A Promessa

Capítulo 20 - O vale: parte 1


O dia mal havia amanhecido quando os três se puseram em caminhada. As montanhas pareciam cada vez mais altas e largas à medida que se aproximavam, deixando claro que seria quase impossível escalá-las e muito menos dar à volta em torno delas.

Quanto mais caminhavam, menos sinais de vida encontravam. As árvores tinham cada vez menos folhas, e seus galhos retorcidos lembravam muito os da Floresta Assassina, apesar de ainda não terem tentando ataca-los.

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Peter ia à frente, enquanto Edmundo protegia a retaguarda, com Lúcia entre ambos. Todos sempre muito silenciosos e atentos.

Logo saíram completamente da cobertura de qualquer árvore e entraram em um terreno pedregoso. Sentindo-se terrivelmente expostos, pararam alguns minutos para observar antes de começar a atravessar o vale entre as duas montanhas.

Tudo estava quieto e não se ouvia nem mesmo o som de qualquer animal ou ser vivo naquela parte de Ódin.

–Estou gostando cada vez menos desse lugar. –Murmurou Peter.

–Eu também, mas não temos outra alternativa senão prosseguirmos. –Anunciou Edmundo.

Lúcia apenas encolheu os ombros e assentiu. Não seria um passeio agradável, mas era necessário. E todos estavam cientes disto.

Tomando a frente, Edmundo retomou a caminhada, sendo seguido pelos demais. Em alguns minutos já estavam no começo daquele vale sem vida que mais parecia um imenso corredor com paredes de pedra de ambos os lados. O final ainda não era visível, mas eles sabiam que alguma hora chegariam à saída.

A primeira meia hora foi tranquila. Tudo o que se ouviam eram os passos dos três, em um ritmo cadenciado. Mas um grito cortou o ar como uma faca, fazendo os três paralisarem:

–Peter! –A voz feminina gritou.

–Elisa! –O garoto gritou o nome da irmã, procurando desesperadamente em todas as direções.

–Me ajude! –A voz voltou a soar.

Edmundo segurou o braço de Peter quando ele ameaçou correr em uma das direções.

–Me solte! É a minha irmã! –O garoto parecia fora de si.

–Não pode ser ela, Peter. Nós estamos bem longe de casa. –Edmundo interveio.

–Ah! –A voz de Elisa soou desesperada.

–Edmundo, querido. –A voz macia da Feiticeira Branca fez a espinha do rapaz gelar.

–Eu jamais permitiria que você voltasse para Nárnia. –O tom implacável de Aslam fez Lúcia recuar um passo.

–Socorro, Peter!

–Junte-se a mim e nós dois poderemos reinar em absoluto sobre tudo e todos!

–Eu não confio mais em você!

As vozes começaram a bradar de todas as direções. Atormentando, acusando e desesperando aos três jovens. Deixando-os completamente desorientados e assustados. O coro de vozes parecia ecoar seus piores pesadelos, de forma tão intensa e cada vez mais alto que logo os três estavam ao chão, encolhidos, tapando os ouvidos e com lágrimas nos olhos.

–Não é real, não pode ser real. –Lúcia começou a recitar como um mantra enquanto se balançava para frente e para trás.

Aos poucos, aquele suplício que pareceu durar anos, foi se tornando distante e indistinto, enquanto Lúcia era embalada por seu mantra. Depois de repeti-lo tantas vezes, começou a poder acreditar nas suas próprias palavras e quando finalmente se sentiu calma o suficiente, abriu os olhos inchados e percebeu os dois garotos ainda em agonia ao seu lado.

Se arrastou primeiramente até Edmundo, que estava a apenas um metro de distância. Tocou seu ombro e sentiu toda sua tensão. Ela já não ouvia mais nada, mas seu irmão ainda parecia bem preso em seu próprio sofrimento.

Lúcia começou retirando as mãos do irmão de seus ouvidos, e após muita resistência do mesmo, conseguiu. Segurando o rosto dele entre suas mãos pequenas começou a enxugar seu rosto e a sussurrar:

–Nada disso é real. Nenhuma voz, nenhum medo. Me escute, Edmundo.

O garoto, dentro de seu tormento, começou a acalmar e logo conseguia ouvir a voz da irmã, que pedia para ele abrir os olhos e se concentrar apenas nela. Depois de alguns minutos e com muita força de vontade, ele finalmente conseguiu fazer isso.

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–Lúcia... –Seu alívio era palpável.

–Vai ficar tudo bem. –Ela lhe disse com a voz falha.

–Será que Ela sempre vai me perseguir? –Ele se lamentou.

–Eu não sei, mas talvez um dia você descubra. –A sinceridade de Lúcia fez o irmão abrir um pequeno sorriso triste.

–Vou ajudar Peter agora. –Ela avisou.

O irmão assentiu debilmente e a garota se arrastou até Peter, a uns três metros dali. Seguindo o mesmo processo, Lúcia começou a dizer coisas reconfortantes para o amigo. Edmundo observou e percebeu algo que vinha irritando-o desde que conhecera o garoto: a forma como a voz de Lúcia soava aquecida e o claro carinho pelo loiro. Mas dessa vez não podia começar a implicar ou dar uma de irmão ciumento em um momento tão sério.

O moreno detestou admitir, mas Lúcia estava crescendo e já não era mais a menininha que o arrastou para um velho guarda-roupa junto com seus outros irmãos. E o pior era que não podia detestar Peter, que até então tinha levado seus ataques com bom humor e demonstrado se importar tanto com sua irmã. Porém, levaria muito tempo até que pudesse dizer isso em voz alta.

E qual seria a graça? Pensou.

Quando Peter finalmente abriu os olhos cinzentos, estavam tão tristes, que Lúcia não conseguiu pensar no que fazer para animá-los. Porém, antes que pudesse fazer qualquer coisa, um brilho morno iluminou o olhar de Peter. Ele aproximou seu rosto lentamente do da garota e seus lábios se tocaram suavemente com uma mistura de reverência, carinho e algo mais...

Edmundo pigarreou e começou a tossir feito um enfermo, fazendo com que os dois se separassem imediatamente. Peter meio encabulado e Lúcia corada até a raiz dos cabelos,

–Eu ainda estou aqui e de olhos nos dois. –Edmundo bufou, mas estava se deliciando por dentro.