A Supernatural Destiny

Should I Stay or Should I Go?


Desde os 16 anos que eu não choro desesperadamente, de me sentir fraca e cansada. Desde os 16 anos. Mas hoje eu sei o que é se sentir extremamente triste novamente.

Meu Chevy 500 não quer pegar.

– Dá pra demorar mais, Dean? – Ironizei.

– Porque você não pega essa porra dessa chave de fenda e vem você cuidar do seu carro? – Ele respondeu nervoso.

– Olha, se não quiser me ajudar, eu entendo – Eu cruzei os braços.

– Você é muito dramática...

– Não se encontra um Chevy 500 em qualquer lugar, Winchester – Eu gritei.

Ele olhou para mim, totalmente nervoso. Que culpa eu tinha se ele era um incompetente que mal sabe consertar um carro? Claro que eu tinha um pouco de culpa sobre isso tudo, mas só um pouco. Oras! Quando eu finalmente resolvo seguir meu próprio caminho, pra longe dos Winchester, meu Chevy amigo do peito resolve falhar no meio da estrada e eu não conhecia mais ninguém na cidade pra me ajudar.

Me sentei na beira da estrada, ao lado de Sam que assistia a cena toda calado. O sol só atrapalhava e eu comecei a me perguntar se tinha sido uma boa idéia chamá-los.

– Dean, quer saber, deixa! – Eu pedi, me levantando.

– Tá duvidando da minha capacidade, Grewgh?

– Ah, talvez – eu disse me estressando mais.

– Ótimo – ele bateu o capô do MEU Chevy 500 e saiu em direção ao Impala.

– Cara, cuidado com o meu carro – eu resmunguei.

Bati o pé e entrei no meu carro. Tentei dar a partida e nada. Bati a cabeça umas três vezes no volante, praguejando mentalmente aquele dia que mal havia começado.

– May, você pode vir com a gente até a próxima cidade e procurar um mecânico. – Sam comunicou.

– Valeu a intenção, mas não vou deixar meu carro aqui, no meio da estrada, sozinho.

Dean buzinou insistentemente.

– Manda o seu irmão ir à merda?

– Olha, eu sei que o dia não começou muito bem, mas qual é, você vai ficar aqui na estrada até alguém passar e te ajudar?

– É esse o plano.

– Sem chances. – Ele cruzou os braços.

A viagem até a cidade mais próxima permaneceu silenciosa. Dean se quer me encarava pelo retrovisor e Sam hora ou outra arriscava um comentário na esperança de que eu e Dean descontraíssemos. Não aconteceu, definitivamente.

Fui obrigada a deixar o Chevy na estrada, correndo o risco de nunca mais vê-lo. Estava chorando internamente.

Quando chegamos à cidade ainda eram onze horas da manhã e Sam conseguiu convencer Dean de me levar logo num mecânico disposto a ir até a estrada.

A placa dizia “Aberto 24 horas”. Parecia ser o tipo de cara que faz qualquer coisa pordinheiro. Eu desci primeiro do carro e Sam desceu logo após. Apenas Dean ficou dentro do Impala, resmungando o quanto eu conseguia ser uma pessoa ingrata.

Bati na porta mas ninguém atendia. Sam arriscou uma espiada pela janela. Nada!

– Estranho – Sam disse – diz aberto 24 horas. Deve ter acontecido alguma coisa.

– O cara só deve ter cochilado durante o trabalho, vamos procurar outro lugar, Sam.

Mas o que eu disse foi tarde demais. Sam havia arrombado a porta e entrado. Dean resolver sair do carro.

– Como é que você o deixa ir entrando assim nos lugares – ele reclamou.

– Ahn? Winchester, pra começar ele é seu irmão e ele pode fazer o que bem quiser. – Eu coloquei as mãos na cintura – Cara, você só pode estar procurando motivos pra brigar comigo.

– Você vem sendo uma chata desde que a gente se conheceu.

– Eu? Há dois dias você disse que eu era valiosa pra você, pra vocês... – Eu disse nervosa.

– Não vem com essa agora! – Ele respondeu a altura.

– Hey, vocês podem parar de discutir e vir ver o que eu encontrei? – Sam apareceu na porta.

Espírito Winchester Aventureiro. Cada coisa que me aparece hoje em dia. Segui logo atrás de Dean para dentro da loja mecânica. O lugar parecia estar abandonado há dias, as coisas estavam fora dos lugares e o carro dentro da garagem estava inteiro riscado. Mas o pior foi o que Sam apontou ao fundo... Um corpo, aparentemente o funcionário do local.

– Merda! – Eu e Dean dissemos ao mesmo tempo.

– O que acha que pode ser? – Sam perguntou à Dean.

– Eu não sei. Muitas coisas. – Ele disse mas ao mesmo tempo ia pegando algo no bolso.

O pequeno aparelho, que eu conhecia muito bem, indicava ondas eletromagnéticas no local, o que é exatamente o tipo de coisa que um fantasma faz. O que não foi surpresa é que o aparelho não parou de apitar.

– Ou talvez não – ele completou.

Eu bufei. Eles não voltariam a me ajudar enquanto não resolvessem esse problema.

– Acho melhor irmos pra um motel – Sam sugeriu – Vou procurar por mortes na região.

