Pov Katniss

As costura virou cinzas, madeira queimada, restos de colchões carbonizados e a fumaça que não se dissipou. Crianças estão com queimaduras graves, deitadas no chão sujo por cinzas. Adultos estão onde antes eram suas casas, estão tentando encontrar algo que possa ser útil, algo que não esteja queimado. Estou andando pela costura, lugar que já foi minha casa e agora é um monte de cinzas e fumaça. Algumas pessoas me olham com tristeza, outras com dó, elas sabem que estou me sentindo culpada, e sou a culpada.

— Menina, é melhor sair daqui - uma mulher baixinha com o rosto sujo por cinzas, sua voz é doce e calma - A sua presença só vai piorar tudo.

Tento ficar controlada e ajeito a jaqueta do meu pai. Várias pessoas começam a se juntar a mulher baixinha e ficam ao meu redor.

— O que você fez? - um homem alto com a camisa rasgada fala olhando ao redor, como se estivesse falando “olhe o que você fez com o nosso lar”.

Tenho quase certeza que meus olhos estão vermelhos, por quase 3 dias fiquei chorando, e agora vendo o que aconteceu, quero me esconder e chorar.

— Eu quero ajudar - falo - posso ajudar vocês.

— Você não pode nos ajudar, a sua ajuda só vai fazer com que mais ódio caia sobre nós. Por favor vá embora, você só está piorando as coisas.

Um homem de pele escura indaga, as pessoas começam a sair e voltar ao que estavam fazendo. Eles estão certos, todos os meus atos podem refletir em alguém inocente. Um exemplo é que os meus atos acabaram com a costura e meu filho, inocente, vai pagar por eles.

Viro e volto a andar, mas dessa vez para fora da costura. Tento seguir reto e não olhar para as pessoas. Vou direto para para a vila dos vitoriosos, talvez prim esteja em casa. Desde que voltamos ainda não falei com Haymitch, ele sabe sobre o meu problema com o Snow, ele sabe sobre todos os meus problemas.

Entro em casa e logo vejo minha irmã. Ela está triste.

— Você foi até a costura?

— Fui. Preciso ficar um pouco sozinha.

— Mas você não comeu direito por quase 4 dias, coma alguma coisa.

— Prim, estou sem fome, agradeço a preocupação - vou em direção a escada e subo o mais rápido que consigo já chorando. Aquelas pessoas não merecem isso, sofreram a vida inteira, lidando com pobreza e fome. O Snow quer que todos me odeiem e que me deixem sozinha. Ele está conseguindo, começando por Gale. Preciso do Peeta, preciso da sua companhia.

— Ele está morto e não vai voltar, nunca mais ouvirei sua voz ou beijarei seus lábios, mesmo que seja apenas em uma atuação.

Posso estar sendo dura comigo mesmo, mas preciso aceitar isso. Durmo algumas horas, mas minha mãe me acorda com um prato de comida na mão.

— Já disse para a Prim que não quero comer, estou sem fome - digo a ela.

— Não estou nem um pouco preocupada com o que você quer, estou preocupada com meus netos, que precisam de você para se alimentar. Coma, se não for por você, faça por eles.

A melhor pressão psicológica que alguém poderia fazer se você estiver grávida. Não posso prejudicar mais ninguém. Como um pouco e volto a dormir.

Duas semanas passam rápido. Ninguém morreu, Gale não me visitou, tudo que aconteceu foi: As pessoas da Costura tentando reconstruir suas casas e a minha barriga crescendo. Prim vai para a escola e a minha mãe ajuda as pessoas, fico sozinha e na cama. Ouvi minha mãe e Prim conversando sobre me dá remédios para depressão, minha mãe acha que pode fazer mal aos bebês e prefere não arriscar a saúde deles. A cada dia sinto mais saudades do Peeta e do Gale, Gale ainda posso ver, Peeta não.

Saio da cama e vou até a casa que era do Peeta, entro e está tudo do jeito que ele deixou, até as roupas nos armários. A casa é um lugar bonito e agradável, com um ar clássico, seria perfeito para criar nossos filhos, como ele queria. Ouço um barulho na cozinha e vou até lá. Encontro Haymitch sentado tomando uma garrafa de whisky. Ele olha e oferece a garrafa, pego, limpo o gargalo e tomo um gole.

— Achei que grávidas não pudessem beber lindinha.

— Quero todas essas coisas - mudo o assunto.

— Como assim princesa?

— Quero as roupas, os quadros, tudo que for dele.

— Tudo bem amor, vou contratar alguns caras para tirar tudo e levar até a sua casa.

Ele levanta tombando e vai embora. Fico mais alguns minutos e decido que preciso ver onde ele está, onde seu corpo está.

Está quase escurecendo, mesmo assim vou até o pobre cemitério do Distrito. Pobre e descuidado, alguns túmulos com apenas uma cruz sem nenhuma identificação.Não procuro por muito tempo, em menos de 5 minutos encontro o túmulo. Peeta Mellark, vitoriosos, filho namorado e pai. Sento com as pernas cruzadas em frente ao túmulo e fico alguns minutos pensando.

