O forte laço entre os irmãos Eric e David aumentava cada vez mais. As crianças estavam crescendo juntas como verdadeiro irmãos, no entanto, Eric continuava sofrendo as rejeições e crueldades dos pais adotivos. Não conseguia suportar todo aquele inferno diariamente e durante a noite chorava pelos cantos, silenciosamente, para que ninguém o ouvisse e percebesse o que acontecia.

Em uma noite, Henry, que descera as escadas para tomar um copo de água, ouvira o choro.

- Você já é um homenzinho feito... – afirmara o pai, antes de caminhar com Eric pelas ruas da cidade. – Não pode ficar chorando pelos cantos como uma criancinha pirralha! Isso deve ser falta de trabalho.

...

A vida para Elizabeth não poderia estar melhor. Passava os melhores momentos com a família que lhe restara, que incluía a irmã e a sobrinha Isabella, com quem mantinha um laço muito forte com aqueles anos que se passaram. O vazio causado pelo sumiço de Thomas fora preenchido com o carinho e a atenção de Isabella.

- Tia! – chamava Isabella, num momento em que reparara que a tia estava sofrendo de tristeza, provavelmente se recordando do marido e do filhinho desaparecido. Uma menina de ouro, que nascera para iluminar a vida de muitos.

- Diga, meu amor. – respondia Elizabeth após sua turbina de pensamentos e lembranças ser interrompida pela pequena menininha que saltara alegremente sobre suas pernas.

- Sabia que você é outra mãe pra mim? Uma segunda mãe?

Ouvir aquilo era tudo para Elizabeth. Era tudo que ela precisava. Suportar a dor da perda diariamente era um grande desafio para a milionária. Sem responder, emocionada, com o rosto repleto de lágrimas, abraçou fortemente Isabella, o anjo que caíra do céu. Acariciou os cabelos castanhos trançados da menininha.

- Você também é uma filha pra mim! – exclamou, após minutos de silêncio sentindo o calor dos braços da pequena. Uma criança era capaz de mudar a vida de uma impiedosa e inescrupulosa assassina, que deu espaço a uma mulher sentimental e frágil, que sempre existira, no fundo, na grande Elizabeth.

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Teddy e Victoria se encontravam em seu quarto na mansão, ambos de pijamas. Estavam se preparando para avisarem à filha que era hora de ir se deitar. No momento em que Victoria se retirava do cômodo, o marido a segurou pelo braço.

- Precisamos conversar. Suportei durante todos esses anos, mas isso está passando de todos os limites.

- Do que você tá falando, meu amor? Seu tom de voz me assusta muito. – Victoria, surpresa, nunca tinha visto o marido falar daquela maneira. Era, por muitas vezes, um homem bondoso, generoso, descontraído, nunca aquela pessoa revoltada, com ódio no coração. Seu olhar dizia isso. Sentou-se na cama junto ao marido, para compreender melhor o que estava se passando.

- A Elizabeth tá roubando nossa filha da gente... Sei o que você vai dizer, que moramos juntos, que isso não vai acontecer de verdade, mas é o que ocorrerá. Observe bem: a Isabella quase não fala mais conosco, só quer saber da tia. E a sua irmã não superou a perda daquele bebê. Sei que ela ama a nossa filha de verdade, mas nós somos os pais dela.

- Nunca achei que você fosse tão egoísta a esse ponto, Teddy! Francamente... – Victoria não podia suportar aquilo. Elizabeth era sua irmã, e ela cuidava da sobrinha com muito amor enquanto os pais trabalhavam, pois havia tirado licença do trabalho por tempo indeterminado, sem condições psicológicas para tal. Achava que o marido devia se sentir grato por tudo que a cunhada tinha feito pelos dois, mas não.

- Vai me chamar de egoísta agora? Estou sendo errado em querer que a minha filha me ame como pai?

- Não é isso, meu querido. Só acho que você está fazendo tempestade em copo d’água. Colocando chifre em cabeça de cavalo.

- De qualquer jeito, abre seu olho... Fica prestando atenção e vê se eu não estou certo.

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Aos poucos, Victoria Wilkinson percebera que realmente o marido estava certo em relação ao assunto da filha e da irmã. Elizabeth, sem dúvida, mesmo que sem a intenção, roubava totalmente a atenção da filha dos dois.

- Minha irmã, precisamos conversar sobre isso.

