A Vida

Especial Adolescentes


Especial adolescentes

Amanda

Amanda arregaçou as mangas e passou o antebraço na testa, na esperança de secar o suor.

Sem muita animação, fitou a pilha de ferragens em cima de sua bancada. Num futuro próximo aquilo se transformaria em um motor auto-sustentável, mas no momento só parecia um motor de carro quebrado.

Ela estava cansada. Sua família, assim como todas as outras envolvidas na missão, tinham deixado o acampamento duas semanas antes do previsto, precisavam de algumas semanas de paz. Faltavam poucos dias para o início das aulas e Amanda passara todos os dias, desde que chegara do acampamento, dentro da oficina.

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Respirar, era tudo que ela precisa, respirar.

Amanda se dirigiu ao banheiro e lavou os braços. Curiosa, olhou-se no espelho. Vestia uma calça jeans surrada, uma blusa xadrez vermelha, que estava aberta, e por baixo uma camiseta branca. A mesma, quase que por milagre, só tinha uma única mancha de graxa. Amanda sorriu, imaginando que não estava tão ruim para uma pequena volta na praça que ficava na esquina da rua de sua casa.

Ela saiu do banheiro e se aproximou do pai, dando-lhe um beijo no rosto. O moreno retirou os olhos de seu projeto,rapidamente, e fitou a filha surpreso.

– Vou dar um volta, tudo bem? - ela perguntou.

O pai sorriu e assentiu.

– Tudo bem, só volte antes de escurecer - disse Leo lhe dando um beijo no alto da cabeça.

Amanda sorriu e seguiu para a porta do oficina. Quando já estava quase saindo, se virou e disse:

– Não coloque fogo em tudo!

Seu pai revirou os olhos e incendiou as mãos.

– Você fala como se eu fosse um incendiário! - ele disse se fingindo de ofendido.

Amanda riu e seguiu seu caminho. Menos de cinco minutos depois já estava na praça. O dia estava ensolarado, não exageradamente quente, mas agradável. A praça estava completamente deserta e a água do chafariz caía graciosamente na fonte.

Ela sentou em um dos bancos da praça e fechou os olhos. O ar fresco adentrou seus pulmões e uma sensação de relaxamento invadiu seu ser.

Não se passaram cinco minutos e Amanda ouviu uma barulho, um latido. Ela abriu os olhos e encontrou um Labrador dourado, abanando o rabo e com a língua para fora. A garota sorriu e acariciou a cabeça do animal, que fechou os olhos e a boca, assumindo uma expressão satisfeita.

Amanda se ajoelhou na frente do Labrador e acariciou seu pescoço. Ele levantou a cabeça para facilitar seu acesso, e ela viu uma pequena corrente. Presa a corrente estava uma plaquinha, como as usadas para identificar soldados no exército. Sem cessar o carinho no cachorro, a garota segurou a placa e leu em voz alta.

– Zang - disse um tanto surpresa - Não sabia que os Zang tinham um cachorro.

O cão parou de abanar o rabo e fechou a boca.

– Eles não tem um cachorro - afirmou Amanda se levantando. Não acreditava que o cachorro a seus pés fosse o patriarca Zang, e como Tommy não podia se transformar... - Tyler?

O Labrador abaixou a cabeça e logo um adolescente surgiu a sua frente, ainda com a cabeça a baixa. Amanda suspirou ao vê-lo. Pensara muito na conversa que tiveram no navio, mas não tivera chance de falar com ele depois que chegaram ao Acampamento Meio-Sangue.

Sem nem mesmo notar, ela tinha se aproximado do garoto e segurava sua plaquinha, que agora caía sobre o peito do mesmo.

– Por que você tem uma identificação ? - ela perguntou distraídamente.

Tyler corou e desviou os olhos.

– Virei um gato e saí de casa aos cinco anos - ele disse um tanto envergonhado - Meus pais me encontraram quatro horas depois em uma brigo, desde então eu ando com a identificação.

Amanda riu e viu os músculos dele relaxarem com seu riso. Só então notou o quanto estava próxima do garoto e se afastou um passo, com o rosto corado.

– Posso perguntar o que estava fazendo aqui em forma de cachorro? - ela indagou olhando em seus olhos.