— Sinto sua falta. As últimas semanas foram horríveis. Acordei no centro de treinamento e depois em um hospital, a pior parte foi ter que aceitar que você está morto. Eu vi eles, nossos bebês, ouvi o coraçãozinho, foi assustador - passo minha mão carinhosamente pelo meu ventre e começo a chorar - Eu precisei assistir a retrospectiva dos jogos, o banquete na mansão do presidente Snow e aquela entrevista, a pior parte não foi ter que fazer tudo isso, a pior parte foi não ter você comigo. Pessoas inocentes da Costura perderam suas moradias por minha culpa. preciso de você Peeta.

Preciso disso, preciso pôr para fora o que estou sentindo. Preciso chorar.

— Fico apavorada quando um dos nossos bebês se mexe ou até mesmo chuta, essas duas coisas estão bem frequentes agora, a minha barriga... Você precisa ver como estou agora, e nem faz tanto tempo desde a arena. Estou sozinha, fico o dia sozinha, a noite sozinha, não tenho ninguém para me confortar quando tenho pesadelos. Daqui a poucos meses eles vão nascer, no último mês, na última semana estarei sozinha, e queria que você estivesse comigo nos últimos dias. Talvez a pior parte em tudo isso, é saber que quando eles nascerem, você não vai estar lá, não vai poder pegá-los no colo. Não vou suportar quando levarem ele, não suporto perder mais ninguém, principalmente ele. Não vou suportar quando ele for tirado dos meus braços. Antes eu não fazia idéia que preciso de você, sinto saudades da sua presença, da sua voz e me odeio por não ter dito isso enquanto você estava aqui, me odeio por não ter percebido todas essas coisas e muito mais enquanto você estava aqui. Sinto saudades.

— Eu também sinto saudades dele - alguém fala por trás.

Pov Gale

— O que você quer Haymitch? Recebi seu recado.

— Meio óbvio que você percebeu, se não tivesse recebido não estaria aqui, gênio - Haymitch responde com sarcasmo - Chamei você aqui porque preciso explicar tudo.

— Sim você precisa, pediu para que eu ficasse essas duas semanas afastado da Katniss alegando que era para o bem dela. Independente do incêndio, eu não iria me afastar. Agora estamos aqui, na floresta e você ainda não disse nada que faça sentido.

— Peeta está vivo, isso faz sentido?

Os músculos do meu rosto tremem e me seguro em um árvore.

— Isso não é possível. O coração dele parou de bater, o coração parou, ele morreu nos braços da katniss. Eu estava assistindo.

— Durante os minutos que a transmissão foi cortada injetaram uma droga nele, faz o coração bater tão devagar que pode enganar até o canhão dos jogos. Vou explicar tudo - E ele começa a contar tudo, desde as amoras, Distrito 13, Plutarch, Ele só pode estar bêbado. Fala sobre Katniss ser o símbolo e minha única reação é ficar de boca aberta.

— O plano deu errado Gale, Katniss veio para a capital viva e o Snow não iria deixar isso barato. Ele fez algo pior que esse incêndio, ele vai tirar o bebê da Katniss, o menino.

Eu vou matar o Snow, um dia vou matar. Não vou deixar que ele toque no bebê.

Haymitch continua falando.

— Tenho um plano, o Distrito 13 vai ajudar mesmo que não queira, isso é nossa culpa. Mas precisamos da sua ajuda.

— Você não percebe o que tem nas mãos? - acabei de perceber isso - se o Snow pegar o bebê, a Katniss ficará tão furiosa, podemos ter uma rebelião, um símbolo mais forte, uma guerra tão grande que acabaria com a Capital, não quero que ele toque nesse bebê mas é uma oportunidade, vocês não podem abandonar esse símbolo.

— Você não percebe o quanto isso soa egoísta? Não vamos desistir da Katniss como símbolo, já estamos planejando outra faísca para uma rebelião, mas isso vai levar tempo, no momento precisamos focar em tirar o garoto das mãos do Snow. Demorou 75 anos para alguém como a Katniss aparecer, não vamos desistir dela tão fácil.

— Tudo bem, o que eu preciso fazer? E a propósito estou lisonjeado por saber sobre o Distrito 13.

— Você só está sabendo porque é necessário. Se vai ajudar vamos começar por passos. O primeiro passo é: Fique longe da Katniss até um tempo antes dos bebês nascerem, estando perto dela você é um alvo fácil para os pacificadores e paro o Snow, e infelizmente você é uma parte importante do plano. Os outros passos só darei no decorrer dos dias.

— Não concordo com isso, mas tudo bem, vou fazer isso pela Katniss, por esse bebê que não é nem meu filho, e por essa possível rebelião. Precisamos dela, precisamos libertar Panem, e só conseguiremos isso com a Katniss.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!