A Senhora das Montanhas

Capítulo IX

Por Josiane Veiga

O tempo mudara rapidamente. Da tarde ensolarada em que Live encontrara Nicolas, nuvens grossas formaram-se no horizonte, e já fazia quatro dias que elas não iam embora. Desta forma, choveu durante toda aquela semana e algumas aulas, como a de artes da sexta, foram suspensas. Mesmo assim Live manteve o Centro aberto, pois algumas das crianças vinham apenas para comer o alimento oferecido durante o almoço e lanche da tarde.

Já que havia chovido durante toda a semana, bem que poderia chover durante o final dela também. Nada como passar um sábado e domingo debaixo das cobertas assistindo a um bom filme e ouvindo o barulho dos pingos no telhado. Isso que era vida!

Mas para chegar em casa, Live precisava enfrentar a tempestade em fúria. Saíra naquela sexta feira do Centro e entrara dentro do Jipe com a esperança de fazer o percurso até em casa no menor tempo possível, mas viu que isso seria impossível! A lama fez os pneus do carro patinarem pelas estradas íngremes da Índia e a jovem mulher percebeu que seria arriscado tentar chegar em casa no automóvel.

Parou o carro. O jeito seria ir a pé!

Abriu a porta do jipe e recebeu o vento molhado contra o rosto. Fechou a porta novamente assustada. Não era tanto a chuva que a fazia fraquejar de ir até em casa caminhando, o problema é que a noite já caíra e ela não tinha nenhuma lanterna. E para piorar, não conseguiria abrir os olhos debaixo do aguaceiro, pois a chuva intensificara bastante. Mas não tinha outra forma! Ou era enfrentar a água, ou passar a noite no carro!

O estômago decidiu por ela. Passara o dia apenas com um sanduíche comprado em uma mercearia da aldeia e precisava se alimentar direito com uma comida caseira. Desta forma abriu novamente a porta e sem pensar muito saltou. Os pés afundaram-se na terra molhada e ela lamentou não usar botas. O tênis ensoparia e ela teria sorte se não ficasse com calos enormes nos pés. Deu um passo para frente e se afastou do veículo. Não seria fácil, mas ela era uma guardiã e não podia ter receio de estar sozinha, no meio do mato, ensopada e sem poder enxergar direito.

Ela conseguiu caminhar uns quinze metros, lutando contra o vento forte. Uma outra batalha, não contra a natureza, se travava dentro dela. O medo irracional (do escuro e da solidão daquele local), que ela queria negar, não a abandonava. Lágrimas se formaram nos seus olhos ao pensar que suas mães e os amigos Guardiões ficariam envergonhados ao ver como ela reagia num momento crítico.

Pensava sobre seu azar quando sentiu que um dos pés prensou em algum local. Pouco depois ela caiu para frente. Foi tudo tão rápido, mas teve muita sorte, pois colidiu contra um gramado. Tentando enxergar no escuro, notou que o pé estava preso em um pequeno desnível do terreno em que andava.

Simplesmente um buraco!

Sentiu-se ridícula pelo fato de, a guardiã de aquário, ativa e que enfrentou seres fortíssimos há anos atrás, era barrada por um rombo na terra.

Respirou fundo e sentou-se. Tentou retirar o pé, mas não conseguia. Colocou mais força nos movimentos, mas tudo que obteve foi à perna machucada. Tentou cavar a terra, mas notou que não era terra e sim pedras que faziam as paredes do orifício. Como diabos havia conseguido enfiar o pé ali?

Estava prensada e não iria conseguir sair sem ajuda. Tateou na escuridão a bolsa, pronta para pegar o celular e pedir ajuda. Nada! Então se lembrou que deixou a mesma dentro do automóvel. Burra!

Quase vinte minutos depois, o corpo começou a ficar dormente. Apesar de estarem numa época quente, a chuva era fria e Live começou a sentir frio. Passando as mãos nos braços, ela tentou se aquecer, mas não estava funcionando. O que dera nela, afinal de contas? Normalmente era esperta o bastante para notar que não devia ter deixado o carro, e se tivesse abandonado o veículo, o mínimo que devia fazer era ter trazido a bolsa com celular e outros materiais que a ajudariam a se virar até chegar em casa.

Onde estava com a cabeça?

Sabia onde! Em Nicolas!

