POV Adam Black

É a primeira vez que eu estou na sala do diretor, então estou um pouco nervoso. Brian e Jacob parecem muito tranquilos, e Leah está olhando como se fosse matar alguém.

— Nós não aceitamos qualquer tipo de discriminação nessa escola. – o diretor fala. – Mas haja visto que a senhorita Clearwater agrediu dois alunos e o senhor Adam Black empurrou o jovem Devlin, irei punir todos os que quebraram as regras.

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— Eu não bati em ninguém. – Brian protesta alto, levantando num pulo. – Se eu vou ser punido, então me deixe socar esse idiota primeiro!

Ele tenta passar por Jacob, os três culpados se levantam para reagir.

— Sr. Swan! – o diretor grita, então todos param. Eu estou aliviado.

— Sr. Swan é o meu pai. – Brian fala. Ele não sabe quando manter a boca fechada.

— Não aumente sua punição. Sente-se e cale-se, os quatro. – o diretor ordena.

Brian quer argumentar, mas Jacob puxa ele de volta á cadeira.

— Senhor diretor, Jacob e Brian não machucaram ninguém, eles não estavam de forma alguma envolvidos alem de tentarem parar a briga. – eu tento argumentar.

Eu infelizmente não posso defender Leah, mesmo que ela tenha quebrado as regras da escola por minha causa, mas não é justo os outros que nada fizeram serem punidos.

— Tudo bem. O senhor Jacob e Brian estão livres, dessa vez. – o diretor cede. – Porém, se se meterem em qualquer confusão em trinta dias, serão suspensos, ambos.

— Nós iremos nos comportar, diretor. – Jacob promete solenemente. – Certo, Brian?

— Claro. – Brian responde, mas sua expressão é de extrema insatisfação.

— Certo. Agora vocês cinco – o Sr. Lee olha para mim, Leah e os três idiotas – estão em detenção por uma semana. Quero os cinco na minha sala todos os dias depois da aula, a partir de hoje.

— Sim, senhor. – eu concordo. Estou aliviado; não é uma punição tão terrível quanto eu pensava. Ser suspenso e perder aulas pra mim seria o pior.

— Quando algo assim acontecer, venham diretamente falar comigo em vez de usarem os punhos. Eu não tolerarei qualquer tipo de violência, física ou verbal, nessa escola. – o diretor fala. – Quero os pais de todos aqui amanhã para uma reunião, para que isso não se repita.

— Que droga. – Leah geme e eu chuto a canela dela. Entre Brian e ela, eu não sei quem nos coloca em mais problemas.

— Senhor – eu começo, chamando a atenção para mim antes que ele tenha tempo de repreender Leah mais. – Eu não tenho pais. Quem pode vir no lugar deles?

— Quem é o seu responsável legal?

— Eu sou emancipado.

— Bem, no seu caso, eu suponho que ninguém precise vir. Mas eu espero que o senhor tenha responsabilidade sobre suas ações, já que se considera um adulto.

— Sim senhor. – eu assinto.

— Podemos ir? – Brian pergunta ansiosamente.

— Os quatro, sim. Vocês três – o Sr. Lee se volta para os três garotos que começaram toda a confusão – Eu quero conversar com vocês.

Eu não sei quem levanta mais rápido pra sair, mas Brian consegue ser o primeiro a passar pela porta.

— Caramba – ele geme. – Charlie vai me matar.

— Sinto muito. – eu digo sinceramente.

— Não é sua culpa. – Brian sorri calorosamente para mim. – Esses idiotas mereceram. Pena que eu não pude ajudar a bater neles.

Eu reviro os olhos. É quase obvio que ele está mais chateado por não ter participado da briga do que por ter sido repreendido.

— Você é incorrigível. – Jacob resmunga, tirando as palavras da minha boca. – Vamos para a aula, chega de problemas por hoje. Sam vai querer a nossa cabeça.

— Ele vai me expulsar da reserva. – eu gemo, apenas agora lembrando que Sam vai ouvir sobre isso.

— Relaxa, cara. – Jacob bate no meu ombro. – Eu vou conversar com ele, e deixá-lo saber que você não fez nada de errado.

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— Se ele te expulsar você pode ir lá pra casa. – Brian diz.

— Obrigado Brian. – agradeço, embora eu pense que Charlie Swan não vai querer um inquilino. – Eu estou atrasado. Leah, obrigado. Brian e Jake, me desculpe por colocar vocês em problemas. Até mais tarde!

