A M O N G U S

F O R E V E R U S


Aquilo que perdemos sempre arranja uma maneira de voltar para nós. Talvez não da maneira que esperamos.

É sobre lidar, de certa maneira, com o inevitável fim –

Assustado, Naruto se virou, a mão voando rapidamente para o bolso traseiro, puxando sua varinha e pondo-se em posição defensiva. Seus olhos estavam embaçados, e ele não conseguia reconhecer a silhueta que o espreitava próxima da janela.

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— QUEM ESTÁ AI?

Fez um movimento, mas, quando piscou novamente, a varinha tinha voado de suas mãos, e ele viu seu visitante a segurando com a mão esquerda. Tomado por uma raiva ofensiva, avançou para o canto, mas trombou contra a parede e se virou, atordoado. Sua visão clareara, e, embora o quarto estivesse iluminado a meia luz de velas, Naruto reconheceu aquele rosto e paralisou.

— Eu disse que você deveria se acalmar. – um suspirar cansado, e a voz se tornou mais clara. Naruto, ainda imóvel, sentiu as pernas fraquejarem – Eu não tenho muito tempo, Uzumaki. Não me faça imobilizar você.

— I-i-i-i-i-

— Sim, sim, não precisamos dessa formalidade. – ele cortou a fala gaguejante de Naruto, e sentou-se na beirada da cama do meio, enquanto analisava as duas varinhas em suas mãos. O grifinório conseguiu se mover o suficiente para se sentar na cama do lado oposto, mas sua garganta ainda estava fechada.

— Itachi. – foi apenas um sussurro.

Não havia uma só pessoa em Hogwarts que não conhecia o lendário Itachi Uchiha. Carismático, gênio, bondoso, simpático, prestativo. A lista de adjetivos que precedia seu nome era tão grande quanto a de troféus e medalhas por feitos à escola. Naruto reconheceu aquele rosto das inúmeras vezes que o vira com ela, no entanto, após o fim da guerra, nenhum auror conseguira localizar o traidor Itachi Uchiha, Comensal da Morte e braço direito do próprio Madara.

— O que você quer aqui? – Naruto desejou ser mais intimidador, mas sua voz estava rouca e soou somente como um murmuro.

— Não torne isso mais difícil do que já é. Eu preciso fazer isso. Foi o último desejo dela.

Naruto parou quando aqueles olhos alcançaram seu rosto. Estava preparado para proferir xingamentos e acusações, mas os olhos de Itachi o fizeram recuar abruptamente. Seus olhos continham veias avermelhadas, e pesadas olheiras adornavam-nos. Não suficiente seu rosto estar retorcido e puxado, com os ossos salientes e o aspecto casado, mais que isso, era a dor refletida neles. Mais que isso, beirava o desespero total. O rosto ardente de um homem em agonia, sofrendo, queimando. Era doloroso de sustentar. Naruto imediatamente deixou sua guarda cair. Aquele homem a sua frente não tinha intenções assassinas – ele parecia procurar desesperadamente por paz.

— Naruto, ela queria que você soubesse de tudo.

Tudo.

Em momento algum, desde que começaram a se envolver, Naruto soubera de tudo. Hinata era um livro de mistérios a serem decifrados pouco a pouco, mas ele nunca tivera chance de o fazer por completo, e, mesmo o que conhecia, era pela metade, como um enigma com palavras faltando. Parecia óbvio, de uma maneira ironicamente sôfrega, que ele estivesse autorizado a saber de tudo somente após sua morte.

— Sei que não muda nada agora. – o Uchiha começou, parecendo cansado demais para falar, e Naruto não o interrompeu, embora quisesse concordar – Mas ela me pediu para fazer isso da última vez que nos vimos. – havia tantas perguntas que o grifinório queria fazer! – A primeira coisa que você tem que saber é que a Nova Ordem Bruxa é uma comunidade muito antiga. – Naruto se surpreendeu com a informação, porque, em nenhum momento, chegaram a estudá-la – Sempre houve conservadores e extremistas, e as famílias costumavam seguir essas tradições. Todas as gerações da minha família foram da Nova Ordem, e os Hyuuga, logicamente, também. No entanto, as coisas mudaram quando Madara entrou. – a simples menção do nome fazia com que a visão do loiro se avermelhasse – Sabíamos dos boatos dele ser um membro Uchiha renegado, mas nunca foi confirmado. Madara era influente, um revolucionário, com discursos bem montados, com carisma e persuasão. Não foi difícil até que todos o apoiassem absolutamente. Dessa forma, não demorou até que ele começasse a pôr em ação o plano da nova sociedade dos puro-sangue.

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Itachi fez uma pausa, parecendo perdido em pensamentos. Naruto imaginou se ele não estava contando a história mais para si do que para ele.

— Ele tinha argumentos muito bons. – Naruto fechou os punhos e Itachi se apressou – Entenda, eu não concordo com essa política. Não mesmo. – sua voz parecia quase irritada com a possibilidade – Mas é a verdade. Madara manipulava as palavras e fazia com que todos acreditassem no que ele dizia. Em pouco tempo, ele já tinha convencido pessoas o suficiente para começar uma revolução. – um novo suspiro, e Naruto sentiu a atmosfera se alterar – Você precisa assimilar que a nossa criação foi muito diferente das demais. Pessoas como eu e a Hinata vêm de uma tradição familiar, e, em momentos difíceis, nosso instinto, mais que isso, nossa obrigação se torna apoiar a família. – Naruto se lembrou da conversa com Tsunade, meses atrás – Foi óbvio que nossas famílias apoiaram Madara, fazendo com que a nova geração também o fizesse. Foi imposto a nós, e não tínhamos como recusar. Foi um plano longo, de quase vinte anos. – Naruto não conseguiu esconder a surpresa, arregalando os olhos – Sim. Madara planejou muito bem seus passos. O que eu quero que você entenda é que eu e Hinata nascemos para esse protótipo. Toda nossa criação, nossa educação, foi baseada nesse plano. Nós nascemos para sermos soldados da guerra.

