A Senhora da Sorte

É muita sorte pro meu gosto


Mantenha seus amigos por perto, e os inimigos mais perto ainda.

Essa frase começava a fazer todo o sentido para Andrômeda. Mesmo assim ela continuava a achar que tinha algo estranho com Lana, além dela ser uma psicopata maluca e violenta. Como ela sempre conseguia tudo que queria?

Absorta em seus pensamentos, ela quase não notou a médica atendente bipando dizendo que o próximo paciente podia entrar.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Feito isso ela se lembrou, Lana também era uma ladra. E das boas.

1 de Fevereiro 2011

Querido diário,

hoje passei por maus bocados.

Eu vacilei! Vacilei! E quase paguei o preço por isso!

Hoje de manhã me arrumei para fazer compras, eu adoro fazer isso, é quase uma terapia, coloquei o vestido que papai me deu no natal, os brincos que roubei da Emília’s o anel que minha mãe me deu e a pulseira de ouro branco que roubei da Ourus. E adivinha só? Era o dia de folga da moça que me atendeu na joalheria Ourus. E ela reconheceu a pulseira! Ela já tinha me agarrado e estava me arrastando para a loja, e disse que a gerente dela ia chamar a polícia, eu estava tão assustada que não falei nada. Mas então percebi que podia negar tudo e dizer que a pulseira foi um presente de amigo secreto.

— Espera! - gritei.

Ela parou imediatamente e me olhou.

— Eu não roubei isso! Você não precisa me levar a lugar nenhum. Eu a ganhei.

— Tudo bem.

Ela disse e foi embora.

VOCÊ TEM NOÇÃO DO QUANTO ISSO FOI BIZARRO?

Em um momento a moça queria entregar minha cabeça para a polícia e desistiu disso só porque eu falei para não fazer.

Isso foi uma sorte imensa, diário. Vou parar de furtar por uns tempos, não quero levar outro susto tão cedo.

Abraços Lana.”

Andrômeda também não entendeu porque a moça deixaria tudo pra lá se parecia tão determinada a delatar a ladra. E também não via nenhum motivo para Lana alterar a história antes de escrevê-la, afinal o diário era seu confidente. Tinha que ter uma explicação para isso. E Andrômeda já tinha uma teoria.

Pelo computador do consultório, acessou o site da escola. Lá estavam todas as fotos de momentos festivos desde 2009. Clicou na pasta “Turma 24B”, a turma de Lana.

E dentro dessa pasta haviam outras enumeradas por ano. Clicou na de 2009 e procurou fotos de Lana. Lá estava ela, a capetinha ruiva com um sorriso travesso, devia ter uns 10 anos, não parecia haver nada estranho nela.

Pasta 2010: Limpa.

Pasta 2011: Lana aparecia em todas as fotos cercada de amigas. Foi nessa época mais ou menos que ela começou a implicar com Andrômeda, o que fazia sentido porque no início desse ano ela teve ciúmes do Dean olhando para ela.

Pasta 2012: Ainda em fotos com amigas.

Pasta 2013, 2014, 2015: Idem.

A partir de 2011 Lana arrumou amiguinhas inseparáveis, sempre as mesmas garotas, eram um grupo de 5.

Era a única coisa a se observar, além de que elas ficaram mais feias e perversas com o passar dos anos. Lana era uma líder mandona e implicante, ela viu como Lana tratou a amiga quando contou a história dos diários.

Nada mais a declarar, era só uma filha da mãe metida e sortuda!

Espera!

Andrômeda olhou novamente com atenção focada apenas em Lana todas as fotos. A partir de 2011 ela começou a usar um anel de ouro com uma pedra verde no centro.

Andrômeda releu o diário: “ o anel que minha mãe me deu” .

Lana ganhou aquele anel da mãe em 2011. E ela começou a ter um surto de sorte em tudo que aprontava.

Andrômeda já não sabia mais o que pensar sobre aquilo. Não podia ser! Mas o que mais podia ser? Aquela joia tinha poderes mágicos?

***

Então será que era assim que Lana sempre se safava de levar a culpa por algo?

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Um anel com poderes mágicos. Soava tão absurdo que Andrômeda riu, e isso foi estranho porque ela estava almoçando.

Ao chegar na escola, deu de cara com o diabo. Lana a encarava com seu olhar arrogante, as unhas longas pintadas de preto, parecia uma leoa encarando sua presa.