Mesmo com o passo de distância, ainda estava bem próxima de Tyler, e não queria se afastar.

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– Você acreditaria se eu dissesse que estava dando uma volta? - ele perguntou com uma das mãos na nuca.

– Não, até porque sua casa fica a, pelo menos, 20 quadras daqui - ela justificou.

Tyler abaixou a cabeça e suspirou.

– Tudo bem, eu admito. Desculpe-me - ele pediu levantando a cabeça e olhando em seus olhos - Eu... Eu precisava te ver. Tenho vindo aqui desde de que voltamos do acampamento na esperança de te ver mas... Mas você nunca estava por perto - Tyler balançou a cabeça como se repreendesse a si mesmo - Não queria dar a impressão de que estava te pressionando, eu mantenho minha palavra, vou te esperar o tempo que for necessário. Então eu vinha transformado em algum animal. Gato, cachorro, passarinho... Até mesmo um coelho - ele sorriu como se fosse uma lembrança divertida - Por favor, me perdoe.

Amanda ficou em choque, fitando o garoto a sua frente. "Ele andara tudo aquilo todos os dias para vê-la?". "Eu também te amo", ela podia ouvi-lo dizendo. Sim, ele realmente a amava.

Nanda sempre acreditou que existissem diversos tipos de amor. Desde de os que resistem até a morte, até aqueles que não persistem após a primeira briga. Seu medo sempre tinha sido que seu amor fosse como papel, se despedaçasse com um pouco de água. Mas ela tinha certeza que esse não era assim.

– Não tem problema, foi até bom - ela tranquilozou-o - Eu estava mesmo querendo conversar com você. Eu... Eu tomei uma decisão.

Tyler ficou pálido. Amanda se aproximou novamente, ficou na ponta dos pés e colocou a mão em seu pescoço, fazendo-o se abaixar. Sim, era necessário, afinal o garoto era , no mínimo, quinze centímetros maior do que ela. Nanda posicionou a boca ao lado do ouvido de Tyler e sussurrou:

– Eu não tenho medo de você.

Ela se afastou o bastante para olhar nos olhos de garoto. Eles estavam arregalados, mostrando sua surpresa.

– Na verdade - ela se corrigiu - Eu descobri que não tenho medo de te amar.

Um instante seria muito, até um segundo seria muito. Tudo que Amanda podia dizer era que fora rápido, antes que ela se quer pudesse pensar no que ele faria, já estava sendo beijada. Quando se deu conta, seus braços estavam em volta do pescoço de Tyler, e ele abraçava sua cintura. Ela sentiu seus pés saírem do chão e serem colocados sobre os dele. Amanda sentiu Tyler soltar seus cabelos, que estavam presos em um rabo de cavalo, e afundar uma das mãos no mesmo, aprofundando o beijo.

Ela sentia cada parte dos seus corpos que se tocavam. Podia sentir o braço dele apertando sua cintura, enquanto a outra mão acariciava seus cabelos.

Aos pouco se separam, mas Nanda não abriu os olhos nem disse nada. Não era necessário.

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Daniel

Daniel abraçou Mary um pouco mais forte e sentiu a garota ressonar sobre seu peito. Ele olhou para cima e fitou as estrelas. Milhões de pontinhos de luz com variados graus de luminosidade. Alguns constantes, outros piscando. Sua irmã, Bia, havia lhe dito, quando ainda era criança,que a era possível ver a luz de uma estrela mesmo depois que ela "morria". Era um tanto macabro pensar que estava admirando o brilho de estrelas mortas, mas Dani preferia pensar que o brilho das estrelas era tão eterno, que nem mesmo a morte podia apaga-lo.

Mary se mexeu e colocou a mão sobre seu peito. Eles estavam em um parque em Nova Atenas. Era como os Central Park, só que sem risco de dar de cara com uma dracaena. Dani chamara a namorada para um passeio noturno, e quando se deitaram para olhar as estrelas, ela adormeceu. De acordo com seu relógio faltavam mais de uma hora até as dez, que era o horário em que ela deveria chegar em casa, portanto ainda tinham tempo.

Namorada. Ah, como gostava de poder chama-la assim novamente. Como gostava de sentir o corpo dela em seus braços depois de um ano longe dela, remoendo um erro estúpido que quase custara sua felicidade.

