A M O N G U S

G O O D B Y E U S


O ministério caiu. O ministro está morto. Eles estão vindo.

Ou sobre o início do fim

Hinata estava nervosa, com as mãos suando, e limpava-as a todo momento em sua saia plissada. Não era como se nunca tivesse ido a um encontro – ao menos, com os idiotas que seu pai obrigava-a a ver –. Mais que isso, sequer considerava aquilo um encontro. Era mais como uma conveniência para ambos. Teria de sair de casa de qualquer maneira no dia seguinte, e precisava mesmo repor alguns materiais de seu estoque particular. Tentou se convencer daquilo durante todo o trajeto até o grande centro de Londres, mas não conseguia evitar que seu estômago desse voltas.

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As férias de verão passaram com uma rapidez vertiginosa, embora a Hyuuga não tivesse visto muito da luz do dia. Passou a maior parte das manhãs e tardes trancada em seu quarto, fazendo suas refeições na pequena escrivaninha, e a maior parte das suas noite passeando pelos jardins, à espreita. Ficava sob os salgueiros, ou no parapeito da janela, quando o tempo estava fresco o suficiente. Trocou poucas palavras com Neji, admitindo que ele estava, ao menos, tentando. A situação era outra quanto a seu pai, com que sequer ficara no mesmo cômodo, pelo resto das semanas que se seguiam. Nenhum dos dois lamentou a situação, o patriarca Hyuuga ocupado o suficiente com seu cargo importante no gabinete do Ministério para implorar a atenção da única filha, que, satisfeita, ficava fora de seu caminho.

Hinata chegou a pensar – inocentemente, admitia – que, depois de tudo que acontecera, a situação mudaria, e seu pai se esforçaria, ao menos, para demonstrar algum tipo de sentimento paternal para com ela. Doce engano. Aparentemente, nenhum de seus esforços ao longos dos últimos dezessete anos foram inúteis. Hinata continuava errada, não importava o que fizesse. Trancada em seu quarto, não deixou de pensar, muitas vezes, no quanto sentia falta da mãe.

Por sorte, a garota tinha outros assuntos com que ocupar a cabeça. O grifinório insistiu em mandar-lhe cartas constantemente, e, depois de sua coruja quase ser interceptada por um dos funcionários, Hinata resolveu responder uma de suas cartas. Ninguém havia lhe ensinado a expressar seus sentimentos corretamente, então ela se empenhou o máximo que conseguiu. Não poderia cobrar mais de si, todavia, pelo tom das cartas que chegavam quase diariamente, o Uzumaki parecia mais que satisfeito. Hinata sorriu sozinha mais vezes que considerava saudável.

Em um de seus últimos contatos, Naruto pareceu convincente em sua ameaça de aparatar no meio da residência Hyuuga, e Hinata teve que, por fim, concordar em se encontrarem. Propôs que o fizessem no último dia de agosto. Poderiam sair, e, em seguida, irem para o Beco Diagonal. Se hospedariam no Caldeirão Furado e seguiriam juntos para King Cross. Foi a melhor proposta que conseguiu pensar, e suspirou aliviada quando a resposta chegou, positiva.

Não foi difícil despistar Hiashi. Esperou até que ele tivesse saído, pela manhã, e arrastou seu malão para baixo, ignorando todos os protestos dos funcionários e dos elfos domésticos que tentavam, mais uma vez, impedir que a fúria do Hyuuga caísse sobre eles. Hinata passou reto, e Neji apenas despediu-se com um aceno, sabendo que era uma guerra perdida tentar impedir a prima.

A garota chamou por um táxi trouxa, lamentando-se por não poder usar sua vassoura ou não ter habilitação para aparatar. Despachou o malão com um feitiço simples, levando-o diretamente para o Caldeirão Furado, não tendo que se preocupar com seus pertences. Encaminhou-se, então, para Westminster. O Big Ben era o ponto de encontro mais fácil entre eles.

Hinata já estava esperando há alguns minutos, com a grande torre do relógio badalando em algum ponto atrás de si. Olhava para os lados, preocupada, sobretudo, com o Uzumaki tomando atitudes precipitadas. Sendo um nascido-trouxa criado em um condado menor, teve medo dele simplesmente aparatar no meio da Praça do Parlamento. Além disso, não estava muito confiante consigo mesmo, e começara a irritar-se com seu constante e ridículo nervosismo.

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Entretanto, avistou, de longe, um emaranhado de fios loiros caminhando em sua direção, e respirou aliviada, livrando-se de uma de suas preocupações. Avaliou-o, enquanto se aproximava, e aprovou suas roupas, mesmo que ligeiramente alternativas. Eram poucos os homens que conhecia que ficariam bem em uma calça de linho escura. Usava uma camiseta branca que destacava sua pele amorenada – muito mais que Hinata se lembrava da última vez; o verão fizera bem a ele –, e ele trazia seu malão consigo. A garota reprimiu um sorriso, tentando se concentrar em sua máscara de indiferença. De qualquer maneira, não era como se não desse para ouvir as batidas altas e descompassadas que provinham de seu peito.