Naruto precisou de um minuto para recompor seus pensamentos. De repente, momentos, diálogos, situações, passaram a fazer sentindo, completando-se. Todas as vezes que Hinata dissera que não o odiara, nem mesmo no começo. A maneira que ela o chamava de sangue-ruim, com uma careta estranha. A pose, a máscara fria e inatingível, quando estavam em público. Nesse instante, Naruto realmente absorveu o que Itachi estava dizendo: quando ela dizia que não era nada pessoal, apenas a maneira que fora criada para ser. Ela queria dizer literalmente.

— Não sei dizer qual escolha foi mais difícil, a minha ou a de Hinata. – Itachi estava pensativo agora – A questão é que alguns de nós, da nova geração, se rebelaram, por vários motivos, a maioria deles por simplesmente perceber que não havia lógica em odiar bruxos pela composição sanguínea deles. Mas, ir contra nossas famílias era duro. É como se fosse além do sentimento, como um feitiço. Tentar lutar contra eles era doloroso demais. – Naruto ficava cada vez mais atordoado – Então nós encontramos a solução. Formar uma aliança e tentar a enganar toda a Nova Ordem, inclusive o próprio Madara. Uzumaki, o que eu estou tentando dizer é que nós éramos espiões.

Ali estava. Pura e simplesmente.

A verdade era estranha. Condensada, árdua de ser digerida, e Naruto sentiu seu corpo recompor-se, deixando de lado a tensão para se render ao assombro. Era tão óbvio, e, ainda assim, tão inimaginavelmente singular. Seu estômago deu duas voltas, e ele se sentiu enjoado.

— Nós aceitamos nossas missões desde que decidimos, por livre e espontânea vontade, lutar contra o plano, contra o próprio Madara. Toda minha vida, cuja qual a maior parte eu passei aqui, em Hogwarts, foi unicamente para que eu melhorasse minhas habilidades. Se eu pudesse enganar centenas de alunos e professores, fingindo ser o espião de Madara, então eu conseguiria enganar o próprio Madara, sendo um agente duplo. Foi duro, eu admito, e na maior parte do tempo eu tinha medo de ser descoberto, mesmo depois que eu voltei, quando formado. – Naruto se lembrava, vagamente, das pessoas comentando sobre a volta de Itachi Uchiha para Hogwarts, e nas hipóteses absurdas que levantavam. E ninguém fazia a menor ideia! – Houve mais de nós, rebeldes, cada um com uma missão, para dar prosseguimento ao plano. Muitos de nós morremos para isso. – ele parou, subitamente afetado demais para continuar – Mas nós aceitamos sermos vistos como traidores até o fim, para que pudesse dar certo. Nós nem sabíamos qual seria o próximo passo, e foi difícil. No entanto, mesmo que tenha sido infernal, mesmo que tenha drenado tudo de nós, nenhuma missão foi tão difícil quanto a de Hinata. – o Uzumaki voltou-se rapidamente para Itachi, e seu pescoço estralou. Ouvir o nome dela não o fazia estremecer mais, mas, naquele momento, seu coração se apertou um pouco. Itachi parecia a beira de um ataque nervoso, as mãos apertadas e a cabeça baixa – Eu preciso te explicar todos os lados dessa história, então eu peço que, por favor, não me interrompa, até o final.

“A coisa que Madara mais almejava na vida era poder. Ele queria ser grande, imparável, o maior bruxo de todos, aquele que governaria a comunidade bruxa pura. Para isso, ele descobriu a existência de artefatos mágicos poderosos espalhados pelo mundo. Esses objetos eram fontes de retenção de magia, uma magia muito potente, que precisou ser fracionada para que fosse contida.

Não sei ao certo a história por trás dos artefatos. Sempre quis acreditar na teoria de que eles foram as primeiras fontes de magia, que deram origem aos bruxos. De qualquer modo, esses artefatos, quando separados, não apresentavam ameaça, mas precisavam estar todos juntos para que seu potencial fosse plenamente alcançado. Originalmente eram dez peças, resquícios depositados em recipientes. Madara queria todas as peças para si, e várias excursões foram feitas durantes anos até que se localizassem todos. A existência deles era praticamente um mito entre nossa comunidade, mas, um a um, ele os achou, e, quando localizasse o último, nada poderia pará-lo.

Mas, quando os primeiros começaram a ser recuperados, eu trabalhei com a ajuda de outros rebeldes para achar os demais, e escondê-los estrategicamente, onde eu pudesse encontrá-los facilmente quando a hora chegasse”.

A mente de Naruto trabalhou rapidamente, e a presença de Itachi em Hogwarts mesmo depois que ele tinha se formado fez sentido.

— Assim como Madara, nosso plano também levou anos para poder funcionar. Basicamente, queríamos reunir todos os artefatos e usá-los contra Madara. Mesmo sem seu poder, ele era extremamente poderoso, até mesmo para bruxos normais, e os objetos garantiriam que ele fosse exterminado por completo.

“Minha função foi agir como agente duplo, enganando a todos por anos, para ter liberdade de acessar as passagens de Hogwarts, e saber como o plano de Madara caminhava. Para isso, nós usamos todas as armas que tínhamos, até mesmo fingir ser uma coisa que não éramos”.

Para comprovar seu ponto, Itachi puxou a manga do grosso casaco, e Naruto sentiu-se nauseado ao ver a Marca Negra encrustada em seu antebraço.