Desde que notara que estava apaixonada por aquele arrogante, tudo que fazia era atrapalhado. Desde quando esquecia coisas importantes ou ficava parada, feito boba, olhando para o nada, como fizera durante toda a semana?

Mesmo após terem fechado o portal, Mic e Maire insistiram que Live mantivesse sua postura defensiva. Com medo de que alguns Youkais tivessem ficado no mundo dos homens, as duas mulheres ensinaram a Live a nunca errar, ou seja, Live não podia ficar desatenta a nada. O celular próprio estava sempre em sua bolsa, a moça nunca saia com estranhos, desconfiava de todos que se aproximavam. Era a maneira que Mic e Maire a ensinarem a sobreviver. E elas fizeram um excelente trabalho! Claro que durante a adolescência, Live sempre odiou aquela superproteção, mas por respeito às mulheres, obedecia às regras estabelecidas de nunca ficar sem contato. Tudo funcionara bem. Até agora! E assim, parada no meio do nada, Live notou que as atitudes que tantas vezes a fez brigar com as mães, agora faziam falta.

Ainda pensava nessas coisas quando sentiu uma mão em seu ombro. Assustada ela gritou.

-Live, sou eu.

-Nick?

Como um homem abandonado no deserto durante dias, e que acabava de encontrar água, ela o abençoou. Tateando no escuro, a mulher ergueu as mãos até ele e tocou seu peito. Ele era firme e aparentava ser sólido. Era a solidez que ela ansiava. Sentia-se a menina perdida, mas foi só notar Nicolas ao seu lado que ela se tornava mulher novamente. E uma mulher sedenta por apalpa-lo. Sedenta por querer alguém do lado para que o medo da solidão fosse embora. Desde quando era tão intensa? Devia estar com febre...

-Como me achou?

Não era a única pergunta que ela gostaria de fazer. Como ele sabia que ela havia encalhado na lama? Como ele sabia onde ela estava?

Mas ele não respondeu a esta dúvida. Abaixando-se tateou pela perna dela.

-Esta presa?

-Sim.

-Como enfiou o pé dentro deste buraco?

-Eu me perguntava a mesma coisa.

Tirando uma lanterna do bolso do casaco, ele a ligou. A luz renovou Live, mas ao mesmo tempo a surpreendeu.

-Se você tem uma lanterna, porque estava caminhando no mato no escuro?

Notou o sorriso irresistível dele e bendize o fato de estar sentada, pois suas pernas certamente fraquejariam ao ver ele lhe sorrir desta forma.

-Você faz perguntas demais -ele murmurou.

E foi tudo. Com a ajuda da lanterna, o espanhol conseguiu achar o local por onde o pé havia entrado e seguramente agora sairia. E tão rapidamente quanto chegou, Nicolas a ergueu e a tirou do temporal. Cruzou com ela pelos trilhos da montanha como se ela pesasse apenas uma pena, e a levou até a casa em que ele residia.

Assim que chegaram, ele a pôs num sofá grande e lhe trouxe uma toalha.

-Seque-se. – ordenou.

-Estou com muito frio. Preciso de um banho! – ela levantou-se do sofá com a intenção de lhe pedir uma lanterna e ir para a própria casa, mas notou que ele havia trancado a porta.

-Você sabe onde é o banheiro. Tem água quente lá, pode se banhar que vou arrumar alguma roupa minha para você vestir.

-Preciso ir para casa!

Ele a olhou como se fosse a primeira vez que a via.

-Você quer sair nesta chuva? Qual sua intenção? Ficar doente?

A pergunta dele, apesar de não medir palavras, fez-la acordar. Realmente, não podia sair naquela chuva. Apesar de sua própria casa não ficar tão longe da dele, não era seguro. A terra estava muito fofa e outros buracos, como aquele em que ela prensou o pé, podiam ter se formado.

Olhando para o espanhol, ela agradeceu a ajuda e deu-lhe as costas. Foi até o banheiro e deixou que a ducha quente fizesse o trabalho de aquecê-la completamente. Revigorada pelo calor, ela secou-se com a tolha que ele havia lhe dado na sala.

Uma batida na porta chamou sua atenção e ela abriu apenas uma fresta e espiou para fora.

-Roupas... –ele balbuciou do outro lado.

Ela estendeu o braço nu e pegou o que ele lhe oferecia. Sem mais palavras, fechou a porta.