Eu viro e corro o mais rápido possível; eu já perdi a aula de Cálculo, minha segunda aula é Filosofia. Eu estou feliz por conseguir chegar á tempo. Há uma redação para entregar, e eu realmente trabalhei duro demais nela para perder. Eu amo estudar; os estudos são uma das poucas coisas que permaneceram constantes em toda minha vida, então estudar me traz tranquilidade.

Eu sou o último a entrar na sala, pela primeira vez na vida – eu normalmente sou o primeiro.

Não há muitos lugares para escolher, então eu vou para o primeiro lugar na frente, porque eu detesto sentar na parte de trás da sala – muito barulho e eu não consigo prestar atenção na aula. Os meninos também aproveitam pra me encher a paciência, então eu tento evitar sentar na parte de trás.

Há uma garota que eu nunca vi do lado da cadeira vazia. Ela tem um rosto pálido e olhos quase dourado, cabelos curtos e espetados. Eu imagino que ela deve fazer parte da nova família que chegou á Forks. Eu normalmente não sou de falar com desconhecidos, e prefiro sentar sozinho, mas hoje eu não tenho muita opção.

— Olá. Eu posso sentar aqui? – pergunto.

A garota não responde, nem sequer parece notar minha presença. Ela está olhando para frente, com os olhos vidrados e sem piscar.

— Olá? – eu tento novamente.

Novamente, nenhuma resposta. Talvez ela seja cega e surda? Ou talvez ela só esteja fazendo uma brincadeira? Eu espero que não seja o ultimo, porque eu já tive o suficiente por hoje.

Eu passo a mão na frente do seu rosto, e a garota volta á vida de repente.

— AH! – ela salta da cadeira com tanta força que a cadeira vira e ela cai sentada no chão. Eu tomo o susto da minha vida, quase derrubo toda minhas coisas no chão. Que droga foi isso?

Acho que eu acabei de assustar uma garota cega e surda. Eu estou perplexo e também com medo de ter machucado a pobre menina. Acho que ela não estava fazendo nenhuma brincadeira, afinal.

— Oh, me desculpe. Você está bem? – eu me abaixo pra ajudá-la a levantar. Estranhamente, ela parece me enxergar agora. E ouvir também.

— Tudo bem, eu estou bem. – ela afirma, então me dá a mão e me deixa ajudá-la a levantar. Eu não preciso usar muita força, ela está bem para levantar sozinha.

Os outros alunos estão nos olhando muito interessados, então eu solto logo sua mão.

— Eu sinto muito, não queria assustar você. – eu repito.

— Tudo bem, eu me assustei sozinha. – ela sorri e estou um pouco enervado, ela tem um sorriso chocantemente bonito. Ela estende a outra mão. – Prazer em conhecer, eu sou Alice.

— Eu sou Adam. – eu também me apresento, apertando sua mão enluvada.

— Desculpe. – ela diz novamente. – Eu estava distraída.

— Tudo bem.

Eu finalmente sento, a garota ajeita a cadeira e senta também. Eu abro minha mochila e tiro meu caderno, então arrumo tudo em cima da mesa. Eu meio que tenho um TOC de arrumação. Quando tudo está milimetricamente alinhado, eu olho de novo para a menina, um pouco preocupado. Essa foi a forma mais estranha de conhecer uma pessoa, e olha que eu sou especialista em estranho, desde que sou um quileute. Ela parece bem agora, uma garota totalmente normal e simpática, então eu sinceramente não entendo o que aconteceu.

Alice me olha, então eu repenso; ela não é tão normal – ela tem os olhos dourados mais diferentes que eu já vi, e eu aposto que isso é uma lente, embora eu não entenda porque alguém iria querer usar uma lente dessa cor – não que eu seja um para julgar, acho que cada um deve usar o que gosta.

— Essa é a minha primeira aula, eu posso olhar seu caderno? – Alice pergunta.

— Claro. – eu concordo, então passo meu caderno pra ela. Eu estou feliz que ela esteja usando luvas e pareça, pela sua aparência, ser uma garota muito cuidadosa. Eu sou um pouco cuidadoso demais com meus cadernos.

— Obrigado. Eu espero que eu não esteja muito atrasada. – Alice diz e eu posso simpatizar com isso. Eu sei como é horrível mudar de cidade no meio do período escolar.