Quando se aproximou, Naruto deixou seu malão no chão, andando em passos mais calmos, até que ficasse frente a frente com Hinata. Sorria como uma manhã de natal, não sabendo o quanto sentira falta da morena até aquele momento. A Hyuuga sentiu-se acanhada com um sorriso tão largo, e, para se esconder, puxou-o logo para um abraço. Sentiu seus braços firmes contra suas costas, e agarrou seu pescoço, não segurando um arfar surpreso quando foi tirada do chão. Além de mais alto e mais velho, o grifinório também estava mais forte. Permaneceram abraçados por incontáveis minutos, e, quando se afastaram minimamente, com Hinata já de volta ao chão, Naruto colou seus lábios sem aviso prévio. A Hyuuga, novamente, surpreendeu-se, e seu cérebro derreteu um pouco quando sentiu o velho gosto agridoce. Não passou de um beijo casto, rápido, mas suficiente para matar a saudade.

Hinata afastou-se, subitamente nervosa, olhando para os lados preocupada. Milhares de pessoas iam e vinham pelo parque, mas nenhuma parecia interessada no reencontro de um casal de namorados. A Hyuuga demoraria para assimilar que, fora de Hogwarts, fora de casa, era apenas Hinata, e o grifinório a sua frente era apenas Naruto.

— Senti sua falta! – como sempre, o loiro era o mais expressivo dos dois, entrelaçando seus dedos enquanto pegava o malão com o braço livre. Hinata corou ligeiramente, andando ao seu lado.

— Você está atrasado. – resmungou, sem saber o que dizer, e Naruto limitou-se a rir, os olhos fechando-se um pouco, por conta do sol que incindia diretamente sobre elas. Hinata não conseguiu deixar de pensar que aquela era uma bela cena.

Caminharam um pouco até encontrarem um banco livre, próximo a uma sombra. Sentaram-se, e Naruto deixou a mala perto de seus pés, enquanto Hinata o observava, sem saber o que falar. Estava nervosa, mais que o normal, e o sol das dez da manhã a fazia suar na testa.

— Você não está com calor? – Naruto perguntou, com seu bom humor habitual, e Hinata sentiu um frio na espinha. Estava usando uma blusa preta, de mangas translúcidas, e abotoada até o pescoço, de tecido fino. Embora seu cabelo estivesse preso firmemente em um rabo de cavalo alto e ela usasse saia, o tom predominantemente preto era incomum para o auge do verão – Quero dizer, não é que você não esteja linda, porque você está linda, mas está realmente quente. – emendou o garoto, a medida que Hinata corou nas maçãs, desacostumada a receber elogios tão diretos. No entanto, parte de si entristeceu-se.

A cicatriz em seu braço ainda era demasiada recente para que ela pudesse um feitiço forte de desilusão, então tinha que usar mangas compridas para esconder a Marca Negra, especialmente – e principalmente – na presença de Naruto. Com o tempo, e ela esperava que até o início das aulas, nas próximas 48 horas, ela fosse capaz de manter o feitiço na maior parte do tempo, mesmo que consumisse muito de sua energia. Não podia deixar que as pessoas vissem, então, naquela manhã, estava suportando o calor do verão, mesmo que o preto não a incomodasse, de fato.

Ouvir Naruto a elogiar por suas roupas, mantendo por trás delas uma justificativa tão baixa, foi o que realmente a deixou infeliz. No entanto, lutou para não demonstrar nada, e conseguiu abrir um sorriso no canto da boca. O grifinório, se percebeu algo, não disse.

— Estou acostumada a usar roupas escuras. – deu de ombros – Você também está muito... – parou por alguns instantes, forçando-se a dizer – Bonito. – Naruto a fitou com o maior dos sorrisos, pois sabia como era difícil para a sonserina demonstrar quaisquer tipos de sentimentos. Passou um braço pelos seus ombros, mantendo-a perto de seu corpo, e Hinata permitiu-se apoiar a cabeça em seu peitoral – Como foram suas férias? – perguntou, polidamente, procurando puxar assunto de maneira casual.

A verdade era que as férias de Naruto foram as melhores. Apesar dos acontecimentos negativos do sexto ano, muitas coisas boas haviam acontecido, e o garoto mal via a hora de contar para os pais. Estava morrendo de saudades – sempre fora muito caseiro e familiar, e, diante da perspectiva de passar grande parte do ano fora apenas aumentava o sentimento –. Passara a maior parte do tempo sendo mimado pelos empregados da fazenda e realmente sentira falta dos trabalhos manuais, como ajudar o pai no arado, ou cuidar dos animais dos estábulos. Era reconfortante estar em contato com o campo novamente. Mostrara aos pais suas novas habilidades de aparatação, deixando-os impressionados, e o ambiente familiar na hora do jantar era acolhedor. Mesmo com a inquietação de falar com Hinata e os problemas insuperáveis com o irmão, Naruto sorria ao se lembrar das últimas semanas.

Mas ele não podia dizer aquelas coisas. Não sabia exatamente qual era a história, mas tinha ciência que Hinata odiava cada segundo passado com sua família. Suas cartas eram breves e vinham sempre com o mesmo tom melancólico e desanimado. Narurto conhecia as histórias e os rumores que percorriam os corredores do castelo acerca dos Hyuuga, e cada contato apenas comprovara mais que os boatos eram mais que boatos. Não podia dizer para a sonserina o quanto suas férias haviam sido incríveis, porque não queria magoá-la ou deixá-la triste. Queria que aproveitassem cada momento daquele encontro, e, infelizmente, importava-se muito àquela altura do campeonato.

— Foram boas. – fitou a morena, que o olhava com singela curiosidade e atenção. O loiro sorriu, e não se atreveu a perguntar sobre as férias dela. Resolveu mudar de assunto: – Eu realmente não sei o que fazer com essa mala enorme. – seus olhos pediam desculpas, envergonhado, e ele se surpreendeu quando Hinata riu. Não sarcástica ou debochada, mas espontaneamente um riso de graça – O que foi? – ele não estava bravo de verdade, estava adorando ver seu rosto se contrair em pequenas rugas ao redor dos olhos.

