O silêncio então se fez. Nós dois nos entreolhamos e senti o gelo percorrer meu corpo. Um calafrio amaldiçoado. Um vento forte bateu contra a janela e fui obrigado a virar meu rosto.

Rhodes estava sério e continuava me encarando, marcando o silêncio. E era o silêncio que determinava quando os outros iriam chegar.

E eles chegaram.

Yves era a figura que ficava no lado esquerdo, usava as mesmas roupas e dessa vez parecia mais pálida e mais séria. Do seu lado estava um homem de cabelos longos e preso num rabo de cavalo. Usava óculos de sol com lentes redondas e sorria como se fosse o dono da verdade. Usava uma jaqueta de couro e calças largas, sem falar do coturno. Ao lado dele estava um cara de aparentemente vinte anos, seu cabelo estava espetado embora fosse um pouco cacheado. Os olhos eram curiosos e sorria lateralmente, com uma confiança muito mais simpática. Usava um casaco longo e preto desbotado, a camisa social era cinza claro estava amassada. De alguma forma, aquele cara me confortava. Mas do lado dele estava um cara que parecia mais novo do que eu, cabelos cacheados e nos ombros, ele sorria do mesmo jeito que Rhodes. Todos carregavam o medalhão vermelho.

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Suspirei e notei pela primeira vez que eu parecia com aqueles caras. Cabelos cacheados, sorriso desconfiado e ao mesmo tempo confiante. E o jeito de me vestir também.

– Hooper, esses são os mais recentes invocadores. – disse Rhodes. – Agora só mais uma pessoa e vocês serão um grupo completo.

O homem de cabelos levantados foi até mim e estendeu a mão. Sorria um sorriso largo e parecia simpático. Mas o garoto de cabelos nos ombros o interrompeu, ficando na sua frente e me cumprimentando primeiro.

– Olá. – ele sorria de uma forma muito forçada. – Sou Gillis Rubi, invocador assim como você. Parabéns!

Parabéns?! Eu perdi minha família, toda ela. Não me sentia sendo parabenizado, sentia-me perdido numa cilada de sangue. Vampiros. Invocadores. E o cara que Yves havia falado. Gillis. Ele parecia idiota e mais louco que Rhodes.

– Eu sou Doc. – disse o homem de cabelos espetados. – Não aceite o parabéns dele, Gillis é totalmente um irresponsável.

– Cale a boca os dois. – disse o homem mais velho. – Sou Jasper Rubi. – ele não esticou a mãos. – Membro da Sociedade Rubi, invocador de vampiros.

– Gostei da jaqueta. – falei.

– Mas essa é minha. – ele respondeu sério.

Ótimo. Meus colegas estranhos eram muito mais que isso. Um cara egocêntrico, outro idiota e o outro ofuscado. Perfeito com todo o sarcasmo possível. Mas tinha Yves, pelo menos isso.

– Já explicou os motivos dele estar aqui? – perguntou Jasper para Rhodes.

– Se vocês estão aqui é porque já fiz isso. – respondeu Rhodes. – E pare de duvidar dos meus atos Jasper, você sabe que deve respeito aos líderes.

– Sim senhor. – ele abaixou a cabeça.

Rhodes o encarava de forma séria, muito mais séria do que a forma que tinha olhado para mim. Ele intimidava mesmo parecendo um louco.

– Acho que deveriam apresentar a casa para ele. – disse Rhodes. – Hooper precisa se acostumar com a casa nova.

Doc se aproximou de mim e levou a mão sobre meu ombro.

– Ninguém nunca acostuma.

O encarei sério. Não bastava ser estranho tudo aquilo a minha volta. Teria que me acostumar a pessoas estranhas, um novo mundo e uma nova casa.

Yves se aproximou de mim e de braços cruzados abriu um sorriso lateral. Era o tipo de sorriso que deixa um cara louco, em pura confusão. O sorriso que nos fazia sentir diferentes, mais homens e até mais sensíveis. Aquele sorriso era a nossa rendição.

– Vamos Hooper. – disse Yves.

Doc olhou para mim como se soubesse o que eu estava pensando. Segui Yves e Doc, que seguiram para fora da casa. Gillis também nos seguiu e Jasper apenas ficou nos observando.