— Eu posso lhe emprestar meu caderno, se você quiser levar pra casa e copiar. – sugiro, contra todos meus instintos.

— Oh, serio? – Alice me dá um de seus sorrisos alegres; ela parece sorrir assim o tempo todo, sem reservas. – Obrigada! Eu vou devolve-lo intacto. – ela promete e eu espero que sim.

— Estamos em março, você não deve estar tão atrasada. – digo.

— Sim, acho que eu já estudei a maioria das coisas, mas eu vou levar seu caderno pra copiar algumas coisas, okay?

— Certo. – eu concordo.

A professora finalmente chega, então Alice devolve meu caderno. A professora pede para a nova aluna se apresentar á turma, e em seguida para os alunos que fizeram a redação entregá-la na sua mesa. Eu sou um dos primeiros a entregar, então eu tenho que esperar enquanto os outros entregam seus trabalhos. Alice está desenhando distraidamente no seu caderno. Eu sou o tipo que evita falar com desconhecidos, mas Alice parece ser uma garota legal, e eu simpatizo com sua situação de entrar numa escola nova e não ter com quem conversar. Nenhum dos seus irmãos estão nessa aula.

— Você gosta de desenho? – eu pergunto, porque esse é um território familiar para mim.

— Só de desenhar roupas. – ela responde. – Você gosta?

— Sim. Eu gosto mais de pintar, na verdade.

— Eu percebi. – ela sorri, olhando para o meu rosto, mas é um sorriso amigável, então eu acho que ela não tem nenhum problema com minha maquiagem. Eu estou grato por isso; é difícil encontrar amigos que não me achem estranho. Ela continua: – Eu tenho um irmão que pinta. Eu só me interesso por fazer modelos de roupas.

— Você desenha muito bem. – eu digo, olhando seu desenho de vestido.

— Oh, eu tenho muito tempo pra praticar. – Alice sorri. – Eu posso ver algo que você pintou?

— Sim, mas todas minhas pinturas estão em casa. Eu posso trazer amanhã. – Eu devo ter alguma que caiba na mochila. – Eu posso ver seus desenhos?

— Okay. – Alice tira um caderno da sua bolsa (isso é Dior e parece original, meu Deus). É um caderno de desenho.

Eu olho para a professora, ela está recebendo os últimos trabalhos, então pego o caderno para olhar rapidamente. Eu sou um aluno exemplar, eu nunca seria pego olhando desenhos na hora da aula.

Estou um pouco surpreso com a qualidade dos desenhos. Alice definitivamente é talentosa. Como muito talentosa. Eu não entendo muito de moda e os seus desenhos são todos sobre roupas, mas entendo um pouco de desenho, e ela tem os traços de uma profissional. Eu estou um pouco invejoso, o desenho nunca foi meu ponto forte.

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— Você pretende trabalhar com desenho no futuro? – eu não consigo evitar perguntar.

Alice sorri e dá de ombros.

— Talvez. Eu sou apaixonada pelas roupas, não exatamente pelo desenho.

— Mas você desenha muito bem, você definitivamente poderia ser profissional. – eu digo com certeza.

Alice ri.

— Obrigado.

— Abram o livro na pagina 46. – a professora fala, e eu rapidamente fecho o caderno de desenho de Alice, mas eu ainda não vi todos os desenhos. Minha curiosidade é maior então eu tenho coragem de perguntar:

— Eu posso ver depois?

— Claro. Você pode trazer amanhã. E a sua pintura também.

— Okay. Eu vou cuidar bem dele. – eu prometo.

A aula passa muito devagar – eu amo Filosofia, mas hoje eu definitivamente estou ansioso pro final das aulas e poder olhar o caderno de novo. É difícil encontrar alguém que tenha paixão pela arte, então eu estou duplamente feliz por ter conhecido Alice – porque ela é legal e porque tenho alguém para falar de arte. Talvez ela me apresente seu irmão que gosta de pintar – se ele for tão legal quanto ela, ele poderia me ensinar algumas coisas. Eu desejo. Eu tive que parar minhas aulas de arte quando vim para Forks, e por aqui não há nada disso. É a coisa que eu mais lamento de ter me mudado. Eu não estou fazendo tão mal em Forks – eu não tenho amigos, mas eu converso com Jacob, Leah, Embry, Quil e Brian. Não é muita coisa, mas é melhor do que o primeiro ano, quando eu não tinha ninguém para conversar. Eu espero que eu possa me dar bem com Alice também, ela parece ser uma pessoa interessante, apesar da forma estranha como a conheci.