— Eu posso cuidar disso para você. – Hinata puxou a varinha da lateral de sua bota militar, e, com um gesto rápido de mudo, o malão desapareceu. Naruto olhou para os lados, assustado que alguém tivesse visto a cena, mas aparentemente ninguém se importara o suficiente para ver uma mala desaparecer. Então, votou-se para a morena com o rosto em desespero, e ela tratou de tranquilizá-lo – Eu enviei para o Caldeirão furado, junto com a minha, assim você não vai precisar carregar para todo lugar. – o Uzumaki estava admirado. E, em seguida, confuso e ligeiramente apavorado.

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— Não é proibido usar magia fora de Hogwarts? – perguntou, com a voz algumas oitavas mais alta. Sabia que a aparatação era um caso a parte, e já havia usado magia antes, mas inocentemente, como Lumus ou Locomotor. Hinata resistiu a vontade de rir novamente.

— Naruto, ninguém vai ser mandado para Azkaban por isso. Eles dizem para que evitemos usar magias chamativas na presença de trouxas, ou abusar. Não tem nada de errado em um feitiço para teletransportar um malão. – sua voz era agradavelmente doce, e Naruto desejou ter mais dúvidas, apenas para ouvi-la explicar tão pacientemente.

O casal decidiu, por fim, iniciar um passeio pelos pontos turísticos da maneira tradicional. Hinata não estava acostumada a andar no grande ônibus vermelho, e ela particularmente odiava as pessoas esbarrando nela, mas não conseguiu negar quando Naruto a fitou com os olhos pedintes e um bico. Suspirando, ela fez o esforço de apertar-se entre duas senhoras, na parte mais alta do ônibus, e o vento em seu rosto a fez esquecer de tudo – talvez, exceto, pelos dedos cuidadosamente entrelaçados entre os seus.

Visitaram a London Eye, embora não tivessem conseguido andar na roda-gigante. Visitaram a Torre do Relógio e o Palácio de Buckingham. Almoçaram em um calçadão vitoriano simples, e Naruto apresentou à Hinata seus pratos preferidos. A Hyuuga nunca em sua vida tinha provado tantas maneiras de fazer batatas, e deliciou-se com as massas ao molho. Tomaram sorvete trouxa, um pouco menos macio que o sorvete do Florean Fortescue, e passearam de mãos dadas o tempo todo.

Hinata estava um pouco desorientada, e não gostava disso. Ela tinha noção do espaço a sua volta, mas seu cérebro simplesmente não conseguia relaxar enquanto sentia o calor que emanava da mão grossa e um tanto áspera sobre a sua. Sua voz era animada, e ele apontava o tempo todo, chamando atenção e arrancando risos involuntários dela. Hinata não gostava disso, porque ela estava feliz demais, e aquilo era perigoso. Ela nunca havia experimentado sentimento igual, e tinha medo de estar se viciando.

O dia passou com rapidez, enquanto se esforçavam para visitar todos os grandes monumentos, enfrentando as filas e o apinhado de pessoas, debaixo do sol escaldante de agosto. Quando já passavam das quatro, pararam próximos a uma ruela sem saída, descansando recostados na parede, enquanto Naruto depositava o braço despreocupadamente sobre os ombros da morena. Estavam um pouco sem fôlego, mas felizes. Fora um dia proveitoso.

— Amanhã voltamos para Hogwarts. – o Uzumaki comentou – Sétimo ano.

— Pois é. – Hinata concordou, sabendo ao que ele se referia.

— Vamos fingir que nos odiamos? – perguntou diretamente, torcendo para que a resposta fosse negativa. Mesmo que os encontros furtivos tivessem certa adrenalina, ele queria poder abraçá-la nos corredores, apresentá-la para seus amigos.

— Acho que não precisamos. – a sonserina suspirou, com uma dor de cabeça antecipada por pensar no que as pessoas diriam – Mas nós podemos ir devagar, certo? – sugeriu, e, embora Naruto não estivesse totalmente feliz, sabia que era o melhor que conseguiria. Com um resmungo, assentiu, e Hinata sorriu satisfeita.

— Ok, que tal irmos para o Beco Diagonal? Ainda não comprei meus livros. – soltou um gemido triste, e a Hyuuga assentiu fervorosamente. Caminharam para a lateral do beco, desprovida de luz e transeuntes – Segura firme. – seu sorriso era zombeteiro, e Hinata engoliu em seco, passando o braço firmemente pela cintura do loiro.

Por alguns segundos, desconfiou que era apenas uma desculpa para que o grifinório a tivesse agarrada junto a ele, mas, quando piscou, sentiu todo o corpo ser repuxado dolorosamente. A sensação durou cerca de milésimos, e a vertigem passou com a mesma velocidade que veio. Apesar de estar treinando nas aulas de aparatação, ainda não se acostumara com as viagens. Pousaram ruidosamente em um corredor cheio de muros de tijolos. Naruto parecia tranquilo, mas continuou apoiando a garota depois que aterrissaram, enquanto ela recobrava os sentidos.

— Odeio isso. – a garota resmungou, alinhando a sala e o cabelo, enquanto Naruto a fitava, rindo.