Assustada percebeu que nem havia agradecido, mas justificou-se com seus próprios sentimentos ao passo de que apenas uma porta a separava de Nicolas. Nua e com ele tão próximo, ela perdia totalmente a noção do que era certo ou errado.

Notou que ele lhe dera uma camisa e uma cueca samba-canção que mais lhe pareceria uma bermuda. Suspirou ao vestir aquela roupa. Pelo menos ele não viera com gracinhas, disse a si mesma. Vestida e aquecida, ela estava pronta para enfrenta-lo.

Ao encontrá-lo na cozinha, percebeu que ele trocara de roupa e os cabelos molhados da chuva estavam secos.

-Obrigada por ter me salvado lá fora. – ela disse tão baixo que teve dificuldades de ouvir.

-De nada.

E só!

Era obvio que ele não queria conversar, mas ela estava nervosa. E lá vinha um dos grandes defeitos dos aquarianos: quando estão nervosos começam a falar sem parar.

-Você esta cozinhando?

-Sim.

-Parece bom. O que é?

-Um caldo de vegetais.

Caldo de vegetais? Sabia por treinamento que era esse tipo de alimento que as pessoas que fossem submetidas a frio intenso deveriam comer.

-Parece delicioso – tentou puxar assunto.

Demorou uns dez segundos antes de ele encará-la e falar um simples:

-Obrigado.

Sem saída, a jovem percebeu que era um incômodo para ele. Agora que estava quente e em segurança podia pensar com mais clareza. Era provável que Nicolas estava vindo de algum lugar, viu seu carro parado no meio da estrada e saiu a procurá-la. Podia estar também INDO a algum lugar, e ela atrapalhara seus planos.

-Desculpe-me.

A voz, admitiu envergonhada, estava embargada de lágrimas. Sem acreditar, ela percebeu que essas mesmas lágrimas estavam começando a sair de seus olhos.

-Você esta chorando? – ele parecia tão surpreso quanto ela.

Tentando limpar o pranto, ela fazia força para se segurar, mas não conseguia.

-Não queria atrapalhar seus planos para sexta à noite – respondeu aflita.

Queria abrir um buraco no chão e sumir lá dentro. Preferia mil vezes que estivesse no mato, na chuva, do que vê-lo a encarar lagrimante.

-Quem disse para você que eu tinha planos para essa noite? Eu iria passar a noite vendo TV, portanto não esta atrapalhando nada.

Um peso enorme saiu do coração dela. O encarou e percebeu que Nicolas parecia assustado. O que havia de errado com ele? Não era acostumado a lágrimas de mulheres?

Respirando fundo ela enfim conseguiu controlar-se. Então começou a rir dos olhos arregalados do espanhol.

-Você está histérica, por acaso? – ouviu ele perguntando, zangado – antes estava chorando e agora esta gargalhando!

-É que... –e foi interrompida pelo riso.

-É o quê?

-Você!

-Eu o quê?

-Você parecia assustado em me ver chorar!

Foi a vez dele sorrir. Realmente, choro feminino nunca fora agradável a homem nenhum, e Nick não era exceção.

-Você é uma boba! – ele exclamou, mais tranqüilo – A canja está pronta. Venha comer!

Jantaram num silêncio surpreendentemente confortável. Live percebeu que Nicolas era um excelente cozinheiro e ficou imaginando durante toda a refeição, no que mais ele seria bom.

-Não vi mais você com Samantha. O que aconteceu?

A pergunta, que, por incrível que pareça, não estava em sua mente, escapou.

-Achei que nossa amizade estava tomando um rumo estranho e resolvemos dar um tempo. -ele respondeu calmamente, sem parecer se incomodar com a invasão a sua privacidade.

Live pensou na ruiva fogosa e imaginou o quanto ela desejaria um afastamento.

-Você que resolveu dar um tempo! –ela acusou.

Ele pareceu sorrir discretamente.

-Foi por sua causa! – devolveu a ela na mesma moeda.

Live ficou lívida ao vê-lo dizer aquilo. Pousou o talher no prato e o encarou.

-Minha?

-Não gostei da forma com que ela falou contigo no Centro. É verdade que eu também havia sido um idiota, no que peço desculpas, mas as palavras dela, carregadas de veneno, me fizeram perceber que ela não é o tipo de pessoa com quem quero amizade.

O coração da indiana estava quase saltando do peito.

-Obrigada...

-Pelo quê?