Quando a aula termina, eu e Alice trocamos os cadernos e nos despedimos. Eu sigo para minha próxima aula, Literatura. Eu sento sozinho em quase todas as aulas – a maioria das meninas me acha estranho e se sentem ameaçadas, como se eu fosse roubar seus namorados e os meninos parecem ter medo que minha “feminice” seja contagiosa. Eu já superei isso, felizmente.

No final da minha ultima aula, eu estou planejando sair discretamente e correr para casa, como eu sempre faço, mas então lembro da detenção e preciso ir á sala do diretor. Leah já está lá, com uma expressão insatisfeita.

O Sr. Lee nos convida á entrar, então nos explica o que vamos fazer; organizar uma estante de livros. Isso é fácil, eu amo organizar coisas. Eu não sei o que os outros três meninos estão fazendo, mas o diretor obviamente os colocou para fazer algo separados de mim e Leah – prova de que ele é inteligente. Eu posso me controlar, mas colocar os três idiotas perto de Leah seria pedir por outra briga.

Nós dois trabalhamos silenciosamente.

— Como você vai voltar pra casa? – eu me preocupo. Eu tenho meu próprio meio secreto de chegar em casa, mas se Leah estiver junto, isso não vai acontecer.

— Jacob está nos esperando. – Leah responde e eu estou surpreso. Uau, Jacob Black é realmente legal.

Jacob, Quil e Embry estão realmente na caminhonete nos esperando – Jacob sentado ao volante, Quil e Embry sentados na parte de trás da caminhonete.

— Olá meninos. – eu digo.

— Olá Adam.

— E ai cara.

— Que merda vocês fizeram esse tempo todo? – Jacob pergunta, mas ele não parece estar chateado por esperar.

— Arrumando livros velhos. – bufa Leah. – Eu devo ter poeira até na minha calcinha.

Eu rio.

— Se nós vamos fazer isso por mais quatro dias eu preciso trazer lanches. – Jacob suspira, o que me lembra que meu próprio estomago está vazio.

A jornada para casa é silenciosa, provavelmente todos estão pensando em seus próprios estômagos. Eu tenho vontade de abrir o caderno de desenhos emprestado para me distrair, eu sou um pouco impaciente, mas eu não sei o que Alice pensa de outras pessoas verem seus desenhos, então eu decido esperar até chegar em casa.

— O que você acha que Sam vai falar? – Leah pergunta, e eu repentinamente me lembro de toda confusão que passamos hoje. Minha fome me fez esquecer sobre isso.

— Ele não pode nos tirar da escola. – Jacob responde, tranquilo.

— Ele não pode tirar você da escola. – Leah resmunga.

— Nem vocês. Ele não é o nosso dono. – retruca Jacob.

Eu não digo nada, pois eu não conheço Sam Uley muito bem. Eu sei que ele é o líder da tribo, juntamente com cinco anciões, mas não tenho nenhuma familiaridade com ele. A única vez que eu conversei com ele foi no dia em que cheguei á La Push, aos 14 anos de idade, e ele junto ao tio Billy haviam me dado as boas vindas e me explicado as regras da tribo. Minha mãe havia morrido e eu fui obrigado á vir para La Push. Eu nunca tinha pisado em Forks, nem conhecia minha família da parte materna, os quileutes, na época. Minha mãe passou toda minha infância dizendo que eu nunca deveria procurar pela família dela, que eu devia ficar longe da tribo, então eu estava um pouco assustado quando fui obrigado á vir para La Push, imaginando que tipo de família louca minha mãe tinha. No quesito loucura eu fiquei um tanto desapontado, os quileutes eram bastante normais; um tanto atrasados mentalmente e tecnologicamente, mas não havia nenhum louco, assassino na família – o pior deles, Paul, era apenas um garoto irritante e homofóbico. Eu pensei que minha mãe estivesse louca ou houvesse inventado historias para me manter longe da sua família.

Aos 16 anos, no entanto, acho que eu descobri o motivo pelo qual minha mãe me queria longe de La Push. Meu corpo mudou sem a minha permissão, eu estava assustado e completamente no escuro, sem saber porquê havia acontecido isto comigo. Eu estava com tanto medo de mim mesmo que eu pensei que me matar seria a melhor opção – e então eu descobri que eu tinha uma regeneração incrível digna de Wolverine. Cortar os pulsos não resolveu nada.