Hinata puxou a varinha novamente, batendo nos tijolos corretos no muro à sua frente. Depois que finalizou a sequência, a parede começou a se mover, abrindo-se em uma passagem para o Beco. Atravessaram rapidamente, trombando com uma bruxa de capa de um olho só. O Beco parecia sempre mais iluminado e alegre que o mundo dos trouxas, e Naruto, particularmente, adorava passear pelas ruelas de lojas sem fim. Ainda se lembrava de quando comprou seus materiais escolares, no primeiro ano. Hinata, por outro lado, tinha lembrança bem desagradáveis, mas o braço do Uzumaki em suas costas a deixava ligeiramente mais tranquila, pronta para novas memórias.

Começaram a andar, próximos, olhando as vitrines e comentando. Hinata tinha alguns galeões consigo, mas passaram em Gringotes para que Naruto retirasse de seu cofre de poupança. Teve que convencer o garoto a não gastar dinheiro em um conjunto de Snaps Explosivos de ouro, edição limitada, e suspirou ruidosamente quando ficaram mais de quinze minutos admirando um conjunto de vestes de Quadribol. Apesar disso, sempre que fitava o grifinório, e seus olhos sempre admirados, não conseguia deixar de sorrir, com um sentimento bom aquecendo seu peito.

Compraram seus livros e Hinata repôs seu estoque particular de raízes para Poções. Por ser o último dia antes da volta às aulas, imaginariam que topariam com mais alunos, mas o fim da tarde deixou o Beco tranquilo, e puderam aproveitar sem preocupações. Quando o sol finalmente se pôs, caminharam até o Caldeirão Furado, com seus materiais todos preparados. Pegaram seus malões, cuidadosamente guardados em um dos cantos escuros da pensão, e alugaram um quarto para ambos. Não se dariam ao trabalho de fingir que dormiriam em quartos separados. Aquela era a última noite em paz que teriam, juntos, sem precisarem fingir nada. Especialmente Hinata.

Tomaram um banho e se aconchegaram na cama de casal, com Naruto abraçando-a pela cintura. Não haviam colocado roupas, e seus corpos nus queimavam, tão próximos. O grifinório beijava o lóbulo da Hyuuga, que sentia o pescoço arrepiar-se, e suspirava baixo. Nunca se acostumaria com a presença tão forte do loiro. Era difícil ter um tempo para ela – para ambos – e saber que ninguém iria atrapalhá-los. Apenas por uma noite, poderia fingir que nada mais importava. Que seu antebraço não queimava e coçava, e que seus olhos não estavam vermelhos de chorar.

— Prometo que, mesmo em Hogwarts, não vamos nos afastar? – Naruto murmurou em seu ouvido. Não era necessário falar alto, e os sussurros tornavam a atmosfera ainda mais íntima. Com a garganta fechada, Hinata se virou, abraçando-o pelo pescoço e beijando-o, sem dizer nada. Naruto se surpreendeu com a atitude, mas não a afastou.

— Eu prometo que não vou deixar nada entre nós. – sua voz estava embargada. Há tempos que ela não se deixava mostrar tão frágil, e o Uzumaki apreciou aquele momento, abraçando-a, como se quisesse protegê-la.

Naquela posição, dormiram. Cochilaram e acordaram várias vezes pela noite, sempre tocando um ao outro, e, pela manhã, não se sentiram cansados.

Naruto tentava se concentrar em sua lição de Poções, mas não conseguia os trinta centímetros de pergaminho que faltavam. Tentava dissertar sobre os benefícios da Pedra da Lua, e conhecia uma pessoa que era muito boa em Poções e certamente poderia lhe ajudar, mas ela estava em algum lugar das masmorras, um dos motivos, este, que não o deixava aplicar-se.

Parecia que meses haviam se passado, mas estavam no castelo há apenas uma semana. Uma semana desde a noite na pousada, uma das melhores da sua vida. Suspirou, a pele se aquecendo ao lembrar dos toques macios da garota. Era como um tempo diferente, um mundo diferente. Uma Hinata diferente. No castelo, mal se viam, e, quando trombavam nos corredores, não tinham chance de se aproximar. Naruto via que a sonserina se esforçava para cumprimentá-lo, mas seus amigos – “amigos”, salientava – começavam a provocá-la antes mesmo que ela pudesse falar algo. Em contrapartida, seus amigos sonserinos retrucavam, em contrapartida, tornando o simples encontro um campo de batalhas.

— Por que está suspirando igual um velho, Naruto? – Sakura perguntou, se aproximando com um alcaçuz na boca. A rosada estava mais alta e mais magra, com o cabelo curto e picotado. Ficaram as férias sem se ver, e colocaram as novidades em dia durante as primeiras aulas. Mas, depois de algum tempo, o Uzumaki já havia renovado sua vontade constante de azarar a amiga para que ela simplesmente calasse a boca.

— Tenho que terminar mais trinta centímetros de pergaminho e não consigo. – resmungou, empurrando o tinteiro para longe.

— Você reclama demais. Além de Herbologia, eu ainda preciso praticar para o teste de aparatação no fim de semana. Não sei como você conseguiu passar de primeira. – acusou, e Naruto conseguiu rir.

O sétimo ano era muito mais árduo que imaginaram, e mal começara. Os professores não pegaram leve com as tarefas logo nas primeiras aulas. As turmas se reduziram drasticamente, e ainda haviam alguns alunos que não retornaram para o último ano. Ao que parecia, alguns pais não confiavam em Hogwarts para deixarem seus filhos, e outros ganharam oportunidades de intercâmbio bruxo. Naruto achou tudo aquilo uma besteira sem tamanho. Nenhum lugar do mundo era mais seguro que Hogwarts. Aquele era o último ano – com guerra ou sem guerra, estavam ali para aprender com os melhores bruxos de todos os tempos.

