Capitulo Vinte e Nove

(Dias Melhores Virão)

Zona aberta. Área totalmente devastada.

Da cabine do avião em que nos encontrávamos tudo lá embaixo parecia desolador. Eu contive um suspiro, quando senti que estávamos nos aproximando do chão e tratei logo de jogar esses pensamentos para o fundo da minha mente.

O avião aterrissou e logo o nervosismo fazia com que minhas mãos suassem. O piloto e o chefe de expedição da ultima prova saíram e fizeram sinais para que o acompanhássemos fora do avião. Sabíamos que ali as câmeras estavam presentes. Só não sabíamos onde, - portanto mantive a postura. Olhei para Camila e vi que ela também se mantinha assim. Não precisava olhar para Lorena, - eu sabia que ela estava bem.

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– Bom minha caras – disse o agente da Ordem – vocês agora estão por conta própria. Quero dizer a todas que é liberado que façam alianças entre si, mas que só temos vinte vagas. E isso inclui que mesmo que restem vinte estas terá que ser eliminada.

Sua pausa abrupta e a ênfase no, mas, fez com que todas nos entreolhássemos. Isso incluiria que teríamos que eliminar todas custe o que custar. Reprimi um grito de ódio e apertei as mãos.

– Estão vendo aqueles veículos? Eles a espalharam pelo território. Sua missão é sobreviver. Caso sobrevivam, passaram no ultimo teste. Eu aconselharia a vocês não ficar escondidas por muito tempo. Existe certo perigo nessa área. Nós a chamamos de área 88.

Como se fosse só as últimas instruções, o oficial nos dirigiu a um veiculo que ele chamava de flutuador. Dentro dele um oficial nos levaria para qualquer área e assim o teste começaria. Dei um aceno de cabeça para Camila, e jurei que a encontraria. Nada acabaria assim. Não daquele jeito.

Entrei no flutuador, e esperei pacientemente o que minha morte chegasse. Quando tempo demoraria a morte? Será que tudo que eu enfrentei dentro do castelo até agora tinha sido meras experiências? Será que valia a pena? Thomas já havia chegado? O natal seria dali a dois dias? Eu terminaria a prova a tempo?

O flutuador pegou impulso e eu fui jogada para trás. Pelo jeito o oficial estava com pressa. Fechei a cara. Parecia que todo o trajeto por mais curto que fosse ia ser silencioso. Tratei de examinar o que me esperava lá fora.

Havia prédios em ruínas, corpos que estavam ainda em decomposição. Metade de veículos que estavam indecifráveis, casas, trilhas do que achei que fossem rios e muitas outras coisas. Mesmo assim não comentei nada. Sabia que nesse momento o público nos observava... Ou não? Poderia eu perguntar ao oficial que cidade ou local estávamos?

Foi quando o senti o flutuador mudar a rota e fazer uma curva. Estávamos voltando? Como assim? Aconteceu alguma coisa? Minha mente tentava registrar, mas tudo estava bagunçado...

– O que está acontecendo? – disse berrando pelo barulho do vento que vinha forte ao nosso encontro. Parecia que ia armar uma tempestade.

Olhei para o oficial. Nós não víamos o seu rosto. Ele estava com um capacete fechado. Com as cores da bandeira estatal da Ordem. Vermelho, Branca e o símbolo da Fênix. Achei que ele não tivesse mais escutado, mas a voz que ele emitiu-me fez congelar.

– Você deveria me agradecer não acha? – Felipe. É Felipe. Meu coração bateu apertado dentro do peito. Ele veio antes. E agora? Eu não conseguia pensar, não conseguia raciocinar... O que estava acontecendo?

– Felipe... O que está acontecendo? Para esse troço...

Felipe gargalhou e eu me dei conta de como senti falta daquela risada. Ele cuidadosamente parou o flutuador em uma área mais povoada de vida. Fiquei nervosa, mas ao mesmo tempo queria abraçá-lo. Olhei-o e logo o capacete tombou no chão. Seu rosto permanecia o mesmo, mas olhando bem ele estava com um corpo mais musculoso. Seus cabelos haviam sido cortados, mas os olhos azuis ainda me examinavam como sempre. Ele sorriu e antes que eu pudesse protestar ele me abraçou. Nós retribuímos o abraço e tombei a cabeça em seu ombro.