Eu comecei a observar minhas diferenças físicas e comparar com os outros quileutes então – a força, a invulnerabilidade ao frio, essas eram características mais obvias. Eu comecei a desconfiar que talvez fosse algo relacionado á tribo, o motivo pelo qual minha mãe não queria que eu viesse para cá, mas eu nunca fiz perguntas. Ninguém nunca me disse nada também, mas eu tenho certeza de que há algo de anormal nos quileutes. Se eu sou o único lobo, no entanto, eu prefiro não dizer nada á ninguém. Pelo menos eu acho que não sou o ultimo estranho.

— Vamos esperar você amanha. – Leah avisa quando chegamos á reserva.

— Tudo bem. Obrigado pela carona. Até amanhã! – me despeço.

Quando eu chego em casa a primeira coisa que faço é tirar o caderno de desenho da mochila e colocar na mesa da sala. A casa está silenciosa, tudo no mesmo lugar em que deixei, e eu ainda acho estranho – não acostumado a morar sozinho ainda. Eu herdei a casa da minha mãe, então não havia muito sentido impor minha presença á casa do tio Billy, quando ele e Jacob já moravam no lugar apertado.

Em seguida eu corro para a cozinha, encontro um pacote de biscoitos e como inteiro com suco. Não é muito alimentício, mas vai ter que servir; eu não posso jantar agora, ainda é muito cedo. Com o estomago meio satisfeito, eu amarro o meu cabelo e me preparo para tomar banho. A água fria não faz nada para esfriar meu corpo. Isso é um bônus de ser lobo, eu não preciso de chuveiro elétrico. Eu coloco meus pijamas, após o banho, então sento no sofá da sala para finalmente satisfazer minha curiosidade e olhar para o caderno. Minha mente artística está empolgada.

Os primeiros desenhos são principalmente de roupas; como Alice disse, esse parece ser o seu principal interesse artístico. Seus traços são muito precisos, tanto no esboço quanto na pintura. A escolha de cores dela também é excelente.

O primeiro desenho diferente que vejo é quase no meio do caderno. É um desenho apenas de lápis de uma casa de dois andares, cercada de árvores e com paredes de vidro. É um cenário bonito que ficaria lindo num quadro. Eu não tenho certeza se é realmente de Alice, no entanto, porque os traços são muito diferentes dos seus desenhos de moda. Parece um pouco apressado, e sem cores, no entanto ainda é perfeito. Depois há um desenho colorido de um homem e uma mulher sentados num sofá, os dois são loiros. Há um de um menino tocando um piano. Alice deve ter uma imaginação incrível, ela é muito boa em desenhar pessoas de forma realista. Eu viro a página, admirado.

O próximo desenho faz meu coração quase parar.

— Que droga é essa?

É um lobo extremamente realista. O desenho é branco e preto, então eu não sei dizer qual a cor. Eu estou levemente chocado, isso é inesperado. Eu olho por um longo tempo, analisando cada traço. É muito bonito. Eu viro a pagina com dificuldade, então estou mais surpreso. Há vários lobos, eu conto oito no total. Estou começando a ficar preocupado. Não há como isso ter a ver com os quileutes, certo? A transformação é um segredo tão bem guardado que nem mesmo eu, que sou da tribo, ouvi falar. Alice deve ter um gosto por lobos.

Os desenhos voltam a ser sobre roupas, dessa vez masculinas. Não há nenhum outro animal, o caderno termina em roupas, e ainda há muitas folhas em branco para serem desenhadas. Eu tento não ficar preocupado, tudo não deve passar de coincidência. Os Cullen acabaram de chegar á cidade, não há como isso ter nada a ver com a tribo.

Eu olho para minha caixa de tinta, então. Alice quer ver alguma das minhas pinturas. Eu trouxe poucas quando me mudei,e pintei menos ainda depois de chegar á Forks. Todos os antidepressivos que eu tive que tomar depois da morte da minha mãe realmente eram um buraco negro pra minha inspiração, então eu não tenho nada recente. Eu gosto de pintar principalmente em tela, mas acho que ainda lembro como pintar no papel, e eu não acho que Alice ficará chateada se eu usar uma folha do seu caderno.

Eu pego meus pinceis limpos e tinta, penso por um momento e então começo a pintar. Eu acho lindo desenhos, mas a pintura é o que verdadeiramente me encanta.

