– Qual parte de ‘não quero ele andando por ai’ você não entendeu? – escutei a voz distante e estridente de Heechul soar em meus ouvidos.

Meu corpo repousava em algo macio e minha respiração era lenta e uniforme. O ar ao meu redor estava um pouco frio, mas eu sentia até a altura do peitoral um pano me esquentar. Escutei bem ao longe a voz de tio KangIn, como era de se esperar ele e Heechul hyung discutiam, mas minhas têmporas latejavam, impedindo que eu conseguisse me focar na conversa daqueles dois. Com um pouco de esforço tentei abrir minhas pálpebras, mas elas estavam pesadas em demasia. Então recorri à outra parte do meu corpo. Tentei separar os lábios, mas eles estavam secos, me obrigando a molha-os suavemente com a língua. Só então consegui sorver o ar do ambiente e soltei junto de um nome.

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– Leeteuk... – chamei cansado demais para me mover, mesmo sem ter certeza se o líder estava presente. Eu pelo menos queria que ele estivesse. Os barulhos de vozes ao meu redor cessaram por breves segundos e senti que o colchão se moveu do meu lado esquerdo.

– Pedro... – escutei o líder falar com sua voz doce e baixa bem próxima dos meus ouvidos. Sem mais nem menos senti o peso das minhas pálpebras desaparecerem e pude abrir os olhos focalizando a imagem do líder que encobria a luz artificial com seu corpo. Pisquei algumas vezes antes de conseguir notar que ele estava sentado do meu lado esquerdo com sua mão esquerda apoiada na lateral direita da minha cama, fazendo assim que seu corpo ficasse levemente debruçado sobre o meu – Como você se sente? – perguntou ele mantendo seu mesmo tom calmo e controlado.

– Cansado – respondi abrindo um sorriso de canto nos lábios do mais velho.

– Não se preocupe com isso Pedro, você ficara bem – disse o líder acariciando paternalmente meus cabelos. Fiz um beicinho manhoso em meio a uma careta contrariada – O que foi Pedro?

– Onde estou? – perguntei curioso e girei meus olhos na expectativa de reconhecer aquele lugar que de tão branco, parecia um... – Omo! Por que estou no seu hospital? Eu por caso vou morrer? – perguntei a notar a reunião dos quatro mais velhos no local.

– Como se sua morte fosse ser tão simples... – resmungou Heechul hyung com os braços cruzados e encarando tio KangIn com um olhar maligno, mas espera, como assim minha morte não ia ser simples? O hyung pareceu perceber o mesmo devido os olhares assustados em sua direção – Omo! Por que estão me olhando dessa forma? O Youngwoon causou tudo isso e caso não se lembrem, o Donghae é um diferente que se regenera, não será um simples desmaio que vai matá-lo.

– Depende muito do que ele regenera... – falou Simão pensativo.

– Omo! Parem de falar da minha morte – resmunguei fazendo bico e sentando-me na cama – Eu quero voltar para casa.

– Primeiro vamos pedir sua temperatura – disse o líder tirando um termômetro do bolso do seu jaleco branco e pediu que eu abrisse a boca.

Minha temperatura estava por volta de trinta e três graus, o que não era nada normal para uma pessoa, mas eu me sentia bem, exceto por uma leve dor na cabeça. Como Heechul tinha uma empresa para comandar, ele se despediu de mim com um abraço caloroso e me deixou, enquanto Leeteuk foi ver outros pacientes, mas prometeu que voltaria logo para ver como eu estava. Restando apenas Simão e tio KangIn, encarei ao segundo com um torto sorriso e criei coragem para lhe fazer uma simples pergunta.

– Tio KangIn, onde você e o Simon estavam me levando?

O mais velho que parecia perdido em seus próprios devaneios, pousou seus olhos escuros em minha face.

– E quem disse que o passeio foi cancelado? – perguntou o mais velho franzindo o cenho e arqueando um das sobrancelhas – Depois que você tiver alta, vamos seguir para um restaurante não muito longe daqui, você tem que respirar novos ares Pedro, nada de ficar trancado em um apartamento, ainda mais se esse apartamento for o da Cinderela.

– Omo! Por que tenho um pressentimento ruim quanto a isso? – perguntei projetando meu lábio inferior suavemente para fora em forma de um mimoso bico.

P.O.V – Pedro off


P.O.V – Kyuhyun on

– Ee-eu-eu vim ver se as aulas retornaram – disse abrindo um sorriso amarelo para o guarda, mas os olhos do mais velho pousaram na fechadura da porta e ao notar que ela havia sido arrombada, um sorriso cínico se formou em seus lábios, ao mesmo tempo em que sua mão direita avançava para baixo.