– Pensei que só viesse no natal – disse eu olhando seu rosto e sorrindo – senti sua falta.

As palavras pareceram vagas, mas logo tratei de colocá-las no fundo da mente. Felipe estava aqui por um motivo. E no momento isso é uma situação grave. Oscilei um pouco e esperei que ele me dissesse o que estava pensando.

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Ele andou até a porta do flutuador e saltou para fora, eu o segui e percebi que logo anoiteceria. O que Camila estaria fazendo? Lorena? Estariam bem? O que diabos estavam acontecendo?

– Felipe... Você não vai me contar o que está acontecendo?

Ele hesitou, mas logo se virou para fitar o meu rosto. Deixei que as emoções enfim falassem por si. Felipe é meu amigo, eu podia confiar nele. Então deixaria que ele tocasse no assunto e me explicasse.

– Liz eu... Eu senti tanto sua falta. Eu não parei de contar os segundos até que esse dia chegasse. Eu preciso que você fique comigo. Que me escolha ao invés de Thomas. Eu preciso que entenda que o que estamos fazendo, é o melhor para você. Eu...

– O que estamos fazendo? Escolhei você? O que está acontecendo? Quero a verdade Felipe!

Eu berrei com ele e no fundo esperei que ele berrasse, - ou até mesmo gritasse de volta. Mas isso não aconteceu. Pelo contrário ele continuou me fitando com aqueles olhos azuis piscina e eu quase mergulhei neles como se dependesse daquilo para sobreviver. Será que eu havia reprimido isso? Será que só agora me permitia sentir que eu precisava dele também? Ou é só saudade?

– Estou aqui para te levar embora. – as palavras dele me causaram calafrios. E de repente como num estalar de dedos entendi o significado delas. O Ataque. Os Champions. O castelo. Thomas. Tudo estava ligado.

– Não... O ataque? Não Felipe. Nós temos que voltar ao Castelo... Thomas...

Ele pareceu lutar internamente. Ele deu as costas para mim. Algo dentro dele fervia. Felipe é como um vulcão em brasa e eclodindo, você nunca sabe como controlar.

– Não posso. Estaria agindo contra os meus superiores. Contra os meus sentimentos. Será que pelo menos uma vez na vida você não pode considerar isso?

As palavras dele foram como um balde de água fria em mim. Por um momento me permiti enxergar a vida ao seu lado. Nós seríamos felizes. Teríamos um casal de filhos. Não viveríamos com muito conforto, mas não teríamos que viver sob regras absurdas, - e ele seria um marido amoroso, zeloso e não deixaria que nada nos faltasse. A Ordem estava errada, eu quando entrei no castelo tinha planos de acabar com ela. E agora alguém, não, - na verdade um grupo estava prestes a fazer isso. E eu teimosa não deixaria. Tudo porque amava dois homens. Amava Thomas e não queria que ele sofresse como também amava Felipe, - e essa missão é suicida. Mataria os dois. Eu não seria capaz...

– Eu não me permito – disse trêmula – eu não me permito porque eu te amo Felipe. Amo você mais do que possa imaginar. E é por isso que tenho que impedir que me leve embora. Se fizer isso saiba que vou dar um jeito de contatar a Ordem, - de escapar. Mas eu te amo, - isso não basta para você?

Ele por um momento pareceu refletir pelas minhas palavras. Não disse nada. Foi se aproximando de mim lentamente, e eu senti no meu coração que nossa ponte não estava destruída e nem jamais esteve. O calor que eu sentia quando ele chegava, a paixão ardente que me consumia, tudo estava no lugar. Tudo estava aqui. Nada havia estilhaçado ou se perdido. Eu o amava. E acabara de admitir isso.