— Onde você estava? – o loiro perguntou.

— Com a professora Tsunade. Ela está fazendo as reuniões admissionais. – Naruto gemeu, desgostoso, tendo esquecido completamente de falar com a diretora. Provavelmente era um dos últimos que sobraram do sétimo ano. Sakura pareceu ler seus pensamentos – Fica tranquilo, ela está na sala dela agora, acho que dá tempo.

O garoto agradeceu e deixou o material sobre a mesa, correndo pelo quadro da Mulher Gorda. Não se importou com o moletom surrado, e o fim da tarde era fresco, o que o surpreendeu, em pleno setembro. Caminhou até o sexto andar, para a sala da diretora, e entrou sem bater. A diretora tomava algo no caneco, com os óculos na ponta do nariz, e levantou a cabeça prestes a xingar quem entrara sem bater, mas parou ao ver o Uzumaki.

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— Quem é vivo sempre aparece. – provocou, com um sorriso, deixando os óculos de lado, e Naruto sorriu, indo abraçá-la. Tinha uma boa relação com a diretora grifinória, construída com o tempo. Parando para pensar, aquele era o último ano em que conviveriam juntos. O pensamento o deixou um pouco deprimido.

— Eu esqueci completamente de vir, me desculpe. – se adiantou, sentando-se na cadeira à frente. A diretora fez um abano com as mãos.

— Não se preocupe! O sétimo ano é realmente intenso. – riram – Como foram as férias com a sua família?

— Melhores impossíveis. – Tsunade estranhou o brilho animado nos olhos do garoto, mas não disse nada, apenas sorrindo.

— Que ótimo! Bem, acredito que esteja aqui pelo exame admissional, certo? – Naruto confirmou com a cabeça, sentindo-se nervoso – Você está na turma avançada de Poções, DCAT e Feitiços. O professor Orochimaru o elogiou sobre suas habilidades com criaturas e o dispensou com um “Ótimo”. – o olhou, orgulhosa e satisfeita, e Naruto corou, envergonhado – Boa pontuação em Herbologia e conhecimento satisfatório em Transfiguração. Inclusive, não tive a chance de parabenizá-lo pela sua aprovação no exame de aparatação. – seu tom se tornava cada vez mais orgulhoso.

— Obrigado, professora. – Naruto estava embargado. Gostava de ser reconhecido, ainda mais pela sua professora preferida.

— Bom, eu não vejo porque não prosseguirmos com nossos planos iniciais.

No quinto ano, todos os diretores conversavam com as turmas para saberem seus desejos iniciais de profissão. A partir do que escolhessem, seriam direcionados, e teriam dois anos para se adaptar ou mudar de ideia. Naruto, desde o começo, havia conversado com Tsunade e se esforçado para se manter acima da média nas turmas e requisitos. Naquele momento, sentia que estava mais perto do que nunca.

— Você sabe que ser auror é um trabalho árduo, não sabe? – a diretora confirmou novamente, e Naruto assentiu, sem medo. O Uzumaki era um dos vários alunos que optaram pela carreira de auror, mas a diretora não tinha nenhum orientando tão promissor. Sabia que Naruto conseguiria um lugar de destaque na próxima turma de aurores, e isso a deixava orgulhosa, e tranquila. O garoto saberia se defender, e seu espírito nobre e justo faria dele um profissional estupendo – Bom, você conseguiu todos os pré-requisitos da escola, e eu posso fazer uma carta de recomendação para Ibiki. – o chefe da seção de aurores era conhecido por ser temível, e Naruto respirou aliviado – O treinamento para aurores é difícil e muitos desistem no meio do caminho, mas, com seu histórico, acredito que se dará muito bem. – terminou com um largo sorriso, e o loiro não poderia estar mais exultante.

— Obrigado, diretora, muito obrigado! – agradeceu verdadeiramente, e Tsunade se emocionou.

— Ora, deixa disso. – disfarçou – Pode ir agora. Prepararei sua carta de recomendação, e, no fim do ano, creio que já terá sua vaga na próxima turma. – o Uzumaki assentiu, animado, e deu um abraço rápido e surpreendente na mulher antes de sair, às pressas. Tsunade se sentou, rindo sozinha, pensando em como Naruto era um nascido-trouxa peculiar.

Naruto caminhava pelo corredor verdadeiramente alegre, quase saltitante. A tarde já se punha e estava escuro. A maioria dos alunos estava no Salão Principal, jantando, e estava silencioso. O garoto pensava no futuro, quando avistou, ao longe, uma silhueta familiar. Sem perder tempo, correu até ela, segurando-a pela cintura e a abraçando com força. O corredor estava vazio, então não se preocupou.

Hinata assustou-se. Estava distraída, e, de repente, sentiu um par de braços em sua cintura, a erguendo e abraçando. Em alguns segundos, sentiu o cheiro conhecido de lavanda, e relaxou, retribuindo o abraço como pode. Afastou-se e foi surpreendida com um beijo rápido, porém intenso. Quase acabou, suas pernas estavam bambas, e Naruto a fitava com adoração.

— Uau, olá. – falou, desnorteada, e Naruto riu da sua reação – Alguém aqui está feliz. – apontou, dando um passo para trás, mas sem tirar desfazer o abraço.