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– Você não vai levar nada garoto! - afirmou o homem robusto friamente.

Ao perceber que sua mão ia em direção a um cassetete que em minha curta vida eu nem sabia que guardas podiam usar aquele tipo de arma, meu coração acelerou e meu corpo começou a suar frio. Se eu não fosse tão magrelo ou pelo menos tivesse um poder ativo, eu não precisaria me preocupar com nada, mas nada estava ao meu favor, nada exceto... Meu cérebro criou uma solução de forma tão rápida, que ao mesmo tempo em que o guarda pegou sua arma comprida e em emborrachada, puxei a alça esquerda da minha mochila, a trazendo para mim.

– Vou te ensinar a não invadir escolas! - disse o mais velho avançando contra mim, não me restando outra opção a não ser saltar para a direita onde ficava a mesa da secretária.

Abri o zíper da mochila em questão de segundos e puxei o Hyunie para fora, mas o guarda insistente do modo que era, acertou o cassetete no ar ao meu lado. Pulei por cima da mesa com uma agilidade que eu nem sabia que tinha e pousei o notebook em cima da mesma, já o abrindo.

– Daqui você não sai – disse o guarda batendo a porta.

Fiz uma careta olhando para os lados, mas aproveitei da sua distração para apertar o botão de ligar do Hyunie. E novamente aquele guarda maluco investia contra minha pobre pessoa. Esquivei para a direita, mas pela minha falta de velocidade acabei sendo atingido no ombro esquerdo. Gritei pela dor e cambaleei para o lado desorientado, era como se o lado direito do meu corpo pesasse mais que o outro, me deixando sem equilíbrio, e assim acabei chocando meu ombro direito contra uma estante de livros. O homem sorriu, não de forma doentia como era de se esperar, mas um sorriso fraco e com desprezo, ele devia estar certo de que eu era um arruaceiro.

– Omo! Eu não estava roubando nada! - tentei argumentar com o homem ou pelo menos ganhar tempo, mas sua resposta foi imediata.

– Você que se entenda com a polícia, moleque – rosnou ele guardando o cassetete em seu cinto especial e agarrando meu braço esquerdo com força.

Tentei me soltar daquele aperto, mas ele era muito mais forte do que eu, e notando que nesse meio tempo meu notebook havia sido completamente ligado, aproveitei de seus passos bruscos em direção porta, para empurrá-lo em direção ao notebook. O guarda se desequilibrou e aproveitei desses curtos segundos para ligar o wi-fi, mas o homem era em demasia insistente e agarrou minha perna direita, me puxando para o chão. Sem qualquer tipo de resistência pelo golpe inesperado, cai no chão como um objeto inanimado e fui obrigado a apoiar a mão esquerda no piso frio para que não me machucasse mais.

– Ai! - resmunguei ao sentir a dor pelo esforço que eu havia feito logo no pulso que eu havia machucado na casa do jovem gordinho há pouco tempo atrás.

– Você vai comigo de qualquer jeito! – afirmou o homem se erguendo irritado e agarrando meu braço esquerdo em mesmo estado de irritação, só que dessa vez usando um pouco mais de força, tanta força que gemi baixo pela dor.

– Por favor, por favor – implorei tentando ficar parado no mesmo lugar, mas com meu ombro esquerdo dolorido e com o guarda me puxando fortemente para a porta, tentar resistir fazia apenas meu ombro doer mais ainda.

– Você vai comigo! - retrucou o mais velho decidido.

Senti por segundos minha face arder pela irritação. Minha respiração descompassada era tão alta, que chegava a doer os ouvidos. Bufando como nunca, agarrei ao cassetete do homem e o puxei para trás indo em direção à mesa da secretária. Pelo susto o guarda vacilou e aproveitei disso para cambalear por cima do móvel de madeira. Ele ainda esbravejou um 'volte aqui' e projetou seu corpo para frente, com a intenção de pular por cima da mesa e me alcançar, mas neste exato momento coloquei o Hyunie na frente e ele foi sugado por uma espécie de tormenta para dentro do notebook.

Respirei ofegante fechando os olhos e pousei o notebook sobre a mesa. Aquele tipo de teletransporte eu nunca havia tentando e nem sabia se daria certo. Depois eu teria que procurá-lo na central de internet, mas se desse certo isso viraria notícia, pelo menos em algum site repleto de coisas bizarras e eu não teria que me importar em procurar pela guarda. Saindo um pouco dos meus pensamentos por não saber se o homem havia ligado para polícia ou algo do tipo, desliguei o Hyunie e sai correndo para a estação de metrô.