— Como eu disse, a missão de Hinata foi infinitamente mais árdua que qualquer outra. Quando Hinata nasceu, parte do plano já estava estabelecido, e a essa altura tínhamos conhecimento dos artefatos mágicos, e que Madara planejava consegui-los. Hinata sempre foi excepcionalmente inteligente”. Havia um novo tom, quase fraternal, que fez com que Naruto sentisse uma pontada dolorosa de ciúmes. “Ela nunca concordou com os pensamentos do pai, mesmo criança, e eu e ela nos aproximamos desde muito cedo. Eu expliquei a ela, a medida do possível, sobre o que estava acontecendo, e Hinata, deliberadamente, escolheu que seria ela a eliminar Madara.

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Naruto não soube dizer se estava respirando ou não, e seus pés não alcançavam o chão. Sua cabeça deu pontadas doídas nas têmporas, mas a dor não se comparava com a que sentia em seu peito. Pensou estar tendo um ataque cardíaco.

— Todos se opuseram no começo, mas era óbvio, que, quando o momento chegasse, alguém teria que se chocar com Madara para poder aparatar, e levá-lo para onde o choque dos artefatos não atingisse ninguém inocente. Veja, é realmente complexo o funcionamento desses objetos. Seu poder possui algum tipo de inteligência, porque, quando Madara tomou posse do primeiro, foi como se ele se tornasse mais forte. Concluímos, então, que os artefatos protegiam seus donos temporários, e a junção de todos eles faria com que ele ficasse enfraquecido o suficiente para ser morto.

A explosão. O redemoinho. A luz verde.

— Durante toda a vida, Hinata foi miraculosamente perfeita em sua atuação, e sei que isso se deu a um grande custo pessoal. Ela se fechou, propositalmente, porque era mais fácil atuar se ela bloqueasse seus sentimentos. Foi algo em sua personalidade que ela desenvolveu pessoalmente, com total consciência. As vezes era difícil de olhar e não me sentir culpado por tê-la coagido aquilo, por tê-la feito entrar naquilo. Hinata conviveu a vida toda sabendo que, em algum momento, ela morreria. Ela conviveu sabendo que as pessoas a odiariam, e, em momento algum, ela se deixou abater.

— Eu preciso de um momento. – Naruto conseguiu arfar, com a mão apertando vertiginosamente a lapela do smoking.

Itachi se calou, os olhos de águia fixos no loiro, mas não interveio. Naruto sentiu-se enjoado, pronto para vomitar em seus pés, e sua cabeça estava rodando. O quarto estava rodando, e ele estava sofrendo ataques em sua própria mente, que disparava frases, imagens, misturando-as de maneira que machucava. Tentou aspirar o ar, mas ele parecia preso, rarefeito, e sua gargante queimou. Estava tendo um ataque de pânico? Não sabia dizer.

Todas suas estruturas, tudo em que acreditava, tudo em que se apoiava, de repente se transformara em pó. Era irreal, uma ilusão, uma mentira. Um teatro bem bolado, onde as máscaras eram permanentes. Sentia-se enganado, mais que isso, algo que não conseguia explicar com palavras – traído. Mas também sentia-se perdido, de uma maneira estranha, descontrolada. Naruto não percebeu quando seus olhos se arregalaram, saltando das órbitas, e grossas lágrimas escaparam pelos cantos, escorrendo. Não foi um choro contínuo, entristecido. Eram lágrimas rasas, como alguém que se engasga e tem os olhos molhados. Naruto se sentia engasgado – engasgado com palavras, com memórias, com arrependimentos.

Desejou, então, com todas suas forças, que nunca tivesse conhecido Hinata Hyuuga.

Que nunca a tivesse provocado, e que seus caminhos nunca tivessem se cruzado. Que nunca tivessem se esbarrado, e que suas Casas nunca tivessem sido rivais. Que ele nunca tivesse reparado nela, e que nunca tivesse insistido. Que nunca tivesse notado a maneira que a pele dela se iluminava com a luz, ou a maneira que ela abandonava a pompa arrogante, deixando-se vagar com os olhos. Naruto desejou profundamente todas essas coisas, porque, se elas nunca tivessem acontecido, então, ele jamais teria se apaixonado por Hinata Hyuuga. E seu coração jamais estaria doendo daquela maneira.

Porque Naruto percebeu, afinal, que Hinata não foi uma traidora que morrera como mártir – porque ela não traíra ninguém, talvez, exceto, a si mesma.

A memória da garota sempre seria aquela. A garota que traiu a comunidade bruxa e se arrependera no final. Hinata nunca teria seu nome nos livros de História, e nunca teria sua memória sendo passada entre as gerações, como heroína, como aquela que sacrificou a própria vida para salvar a todos. Enquanto as pessoas pensavam que ela era uma covarde, Hinata passou cada momento convencendo a todos e a si própria que era alguém digna de ódio. Hinata se trancou em fortalezas impenetráveis, porque ela sabia que morreria, e estava bem com isso.

E nada era justo.

— Eu sei. – a voz de Itachi estava angustiada, e, mesmo de longe, parecia estar confortando Naruto, que não sabia quando começara a tremer – Ela nunca deixou as pessoas se aproximarem. Eu não sei se era para proteger-se ou proteger aos outros. Em algum momento, ela sabia que teria que se sacrificar, e seria mais fácil se não mantivesse vínculos. Mas ninguém merece viver sozinho. – a frase saiu baixa e atormentada – E é aí que você entra. – o loiro ergueu a cabeça novamente, ofegante, cravando o olhar no rosto pálido de Itachi – No começo, você não passava de um grifinório peculiar que fazia Hinata sair do sério. Mas, então, os anos foram passando, e, em algum momento, você deixou de irritá-la para perturbá-la. — Naruto sentiu um formigamento no estômago – Hinata mandava constantes cartas, quando eu me formei, em partes por conta do plano rebelde, em partes porque nós criamos um vínculo muito forte. Dava para perceber o quanto você mexia com ela. Quando você a beijou... – uma pausa, e Naruto ficou atônito quando ouviu Itachi rir – Quando você a beijou, ela surtou. Foi particularmente memorável, mas ela estava com medo. Com medo porque estava se envolvendo rápido demais, com medo por estar se entregando. Quanto mais o tempo passava, mais próximo a guerra estava, e ela não podia se deixar interessar por alguém. Ela tinha medo, sobretudo, de não conseguir fazer a coisa certa quando chegasse a hora.