-Ora! Por ter me defendido.

Durante alguns segundos os olhos dos dois se encontraram. O mesmo verde que existia nos olhos dele era encontrado nos olhos de Live. Sempre imaginou que se algum dia se apaixonasse, seria por um loiro, educado e gentil. O oposto dela. Mas reconhecia, que Nicolas e era eram muito parecidos. Os cabelos escuros, os olhos esverdeados (apesar dos dela serem um misto de verde com castanho), a personalidade forte e a solidão.

-Você tem família, não? Nunca me contou direito sobre seus pais! Tem irmãos?

-Sou filho único.

-Sei que os Velaz são muito famosos pela arte em Madri...

-Meu pai é um bom pintor.

-E sua mãe?

Ele pareceu assustado.

-O que tem ela?

-Nada... Só queria saber como ela é? O que ela faz?

-É dona de casa! Vamos mudar de assunto?

-Ok. Do que quer falar?

-Por que não tem namorado?

A pergunta a pegou desprevenida, mas respondeu com franqueza.

-Não sou o tipo de pessoa apaixonante. Meus poucos namorados não foram fiéis. Acho que me falta fogo.

Live então notou que ele se segurava para não rir.

-O que foi?

-Você não deve se culpar se apenas conheceu moleques que não conseguem manter o órgão genital dentro das calças. O problema não é você, são eles. Falta caráter aos humanos, tanto em homens quanto em mulheres.

-Você já foi traído?

-Não que eu saiba.

-Então porque colocou as mulheres na sua lista?

-Não sei. Vejo a humanidade como uma só, não importando seu sexo.

-Engraçado você dizer isso, porque estou me lembrando agora da forma como você fala das minhas mães.

Ele se levantou e colocou o prato na pia.

-Aquilo é diferente!

-Aquilo é amor! –ela o corrigiu, irritada.

Nicolas ligou a torneira e começou a lavar os pratos. Live sentiu-se ignorada novamente, mas dessa vez não iria permitir ser deixada de lado. Levantou-se também e se aproximou da pia com o prato na mão.

-Deixe que eu lavo.

Ele a encarou.

-Sou perfeccionista. Prefiro eu mesmo fazer as tarefas domésticas.

-É só um prato. Eu sei lavar pratos!

-Acredito em você, mas eu lavo!

Suspirando, ela resolveu ser adulta, já que ele, provavelmente, não era! Brigar por causa de pratos era a última coisa que Live faria! Pensou em puxar o assunto de Micaela e Maire novamente para a conversa, mas desistiu. Não adiantava tentar convencer Nicolas que as suas mães eram pessoas que mereciam respeito pelo seu caráter e que a opção sexual das duas era algo que só interessava a elas mesmas.

Caminhando para a sala, ela o deixou sozinho na cozinha, fazendo suas tão preciosas tarefas domésticas. Olhou em volta. Tudo no seu devido lugar! Aquela casa mais parecia uma moradia de exposições, daquelas que decoradores ajeitam quando querem vender um lote de casas ou apartamentos por encomenda.

Organizada demais! Fria demais!

-Se estiver com sono, pode dormir na minha cama.

Tomou um susto ao ouvi-lo atrás de si. Virou-se rapidamente em direção a cozinha e o viu na porta, encostado na madeira, secando as mãos com um pano.

-Já terminou sua incumbência? – disse com sarcasmo na voz.

-Me desculpe, está bem? – ficou espantada ao ouvi-lo falar daquela forma. Realmente, este era um dia de surpresas – sou realmente muito egocêntrico e você ultimamente esta cada vez mais enraizada dentro do meu mundo. Não sei como conseguiu saltar o murro que me envolve, mas estou realmente assustado por estar do lado de cá.

Aquilo era uma declaração de amor? A moça hindi não estava bem certa, mas não podia evitar o sobressalto.

-O que quer dizer? – ela tomou coragem para fazer a pergunta que tanto queria.

-Acho que me apaixonei por você...

O sangue de repente virou fogo, e queimava cada veia de seu corpo. A sala parecia em chamas, a chuva lá fora se assemelhava à música e tudo em volta de Live parecia se centrar naquele homem a sua frente.

Ele havia se apaixonado por ela! Por ela!