O apartamento dos irmãos Kim ficava próximo a terceira estação, então após descer do metrô, tive que fazer o resto do percurso a pé. O prédio dos irmãos ficava cerca por vários outros prédios do mesmo tipo, com cores diferentes. A fachada do seu era verde musgo, mas estava opaco pela ação do tempo. Como minha moradia também não era lá essas coisas me apressei a subir até o apartamento indicado no endereço. As escadarias eram tomadas pelo silêncio, silêncio que vinha principalmente do apartamento dos Kim. Embora relutante, cerrei o punho e bati suavemente três vezes com os nós dos dedos, mas não houve resposta.

– JongWoon! JongJin! - gritei da porta batendo mais forte sem me importar com a vizinhança que poderia estar dormindo, mas novamente não obtive resposta – Quase sou preso por nada – resmunguei dando um chute na porta, mas fui repreendido por uma mulher, que pelo meu escândalo, havia saído na porta de seu apartamento.

– O que está fazendo garoto? Não sabe que horas são? - questionou a coreana que usava uma enorme camisola azul bebê e bobs no cabelo.

– Aish! Não é a sua conta ahjumma! - retruquei friamente dando as costas.

– Pelo jeito você não quer saber onde o Jongwoon e o Jongjin estão – provocou a mulher me fazendo paralisar e virar para trás, mas ela já entrava em seu apartamento.

– Ahjumma! Espere! - pedi apreensivo fazendo-a parar – Você sabe onde os irmãos Kim estão?

– Sei sim, aqueles dois rapazes estranhos foram viajar para aproveitar as férias, mas deixaram o número do celular comigo para algum caso de emergência... - disse ela de um jeito sugestivo muito estranho enquanto se aproximava sorrateiramente – Você os conhece bem?

– Ahn... Eu estudo com o Jongjin... - disse um pouco nervoso, tentando de todas as formas não gaguejar – A senhora poderia me passar o número dele? É que não tenho muito contato com ele, mas ele acabou pegando algo importante que me pertencia antes das férias e quero recuperar antes que isso me cause muitos problemas...

– Você não parece ter a idade do JongJin... – comentou a ahjumma me analisando por inteiro, mas então um sorriso se abriu em seus lábios finos - Entre – convidou a mulher – Pegarei o número em um instante.

– Eu ficarei bem – disse assentindo leve.

A mulher apenas me sorriu de forma maliciosa e desapareceu dentro de seu apartamento. Esperei alguns segundos até que ela voltasse com o número e embora ela insistisse mais uma vez para que eu entrasse e tomasse café da manhã consigo, apenas agradeci e deixei o prédio. Ainda na calçada do imóvel peguei meu celular e disquei o número que a mulher havia me passado. A ligação chamou uma, duas, três, quatro vezes antes de ser atendida por uma voz masculina.

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– Alô...

– Jongwoon? É você? - perguntei eufórico.

– Sou eu sim, quem fala? - respondeu o rapaz com uma calma imperturbável.

– Kyuhyun, o rapaz que você... – relutei por alguns instantes - Teoricamente salvou na lanchonete Handel & Gretel... Eu poderia me encontrar com você?

– Cafeteria – disse ele completamente controlado. Soltei um 'o que?' confuso – Cafeteria, é uma cafeteria, não uma lanchonete – corrigiu o mais velho com sua calma impecável – E tudo bem, me encontre em um supermercado que tem próximo ao meu apartamento, você está ai não está? - perguntou ele me deixando sem resposta – Vou aceitar isso como um sim, então pegue a rua à esquerda e vire na terceira a direita, não tem erro, estou em um supermercado gigantesco e caso não se lembre de mim, estou vestindo uma camiseta vermelha.

– Você não deveria estar viajando? – perguntei conferindo qual era o lado esquerdo e comecei a andar na direção indicada.

– Se eu estivesse viajando você não me encontraria e você quer me encontrar não é verdade? – perguntou ele de modo tão astuto que fez meu estômago revirar - Não precisa responder, eu sei que sim, a Yuri me contou, e a propósito, espero que não tenha entrado no apartamento da senhora Lee, ela é uma mulher muito perigosa, ainda mais quando está sozinha.

– Ela é medonha – comentei baixo com os olhos na calçada, ao lembrar-me de sua vizinha.

Escutei a risada do outro lado.

– Mas então, por que quer me encontrar? Quer me agradecer pelo meu ato piedoso? Porque se for pode dar meia volta, não fiz aquilo por boa vontade e sim porque é um incomum, unicamente – disse ele sério, eu diria até entediado, provavelmente lendo os rótulos dos alimentos.