Se, até aquele momento, Naruto estava passando por uma espiral escuro para baixo, de repente, tudo mudou. A gravidade parou, e seu corpo se tornou leve. Leve o suficiente para fazê-lo levitar, e a escuridão se tornou brilhante, e tudo ficou quente. Seu corpo estava quente, suas mãos estavam quentes, a pele ligeiramente suada. Sua garganta destrancou, e o ar passou livremente. Algo dentro dele se acendeu, como uma fogueira, e Naruto não estava mais afundando.

— Foram anos conturbados. Quanto mais ela tentava se afastar, mais você insistia, e, inevitavelmente, Hinata não conseguiu mais negar. Vocês começaram a se envolver, e a época era a pior possível. – Itachi suspirou de maneira curiosa – Foi quando Madara começou a reunir a nova geração, os estudantes de Hogwarts, para montar uma brigada ofensiva. Não eram todos que faziam parte do plano rebelde, e alguns realmente serviram de espiões na escola. – suas sobrancelhas estavam franzidas, e sua expressão parecia perdida no tempo – Mas Hinata não podia deixar que descobrissem. Ela e outros rebeldes, meu irmão, por exemplo, seguiram a risca tudo que foi ordenado. Hinata passava as noites em claro, com você, e, durante os intervalos das aulas ou nas tardes, ela mandava cartas, procurava pelos artefatos. Estava desesperada para encontrar uma solução, e conseguir impedir que o plano de Madara continuasse por muito mais tempo. – Naruto sentiu-se culpado pelas vezes que a fez ficar acordada consigo, mas não exatamente culpado pelos momentos que renderam – Mas não adiantou muito. Foi então que, no sexto ano, aconteceu o que chamamos de Reunião, um encontro em que o próprio Madara visitava os escolhidos para transformá-los em Comensais. Hinata teve a Marca Negra gravada em seu braço naquele inverno. – sua silhueta estremeceu, e Naruto arfou, sua mente trabalhando rápido, se lembrando das cartas que trocaram, e do encontro que tiveram, as blusas longas que ela usava, e a maneira que parecia sempre exausta, como se estivesse praticando um feitiço sem parar. Naruto não entendeu, no entanto, porque a viu nua diversas vezes, e não havia nada em seu braço. Itachi, no entanto, pareceu ler sua mente, e respondeu: – Hinata era inteligente, claro. Ela temia que você visse a Marca, temia te magoar, e praticou um feitiço de disfarce muito avançado. Aquilo exigia muito de sua força, mas ela se aperfeiçoou, e conseguia fazer com que a Marca desaparecesse por horas. – o loiro baixou os olhos novamente, de repente corado – Mas Madara queria avançar, e foi decidido o dia do ataque em Hogwarts. – sua voz se tornou escura – Hinata jamais se perdoou por aquele dia, sabe. Ela se esforçou para não ferir ninguém, e foi a primeira a sair do castelo.

Naruto se lembrava daquele dia com clareza – e as tantas outras vezes que repassou os detalhes daquela manhã em sua mente, procurando por uma explicação. Quando se declarou, e como Hinata parecia chorar silenciosamente. O último abraço, e como ela o estuporou, e, em seguida, se ajoelhou para acariciar seu rosto. A cena, que parecia como um sonho, se concretizou lentamente, em milésimos, e Naruto parecia ver os cantos brilhantes. Se seu rosto não estivesse paralisado de espanto, ele conseguiria sorrir.

— Desde então, Hinata passou por um verdadeiro inferno pessoal. Ter te deixado para trás foi a coisa mais difícil que ela já fez. – Itachi parecia fervorosamente sincero – O ataque em Hogwarts foi o início do movimento da Nova Ordem, quando Madara assumiu para o mundo suas intenções. Nossas missões eram encontrar os artefatos, um a um, o mais rápido possível. Nesse momento, eu já havia encontrado sete dos dez artefatos, e os realoquei em lugares estratégicos, fazendo com que Madara pensasse que tudo se encaminhava para um único lugar. – Naruto parou, desta vez, pensando, e um lampejo em sua mente o fez compreender onde aquilo terminaria – Imagino que já saiba. O último artefato foi escondido no Ministério, e eu sugeri a Madara que desse início ao conflito direto, em busca do objeto que faltava. Obviamente, fui eu quem mandou a localização e os detalhes do ataque para o centro de Inteligência. – o Uzumaki assentiu devagar, se lembrando de quando o papel chegou em suas mãos. Itachi soltou o ar devagar, e, quando voltou a falar, parecia mais sombrio – Aquele foi o último mês que eu e Hinata passamos juntos.

Naruto fechou os olhos repentinamente, deixando-se concentrar no rosto da garota, e respirando fundo, para conseguir suportar o restante do relato. Sabia que surtaria, em algum momento próximo, e queria aguentar, precisava aguentar até o fim. Hinata merecia isso.

— Ela estava mais obstinada que antes. E mais calma também. O dia já estava estabelecido, e, quanto mais se aproximava, mais eu via Hinata... em paz. – Itachi parecia confuso, mas de outra maneira, como se não pudesse compreender suas próprias palavras – Ela nunca me disse, mas eu acredito que fosse porque estava chegando perto do fim, do verdadeiro fim. Hinata nunca foi realmente livre, e a morte, de alguma maneira, foi a única escolha que ela fizera porque queria fazer.

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Naruto poderia sorrir. Seus dedos desfizeram os nós, e foi tomado por um espírito de paz e tranquilidade.