A varanda da casa era larga e a trepadeira que estava subindo pelas pilastras tinha pequenas flores brancas manchadas de vermelho. Parecia sangue.

– Bem vindo a entrada principal, invocador. – disse Doc.

Na minha frente estava um jardim de flores negras, onde pés de pimenta se entrelaçavam. Espinhos e ardência. Era bonito, mas fazia meu nariz coçar.

– Você se acostuma. – disse Gillis.

O caminho até o portão era uma leve subida. Chão de pedras grandes e negras, as ervas daninhas não cresciam em seus vãos. O portão estava enferrujado e havia dois grandes S e R desenhados. Bonito e ao mesmo tempo assustador. Estávamos cercados por árvores altas, cheias de galhos e espinhos.

– Agora eu moro num filme de terror? – perguntei.

– Você ainda não viu nada. – disse Yves. – Olha pra casa Hooper.

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Caminhei até fora da varanda e me voltei para ela. Era um casarão com janelas de vidro e quase todas fechadas. Era negra e possuía um sótão, dava para saber pela janela circular no alto, solitária. Poderia dizer que estava abandonada ou que havia saído de um filme de terror. Agora era meu filme de terror, minha nova vida. Real.

– O que achou? – perguntou Doc.

– Eu não sei o que dizer. – respondi ainda embasbacado.

Cocei meu nariz irritado e voltei até eles.

– Você respondeu a mesma coisa que eu. – disse Yves.

Sorri e ela pareceu ignorar, ainda mais quando uma criatura de meio metro saiu do meio das pimenteiras ou roseiras. Era gordo e baixo, vestido com um macacão sujo de terra. Sua pele era esverdeada e seus dedos gordos, segurava uma tesoura de jardinagem que parecia pesada demais para ele. Seus pés pisavam lentos, arrastados, como se estivesse cansado. O cabelo era ralo, pouquíssimos fios. As sobrancelhas eram ralas e brancas da cor do cabelo, mas seus olhos eram fundos e demonstravam ainda mais o cansaço, olhos grandes e castanhos, com uma pequena mancha verde. O rosto redondo parecia uma lua esverdeada como a de um morto. Sorriu para mim e senti vontade de fechar algum livro que estava lendo, mas era a vida real.

– Acabei de podar a pimenteira próxima à cerca viva. – a voz dele era como de um senhor cheio de vida.

– Ótimo Mc Duu. – disse Yves. – Deve ter ficado ótimo, como todo trabalho seu.

– Obrigado senhorita Yves. – Mc Duu sorriu. – Quem é o jovem de olhos ainda castanhos? – ele perguntou.

– O invocador que buscamos ontem. – Yves respondeu.

– Ele tem um grande destino. – ele respondeu. – Qual seu nome garoto?

– Hooper. – respondi. – Desculpe a indelicadeza, mas o que o senhor é?

Tentei ser educado ao máximo. Embora aquela criatura parecesse ser inofensiva, sabia que tinha que tomar cuidado. Pelo menos acha o correto a fazer.

– Sou um gnomo ying. – ele sorriu e novamente entrou no meio das plantas.

Yves suspirou como se não suportasse algo, ou como se quisesse sair dali. Mas senti que queria mesmo era deixar algo claro. Todas as garotas fazem isso.

– Nunca dê bebida para ele. – disse Yves. – Ele fica fora de controle com qualquer bebida que leve álcool. Acredite em mim.

– Como assim? – perguntei.

– É isso mesmo que Yves disse. – falou Doc. – Um gnomo ying quando absorve álcool sua personalidade fica ao contrário, ele se torna um tremendo chato. Um bêbado estúpido. Canta com a língua ao contrário, sai sem rumo, chora.

Legal. Um bicho de meio metro que ficava fora de controle quando bebe. Poderia ser um humano. Eu poderia dizer isso a eles, mas me mantive calado. Eles provavelmente não entenderiam. Ainda mais porque fomos surpreendidos por uma voz que abriu a porta da casa e gritou para nós com animação.

– Invocadores, temos vampiros para vigiar! – gritou Rhodes. – E dessa vez parece que vai ser muito divertido, já que temos um novato.