— Acabei de conversar com a Tsunade, sobre minha carreira de auror. Ela está confiante. – Hinata forçou um sorriso, subitamente nervosa. Instintivamente, puxou a manga do suéter para baixo, cobrindo até mesmo suas mãos. Estava se aproximando, mais rápido do que ela esperava.

— Que bom! – parabenizou, em partes realmente feliz pelo loiro, mas uma parte relativamente pequena.

— E você? O que vai fazer quando sair daqui? – os olhos de Naruto estavam claros e determinados, e Hinata não conseguia encará-los.

— Trabalhar no Ministério, talvez. – deu de ombros, disfarçando, e o Uzumaki pareceu não se perceber nada de diferente – Não vamos arriscar. – murmurou, finalmente se afastando, e culpou-se por se sentir triste. Naruto assentiu, também um pouco menos animado.

— Podemos nos ver hoje? – pediu. Hinata estava pronta para negar. Precisava cortar relações, do jeito mais indolor possível, mas como fazer isso, quando seu coração disparava apenas de olhar em seus olhos, e ser incapaz de negar qualquer coisa que ele pedisse?

Desde que voltara, Hinata estava caminhando em ovos, esperando que a bomba-relógio chegasse ao final. Mal vira seus amigos, uma vez que Gaara estava sendo alugado e Sasuke desaparecera misteriosamente. Há poucos dias, encontrara-se com o outro Uchiha, por poucos minutos, o suficiente para que ele explicasse o próximo passo. O Salão Comunal da Sonserina estava em constante tensão, e Hinata reconheceu alguns rostos, e outros mantinham as mangas compridas, mesmo quando de pijamas. Não precisava de muito para entender a situação. Poucos deles recebendo informações, a espera de ordens diretas, mas a Hyuuga tinha conhecimento do que estava para acontecer. Talvez um mês, dois no máximo. Ela estava tentando aproveitar os últimos dias de tranquilidade que teria, e a primeira semana fora o suficiente para fazer sua cabeça doer constantemente. Desejou o último dia de férias tanto quanto conseguiria contar.

Hinata fitava seus próprios pés, com a garganta fechada. Até aquele momento, ela tentou conciliar dois caminhos opostos, caminhando em paralelas, fazendo seu papel, controlando a situação. E, em algum momento, era simplesmente desistira de resistir, e se entregou completamente – erroneamente, inconsequentemente –. Eram tão boas memórias, momentos. Seu coração se quebrava, era difícil respirar. Como se ela fosse a dona do barco, e, subitamente, estivesse se afogando. Então ele vinha, com seu colete salva-vidas, e a segurava na superfície. Quando se tornava fácil escolher, quando se tornava fácil de tomar um caminho, ele surgia. Com aquele maldito sorriso e aquelas malditas cores no cachecol. E ela se tornava a mesma garota boba que ela tentava matar. Bastava um sorriso, e ele a tinha em mãos.

— Sim. – respirou fundo, e fitou as íris azuis profundas – Podemos nos ver hoje.

Combinaram de se encontrar na Sala Precisa às duas horas da manhã. Aquilo daria tempo para Hinata escapulir, e se preparar psicologicamente. Conforme se afastou, sorria menos, até que, próxima das masmorras, seu único sentimento era raiva. Raiva dela, raiva do grifinório, raiva do seu pai, raiva d’Ele. Raiva da Marca Negra em seu braço. Raiva da sua Casa.

Entrou, e o Salão estava vazio. Suspirou. Não estava com fome. No entanto, notou uma cabeleira vermelha no canto da poltrona, e, surpresa, correu. Puxou Gaara para um abraço forte. Era o primeiro contato entre eles desde o começo da semana, e o Sabaku no se surpreendeu com a demonstração de afeto. Não eram adeptos daquilo, mas nada era como antes. Abraçou Hinata de volta por alguns segundos, e se afastaram.

— Oi! – Hinata resfolegou, sentando-se em uma poltrona de frente para o ruivo – Eu mal consegui falar com você! – sua voz se tornou baixa e urgente.

— Eu sei. – Gaara suspirou. Hinata notou que ele também estava de mangas compridas – Não me deixaram em paz. Toketori estava ansioso para outra reunião, e eu precisei acalmar aquele idiota. – resmungou – Você viu, não viu? Quase todos receberam a Marca. – Hinata havia percebido. Mesmo aqueles em quem não confiava – Decidiram que tinha muita gente. Queria adiantar, mas convencemos de nos darem algumas semanas. – Hinata o olhava, ansiosa – Na melhor das hipóteses, antes das férias de Natal.

Hinata sabia que aconteceria, mas não imaginava que seria tão cedo. Engoliu em seco, com as mãos tremendo. Ela havia treinado toda sua vida para aquele momento, mas, a hora estava chegando, e ela se sentia nervosa. Estava chegando, rápido. Impotente. Ela não poderia deter. Não havia nada mais o que fazer, além de seguir os planos.

Os planos. Não os seus planos.

— Eu achei que tinha acabado. – Gaara observou, astuto. Ele sempre fora observador, talvez menos que Sasuke, mas sempre fora observador. E fiel aos amigos. Ele e Hinata tinham uma conexão, difícil de ser formada, e mais difícil ainda de ser quebrada. Quaisquer que fossem as situações, Gaara seria leal, mas também tinha a obrigação de ser racional. Hinata não respondeu, e ele suspirou – Eu deveria ter imaginado. Hinata, quando chegar a hora, você vai ter que lutar. Contra ele. – insistiu, e Hinata desviou os olhos do próprio colo, o fitando, irritada.