— Hinata se preparou para aquele momento mais que qualquer um. O último objeto estava escondido no andar dos Mistérios, e sabíamos que os aurores estariam esperando. O conflito distrairia a todos, e ela poderia alcançar o artefato e se aproximar de Madara sem atrair suspeitos. A última vez que eu vi foi pouco antes da explosão. Ela estava sorrindo, e acredito que foi uma boa forma de partir. – o Uzumaki quis discutir, dizer que não havia uma boa forma de partir, mas as palavras não chegaram até ele – Essa é a verdade. Sobre a Nova Ordem, sobre os rebeldes, e sobre a Hinata. Ela me fez prometer que contaria tudo a você, quando...

Itachi pareceu não conseguir terminar a frase, e Naruto não se importou. Ambos ficaram em silêncio, o quarto com a atmosfera pesada. Não sabiam quantos minutos haviam se passado, e as velas estavam consideravelmente diminuídas. O cômodo estava abafado, mesmo com a brisa entrando pela janela. Permaneceram sentados, até que Itachi fez o primeiro movimento, apoiando-se nos joelhos para se levantar.

— Era tudo que eu tinha para dizer. – Naruto se levantou também, de supetão, e ficou zonzo – Acredito que tenha muito em que pensar. Não sei se iremos nos encontrar novamente, Uzumaki, mas queria que soubesse disso: Hinata o amava verdadeiramente. O suficiente para te deixar, e escolher morrer por você. – Naruto não tinha resposta para aqui. Itachi virou-se, para sair pelas escadas, e o garoto não sabia como ele iria embora do castelo. Mas, próximo a porta, ele se virou, os olhos sugestivamente enigmáticos – Se aceita um conselho, deveria ter uma conversa com seu irmão. – o loiro paralisou instantaneamente – Até mais.

— Espere-!

Itachi já havia desaparecido, como fumaça no ar, e Naruto permaneceu parado, atônito, no meio do dormitório. Como se não bastasse a confusão em sua mente, e a exaustão emocional absurda em seus ombros, ainda havia aquilo. Sem condições, voltou a se sentar, encarando a parede vazia, com o rosto impassivo. Tanto para se pensar, e ele não conseguia organizar os pensamentos.

Não fazia a menor ideia de como Itachi Uchiha conhecia seu irmão – com o qual não falava há mais de sete anos. O próximo passo, ao que parecia, seria voltar para casa – Naruto não conseguiria evitar aquilo por muito mais tempo, mesmo –.

O silêncio foi reconfortante, a medida que seu coração acalmava, uma batida atrás da outra. Naruto desejou ter uma Penseira, para depositar suas memórias confusas, desembaralhá-las e assisti-las até que se tornassem claras. Mas, enquanto desabotoava as abotoaduras do elegante smoking, Naruto respirou fundo, e conseguia sentir o gosto do ar empoeirado e madeirado. Seus olhos estavam pesados, e as lágrimas, agora secas, tinham deixado um rastro que repuxava, em um rosto endurecido. Seu corpo começou a relaxar, pouco a pouco, até que ele se sentisse com sono. Com o casaco inteiramente desabotoado, e os sapatos deixados no canto, Naruto se deitou, fitando o teto.

Estava leve, e sentiu-se ser levado para outra dimensão. Em tudo que pensava, tudo que via, era o rosto dela. Seus traços gentis, suaves. Era a maneira que Naruto se lembraria dela. A última vez que a viu, o sorriso aberto, brilhante, em sua direção. Os olhos pérola, sinceros, cheios de amor. Naruto se lembraria da sua voz enquanto gritava com ele, das bochechas coradas, e da declaração atrapalhada e espontânea, pouco antes dos Comensais atacarem. Era uma imagem boa, da autêntica Hinata.

Silenciosamente, Naruto agradeceu, onde quer que Hinata estivesse, porque agora ele chorava, de alegria, por ter tido a chance de amar uma garota tão extraordinária, única e distinta. Agora Naruto sabia, que nunca voltaria a amar uma mulher da maneira que amava ela. Sentia-se triste por não ter tido a chance de demonstrar esse sentimento, mas sentia-se honrado por ter feito parte daquela história. Hinata permaneceria para sempre em sua memória como a verdadeira responsável pela paz atingida pelos bruxos – e aquilo bastava.

Quando Naruto voltou para casa, semanas depois, parte dele quis não ter feito isso. Era óbvio que seus pais sentiam sua falta, mas o problema estava justamente nesse ponto – sentiram falta até demais.

Desde o alto do morro, onde aparatou de Hogsmead, trazendo seus malões, avistou os pais no fundo da casa, tratando das plantações. Precisou se aproximar mais para que fosse visto, porém, quando o fez, sua mãe soltou o maior dos gritos, correndo até e derrubando-o na grama fofa. Seu pai veio atrás, a feição emocionada, e permaneceram abraçados por longos minutos. Naruto segurou o choro – estava cansado de chorar –, mas estar acolhido em casa, depois de tanto tempo, fazia-o se sentir seguro, e as pequenas partes quebradas em seu corpo pareceram se agrupar, ao menos um pouco.

A partir daquele momento, não houve um só instante em que não estivesse sendo mimado, e bastou alguns dias para que aquilo se tornasse absurdamente sufocante. Ele não condenava as atitudes da mãe, logicamente. Foi quase dois anos sem visitá-los, e Kushina tinha um histórico peculiar de ser exagerada, mas era impossível contê-la. De manhã, dormia até tarde, quando o sol se tornava demasiado quente em seu quarto, e tomava um senhor café da manhã, com tudo que tinha direito, desde receitas caseiras até receitas bruxas, que ele ensinara ao longo dos anos. Depois, ficava com o pai, ajudando-o com a fazenda, ou com outras atividades. Cuidou dos animais, visitou campos antigos, e sentiu-se renovado ao visitar Charing Cross, e estar entre os trouxas.