Duas horas depois, eu termino minha terceira pintura e me espreguiço, minhas costas doem de pintar inclinado sobre a mesinha da sala. Meu estomago também ronca, então vou ao banheiro lavar as mãos e depois á cozinha ver o que há para jantar. Essa é uma das horas que minha mãe faz mais falta – ela sempre cuidava da comida. Eu sou péssimo na culinária então parece que vai ser macarrão instantâneo de novo. Eu coloco a água pra ferver, termino de arrumar a sala e então como meu macarrão. É um jantar silencioso como sempre. Eu tomo os dois comprimidos antidepressivos como faço todas as noites – não que essa porcaria pareça ter algum efeito depois que eu me tornei um lobo.

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Eu lavo a louça, escovo os dentes e finalmente me deito para dormir.

(...)

Os meninos e Leah estão me esperando de manhã, como ela disse que fariam. Eu estou um tanto agradecido – é um pouco cansativo ter que tirar a roupa, transformar, chegar á escola sem ser visto, transformar novamente e me vestir novamente. Nos primeiros dias havia toda a novidade de correr tão rápido como um carro, mas agora só restou a irritação de fazer todo esse processo todos os dias.

— Bom dia. – eu cumprimento eles.

Hoje eu amarrei meu cabelo num rabo de cavalo, então subo na parte de trás da caminhonete. Embry resmunga e entra na cabine junto com Leah, então Jacob dá a partida. O percurso será muito mais devagar do que eu correndo, mas acho que será menos solitário.

— E ai cara. – Quil aperta minha mão, no que eu imagino que é uma saudação de meninos.

— E ai. – eu respondo.

— O que você vai fazer esse fim de semana? – ele pergunta.

— Hum... – eu finjo pensar, embora já saiba a resposta. – Ficar em casa, estudar, lavar roupas, o de sempre.

— Legal. – ele diz, mas parece pensar o contrario. – Vamos fazer a fogueira na sexta, você devia vir.

— Oh, que horas?

— Ás 20h. Brian e Bella virão, você deve vir. Emily vai cozinhar.

— Okay, eu irei. – concordo.

Não é como se eu tivesse coisas melhores para fazer. E comida que não é macarrão instantâneo também é um grande incentivo. Fogueiras são legais. Eu apenas fui em uma, porque como eu não conhecia ninguém não era tão divertido pra mim. E também havia Paul Lahote, que era alguém que eu não queria estar perto, então eu sempre evitava essas socializações da tribo. Quil, Embry, Jacob e Leah estão bem, no entanto. E Brian Swan, ele sempre fez questão em falar comigo desde que me viu pela primeira vez. Eu não sei qual é sua relação com a tribo, mas ele esta sempre junto com os meninos.

Chegando á escola, eu sento com os quileutes também no refeitório. Eu tenho medo que se eu tentar sentar em outro lugar Leah vai querer me bater. Eu estou inalando a comida nos cinco primeiros minutos, o macarrão instantâneo definitivamente não é comida suficiente para mim desde que me tornei lobo, mesmo que eu coma quatro ou cinco pacotes.

— Então, alguém falou com Sam? – eu pergunto quando consigo fazer uma pausa.

— Sim. – Jacob responde. – Ele nos disse para manter nossa cabeça no lugar e não arrumar problemas.

— Só?

— Ele também disse que vamos voltar pra escola da reserva se não nos comportarmos. – Leah resmunga e meu coração cai para o meu estomago. Eu não posso voltar para a escola da reserva, o ensino lá é muito atrasado.

— Sim, então acho bom ficarmos juntos para evitar acidentes. – Jacob diz, olhando para mim. – Não que seja sua culpa, Adam, mas você andar sozinho vai apenas atrair esses idiotas que pensam que podem intimidá-lo.

Eu concordo e volto para meu sanduiche. Leah me cutuca:

— Nós sempre podemos bater neles fora da escola.

Eu sorrio.

Bella e Brian são os próximos a chegar, e em seguida os vários humanos que eu não conheço que se sentam com os quileutes. Leah não parece gostar de nenhum deles, e Jacob parece ter olhos apenas para os irmãos Swan, então eu sinceramente não entendo porque sentamos com esses alunos.

Quando os Cullen entram há um obvio virar de cabeças e alvoroço, como no dia anterior. Eles não falam com ninguém e sentam sozinhos novamente.