Ele me puxou contra seu corpo e eu por fim não resisti muito pior eu me resignei a empurrá-lo para longe. Eu o queria. Eu o desejava. Ele me completava de uma forma que Thomas não conseguia preencher. E isso me arrasava. Mas no momento não conseguia raciocinar. Meu olhar baixou para seus lábios, senti meu coração ficar inteiro novamente. Ele pareceu esperar por um momento para ver se eu o negaria, - mais isso foi rápido. Logo seus lábios esmagaram os meus. A sensação de paixão explodiu dentro de nós. Felipe é como um rio, um rio cheio de vida que se você não tomasse cuidado mergulharia e se afogaria. Thomas era como uma cachoeira te saciava, mas nunca teria como te preencher totalmente. Ali naquele momento me entreguei a ele.

– Esse deveria ter sido nosso primeiro beijo – disse Felipe sorrindo e me segurando – espero que tenha gostado da experiência.

Eu sorri, mas algo dentro de mim dizia que mesmo com tudo isso acontecendo, mesmo com tudo certo entre nós, - eu tinha que voltar. Não é certo. Não com Thomas. Dane-se a Ordem, mas Thomas também tinha sentimentos. Mais uma vez, eu estragaria esse momento com ele. Suspirei:

– Temos que voltar – ele mudou a expressão – Felipe, por favor...

– Pra quê? – disse ele passando a mão na cabeça – Você acabou de admitir seus sentimentos por mim... Não temos nada para fazer lá. Deixei-me levá-la comigo?

– Felipe não é assim que as coisas funcionam. Camila está naquela prova infernal lutando por sua vida. Lorena também. Tenho que ajudá-las. Tenho que encontrar Thomas e acabar com essa competição idiota...

– Em questão a suas amigas... Elas estão a salvo. – ele foi se dirigindo ao flutuador.

– O que fez com elas? – não pude deixar de soar histérica. Ele pareceu não se importar.

– Liz – disse ele com a voz grave – entre no flutuador. AGORA.

O som da voz dele alertou que ele não estava para brincadeiras. Estava quase na porta, quando ouvimos um grande barulhos vindo dos céus. Luzes recaíram sobre nós. Felipe se colocou na minha frente.

Guardas e mais guardas vinham em nossa direção. Estavam com armas com alto poder de destruição. A porta de um helicóptero se abriu e dele saiu à pessoa que eu menos queira ver: Victor Salazar. Seu olhar nos perfurou, não na verdade nos queimou com uma chama ardente. Ele exibia ódio. Ele exibia nojo.

– Pensei que o senhor fosse mais esperto Felipe. – ele se aproximava lentamente de nós. Exibia um sorriso maldoso. – E vejo que a senhora compactua com o grupo inimigo Senhorita Elisabeth...

– ELA NÃO TEM NADA HAVER COM ISSO - berrou Felipe - Fui eu que a induzi a isso. Não a machuque. Se quiser levar alguém me leve...

Ele se aproximou de Felipe e socou no rosto. Felipe partiu para cima de Victor, mas logo ele estava cercado de guardas. E esses mesmos guardas me agarravam e machucavam pela sua brutalidade.

– Não sou idiota – disse Victor – sei que o senhor planejou o ataque ao castelo. Todos ali lutam por suas vidas...

– Thomas? Ele está bem? – lágrimas escorriam pelo meu rosto. Tudo isso é culpa minha. Tudo.

– Porque a senhorita se importaria? Ele está lá no castelo lutando. Será uma decepção para ele quando ele a vir com esse indigente.

As palavras me atingiram como facas. Mais uma vez eu cometera um erro. Felipe estava de cabeça baixa. A culpa não é dele. É minha. Eu bagunçara tudo ali. Eu brincara com o sentimento dos dois. Se alguém merecia morrer, esse alguém sou eu.

– Sabe senhorita Elisabeth a senhora causa muito problemas a nós – disse Victor quando estava dentro do helicóptero – eu não gosto disso.

– Não coloque a culpa em Felipe – disse eu – a culpa é minha.

