JAMIE

Apesar da reconciliação com o Edu, tínhamos uma festa para preparar! Edu me acompanhou até a casa da Sam. Ah, a propósito, a casa da Sam é linda e gigante, uma daquelas casas de gente com um jardim perfeito, piscina e uma cozinha gigante, o que, comparado ao tanto de grana que os pais dela tinham, era até simples.

Quando batemos na porta, ela abriu e, vendo nós dois juntos, deu um sorriso torto.

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– Não tem pão seco pra vocês hoje. – falou ela, brincando.

– Idiota! – falei, ela riu e me abraçou forte.

– Uau! Quanto tempo eu fiquei afastado de vocês? Vocês se abraçam e não se chamam uma a outra de puta? Essa é nova.

– Vai se foder, Eduardo! – falou a Sam, sorrindo e abraçando–o também.

– Agora sim eu to reconhecendo a Sam! – falou rindo e bagunçando o seu cabelo castanho que já é bagunçado de natureza, deixando com aparência de ter acabado de sair de uma secadora de roupas. Ela não se importou.

– O que têm pra fazer aqui, Sam? – perguntei.

– Copos, bebida, sala, cozinha e - ela olhou para o Edu - arrumar as luzes.

– Luzes. – anunciou o Edu e indo para o “equipamento” de luzes coloridas que estavam no canto da sala.

– Cozinha. – falei indo pra cozinha.

– Sala pra mim. – disse a Sam.

Começamos cada um com as suas tarefas e em algum momento, ouvi a Sam perguntando algo para o Edu.

– Como conseguiu domar a fera? – pediu ela, imaginando que eu estaria com os fones no ouvido e não ouviria a conversa. Cheguei mais perto discretamente para poder ouvir melhor.

– Não faço a mínima ideia. – confessou Edu. Eles riram e ficaram em silêncio por um momento.

– Você fez mesmo aquilo? – pediu a Sam por fim. Edu não respondeu. – Sabe, não vou te julgar nem nada, só queria entender o porquê.

– Bom, acho que é isso que todos nós queremos entender... Inclusive eu.

– Ah, qual é Edu, vai, fala tudo.

– Sam... eu realmente não sei o que aconteceu. Talvez uma mistura de ciúmes do James com o medo de perdê-la pra outro cara... eu não sei, parecia que eu tinha que fazer aquilo para devolver o ciúmes.

– Você tá zoando com a minha cara? Ciúmes do James? – ela riu.

– Ei! – falou, ofendido.

– Desculpa, mas isso é patético! A Jamie é louca por você. Você não sabe como foi aturar o mau humor “Jamie-sem-Edu” essas semanas, era impossível convencer ela de fazer qualquer coisa.

Eu já sabia qual seria a próxima pergunta do Edu, quando o fez, não me admirei.

– Conseguiu fazê-la comer?

Sam respirou fundo.

– Na primeira semana ela praticamente viveu de chá de pêssego – a voz dela soava cansada e preocupada – Depois, consegui fazê-la comer alguma coisinha de vez em quando. Aparentemente, você é a única pessoa que consegue convencê-la de comer alguma coisa prestável.

– Ela fez mais algum exame?

– E alguém, além de você, consegue convencer aquela marrenta a fazer alguma coisa? Ela sabe que o resultado não seria bom, ou seja, ela não quis fazer.

– Teimosa. Vou tentar falar com ela hoje.

– Boa sorte. – dito isso, eles voltaram para as suas tarefas e eu para a minha.

Mas aquela conversa não saia da minha cabeça. Sempre achei muito irritante a mania da Sam e de todo mundo em me obrigar a comer. Como se eu fosse um urso pardo pra aguentar comer tudo o que eles querem que eu coma. Quando eu tenho fome, eu como.

“Ah, Jamie, às vezes eu tenho que rir mesmo de você. Você nunca está com fome, menina. É mais magra que uma vareta! Os médicos já falaram que você precisa comer mais...”

Ah não... Eu tenho que ouvir sermão sobre isso até desse cara irritante?

“Por que será que você não sente fome? Por que será que todos insistem em fazer você comer? Porque eu que escrevo a história. Eu falo como você se veste, como anda, o que come...”

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– Você tem mania em me lembrar que você é que dá as regras não é? – falei para o copo que eu estava ensaboando – Pois, olha só, cara, você não pode me controlar mais, agora eu posso quebrar todas as regras que eu quiser!

– Jamie? – gritou a Sam da sala. – Com quem você está falando?

Merda – pensei, colocando fones no ouvido – eu falei muito alto, merda!

– Jam, o que você... – Sam entrara na cozinha. – Ah, fones...

Arranquei um fone e olhei para minha amiga.

– O que foi? – perguntei.

– Pensei que estivesse falando sozinha.

– Ah, eu só estava brigando com o áudio-book. - menti.

Ela riu.