– Não tinha essa intenção – respondi com arrogância – Queria fazer uma pergunta, mas não farei pelo celular.

– Você quem sabe – respondeu o mais velho dando de ombros – Só não demore, não vou esperá-lo – completou ele desligando a chamada.

Ainda falei alguns alôs ao escutar a ligação ser cortada, mas sem obter resposta, olhei o visor do celular, que confirmava o fim da chamada e o guardei dentro da minha mochila contrariado.

– Omo! Quem ele pensa que é? – pensei alto acelerando meus passos em direção ao supermercado.

Não demorou muito para que eu chegasse ao tal supermercado. Atravessei o estacionamento atento, procurando pelo Jongwoon ou até mesmo seu irmão mais novo, mas nenhum dos dois estava por ali. Entrei no estabelecimento respirando pesadamente e olhei em volta.

– Me procurando? – escutei uma voz divertida e masculina dizer ao meu lado direito.

Dei um pulo pelo susto, mas ao ver Jongwoon, que carregava quatro sacolas do supermercado, rindo, endureci minha expressão.

– Omo! Não ria! – resmunguei.

– Você precisava ver sua expressão de pavor... – disse ele ainda sorrindo de modo divertido - Mas diga-me, o que tens de tão importante para me perguntar que não pode ser por celular?

– Será que podemos ir a um lugar mais reservado? – perguntei indicando sutilmente o interior do mercado onde pessoas e mais pessoas estavam ocupadas com suas compras, mas eu não queria correr o risco de ser ouvido.

– Se é sobre o cara estranho que estava lhe procurando tudo que tenho a dizer é: A resposta está com seu pai, mas não seja louco o suficiente para perguntar a ele – disse o jovem de cabelo tão negro quanto um céu noturno sem estrelas e me deu as costas dando início a uma caminhada pelo estacionamento.

– E por que diz isso? O que meu pai tem a ver com tudo isso? – perguntei acompanhando ao jovem apressado.

– Seu pai tem dívidas, dívidas altas e com pessoas perigosas, mas não sei nada além disso, sou apenas uma sombra que de vez em quando dá sorte de estar no lugar e na hora certa, mas se quiser saber mais, pergunte ao seu pai, mas volto a dizer, não recomendo que o faça, então é bom que tenha pegado o carregador do seu netbook, porque ficará um bom tempo longe de casa.

– Notebook – disse sereno parando no meio do estacionamento. Ele parou e olhou para trás em meio a um 'o que?' confuso – Notebook, é um notebook, não um netbook – corrigi ao mais velho arqueando uma das sobrancelhas.

– Bom pra você – retrucou ele sério e deu as costas voltando a andar.

Fiz uma careta desacreditada, muito inteligente da parte dele, pensei alto balançando a cabeça negativamente e dei as costas. Se eu não podia falar com meu pai eu iria atrás dos meus tios, mas aquela história ainda estava muito mal contada. Eu caminhava completamente perdido naquele bairro quando um motoqueiro barbeiro em uma enorme moto preta com adesivos vermelhos ardentes como o fogo, passou rente a mim e parou. Pensei em xingar o infeliz pelo seu ato descuidado quando o homem de camiseta vermelha, ergueu seu capacete preto e me encarou sorrindo.

– Estou tentando te salvar uma segunda vez, então seja um bom menino, pegue o capacete e suba na moto – disse ele calmamente me oferecendo um capacete preto com adesivos na cor cinza.

– Eu não sou um bom menino – retruquei sério.

– Mas parece... – falou o jovem com um sorriso de escárnio – Agora vamos Kyuhyun, não tenho tempo para ser legal e você está sem abrigo mesmo, o que custa subir na moto de um desconhecido? Mas não um desconhecido qualquer e sim um que salvou sua vida. Eu pensaria duas vezes antes de ficar andando sozinho sob um céu escuro como este – disse ele passando seus olhos sutilmente pelo céu.

– O que está insinuando? – perguntei acompanhando seus olhos para o céu, que realmente estava ficando escuro de uma hora para outra. Pousei meus olhos de volta a sua face.

– Não estou insinuando nada, estou afirmando, e se não quiser vir comigo, não venha, mas pelo menos me deixe lhe dar uma carona, não quero que você fique andando sozinho – falou o mais velho entortando os lábios em meio a uma careta.

– Agora está preocupado? – perguntei com ironia.

– Não te salvei para ser pego por um tornado – respondeu ele com arrogância.

– Eu não preciso ser salvo por alguém como você – retruquei com desprezo.

– Ok, só lhe desejo sorte – concluiu ele passando seus profundos olhos negros no horizonte atrás de mim e abaixou o capacete.