— Alguém conheceu as novas crianças? – Brian pergunta, com um olhar interessado.

— Eu disse olá para a loira, mas ela é tão esnobe. – Lauren responde com desgosto. Eu acho que é inveja.

— O garoto Emmett é legal. – Mike fala. – Definitivamente temos que recrutar ele para o nosso time.

— Bem, eu dei as boas vindas á Alice, ela é muito simpática. – Jéssica fala.

— Argh, só eu não conheci ninguém ainda? – Brian reclama.

Eu me mantenho quieto, não é como se eu conhecesse Alice, a gente apenas se falou brevemente. Eu olho para a mesa deles novamente, eles parecem estar conversando algo divertido, pois todos estão rindo. Eu entendo um pouco do fascínio dos estudantes, os cinco são muito bonitos, como aquelas pessoas que você vê apenas na capa de uma revista.

O sinal toca e eu automaticamente enfio meu pedaço de sanduiche na boca, já levantando e pegando minha mochila.

— Até mais tarde!

Eu sou um dos primeiros a chegar na sala. Trigonometria é uma das minhas matérias favoritas. Eu estou tirando meu caderno da mochila quando a cadeira ao meu lado é arrastada.

— Oi Adam! – uma voz alegre me cumprimenta. É Alice Cullen. – Estamos na mesma aula de novo.

— Oi. – Estou surpreso, não esperava encontrar Alice tão cedo.

— Eu trouxe seu caderno. – ela diz. – Muito obrigado.

— Oh, de nada. Você conseguiu copiar tudo?

— Sim, meu irmão me ajudou.

— Ah. Eu trouxe seu caderno também. Eu gostei muito, obrigado por me emprestar.

— Sim? De nada. Que bom que você gostou.

— Eu fiz uma pintura pra você. – Na verdade foram três. Eu espero que Alice não se importe. Eu estava inspirado depois de ver seus desenhos.

— Mesmo? Eu posso ver agora? – ela pergunta, ansiosa.

— Sim, eu fiz no seu caderno, espero que não se importe.

— Oh, então eu vou poder ficar pra mim?

— Se você gostar, sim.

— Muito obrigada.

Alice abre o caderno e eu estou um pouco ansioso. Eu sou um tanto tímido para mostrar minhas pinturas para os outros.

A primeira pintura que é a casa que Alice desenhou. Bem, eu usei o desenho dela como inspiração, mas as cores são totalmente minhas, já que o desenho dela era preto e branco. A segunda pintura foi inspirada no seu desenho do lobo. Eu fiz um lobo marrom avermelhado correndo na floresta. O terceiro é totalmente minha criação, é a fogueira azul da praia de La Push. Foi uma das coisas que eu mais gostei na praia, o fogo é azul quando queimamos os galhos.

— Eu absolutamente amo isso. – Alice diz e ela parece verdadeiramente impressionada. – Você estava sendo modesto, você é um artista.

Eu sorrio, feliz que Alice gostou. Ela é uma das primeiras pessoas á quem eu mostro minhas pinturas e ela tem um talento próprio expeccional, então se ela diz que é bom, eu posso confiar em sua palavra.

— Eu posso mostrar para Jasper? – ela pergunta.

— Quem é Jasper? – Eu tenho uma leve ideia.

— Ele é meu irmão pintor.

— Tudo bem.

Ela olha para a pintura de novo.

— Obrigada, eu amei isso.

— Bom dia! – o Sr. Tanner finalmente chega. – Acorde Srta. Mallory. Brad, guarde o celular. Você, quem é a senhorita?

— Eu sou Alice Cullen.

— Bom, seja bem vinda. Não use o celular ou fique vendo revistas escondido sob a mesa e nos daremos bem. – ele fala.

Eu olho para a mesa automaticamente, mas Alice guardou o caderno de desenho.

— Sim senhor. – ela concorda. O professor vira para mim.

— Alan Black, onde nós paramos na aula passada?

Eu não me dou o trabalho de corrigi-lo sobre o meu nome, ele sempre esquece isso. Não por maldade, o Sr. Tanner apenas é assim, um homem um tanto esquisito. Ele sempre parece esquecer onde ele parou a matéria. Pelo menos ele me trata segundo minha inteligência e não segundo minha aparência.

— Estamos estudando Fórmulas Derivadas das Fundamentais, paramos na fórmula Cotangente. – respondo.