– Quem foi que aquele autor babaca matou agora?

– Uma menina super legal que tinha um namorado muito gato. – falei aparentando estar chateada.

– É, mas olhe pelo lado bom... Agora você pode ficar com o namorado dela. – ela sorriu.

– Opa! – falei – adorei a ideia.

– Eu estou ouvindo, isso ai, ok, senhorita Jamie Kanoah? – gritou Edu da sala. Eu e a Sam rimos. Mas eu só conseguia pensar em como o meu escritor me deixava furiosa e em como eu tinha que dar um jeito de mudar a história.

Às seis horas tudo já estava pronto e a Sam foi checar o celular. Todos os convidados – mais ou menos vinte e cinco pessoas – confirmaram presença. Edu foi pra casa se arrumar para festa e eu decidi me arrumar na casa da Sam mesmo. Fui tomar banho e, enquanto a água quente encharcava meus cabelos ruivos, não conseguia parar de pensar na conversa que tive com o Edu e o escritor.

Tentava arranjar um jeito de mostrar para o Edu a verdade, mas todas as maneiras de revelação através de mim – ou seja, eu contando a verdade para ele – faziam-me parecer completamente maluca. Se é que eu já não estava desse jeito.

Será que vale a pena fazer o Edu passar por tudo isso? Quero dizer, nem todas as pessoas conseguiriam lidar com isso como eu estou fazendo. O Edu é alto, forte aparentemente, mas não sei se a mente dele ela está pronto para passar por tudo que passei, vi coisas realmente chocantes, quando entrei naquela “caverna” que apareceu para mim enquanto sonhava, via a tudo e a todos, suas mentes, pensamentos, medos... mas, o que mais me assustou foi me colocar frente a frente com meu inconsciente.

Desejos não admitidos, vontades oprimidas e esquecidas, momentos de total raiva e erros cometidos que queria com todas as minhas forças resolver. Pensamentos que ficam no fundo de sua mente, aqueles que são negados pela sua personalidade e seu caráter e guardados no seu subconsciente. Mesmo que você não os queira, eles estarão lá, à espera de mais um erro. Esses tipos de coisas que me transformariam em um monstro se não soubesse lidar com aquilo tudo, se não tivesse a mente forte o bastante para compreendê-los e superá-los.

Será que o Edu conseguiria passar por isso? Conseguiria viver sabendo que nada ao seu redor é realmente a verdade? Conseguiria viver sabendo que tem alguém controlando tudo, esperando uma brecha sua para acabar com tudo que você ama?

Afastei esses pensamentos negativos. Não poderia fazer nada a respeito agora.

Saí do banho, sequei meu corpo, enrolei meu corpo e meus cabelos em toalhas e fui até o closet da Sam, até a pequena parte que tinha algumas roupas minhas. Peguei uma de minhas calcinhas pretas e um sutiã da mesma cor e os coloquei. O sutiã ficou um pouco apertado, como sempre, pois, sou magrinha, baixinha e com peitos grandes. Um verdadeiro incômodo em achar sutiãs favoráveis.

Fui até o quarto e vi que Sam – a garota que sonha em ser estilista – havia escolhido minha roupa para a noite: short jeans, regata preta justa, camisa de botão “manchada” em tons de roxo e roxo–claro e um tênis Vans® preto comum. Ri quando vi o conjunto.

– Péssima ideia – falei pra ela – vai parecer que sou uma puta querendo mostrar os peitos.

– Você tem que parar de tentar esconder seu corpo. – falou ela, séria.

– Por que eu iria querer mostrar isso – fiz um movimento para indicar meu corpo – para alguém?

– Você é mais bonita do que acredita ser, Jam. Confia em mim.

Revirei os olhos e coloquei a roupa escolhida pela Sam. Olhei-me no espelho.

– Ok, até que não ficou tão horrível. – admiti fechando os botões mais baixos da camisa.

– Jamie, se você fechar mais um botão eu vou ai e arranco ele fora!

– Sam! – a garota veio na minha direção e desabotoou o botão na altura dos meus seios.

– Aqui no máximo, ok? – falou ela.

Ok, eu sei que isso foi meio lésbico mas nós somos assim mesmo, bem fora da casinha, mesmo.

– Chaaaaaata. – ela riu. "Você ainda vai me agradecer", falou a morena indo tomar banho.

Ajudei a Sam a secar o cabelo (que ficou mais ou menos ajeitado) e ela me ajudou com a maquiagem.

Apesar da Sam raramente estar maquiada, ela sabia se maquiar muito bem. Fazia uma maquiagem leve, simples e sofisticada que combinava muito bem com nós duas.

Às oito e meia estávamos prontas e a campainha tocou. Eu fui até porta atender enquanto a Sam arrumava as últimas coisas da festa: as gelatinas de vodca.