Estar em casa, claro, implicava em estar longe de Hogwarts. Depois da visita de Itachi, Naruto passou por um longo processo de recuperação, tanto pessoal quanto exterior, e, quando chegou o dia definitivo de se despedir, ele garantiu que não sentisse nenhum tipo de arrependimento, não quanto a esse assunto. Prometeu a Sakura que escrevia regularmente, e que todos se reencontrariam em breve. Naruto tinha orgulho dos amigos – muitos seguiriam passos grandiosos, e se tornariam os bruxos que queriam ser. Quando viu a silhueta do castelo desaparecer pela última vez, Naruto sentiu-se feliz, como há muito não se sentia.

Agora que quase todos seus assuntos estavam resolvidos, havia somente uma ponta solta a ser atada – e Naruto não o tinha visto ainda.

Uma semana se passara desde que o Uzumaki voltara, e não tinha visto o irmão. Não era uma situação estranha. Naruto estava sentado no alto da colina atrás da fazenda, olhando para o condado, em miniatura, que ficava depois das terras extensas. Foi ali, naquela colina, que Naruto conversou com o irmão pela última vez – fazia quase nove anos. O irmão mais velho jamais o perdoara por ser um bruxo, e, desde que o loiro fora para Hogwarts, nunca mais se falavam. Durante as festas e as férias, o irmão se afastava da fazenda, ficando em uma pousada na cidade.

Naruto ficou pensando no que Itachi dissera por muitos dias, e nenhuma das hipóteses que levantara – uma mais absurda que a outra – faziam o menor sentido para ele. Frustrado, tinha a esperança que o irmão estivesse em casa, mas, como esperado, não o tinha visto ainda. No entanto, algo naquela tarde o levara até ali, e ele esperava por algo.

Como uma intuição, o vento bateu em seu rosto e trouxe uma outra presença. Naruto sorriu, sem abrir os olhos, e conseguiu sentir o calor que emanava do outro corpo ao seu lado. Ficaram em silêncio – aquele era um reencontro importante.

— Eu estava te esperando, Nagato. – Naruto foi o primeiro a falar, ainda de olhos fechados.

— Pois é, eu me atrasei um pouco. – ele respondeu, a voz grossa.

Naruto finalmente se virou, protegendo os olhos do sol que se punha. Quando pousou o olhar sobre o irmão, foi impossível não sorrir. Sentira muita falta dele. Nagato parecia ainda mais jovem, embora fosse quatro anos mais velho. Ele e Naruto não podiam ser mais diferentes. A começar pela aparência, era impossível não notar o cabelo flamejante de Nagato, quase sempre arqueado para diversas direções, bagunçado, ou grande demais, rente aos ombros, para o desespero da mãe. Era alto, mais alto que Naruto, com o corpo magro, discretamente definido, sempre escondido por camisetas largas demais. A pele era branca, mesmo que ambos trabalhassem com o pai, e, se postos lado a lado, jamais diriam que eram irmãos. Menos se notassem os olhos. Os olhos eram inegavelmente iguais, os únicos pontos semelhantes em ambos. Azuis, colossais, tempestuosos e sinceros.

Se fossem tratar de personalidades, tampouco diriam que eram parentes. Naruto era como um sol, cheio de luz, energia. Naruto atraía as pessoas, ele fazia com que confiassem nele, as simpatizava, era extrovertido e ousado. Nagato era reservado. Ele nunca arriscava sem motivo, e era misterioso. Nagato afastava as pessoas, mantendo sua bolha resguardada. Mas, mesmo tão diferentes, os irmãos mantinham uma ligação fraternal forte, e costumavam ser melhores amigos.

Até que Naruto recebeu sua carta de Hogwarts, e tudo mudou.

— Faz tempo. – Naruto comentou, sabendo que Nagato faria uma careta. Ele não gostava de falar de sentimentos.

— Eu sei. – Nagato resmungou, sem encarar Naruto nos olhos. Aquele momento seria decisivo. Eles tinham oito anos de satisfações para tirar – Acho que isso é culpa minha. – aquilo era o mais perto que Naruto chegaria de um pedido de desculpas, e bastou para ele suspirar, virando todo o torso, sentando-se com as pernas cruzadas – Fiquei sabendo de algumas coisas.

— Boatos que você ficou sabendo de muito mais que algumas coisas. – Naruto retrucou, sarcástico, e Nagato o fitou, erguendo uma sobrancelha ruiva.

— Tudo bem, eu mereci essa. – quase riu – Eu te devo uma explicação. Ok, algumas. – acrescentou, erguendo as mãos quando o olhar enviesado de Naruto chegou até ele – É só que é tão difícil. – resmungou, apoiando a cabeça contra a perna.

— Eu sou paciente. – Naruto cantarolou, e não resistiu a uma risada quando Nagato o xingou.

— Eu definitivamente não senti sua falta, pirralho. – sua voz era grossa, mas seus olhos tinham rugas de sorriso, e Naruto sentiu-se aquecido, embora ansioso – Tudo bem. – voltou-se sério – Acho que eu te devo desculpas, pirralho. – Naruto se surpreendeu – Quando você foi chamado para Hogwarts, eu tive um surto ridículo de inveja. – ele suspirou pesadamente – Naruto, acho que você sabe o que significa ser um aborto no mundo dos bruxos, não é?

Naruto parou, confuso. Sua mente trabalhou com rapidez, como esperado, e a definição saltou com fluência. Era óbvio que ele sabia o que significava um aborto bruxo. O que Naruto não estava entendendo era o que aquilo tinha a ver com a conversa.

— Sim. – respondeu, ainda sem entender.

— Então. – Nagato o olhava como se ele fosse idiota – Naruto, eu sou um aborto.

O mais novo encarou Nagato, a procura de algum sinal de piada, mas o rosto do irmão estava sério, tão sério quanto podia, e Naruto continuou sem entender.