Fiz uma careta de desprezo e cruzei os braços enquanto meus olhos sutilmente buscando o que ele havia visto. Meus olhos escuros pousaram em algo que me deixou boquiaberto. A moto roncou alta e no mesmo instante me virei para o jovem com o indicador esquerdo erguido.

– Eu vou aceitar a carona.

Escutei sua risada abafada sob o cacete e ele fez um movimento com a cabeça pedindo que eu subisse, enquanto me passava o outro capacete. Pela minha altura e pernas esguias, com apenas um movimento da perna direita eu estava em cima da moto. Coloquei o capacete rapidamente e timidamente pousei minhas mãos na cintura do mais velho.

– Segure-se firme – pediu ele um tom mais alto que o normal.

Bufando baixo, literalmente abracei ao Jongwoon e escutei mais uma vez o motor roncar alto antes da moto sair em disparada para as ruas, deixando para trás a imagem de um tornado descer vagarosamente do céu em direção a um dos arranha-céus não muito distantes.

– Para onde vamos? – escutei ele perguntar se afastando do prédio onde provavelmente o homem sinistro da cafeteria estava se materializando.

– Para onde você quiser – berrei de volta pensando unicamente no quão louco eu estava sendo, mas principalmente no quão louco aquele jovem era e pelo jeito estava disposto a me ajudar.


***


Estranhei quando ele tomou a autoestrada e saiu da cidade, mas nada disse, apenas me agarrei mais ao seu tronco pela velocidade que apenas aumentava. E então sem mais nem menos ele entrou na floresta. Eu estou morto foi apenas o meu primeiro pensamento, depois lembrei-me de sua vizinha estranha e comecei a imaginar que seria abusado por uma ahjumma, mas ao longe vi o que seria um enorme acampamento e franzi o cenho confuso.

Pensei em soltar um ‘que raios é isso?’, mas como a moto vibrava bastante naquela estrada improvisada no meio da floresta, esperei que ele estacionasse em um lugar que parecia o estacionamento do acampamento por conter jipes e motos diversas, para descer de sua moto, tirar o capacete e perguntar aos berros.

– Que diabos de acampamento é esse que você me trouxe?

– Você confiou em mim e eu lhe trouxe a um lugar seguro, não fique bravo Kyuhyun, e muito menos eleve seu tom de voz comigo, sou seu hyung, mereço respeito.

– Sou seu hyung... – o imitei repleto de sarcasmo, mas não pude continuar, pois fui interrompido por uma voz entusiasmada.

– Omo! Você o trouxe de verdade! – segui a voz com os olhos e os pousei na face sorridente de Jongjin, muito diferente do garoto sério que me encarava sem motivo na cafeteria. Ainda ofegante pela corrida, ele parou defronte comigo e fez uma curta reverência – Cho KyuHyun, eu sou Kim JongJin e me desculpo por nossas acomodações espartanas e principalmente pela falta de internet... – e então ele fez uma careta, enquanto eu arregalava aos olhos. Falta de internet? Ele tinha falado certo? - Mas é um enorme prazer estar em sua presença, espero aprender muito com você hyung.

– Ele acha que só porque seu poder é passivo igual ao dele vai conseguir ensina-lo algo... – explicou Jongwoon com as sacolas em mãos e voltou-se para o menor – Mas não é por isso que eu o trouxe, então não o importune, apenas leve isso para dentro – ordenou o mais velho lhe entregando as sacolas.

O menor fez uma careta contrariada, mas mesmo assim pegou as sacolas e saiu resmungando baixinho.

– Então mesmo eu sendo um tecnólogo e você sabendo disso, você me trouxe pro meio do mato, muito legal da sua parte – finalizei abrindo um sorriso sarcástico em minha face.

– Claro que é legal – retrucou o outro rapidamente ao notar meu sarcasmo – Nunca que um cara como o tornado lá vai procurar você no meio do mato, porque não faz sentido algum, aqui está seguro – concluiu ele com um sorriso astuto.

– E por quanto tempo terei que me esconder? – perguntei fazendo uma careta pensativa se formar na face do mais velho, mas antes que ele respondesse, escutei passos no gramado rústico, mas verde, e uma voz feminina ecoar pelo ar.

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– Yesung! Você se livrou daquele inútil? – perguntou a jovem com arrogância, reforçando o desprezo na palavra ‘daquele’, mas sua voz alta e fina me era extremamente familiar.

– Você está falando deste inútil? – perguntou Jongwoon me indicando inocentemente com os olhos.

Imediatamente me virei e dei de cara com Yuri que me encarava atônita.