Ele ainda não sabia como a neta de Hefesto o perdoara. Apesar de ter dito toda a verdade, tinha consciência de que não fora convincente. Talvez ela, apesar de tudo que dizia, quisesse acreditar.

Mary murmurou algo inaudível em seu sono e Dani acariciou seus cabelos sorrindo. O coração do garoto se apertava e despedaçava a cada vez que lembrava de como ela havia sofrido por causa dele. Só a ideia de que fora a causa de lágrimas de tristeza, amargura e ódio daquele anjo que dormia tranquilamente sobre seu peito, o fazia pensar se não era um monstro. Mas se ele era um monstro, uma fera, ela era sua Bela. Aquela que podia ver algo de bom, uma beleza no interior de seu imundo ser, e era capaz de ama-lo de todo p coração, apesar de tudo.

– Car... - ela sussurou ainda sonhando - Carly.

Dani fitou a garota confuso.

– Quem? - ele indagou se esquecendo completamente que ela dormia.

Mas, por incrível que pareça, ela respondeu.

– Carly - ela disse firme enquanto dormia - Você tem que pega-la.

Dani franziu a testa. De quem ela estava falando?

– Quem é Carly? - ele perguntou.

Mary ficou em silêncio. O silêncio durou tanto que Dani pensou que ela tinha voltado ao sono profundo e que ele nunca saberia quem era a tal menina.

– Você sabe - ela disse muitos minutos depois - É a nossa filha.

Dani parou e a fitou. Os olhos arregalados, sobrancelhas levantadas. Ela... Ela literalmente estava sonhando em ter uma a filha com ele? Ela esta sonhando com a filha deles?

– Você tem que pega-la - ela repetiu.

Dani sorriu, ele tinha a impressão de que aquele sorriso não sairia tão cedo de seu rosto.

– Pode deixar, vou traze-la para você - ele garantiu.

Com isso Mary se aconchegou um pouco mais em seu peito e voltou a dormir quieta. Dani acariciou os cabelos da namorada e repetiu o nome em sua mente, Carly. Um dia o usaria, mas até lá ele ficaria bem guardado dentro de seu coração.

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Tomas

Tommy sentiu suas mãos suarem frio e um calafrio percorrer sua espinha. O barulho da campainha recém tocada ainda ecoava, seguido de passos.

"- Vamos fazer um acordo então. Eu me declaro para a Lara e você tenta consertar as coisas com a Mary."

Onde estava com a cabeça quando fez aquela proposta? Ele nunca conseguiria falar com Lara sobre o que sentia, e se por um milagre conseguisse, levaria um fora bem educado da garota.

Mas Dani tinha cumprido sua parte do trato, e não só tentado consertar as coisas, como voltado a namorar a garota. Agora Tommy precisava fazer a sua parte.

A porta se abriu a sua frente e Tommy soltou um suspiro ao constatar que, para sua sorte, não fora Jason ou James quem a abrira, mas sim Piper. A mulher sorriu para ele, como se já esperasse vê-lo.

– Olá, Tomas - ela disse sorrindo - Como posso te ajudar?

– Er... - Tommy se forçou a continuar - Eu queria falar com a Lara.

O sorriso de Piper aumentou e ela chamou a filha. Segundos depois Tommy pode ouvir passos se aproximando e logo ela estava a sua frente. Ele prendeu a respiração. Lara usava shorts jeans e regata, os cabemos estavam presos em uma trança embutida e ela tinha chinelos nos pés. Simplesmente linda.

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– Será que nós podemos dar uma volta? - ele perguntou quando saiu do choque.

Lara fitou a mãe e essa assentiu.

– Tudo bem - ela disse sorrindo e saindo.

Tommy sentiu o perfume de Lara quando ela passou por ele. Repentinamente se sentiu inebriado por aquele cheiro. Não sabia por quanto tinham andado, mas se sentia estranhamente bem ao lado dela.

– Então, para onde estamos indo? - perguntou Lara.

Tommy olhou em volta e percebeu que tinham chegado a uma praça. Sinceramente esperava que ela soubesse onde estavam, e o caminho de volta para casa, pois ele não fazia a menor ideia.

– Nem um lugar em específico - ele respondeu - Eu só precisava falar com você.

Lara franziu as sobrancelhas.

– Falar comigo?