— Mas, Nagato, um aborto tem, pelo menos, um pai bruxo, e nossos pais são trouxas. – Naruto franziu a testa, as engrenagens trabalhando para tentar entender, e Nagato tornou a suspirar, como fazia quando eram pequenos, e Naruto fazia uma pergunta particularmente difícil para ele responder.

— A existência de uma regra não significa que aquela regra é sempre seguida. Talvez nós tenhamos um ancestral bruxo muito próximo, de modo que a magia se manifestou mais forte em nós. Eu não sei. – deu de ombros – Poucas coisas fazem sentido no mundo bruxo.

— Ah. – Naruto soltou, automático, mas, poucos segundos depois, seus olhos se arregalaram, tanto que pareciam saltar, e sua boca se entreabriu – AH!

Nagato rolou os olhos, mas seus ombros tremeram enquanto ria baixo, vendo a confusão do irmão e quando ele finalmente entendeu. Era engraçado, como quando eram mais novos. Naruto, por outro lado, sentia-se maravilhado e pasmo ao mesmo tempo, sem saber o que sentir ou como reagir. Tudo que fazia era encarar o irmão, formulando frases que não conseguia completar.

— Vo-vo-vo-você, vo-vo-você- – gaguejou copiosamente – Por que nunca me contou nada?! – gritou, então, atirando os braços para cima, ultrajado. Nagato resistiu ao impulso de suspirar mais uma vez.

— Você é idiota? – Naruto fez uma careta ofendida – Eu acabei de te dizer! Eu senti inveja de você. – Naruto murchou, o rosto mais controlado, finalmente entendendo, ao menos um pouco, o lado do irmão.

— Ah. – foi o que disse, tornando a apoiar os braços, e Nagato bufou, rolando os olhos.

— Sim, isso mesmo. – alongou as costas e o pescoço, se preparando para um longo monólogo – Eu já tinha percebido que eu era diferente. Eu conseguia ver as magias e os animais, mas eu nunca consegui realizar feitiços, como você fazia quando criança. Era óbvio que nós éramos parecidos, de alguma maneira, e o papai e a mamãe perceberam isso também. Mas, então, você recebeu sua carta de Hogwarts, quando completou onze anos, e eu já estava com quinze. Quero dizer, não precisava ser um gênio para perceber que você tinha algo a mais. – Nagato suspirou. Naruto se lembrava vagamente da infância, em como ele e o irmão brincavam com pássaros estranhos e coloridos, e como a brincadeira acabava quando Naruto fazia as penas dos pássaros brilharem, e Nagato não – Você foi para Hogwarts, e eu me empenhei em procurar mais sobre o assunto. Eu cheguei até mesmo a ir ao Beco Diagonal. – Naruto arqueou a sobrancelha, surpreso. Estava em estado de choque ao saber seu irmão conhecia o maior centro bruxo de toda Londres – Não faça essa cara de surpresa. Achei que soubesse o que eram abortos. – rolou os olhos, e Naruto sentiu-se ofendido.

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— Eu sei! Mas eu estou surpreso, ok? – Nagato bufou, achando graça na maneira que Naruto media as palavras – Você é meu irmão! Eu nunca imaginei que pudesse ir até o Beco Diagonal, por exemplo.

— Eu posso entrar em todos os lugares bruxos, eu posso até mesmo entrar em Hogwarts. – Naruto sentiu a boca entreabrir – Abortos são bruxos que não podem realizar magia. Geralmente se atribuem abortos para mestiços ou puros-sangues porque é raro encontrar abortos nascidos-trouxas. É preciso ter um ancestral muito forte, e ainda mais que você, o filho mais novo, manifestou magia a ponto de ser um bruxo, realmente. – Naruto o fitou, mas Nagato não parecia zombar dele, apenas apontar os fatos – Entende o que eu digo? Nós dois somos aberrações. – o ruivo empurrou Naruto pelo ombro, que se desequilibrou, e o xingou, rindo.

— Tudo bem, tudo bem, eu entendi. – ele tinha tantas perguntas para fazer! – Você estava com inveja. Mas, e depois? Quando eu voltava para casa? Poderíamos ter conversado! – Naruto estava um pouco magoado, e Nagato encolheu os ombros, não o culpando.

— No começo, eu tive vergonha por estar com inveja de você, e procurei por meios de reverter a minha condição. – seu rosto parecia envergonhado, e foi a vez de Naruto suspirar, embora ele não tivesse interrompido – Mas, então, as coisas começaram a ficar complicadas, e eu não podia falar com você.

— Isso teria a ver com Itachi Uchiha? – Naruto não queria ter soado sarcástico, mas Nagato não parecia ter se importando, arregalando os olhos, desta vez genuinamente surpreso?

— Você conhece o Itachi? – o mais novo assentiu – Bem, isso muda um pouco as coisas. Se você conhece o Itachi, e mencionou isso para mim, então devo supor que ele já tenha te contado tudo? – Naruto estremeceu, lembrando-se, e tentou focar somente no momento, ou se perderia em lembranças que o deixariam triste. Ele concordou silenciosamente de novo – Tudo bem. Se você já conhece a Nova Ordem, isso facilita as coisas para mim. Eu conheci o Itachi por acaso, e começamos a conversar, em uma das minhas idas ao Beco. Por algum motivo, ele disse que tinha confiado em mim, e me contou sobre a armada rebelde. Eu não sabia sobre Madara, ou sobre a guerra contra os nascidos-trouxas, mas você era meu irmão, e, se eu pudesse ajudar, eu iria ajudar. – Naruto se surpreendeu com aquilo. Não estava acostumado com demonstrações de carinho e preocupação vindas de Nagato, além do fato de que o irmão mais velho participara da guerra, o que, certamente, não estava ajudando-o a compreender – Eu e Itachi nos tornamos correspondentes, e eu ajudava pesquisando sobre os artefatos e me infiltrando com os trouxas. Ele me mandou uma carta quando Madara foi morto. – um silêncio desconfortável se instalou quando Naruto fitou a grama, subitamente afetado – Naruto, eu sinto muito.