- Victoria, me desculpe. Não fiz isso por vontade... Eu tinha perdido meu bebê, e aí nasceu a sua filha. Tornei-me madrinha dela... Tudo ao mesmo tempo, quando reparei já tinha me apegado muito à Isabella. Ela foi uma benção na minha vida, assim como você.

- Irmã... – Victoria pôs a mão sobre o ombro de Elizabeth. – Eu não a culpo. Sei exatamente como se sente, apesar de não ter passado por nada que você passou. Eu só... não posso viver nessa situação, dessa maneira.

- É verdade... Eu não sei como me sentiria se o Thomas não me desse a atenção e o carinho que um filho deveria dar a uma mãe. O que sugere que façamos para mudar isso?

- Temos que conversar com a Isabella. Mas, quero te pedir uma coisa.

- Pode pedir, é o mínimo que posso fazer por você. – Elizabeth segurou firmemente a mão da irmã. Era capaz de tudo por aquela preciosa família.

- Preciso que cuide da nossa filha durante esse final de semana. Teddy precisa fazer uma viagem a trabalho e eu o acompanharei. Não poderemos dar a devida atenção à ela.

- Farei isso com prazer. – Elizabeth, deixando escapar uma lágrima, abraçou fortemente a irmã. – Obrigada por me impedir de acabar com a minha vida naquele momento. Foi um presente muito valioso.

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O dia da partida de Teddy e Victoria naquele final de semana tinha chegado num piscar de olhos. No final daquela tarde de quinta-feira, o casal arrumara as malas e se preparavam para adentrar um grande veículo fornecido por Elizabeth.

A madrinha e a afilhada se encontravam no portão, se despedindo dos dois.

- Até semana que vem, Victoria... – Elizabeth beijou o rosto da irmã e a abraçou fortemente. Logo em seguida, foi a vez da pequena filha, que, mesmo apesar do tamanho da menina, a pegou no colo, beijando o rostinho da menina.

- Filhinha, vou sentir saudade de você nesses dias. Até semana que vem!

Teddy nunca fora bom com despedidas. Acenara para Elizabeth e abraçara a filha, aguardando a esposa sentado sobre o banco do motorista, impaciente. Desejava mais do que tudo que aqueles dias passassem rápido e pudesse voltar para perto de Isabella.

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- Tia, vou sentir saudade deles! – Isabella estava triste. Era como se os pais demorassem muito para retornar, mesmo que fossem somente três dias.

- Eles vão voltar rapidinho, você vai ver... Quando menos perceber, já vão estar aqui cheios de presentes para você. – a tia fez uma pausa, pensando em algo que pudesse animá-la. – O que acha de irmos à sorveteria?

- Eu quero!

As duas se arrumaram e se dirigiram ao centro de Summerlight, com a melhor sorveteria da cidade. A preferida de Isabella, desde pequenininha.

- Faz tanto tempo que não venho aqui! Obrigada, tia!

Bella correu e pegou um grande pote. Pouco depois, o mesmo já se encontrava repleto de inúmeras bolas de diferentes sabores. Elizabeth sorriu ao sentir a alegria desta.

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A noite tinha chegado. A viagem estava sendo tranquila, até aquele momento. O casal subia agora uma grande serra.

Teddy estava inerte aos pensamentos. Mesmo que não pudesse estar atento à filha o tempo todo, não queria deixá-la com a tia. Poderia ser um momento entre os três, como pais e filhos, como deveria ser.

- Teddy, cuidado!

Esses pensamentos colocaram sua vida em risco. Quando voltou a si, um caminhão caminhava velozmente na direção oposta a que estava indo, logo à sua frente, em disparada. Após um longo e agoniante grito de Victoria, o caminhão chocou-se contra o carro, que rolou e caiu do penhasco, colidindo com uma grande rocha, explodindo.

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Acidente em Serra deixa dois mortos

Na noite passada, ocorreu um trágico acidente na cidade de Summerlight. Na serra, um caminhão se chocou contra um carro, que, por sua vez, caiu do alto do local, colidindo com uma rocha, explodindo. De acordo com os exames, os corpos pertencem à Victoria Wilkinson e Teddy Wilkinson, um casal.

Elizabeth fechou o jornal, chocada. Sua irmã partira da maneira mais inesperada possível. Segundos depois, após captar a repentina notícia, debulhou-se em lágrimas, revoltada. Ela merecia estar naquele carro, ela merecia morrer daquele jeito, e não a inocente de sua irmã.

- Victoria, eu juro, tudo que eu puder fazer para o bem da Isabella, eu farei! Cuidarei dela como você cuidaria se estivesse aqui!