aproxima e pega na minha mão. -Tudo começa de novo porque eu não posso me afastar de você... -pousa a mão na minha bochecha. -...mais uma vez. - e sorri.

Meu corpo inteiro flameja e ebuli em emoção.

–Cale a boca - digo, voraz.

–Vem calar - ele esbanja seu sorriso colgate.

E, dessa vez, não hesito em beijá-lo.

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Mas... Mas e agora?

Ah, agora?

O mundo me ensinou a andar sozinha. Devo ao mundo uma caminhada.

Com todas essas idas e vindas, o futuro de amanhã é uma grande incógnita vermelha que paira sobre nossos anseios. Por mais que eu tenha amado viver o turbilhão adolescente, o capítulo já está acabando. Neste mesmo ponto.
Eu declaro que hoje sou uma completa, pronta ou não.
Sozinha no fundo da sala de aula, vivendo a vida de uma garota nada popular; de mãos dadas com o garoto mais "gato" da escola, vivendo a vida de uma garota socialmente popular; aparecendo na capa da revista vivendo a vida de uma garota que salvou o presidente e ficou com o filho dele; ou fazendo minha arte, vivendo a vida incerta de uma recém-adulta.

De qualquer jeito, hoje, eu vivo meu feliz para sempre.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.