O estômago do neto de Marte se revirou e ele ponderou se não poderia abrir um túnel e fugir. Estava na hora. Ele precisava falar. Um nó se criou sua garganta, uma sensação de profundo enjoo tomou conta de seu ser e seus olhos não conseguiam focalizar os da garota.

Tomas subiu o olhar e viu o sol que se punha ao longe. O rei do dia parecia mais fraco, sua luminosidade alaranjada já não incomodava os olhos e o calor transmitido por ele já não tinha tanta intensidade, de forma que os pelos de seus braços se arrepiaram com uma brisa fresca. O tom alaranjado do sol transmitia uma tranquilidade que contagiou o garoto. Sim, ele podia fazer aquilo.

Tommy baixou os olhos e fitou o caleidoscópio que eram os de Lara. Em um impulso de coragem, segurou as mão da garota, que o fitou cada vez mais confusa. Se ele não falasse logo, nunca iria falar.

– Lara, eu gosto de você - ele soltou - Não como amigo, mais do que isso. Não espero que você diga o mesmo até porque... Até porque uma garota bonita como você nunca gostaria de mim - Tommy abaixou a cabeça corado, mas logo a levantou, voltando a olhar nos olhos da garota - Eu só queria que você soubesse, não podia mais guardar isso para mim.

Tommy soltou as mãos de Lara e abaixou a cabeça, dando um passo para trás. Aquela onda de coragem definitivamente tinha acabado. A sensação de enjoo voltou. Ele não deveria ter dito nada. Teria sido melhor se tivesse ficado quieto. Agora ela se afastaria, ficaria diferente com ele. Lógico, isso depois do fora carinhoso que ela daria.

Tommy sentiu um toque em suas mãos e levantou a cabeça. Lara estava na sua frente. Um grande sorriso estampava seu rosto e seus olhos brilhavam.

– Você é bobo por pensar que eu não me interessaria por você. A única coisa que me impediu de dizer alguma coisa, foi que eu não sabia o que você sentia - ela disse sem medo - Um homem sábio me disse que precisamos arriscar e que demostramos o que sentimos com ações. Espero que me compreenda.

Tommy fitava tido estático. Lara ficou na ponta dos pés, alcançando exatamente sua altura e juntou seus lábio. Naquele momento o mundo parou.

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Autora

James se levantou de trás do arbusto, mas uma mão o puxou de volta. Ele olhou para o lado e viu a garota. Seus cabelos estavam presos em um rabo de cavalo, os braços cruzados sobre o peito e a expressão brava, mas com uma ponta de felicidade. As pintas verdes em seus olhos castanhos pareciam brilhar mais na pouca luz daquele fim de tarde.

– O que você pensa que está fazendo?! - ela perguntou em voz baixa para que o casal que se beijava na praça não os ouvisse.

– Estou indo tirar aquele pivete de cima da minha irmã!

A garota revirou os olhos.

– Aquele "pivete" é o Tommy, e é só um selinho. Não há motivo para ataque.

– É a minha irmã que está lá! - ele protestou.

Bia revirou os olhos. James bufou, ela nunca entenderia. Bia estava com ele para fazer um trabalho. As aulas tinham começado há o que? Três dias? E sim, eles já tinham um trabalho. O garoto agradecia aos deuses pelo casal não ter ficado junto nesse trabalho. Tess e Bia eram os mais inteligentes da turma, com certeza não seria justo que eles ficassem no mesmo grupo.

O que os dois estavam fazendo ali na praça? Simples. James ouvira, por acaso, o convite feito na porta de sua casa e resolvera seguir o casal. Bia fora junto para "evitar que ele fizesse alguma besteira", como estava fazendo naquele momento.

– Por favor, James - ela reclamou - Você já tinha namorada na idade dela.

– É diferente - ele justificou

– Não, não é - insistiu Bia - Até porque a Ally só é uma ano mais velha que ela.

James corou.

– Nós não somos namorados - ele disse um pouco envergonhado, e até, decepcionado.

– Eles também não são - ela rebateu - E vocês só não são porque você não quer.

James resmungou e voltou a olhar para frente. Sua irmã e Tommy já não se beijavam mais, eles estavam abraçados. James suspirou. Ele precisava admitir, eles pareciam apaixonados.