– Ótimo – eu respondi com ironia.

– Olha May, se não quiser nos ajudar, não tem problema – Sam informou.

– Não é isso – Eu respondi – Quer saber, eu vou ajudar, quem sabe não resolvemos isso rápido.

Sam sorriu sincero. Ele passou o resto do dia dentro do quarto com o laptop. Dean saiu por aí para esfriar a cabeça do fato de estar dividindo um mesmo quarto comigo de novo. Decidi então que não seria a melhor idéia ficar no quarto com Sam atrapalhando-o.

Andei até a esquina onde uma lanchonete de ambiente agradável estava atendendo seus clientes. Pedi três lanches pra viagem e enquanto esperava ficarem prontos me sentei numa mesa perto da janela e comecei a observar o movimento na rua. E então eu comecei a pensar...

A idéia era um caso e fim de história. Nada de se envolver profundamente. Mas aí se tornaram dois casos e eu acabei de vítima de um mágico pervertido. E finalmente quando eu decido ir embora a porcaria do meu carro quebra e pra piorar um espírito filho da puta resolve aparecer.

Eles estavam discutindo lá dentro. Eu podia ouvir tudo. No começo achei que seria bom interromper os dois irmãos, mas aí eu descobri o motivo da discussão.

– Não dá, Sammy – Dean gritava – Nós nem conhecemos ela direito, o que a gente sabe sobre ela?

– Ela é a May, Dean – Sam respondeu a altura – Ela nos ajudou quando estávamos perdidos no meio de um bando de chupa-cabras. A gente tem passado os últimos 5 dias com ela, qual o seu problema?

– Ela não é a Jessica, Sam – Ele gritou – Nem nunca vai ser.

– Eu não quero que ela seja a Jessica! Mais que Merda Dean, eu só quero ela do nosso lado.

– Pra que? Pra ela te magoar como todas as mulheres que entram na nossa vida fazem? Sammy, ela é só mais uma e não vamos deixar ela entrar na nossa vida como se fosse da família!

– Sirvam-se! – Eu joguei o pacote com lanches na mesa e saí.

Era exatamente como Dean dissera. Eu não era da família, eu sabia disso, eu era só mais uma que os estava ajudando temporariamente. Mas se eu sabia disso porque raios eu estava tão triste?

Eu corri pelo estacionamento do motel. Ouvi Sam chamar meu nome mas não olhei para trás. Continuei correndo.

Andei até a saída da cidade que na verdade nem era tão longe do motel. Peguei uma carona com uma família que estava saindo para visitar a avó e eles me deixaram no Km 15, exatamente onde eu tinha deixado o Chevy 500.

Quando desci da mini-van e não enxerguei meu carro, meu coração começou a bater rápido. Eu gritei, mas gritei com toda a força que ainda tinha no meu pulmão e quando eu senti que não tinha mais ar... Comecei a chorar.

A idéia era pegar meu carro, somente meu carro, e fugir de tudo aquilo, ir para bem longe, mas nem isso eu podia fazer agora. Eu não iria voltar para trás, nem que fosse para pegar minhas roupas que deixei no carro de Dean. Eu não queria... Eu não precisava.

Sentei no acostamento da estrada e abracei meus joelhos. Hora ou outra enxugava as lágrimas que teimavam em cair. Eu não me permitia chorar, não por eles, nem por ninguém. E eu não sei exatamente quanto tempo se passou, mas um Chevy Impala parou bem a minha frente.

– May! – Sam chamou ainda de dentro do carro.

Dean foi o primeiro a descer. Ele tentou me fazer levantar, me puxando pelo braço, mas eu não estava com vontade de encará-lo. Eu o empurrei.

– Olha, eu sei o que você ouviu, e me desculpa por isso... – Ele pediu, não realmente arrependido.

– Você acha que eu não sei que venho sendo um peso pra vocês? Que não sou da família? Que não sou seja lá quem for Jessica? – Eu gritei e conforme fazia isso eu ia andando para longe do Impala. – Eu só queria ir embora... E agora nem isso eu posso fazer. Me perdoe se há uma semana eu bati no seu carro e de repente entrei na sua vida. Só me deixa ir dessa vez, ok?!

E nenhum dos dois respondeu. Há essa hora Sam já havia saído do carro e me encarava com um olhar triste.

– Não! – Dean disse. – Você não foi um peso pra gente, não é Jessica e eu não vou te perdoar por bater no meu Impala. Mas agora você é da família e a família não abandona. Não vou te deixar ir.

Sam olhou pro irmão surpreso. Meu peito arfava de raiva e eu estava começando a ficar com frio. Todos os meus pêlos se arrepiavam a cada toque do vento em meu corpo, mas meu peito estava quente e mole.

– Mais que droga! Só vamos acabar com aquele espírito, certo? – Eu disse, me rendendo afinal.

Parece que Dean Winchester tinha esse poder sobre as pessoas, ou sobre mim. Isso não vem ao caso.

– Como uma família? – Ele sorriu discretamente.

– É... como uma família! – Eu sorri de volta.

Ele se virou para entrar no carro e Sam sorriu encantadoramente pra mim, me convidando a ir junto com eles.

– A propósito... – Dean virou-se novamente pra mim – O lanche de bacon estava delicioso.