Mas seria real? Podia muito bem ser uma brincadeira, pois o que ela tinha em si para chamar a atenção de um homem como aquele? Não era uma mulher sofisticada, e, com franqueza, nem maquiagem sabia usar com naturalidade. Sua vida era a Índia. Sua existência se concentrava no Centro de estudos e na solidão das montanhas. Conformara-se com aquilo há muito tempo e jamais imaginou que um homem ,que devia ser acostumado ao burburinho das cidades grandes e a pessoas carregadas de vaidades e ambições, pudesse se deixar envolver por uma mulher simples, que nada de refinado tinha a oferecer.

Mas o coração foi mais forte que a mente. Por mais que o cérebro gritasse para não ir até ele, as emoções guiarão os pés em direção a figura na porta, e sem notar, seus braços envolveram o pescoço dele e os dois se beijaram, como se nada mais importasse no mundo.

Em pouco tempo, os beijos perderam a graça e o calor, que já os consumia, se tornou labaredas que derretiam a tudo em que se chocavam. O contato pele contra pele não era mais suficiente. Então os dois corpos se deixaram guiar pelo instinto e alguns segundos depois estavam no quarto, amando-se com a mesma profundidade da chuva que caia lá fora.

ººººººººº

O alvorecer despontou nas montanhas indianas com uma intensidade surpreendente. Contra todas as expectativas, o sol veio com força e não havia nada naquela terra que aparentava que havia chovido na noite anterior.

Os raios das luzes do sol acordaram Live. Ela espreguiçou-se languidamente e então abriu os olhos. Notou que apesar da cortina do quarto estar fechada, ela não era tão impenetrável quanto aparentava, e o aposento estava bastante iluminado. Mas não se importou. Estava feliz como nunca estivera antes na vida. Olhou para a marca deixada no travesseiro do lado e sorriu. Havia dormido com Nicolas e se sentia a mulher mais poderosa e realizada sob a face da terra.

Então isso era amor?

Todo o medo que sentia de amar, dissipou-se sobre os lábios ardentes do seu espanhol e a confiança que não imaginava ser possível voltou a existir assim que recebeu dele todas as promessas e juras de amor possíveis.

Pegou a fronha branca e a cheirou. O perfume cítrico de Nick ainda estava lá, mas onde ele estava?

Levantou-se e foi ao banheiro. Tomou um banho demorado, vestiu-se e foi a cozinha. Nicolas havia sumido e não havia sinal dele em parte nenhuma. Bom, mas não importava! Nick devia ter ido a cidade comprar algo para o almoço deles.

Pensava em ir até seu lugar preferido a margem do lado para respirar ar puro quando ouviu um barulho. Um toque clássico de um celular. O tão organizado Nicolas havia esquecido o aparelho em casa? Sorriu e foi ate o mesmo.

-Alô?

-Hola! Nicolas por favor? – a voz feminina do outro lado era doce e tentava desesperadamente falar em hindu.

Live sorriu.

-Sei espanhol – a indiana falou em castelhano e ouviu então um suspiro de felicidade do outro lado da linha - Nick não se encontra no momento. Quer deixar recado?

-Sí! Avise-o de que Maria ligou. Estou na Vila Adriana em Tivoli, Itália. Lugar perfeito para a lua de mel!

Naquele momento Live já anotava com uma caneta o recado.

-E você quer que eu escreva no recado à ele sobre a Vila?

Estava achando engraçada a forma de falar da espanhola. Parecia muito simpática e bastante tagarela.

-Sí. Coloque no recado também que ele deve me ligar urgente porque o prazo está acabando.

-Que prazo?

-Ora, do noivado!

O coração de Live então pareceu parar de bater.

-Como assim?-ela balbuciou.

-Nicolas queria trabalhar nos quadros de uma nova galeria de arte antes de nos casarmos. Ele foi à Índia, com o prazo de dois anos, para pintar. Assim que terminassem os dois anos ele voltaria para Madri para nos casarmos.

Ela ainda ouviu a falante espanhola chamada Maria falar de mais alguns detalhes de Nick. Não conseguia reagir e se permitiu ficar apenas assim, com o ouvido colado no telefone, anotando tudo que a mulher dizia. Quando por fim, a espanhola disse tudo que queria, agradecendo e despedindo-se, Live enfim conseguiu desligar o celular e pensar um pouco.

Olhando o vazio por alguns, ela se deixou estar. Então subitamente largou o celular no sofá junto com o recado e saiu correndo daquela casa.

Continua...