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– Agora é muito tarde para isso não acha? – disse ele me fitando com olhos frios. – Meu filho pode até estar morto agora lutando contra esse grupo de arruaceiros.

Aquilo foi como algo queimando em mim. Mais lágrimas escorreram e eu deixei que um grito de dor escapasse. Victor pareceu não ligar, na verdade ele dava apenas coordenadas para que voltássemos ao castelo. Tudo havia sido perdido. A competição. Tudo. É o fim da linha. Não havia mais caminhos.

– Não chore – ouvi o sussurro de Felipe ao meu lado e percebi que em seu rosto havia um hematoma roxo. – A culpa é minha. Eu deveria tê-la levado logo.

Não respondi só conseguia fitar o chão. O que eu tinha feito? O que estava acontecendo?

Um estampido passou zunindo por nós e uma explosão preencheu o céus. Ouvi barulhos e gritos, e percebi que tínhamos de chegado. Levantei-me e consegui ver o que jamais pensei que aconteceria. Só havia metade do castelo em pé. Tudo estava desmoronado. Pessoas e mais pessoas lutavam ali. E um fogo infernal rodeava tudo. Ali de cima via corpos, e tiros e até mesmo lamentos. Eu não acreditava nisso. Não. Não poderia ser assim.

Senti um solavanco e pousamos atrás da área destruída. Ouvimos mais zunidos e depois uma explosão. Victor finalmente falou conosco.

– Vou procurar Thomas e logo partiremos para outra sede. Está guerra está longe de acabar. E uma coisa eu garanto senhor arruaceiro, seu grupo não passará de meros tapetes na nova sede que reunirei.

Antes que Felipe o respondesse saiu e sussurrou aos guardas que ficasse de olho em nos. O resto dos outros guardas iria com ele. Felipe me cutucou:

– Tenho um plano. Mas preciso que confie em mim! Consegue fingir que está sentindo dor?

Assenti e logo ele me repassou o plano que teríamos que colocar em prática. Pelo que analisamos havia apenas três guardas conosco, eu fingiria que estava com dor, abateríamos o da porta e tentaríamos surpreender os outros dois.

Felipe contou até três bem baixinho e eu gemi de dor. O som pareceu impressionar um dos guardas que se ajoelhou e ficou de costas para Felipe. Logo com um chute na orelha o guarda despencou inerte no chão. Depois disso analisamos seu cinto, achamos as chaves das algemas e nos esgueiramos lentamente.

– Consegue gritar o mais alto que puder? – disse Felipe.

– Isso não atrairia os dois guardas? – sussurrei.

– Sim. – disse ele – mataríamos dois coelhos em uma cajadada só.

Gritei e como esperado os dois guardas vieram. Escondi-me atrás do painel e quando este apareceu soquei seu rosto, ele cambaleou e eu logo chutei suas pernas. Antes que ele raciocinasse claramente roubei sua arma. Ele pareceu se render e logo se abaixou. Entendi aquilo como não quero mais lutar.

Quando sai detrás do painel de controle Felipe me esperava com os pés em cima do corpo do guarda. Ele exibia seu sorriso que fazia meu coração palpitar. Joguei essa emoção para longe.

– Vamos? – disse ele – Preciso que confie em mim mais uma vez.

– Antes que eu vá com você – disse eu – quero que saiba que eu escolherei de que lado fico. Não tente me induzir, me obrigar a escolher. Acho que pelo menos isso pode fazer por mim mesma.

Ele não respondeu apenas assentiu imperceptivelmente. Ele estendeu a mão. Olhei em seus olhos e ele sorriu. Talvez acabássemos encontrando a morte ali naquela batalha. Nunca talvez fosse esse o plano traçado por mim ou por ele. Mas estaríamos juntos. Lutaríamos por algo. Eu acharia Thomas. Acabaria com essa batalha inútil. Depois enfrentaria as punições. Olhei para ele mais uma vez, e dessa vez percebi que o Depois talvez não fosse muito tempo.

Corremos para a batalha a nossa frente.