Morte: o irremediável fim de todo ser vivo. Para muitos guerreiros era a maior honra possível de ser receber em batalha. Lutar por sua causa e defendê-la com seu bem mais valioso: a própria vida. Em muitas culturas a morte não significava o fim. Muitos povos creem que para aqueles que levaram uma vida marcada por atos justos e honrosos a morte era a porta de entrada para um local de descanso eterno semelhante a um paraíso. E para os que levaram uma vida marcada por atos pecaminosos e vergonhosos, a morte seria a porta de entrada para um local de castigo eterno onde pagariam pelos crimes que cometeram em vida. Mas mesmo que o espírito descansasse ou passasse e eternidade em agonia o destino do corpo na maioria das vezes era um só: uma sepultura sombria onde serviria de alimento para os vermes e nisso não há honra, glória ou dignidade.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

****************************************************************************************************

O funeral de Ja’Far foi algo simples. Apenas aqueles que o conheciam de foma mais íntima, seus amigos generais de Síndria, Hinahoho e Yamuraiha estavam presentes. Praticamente ninguém dos arredores onde morava compareceu. Era algo normal tendo em vista que ele não possuía muitos amigos, afinal seria arriscado que ele se aproximasse de alguém e essa pessoa fosse vítima da Al-Thamen caso sua identidade fosse descoberta. Seus únicos amigos estavam ali, mesmo assim nem todos estavam presentes, um deles havia sido levado para Hakuei, a rainha de Síndria e vários generais estavam desaparecidos desde que fugiram de sua pátria. O destino de Sharrkan provavelmente seria tortura e morte ou talvez fosse deixado vivo para servir de refém em algum momento oportuno.

O corpo de Ja’Far foi enterrado no cemitério local. A bandeira de Síndria era sua mortalha. O país que ele ajudou a construir e que teve todo seu amor e dedicação agora era um ninho de víboras onde a maior delas comandava tudo sob a sombra dos ombros daquele que um dia foi seu amado. Sinbad não estava ali e nem poderia, afinal de contas ele nem imaginava que seu antigo amante estava morto e jazia no solo frio tendo como companheiro apenas os vermes e os cadáveres daqueles que um dia também haviam sido entes queridos de alguém. O grande Rei de Síndria e senhor dos Sete Mares agora era esposo de Gyokuen, a poderosa Rainha de Síndria que usava como disfarce o corpo de sua filha, a princesa Hakuei do Império Kou.

— Ha ha ha ha! — Gyokuen gargalhava esboçando sua mais profunda felicidade ao saber da notícia da morte de seu maior adversário. — Então quer dizer que aquele idiota morreu? Ele deu sua vida salvando aquela garota inútil. O único capaz de coordenar aqueles idiotas chamados de generais agora está fora do meu caminho. Muito bem, por favor informe ao nosso contato que meu espião deve receber a recompensa prometida. Ele trabalhou muito bem.

— Sim senhora, e o que devemos fazer com o prisioneiro que recebemos? — Perguntou o soldado obediente.

— Hora, tratem ele muito bem. Não o machuquem. Quero ele ileso para servir de refém caso meu marido descubra tudo e tente fazer alguma coisa. Até lá vou brincar um pouco com ele. Se meu marido perguntar pelos soldados que saíram com vocês e por Ramsés digam que foram atacados por piratas e que Ramsés morreu lutando contra eles. Se alguém perguntar pelo corpo, diga que ele foi atingido por uma flecha, caiu no mar e que não conseguiram recuperá-lo. Para todos os efeitos, vocês foram buscar mercadorias e atacados por bandidos. Entendeu?

— Como a senhora desejar. Agora me retiro.