— Que é? - perguntou Andrômeda.

— Ah, achou que eu estava olhando você? Me poupe! - disse Lana e foi embora.

Mas é claro que estava. Andrômeda olhou de relance para o anel em seu dedo, havia alguma chance dela conseguir olhá-lo de perto?

Se era mesmo mágico Lana jamais o deixaria dando bobeira por aí. Mas não podia ser mágico, isso era surreal.

— Andrômeda?

Ela se virou.

— Oi? Mal reconheci. - ela deu uma risada sem graça.

— Andy. - Pablo sorriu.

— É com isso que estou acostumada.

— Você não respondeu minhas mensagens.

— Ah, meu Deus. Me desculpe! Eu vi as mensagens, só não respondi porque falei com minha mãe hoje e depois fui trabalhar. Eu posso ir, se você ainda quiser.

— Claro que quero. - ele riu.

— Certo. Como devo me vestir?

— Ah, vai ser bem chique.

— Tudo bem.

— Tem alguma chance de você ir de azul? Pra combinar com a minha gravata. - ele corou ao dizer isso.

— Qual tom de azul? - disse ela com seu olhar desafiante.

***

As aulas foram um saco. A terceira era de educação física e sua aula era junto com a da turma de Lana. Ótimo!

Andrômeda se arrastou até o ginásio. Ir ao ginásio era um bom sinal. Sinal de que a professora não os mandaria dar 10 voltas no campo. Sendo otimista eles iriam jogar vôlei.

Ela seguiu para o vestiário feminino, onde trocou de roupa e guardou suas coisas no armário. Quando chegou ao ginásio encontrou Pablo, as vezes ela esquecia que ele estudava com Lana, e a bruxa ruiva estava há alguns metros para trás fofocando com suas amigas. Andrômeda notou que ela não estava com o anel.

Uma ideia súbita percorreu a mente de Andrômeda, e se ela fosse até o vestiário, abrisse o armário de Lana e pegasse o anel para olhar mais de perto?

Mais logo aparecerem vários empecilhos. Ela não sabia o segredo do armário, e não tinha muita certeza sobre qual deles era o de Lana.

Parecia que todas as meninas estavam lá, era um bom momento para se arriscar.

Andrômeda deu meia volta em direção ao vestiário.

— Aonde vai, mocinha?

Andrômeda gelou ao ouvir a voz da treinadora, respirou e olhou para trás.

— Eu, hã, só esqueci de prender o cabelo.

Era verdade, estava tão distraída que esqueceu de prender o cabelo.

— Tá bom, vai logo.

Andrômeda aproveitou e correu para o vestiário. Abriu seu armário e pegou um prendedor de cabelo, e fez um rabo de cavalo desajeitado no topo da cabeça. Andou duas fileiras de armários. Qual deles era o de Lana?

Não tinha como saber, todos eram exatamente iguais. Até que lhe ocorreu uma ideia bem idiota e óbvia. Lana estava sempre no centro.

Andrômeda encarou o armário do meio da parte superior. Tinha que ser aquele, mas e o segredo? Como ela ia adivinhar qual a senha de Lana?

Pensa! Você consegue!

Andrômeda respirou fundo. Tentou 1234. Não abriu.

Pensou um pouco mais. Se aquele anel era mágico, foi um dia muito importante o dia que ela o ganhou.

Andrômeda lembrou-se das fotos, ela apareceu usando ele em 2011, ela nunca escreveu contando sobre o dia que o ganhou, mas Andrômeda sabia que foi antes do dia que ela foi pega pela moça da joalheria, provavelmente antes dela roubar a pulseira.

Andrômeda sabia que o aniversário de Lana não era em janeiro, era em outubro. Que outra data de janeiro seria importante o suficiente para a mãe de Lana presenteá-la com um anel mágico. E se fosse…

Andrômeda tentou 0101, o primeiro dia do ano.

O armário abriu. E ela começou a procurar rapidamente o anel. Dentro da bolsa, no estojo de maquiagem, no estojo de absorvente, no estojo de canetas, na carteira e não estava em lugar nenhum. Olhou nos bolsos das calças. Nada.

Andrômeda já ia desistir, quando notou que não olhara nos sapatos. Quando balançou o direito ouviu algo deslizar lá dentro, sacudiu, e o anel caiu em sua mão.

E nesse exato momento ela ouviu passos.