— Ótimo, ótimo. – ele volta para a frente da sala. – Pagina 64 do livro, então.

Eu abro meu livro. Embora o Sr. Tanner seja um homem um tanto estranho, suas aulas são muito interessantes. Eu estou preso em cada palavra até o final da aula.

O sinal toca então eu começo a guardar meu material para ir para a próxima aula.

— Isso foi interessante. – eu digo para Alice. – Você já estudou sobre isso?

Eu não recebo nenhuma resposta, então olho para Alice, pensando que ela não me ouviu. Ela está parada com o estojo na mão, com um olhar vago e um tanto familiar no rosto. Parece que seu corpo esta ali mas sua mente foi muito longe.

— Alice? – eu chamo, um pouco preocupado. Ela pisca e então me olha. Isso foi rápido.

— Você esta bem? – pergunto.

— Estou bem Adam – Ela larga o estojo e começa a procurar algo na mochila.

— Você estava… Você parecia como se estivesse em transe. – eu digo, preocupado. Eu não sei como explicar, apenas é muito estranho.

— Desculpe, não queria assustar você. – ela diz com um sorriso de desculpa.

A sala esta ficando vazia, eu sei que vou me atrasar para a próxima aula, isso não é absolutamente da minha conta mas estou preocupado.

— O que aconteceu? Você está doente? Você precisa ir á enfermaria?

— Eu não estou doente – Ela parece aliviada quando encontra o celular e começa a discar o que parece ser uma mensagem. – Eu não estou doente, okay, eu só… Eu preciso ligar pra minha mãe agora, me dê 1 minuto.

— Okay.

Eu tento não escutar, mas é um pouco difícil já que Alice esta na minha frente. Eu termino de guardar minhas coisas.

— Mãe, há uma entrega chegando, tire Bree de casa. Tudo bem, há tempo. Eu te amo. – Ela desliga então sorri pra mim. – Vamos, eu vou te acompanhar para sua próxima aula.

Alice está com seu sorriso radiante e despreocupado de volta. Eu acompanho ela, esperando alguma explicação. Eu tenho a impressão que não vou receber uma tão fácil.

— Eu meio que não posso falar sobre isso agora, mas eu não estou doente okay? – ela diz.

— Mas não é perigoso você entrar em transe assim de repente?

— Não se preocupe com isso Adam, eu garanto que estou bem. Não é nada perigoso, okay?

Eu decido não insistir, Alice obviamente não esta confortável em falar sobre isso. Se é algum tipo de doença física ou mental, ela obviamente não quer comentar, então eu respeito isso.

— Obrigado pela pintura. – ela agradece novamente, quando paramos em frente á sala de Biologia. – Vejo você amanhã.

Ela se vira e se afasta rápido demais.

Estou um pouco confuso. Temos aula juntos amanhã?

Eu entro na sala e sorrio ao ver meu parceiro. Biologia é a minha aula favorita, porque é uma das poucas aulas que eu tenho um parceiro; eu sento com Brian Swan. Ele é um garoto que parece ter déficit de atenção, nunca presta muita atenção na aula mas é extremamente inteligente.

— Oi Brian. - eu cumprimento ele e sento ao seu lado.

— Ei Adam. Você esta atrasado. – ele observa. – Alguém te deu problemas?

Além de inteligente, Brian também é uma das pessoas mais protetoras que eu já conheci. Eu me sentiria ofendido se não soubesse que ele é assim com todos, ate com Jacob que é maior do que ele.

— Ninguém me deu problemas. – eu digo. – Eu estava ajudando uma aluna.

Mais ou menos. Eu estava tentando, pelo menos.

— Oh, fazendo amigas? – Brian me da um olhar malicioso.

— Eu conheci Alice Cullen – eu revelo.

— Serio? Ela toca algum instrumento?

— Eu não sei, eu não perguntei. Mas ela é legal. – Legal é pouco, Alice é umas pessoas mais amigáveis que já conheci. Mesmo que ela se vista como se morasse em Nova Iorque e use bolsas que custam uma fortuna, ela é muito simpática. Eu me pergunto o que uma família como a dela, que grita riqueza desde a forma como se vestem até a forma como se movem, veio fazer em Forks.

— Bem, pergunte á ela da próxima vez se ela toca. – Brian pede.

— Okay. – eu concordo. Alice disse que irá me ver amanhã, então eu acho que teremos alguma aula juntos, afinal.