O soldado se retirou e deu ordens aos responsáveis pela comunicação de Gyokuen com seus espiões que deveriam recompensar adequadamente o responsável pela informação que levou a captura de Sharrkan e a morte de Ja’Far. Já faziam cinco dias desde a luta que terminou com desfecho trágico para os ex-generais de Síndria. Nefertiti não havia encontrado nada ao retornar para o acampamento atacado por Ja’Far e Hinahoho com a intenção de resgatar Yamuraiha. A garota se desesperou ao seguir os rastros de Ja’Far e encontrar a espada de Ramsés ao lado de seu corpo carbonizado. Ela fez seu retorno para Síndria para enterrar os restos mosrtais do irmão e para se reportar a sua mãe e rainha. Os dois generais responsáveis por lhe tirar seu irmão e amante estavam fora de seu alcance no momento já que não possuía reforços. Lutar sozinha com eles e morrer ou ser derrotada seria uma ofensa a memória de Ramsés. Sua única opção era retornar e lamentar sua morte por enquanto e foi o que ela fez.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Quanto ao homem responsável pela morte de Ja’Far, seu nome era Hafez. O jovem ex-conselheiro de Síndria havia recrutado pessoas que sofreram nas mãos da Al-Thamen para formar sua rede de informações. Todos eram pessoas leais e eficientes, assim ele pensava. Ele os treinou para que colhessem infromações e lhe reportassem todas as atividades suspeitas por perto. Alguns de seus espiões ia até Síndria vez ou outra para trazer informações. Infelizmente não era seguro que frequentassem o covil do inimigo com frequência ou poderiam atrair atenção desnecessária. Mas todos os cuidados do mundo não evitaram que Ja’Far fosse traído. Havia uma maçã podre no cesto. E não notar tal fato lhe custou a vida. A recompensa pela morte do ex-conselheiro do Rei dos Sete Mares foi aquilo que muitos desejavam. Algo simples e fácil de ser conseguido por uma rainha: muito ouro.

Hafez se refestelou com a recompensa recebida e se esbaldou nos melhores bordéis e adquiriu todo tipo de coisas desnecessárias e luxuosas. A recompensa lhe permitiu também que comprasse uma casa em Partevia. O traidor era um homem de idade pouco avançada na casa dos quarenta anos, era parcialmente careca e de estatura mediana. Um homem comum e sem nada que o destacasse a primeira vista. Todas as noites era comum que fosse beber e fazer sexo nos bordéis. Se não fosse em qualquer um deles, chamava prostitutas para dentro de sua casa. Não era incomum que as agredisse em meio as bebedeiras e orgias, mas elas sempre retornavam. O pagamento era certo e um ou outro hematoma era sempre recompensado com um pagamento extra.

Mas em uma noite, a décima noite após a morte de Ja’Far, ele recebeu uma visita nada prazerosa. Ao acordar de madrugada para tomar água, uma figura o espreitava nas sombras, um caçador cruel e implacável. Ele nem teria visto seu algoz, caso este não desejasse. Mas a figura sombria desejava ser vista. Mesmo assim, não era sua intenção que a vítima gritasse e chamasse atenção. Com um golpe rápido Hafez foi imobilizado e impedido de fazer qualquer barulho ou de fugir. O joelho de seu executor pressionava sua garganta enquanto estava caído no chão e impedia que expressasse qualquer som. A última visão do traidor aterrorizado foi o rosto iluminado daquele que para ele era o anjo da morte. Seus cabelos eram brancos, sua pele era pálida e seus olhos refletiam o brilho da lua que entrava pelo vidro de uma das janelas. Seu traje consistia de um manto cinzento que cobria suas roupas brancas, faixas cobriam seus braços e pernas e suas únicas armas eram as lâminas que o acompanhavam desde que havia conhecido Sinbad. Hafez teve sua garganta cortada e as autoridades nunca descobririam quem foi. Para todos os efeitos Ja’Far estava morto e enterrado, ninguém tinha motivos para desconfiar que um dos soldados mortos na batalha contra os seguidores de Gyokuen o substituía no túmulo.

— Sujar minhas armas com um sangue tão impuro. Hafez, a cova para onde você tentou me mandar foi rasa demais, espero que cavem uma adequada para você. A daquela vadia eu mesmo vou providenciar. — Disse Ja’Far ao observar o sangue daquele que o traiu se esvair. — Sin… espero que se lembre da nossa promessa…