— Você acha que eu não sei disso? – retrucou, nervosa, e Gaara ergueu as mãos, pedindo trégua.

— Me desculpe. – ele suspirou – Olha, eu só não quero que você se machuque. – era raro um momento em que ambos eram sinceros quanto aos seus sentimentos – Quando acontecer, você vai precisar estar atenta. Não vai dar tempo para pensar. Se você estiver distraída, Merlin que nos proteja, você pode se ferir. Vamos ter que ser rápidos. – o ruivo falava com rapidez, e Hinata assentia. Ele tinha razão.

— Eu repassei isso tantas vezes que poderia fazer de olhos fechados. – sua voz era cansada, e não debochada – Estar na frente d’Ele... foi assustador para você também? – perguntou, solene, e Gaara sorriu triste, virando o braço coberto para cima.

— Nunca tive tanto medo na vida. – admitiu – Doeu como o diabo. Não sei se foi mais fácil ou mais difícil que você. Ninguém da minha família foi Comensal.

— Acredite, é bem melhor. – riram juntos – Teve muito mais pressão, ainda mais quando Neji não gritou. – fez uma careta – Ele sempre foi o primo certinho. Meu pai espera que eu morra no ataque e não dê mais problemas. – suspirou.

— Mas você não vai. É a melhor Comensal dentro desse castelo. – Gaara sorriu, elogiando-a verdadeiramente. Hinata retribuiu o sorriso, ruborizando, e se levantou, para tomar um banho – Hinata? – Gaara chamou, quando ela já estava perto das escadas. Ela se virou – Eu sinto muito. Que tenha que ser assim, sabe, com ele. Ele é um cara legal. – deu de ombros, e Hinata sorriu triste.

— Eu também sinto muito.

Hinata se encontrou com Naruto naquela madrugada. A Sala Precisa tinha velas e almofadas e tapetes e cobertores. Mas, nada daquilo importava, porque também tinha Naruto. E tinha seus beijos, suas carícias. E tinha suas promessas, e suas palavras boas. Hinata não precisava de mais nada. Ela se encontrou com o grifinório, e saiu apenas pela manhã. Naquela noite, e na próxima, e na próxima. E na outra semana também.

Se encontravam o máximo que conseguiam, nos intervalos de aulas ou noites adentro. Hinata sabia que, a cada vez, tornava-se mais difícil dizer adeus, e ela não queria – se despedir, se afastar. Por outro lado, Naruto surpreendia-se ao perceber que o futuro se tornava cada vez mais claro. Em uma tarde, se pegou pensando em como a pediria em casamento. Ele ria sozinho, falava sozinho e exalava felicidade pura. Seus amigos eram afetados por suas bombas de endorfina, e, por mais que soubessem que se tratava de alguém muito especial, apenas ficavam felizes em ver o amigo tão bem.

Contrariando o típico para a época do ano, a manhã estava escura. Não havia sol, mesmo que raios mornos sobre a campina molhada de orvalho. As nuvens estavam escuras, e um temporal se seguia. Ao acordarem, os alunos não sabiam dizer que horas eram, e seguiam para o Salão Principal, para o café da manhã. Os primeiros anos estavam excitados com a chegada das aulas práticas, e os anos mais velhos se preocupavam com as provas. Enquanto se dirigiam para o refeitório, Hinata há muito estava acordada.

Hinata estava acordada, e suas roupas estavam arrumadas. Sua capa estava posta, e o cabelo, preso no alto com uma fita. A varinha estava em mãos, mas ela tremia, vergonhosamente. Tentou se acalmar. Não dormira a noite. Encontrara-se com Gaara e outros dois alunos, um da Sonserina e um da Corvinal. Eles traziam um pergaminho lacrado, e, mesmo sem ler seu conteúdo, Hinata sabia. Ela estava com uma sensação de aperto há vários dias, sabendo que estava se aproximando. Tentou se acostumar com a sensação, mas apertava, incomodava para respirar. Na noite anterior, fizera uma poção rápida para dormir, e, mesmo assim, teve pesadelos. As masmorras estavam agitadas, e os alunos do primeiro ano já sabiam que deveriam ficar fora do caminho. O seleto grupo do sétimo ano se reuniu no primeiro corredor, puxando as toucas para cima. Hinata não fora na reunião, esperando alguns minutos. Sua mente estava ocupada, suas têmporas doíam, seu braço queimava. Depois de meses, era a primeira vez que via a Marca Negra se mexer.

Respirando fundo, levantou-se, com a própria capa balançando, a varinha pronta. Seus olhos estavam nublados, e ela pegou um atalho pelas estátuas para chegar no Salão Principal mais rápido. A cada passo, se tornava mais difícil de respirar. De repente, ela estava ciente do que estava acontecendo. Do lado de fora, parecia que ia nevar.

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O chão tremeu minimamente, e ela sentiu, sobre suas botas. Soltou um gemido interno, e continuou a correr. Em sua mente, conseguia sentir a comoção. Desejou ter mais tempo. Desejou ficar mais tempo, aproveitar mais, assistir mais aulas. Desejou voltar no passado, e fazer tudo diferente.