Abri a porta e vi um garoto alto, um pouco musculoso, cabelo castanho-claro, olhos azuis e um sorriso encantador. Eduardo. Vestia calça jeans e camisa azul-claro com um casaco preto por cima.

– Oi, amor. – ele falou.

– Amor? – indaguei sorrindo. Ele ficou vermelho e tentou se explicar enquanto lavava a mão a cabeça.

Fiquei na ponta dos pés e beijei-o.

– Oi, amor. – respondi para ele, sorrindo.

– Você está linda. – ele falou olhando para o meu decote.

Vou matar a Sam, pensei.

"Ele só quer transar com você, nada mais que isso, abra os olhos, Jam, quando conseguir o que quer ele vai te deixar."

Não me chame de Jam, seu mentiroso medíocre. pensei.

– Gostou, é? – perguntei para o Edu, esquecendo as palavras do escritor.

– Adorei. – ele mordeu o lábio – Isso é coisa da Sam, né? – ele apontou para o decote da minha blusa.

– Lógico.

– Olha, você devia deixar ela te vestir mais vezes. – ele me olhava de um jeito safado.

– Haha. – debochei. – Não acostuma não, viu? – ele me beijou e eu o puxei para dentro da casa da Sam, até que esbarrei em uma mesinha com copos.

– Opa, opa, opa, seus tarados! – disse a Sam. Olhamos para ela – Deixem isso pra mais tarde. – ela piscou de um jeito malicioso.

– A gente ta só...só... – Edu tentou enrolar – só matando a saudade.

– Uhum, sei, Edu. Jam, você pode vir me ajudar com as gelatinas aqui?

– Claro. – ela me arrastou para dentro da cozinha.

– Jam, você já transou com ele? – sussurrou a garota de modo direto.

“Você não conta as coisas para sua melhor amiga, não, Jamie?”

– O que? Com o Edu? – ela fez que sim com a cabeça – Não, você sabe que não... Por que essa pergunta agora?

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– É que vocês dormiam juntos às vezes e tal, você sabe que ele já não é mais santinho e agora quando eu vi vocês quase se devorando ali, fiquei com essa dúvida. – sorri para ela.

– Não, Sam, continuo virgem. Não sou que nem você que na primeira tequila já tá dando por aí... – brinquei.

– Vai se foder! – ela riu e me empurrou.

– Tá, onde vamos colocar essas gelatinas? – perguntei.

– Na mesa. Mas coloca só algumas pra não ficarem todas quentes lá. – ela olhou no relógio e virou-se para Eduardo – Quase nove horas, ei, DJ Edu, liga o som ai.

A galera começou chegar aos montes e, às onze horas, quando todos já tinham chegado, a Sam gritou: “Quem ai vai querer pizza?”, a galera gritou histérica e começaram a se servir.

– Pego um pedaço pra você? – pediu o Edu pra mim. Balancei a cabeça.

– Não to com muita fome. – respondi. – Acho que vou sentar ali na varanda.

– Tudo bem, ele respondeu, já vou lá.

Parei na geladeira, peguei uma cerveja pra mim e sentei num velho banco de madeira que estava lá desde sempre. Apesar de ser noite, o tempo em Littlewings, estava quente, como em toda Califórnia. O céu estava estrelado , com algumas nuvens atrapalhando a visão. Edu chegou com dois pratos de papel – um com dois pedaços grandes de pizza e outro com um pedaço pequeno – me entregou que tinha apenas uma fatia e sentou ao meu lado. Algum tempo se passou, ele já tinha comido toda pizza e eu ainda estava na metade da minha.

– Jamie. – ele chamou, me fazendo levantar a cabeça do seu ombro.

– Que foi?

– Não vai comer? – ele pegou a garrafa de cerveja da minha mão e deu um gole.

“Agora é a hora que a Jamie-teimosa briga com seu namorado pelo motivo de sempre: não querer comer.”

Está cada vez mais difícil de aturar esse cara, puta merda, ein.

– Estou comendo. – respondi, voltando a concentração na conversa com o Edu.

– Você não pode ficar sem comer assim, ruivinha. – fiquei em silêncio e mordi a pizza – a Sam me falou que você se negou a comer quando nós brigamos.

– Eu não me neguei, eu só não estava com fome.

– Ah, sei... Uma semana sem fome? – ele me olhou e eu dei mais uma mordida.

– Não foi bem assim... – falei, depois de engolir.

– Jamie, eu falo isso pro seu bem, você sabe. – roubei a garrafa de volta e bebi.

– Eu sei. – falei, triste.

– Preciso falar mais alguma coisa? – balancei a cabeça negativamente e terminei de comer. Ele me deu um beijo na bochecha. – Então, vamos voltar pra festa? Ainda tem vários copinhos de gelatina lá.

– Vamos! – falei, animada. O Edu me pegou no colo, me deu um beijo e me levou pra dentro.