Naruto estava em sua mesa com os amigos quando sentiu o tremor. Baixou sua torrada, confuso, e alguns outros alunos também perceberam. O céu mágico do salão trovejava, o que era estranho. Mesmo em tempo de chuva, ele exibia velas flutuantes, confortáveis. Trocou olhares preocupados com Sakura e Kiba, que estavam próximos. Sextanistas também se olharam, mas não quiseram preocupar os mais novos. Na mesa dos professores, nenhum lugar estava ocupado.

O loiro estava com um mau pressentimento. Levantou-se, olhando para os lados em confusão, e, rapidamente localizou quem procurava na entrada. Ela estava ofegante, com o cabelo preso e a capa preso pelo pescoço.

— Hinata! – subitamente, o grifinório precisava alcançá-la. Seus amigos olharam para ele, e alguns estranhos também, surpresos por ele ter gritado. Fitaram a sonserina, que corria em sua direção, e arregalaram os olhos. O que estava acontecendo?

Antes que alguém pudesse dizer algo, um tremor, mais forte. E outro. As colunas racharam, e os gritos se iniciaram. Os alunos das quatro Casas saíram das mesas, alguns gritando, outros dando ordens. Os monitores se esforçavam para evacuar os mais novos para os corredores, e os mais velhos buscavam suas varinhas nas mochilas ou nos bolsos. Os terremotos se aproximavam, e alguns pratos se quebraram. O céu mágico vacilou, e lascas voaram. Naruto estava assutado, confuso, mas continuou correndo, torcendo para que os amigos se protegessem.

Corria pelo corredor principal, trombando com os alunos que corriam do lado contrário. Empurrou-os, afoito, cada vez mais convicto que precisava alcançar Hinata. O fim do caminho não chegava, e o desespero começou a predominar na atmosfera.

Hinata não queria que acabasse ainda. Ela gritou pelo nome do garoto, inutilmente, empurrando os alunos, para alcançá-lo. Tudo doía, e ela sentia que poderia desmaiar. Precisava tocá-lo, precisava beijá-lo. Queria explicar, queria se desculpar, mas não havia tempo. Estava acontecendo.

Depois do que pareceu horas, alcançaram-se. Hinata puxou Naruto para um abraço sufocante, e o garoto puxou sua cintura possessivamente, afundando-se em seu cabelo. Ao redor, uma calamidade, mas eles não se importaram. Aquele era o seu momento. Seu único momento.

Hinata se afastou e beijou-o desesperadamente. Nada mais importava. Naruto segurava suas costas e uma das mãos estava em seu pescoço. O beijo era aflito, rápido. Se afastaram, sem fôlego, e se abraçaram como se sua vida dependesse disso. A Hyuuga não percebeu que começara a chorar, mas Naruto sentiu as lágrimas quentes em sua camiseta. Outro tremor, e uma coluna ameaçou ruir. O que estava acontecendo?

A sonserina afastou o suficiente para encarar os olhos do grifinório. As íris azuis estavam repletas de perguntas, de angústia, e Hinata quis mergulhar naquela imensidão para sempre. Eram empurrados por todos os lados por alunos, e todos gritavam. Hinata queria dizer muito, mas não conseguia pensar em nada.

— Naruto, eu te amo! – gritou para se fazer ouvir no meio do barulho. O loiro parou, o coração falhando. Apesar de tudo, aquela fora a primeira vez. A sonserina fria e calculista havia dado o primeiro passo. Ele estava confuso, estava feliz. Alguém bateu em seu ombro, e doeu.

Hinata não enxergava muita coisa, mas, de repente, ofegou de dor. Seu braço ardeu, a Marca mexendo-se com mais vivacidade. Ela sabia. Estava na hora.

Era começo de dezembro, e não havia começado a nevar ainda. Hinata gostava de neve. Ela queria aproveitar o último Natal no castelo, e queria provar um pedaço de torta de abóbora. Ela compraria presentes e doces, e poderia aparatar em Hogsmead. Não era possível aparatar nos limites do castelo.

Sombras negras entraram voando pelas portas, e feitiços ricochetaram em alunos, derrubando-os. Muitos puxaram as varinhas para tentar atacar e se defender, mas não podiam acertar o ar. Gritos, confusão. Uma das mesas foi virada, destruindo a parede. Mais feitiços, iluminando. Era como um céu de ano novo, explodindo em fogos. Alunos caíam, desacordados.

Naruto olhou em volta, com um novo nível de aflição refletidos nele. Agradeceu por sua varinha estar atada em sua cintura, mas, antes que pudesse pensar, voltou-se para Hinata, ainda agarrada em seu pescoço, mas apenas com um braço. Seu rosto estava branco, e Naruto não entendeu porque seus olhos pediam desculpas. Sua boca mal se abriu, mas ele conseguiu entender.

— Me perdoa.

E, depois disso, Naruto se lembrou apenas de ter sido arremessado para trás, batendo com as costas em algum aluno, caindo. Seus olhos focalizaram no teto, e as sombras bruxuleavam sobre ele, em uma dança esquisita. Naruto viu máscaras, viu capuzes e viu feitiços. Viu sangue, ouviu gritos e ouviu novas ruínas. Em algum momento, pensou ter visto um dos professores. Mas durou cerca de um segundo. Enquanto seus olhos se fechavam, ele pensou que o feitiço não o tinha atingido em cheio, ou fora um Estupefaça muito fraco. Suas pálpebras pesavam, e seu peito doía. Naruto viu botas se aproximando, e o brasão serpentino em verde e prata sobre ele. Sentiu um afago em sua bochecha, e queria gritar para que não parasse. Mas já havia ido embora, e, então, ele desmaiou.