O garoto permaneceu com a cabeça baixa, os ombros curvados, ligeiramente espantado que Nagato estivesse tão a par dos acontecimentos. De qualquer maneira, Naruto tentara, nas últimas semanas, lidar com o fato de que ela realmente se fora, e que a saudade, assim como a dor de se lembrar dela, apenas aumentariam com o tempo. Era algo que ele teria de conviver, e já conseguia se lembrar de seu rosto com mais clareza, sem que sentisse vontade de chorar – considerava aquilo uma grande vitória –. Mas, ainda doía, como o inferno, e, como estava perplexo diante do que conversava com Nagato naquele momento, suas defesas estavam mais baixas que o normal. Suspirou em silêncio, prevendo uma dor de cabeça.

— Ela era incrível. – Naruto levantou a cabeça lentamente – Eu conheci a Hyuuga.

Naruto, até aquele momento, estava se esforçando para ignorar reações exageradas, e tentou compreender o lado do irmão, que não era simplesmente um trouxa – ele fazia parte do mundo bruxo, e fez parte da guerra –. O loiro passara por choques suficientes para que se acostumasse com revelações surpreendentes sem surtar completamente. No entanto, aquilo era algo. Seu irmão, com quem não tivera contato por oito anos – o mesmo irmão que, convenientemente, se revelara um bruxo abortado –, conhecera Hinata. Já era assustador o bastante que ele conhecesse Itachi, agora Hinata também? O que diabos estava acontecendo?

— Como é?

— Eu conheci a Hyuuga. – Nagato repetiu, cauteloso, reparando no fogo que surgira nos olhos do irmão – Ela quem veio até mim, não me pergunte como, eu não sei. – adiantou, rapidamente – Mas ela parecia com pressa. Queria deixar uma coisa comigo, para que eu entregasse a você, quando te visse.

Naruto soltou as pernas, encarando Nagato como se avistasse um fantasma. Seu rosto se desmanchou em uma careta confusa, e seu coração, que antes batia lentamente, aumentou, fazendo doer seu peito. Seus olhos embaçaram, e ele não soube dizer se era de encarar um ponto fixo atrás do irmão, ou se era a raiva que começou a cegá-los. Suas mãos se apertaram com força, e, quando tornou a falar, não reconheceu sua voz:

— Como é que é? – sibilou, ameaçando se levantar – VOCÊ NÃO PENSOU EM ME ENTREGAR ISSO ANTES?! – gritou, absolutamente furioso, mas Nagata sequer piscou diante do ataque, levando uma das mãos no bolso.

— Uou, eu teria te entregado antes se você tivesse voltado antes para casa, seu covarde imbecil. – Naruto desacelerou, admitindo sua culpa, mas não desfez a carranca, enquanto Nagato rolava os olhos, puxando um envelope elegantemente lacrado – Babaca. Aqui. – ele estendeu, e Naruto o puxou com rapidez, como se sua vida dependesse disso – Ela só me entregou e foi embora. Eu queria ajudar ela a chegar em um hospital, pelo menos, mas ela recusou. Ela mancava muito, e estava toda coberta de terra... – Nagato estava divagando quando Naruto o interrompeu, menos irritado e mais pensativo.

— Calma aí, calma aí. Quando foi que ela te entregou isso? – o mais novo sentia que estava meio verde, enjoado.

— O quê? Faz um dois meses, por que?

— Dois. Meses. – Naruto repetiu, atônito, e o envelope quase voou de sua mão.

Não era possível.

Era?

Poderia ser?

Naruto sentiu o estômago afundar, e o sangue fugiu do seu rosto. Seus membros amoleceram, e ele agradeceu por estar sentado. O vento bagunçou seu cabelo, e ele não conseguia mais sentir a brisa. Seus olhos desfocaram, dessa vez não de raiva, mas de inexpressão. Não levou mais que alguns segundos até que seus olhos se enchessem de água, mas ele segurou as lágrimas, tentando voltar para seu lado racional. Nagato o encarava com preocupação.

— Como ela estava? Digo, como ela parecia? – Naruto não queria se deixar levar pelo momento, não queria criar falsas esperanças, para depois se decepcionar, e abrir mais as feridas antigas.

— Você está bem? – Nagato o fitava como se ele estivesse louco – Ela estava suja de terra, com as roupas rasgadas, e tinha mais ou menos essa altura. – esticou os braços para indicar – A pele bem branca, com umas feridas, e o cabelo estava meio chamuscado, mas era grande, e liso. Ela tinha uma franjinha. Ah, e os olhos! – bateu na própria testa – Impossível esquecer aqueles olhos. Eles eram brancos, como duas luas, sabe? Parecia que ela não dormia bem há muito tempo, mas, cara, devo dizer que ela é uma gata. – Naruto não se incomodou com o elogio sincero, porque ele sentia-se imerso, com os ouvidos cheios de água.

— Nagato, eu... eu vou... eu preciso... – gaguejou, se levantando, sem limpar a grama que ficou grudada em sua bermuda. Nagato também se levantou, confuso – Eu vou para o meu quarto, ok. Eu preciso pensar em umas coisas. – parecendo em transe, o garoto puxou o irmão para um meio abraço rápido, surpreendendo-o – Obrigado. Nós ainda vamos conversar mais. Eu só preciso ir... – deixou a frase morrer enquanto se virando, descendo a colina com passos cambaleantes.

— Tudo bem! Até mais, eu acho. – o ruivo respondeu um segundo tarde demais, observando o mais novo quase correr rumo a fazenda, no pé da colina.

Naruto poderia ter aparatado para seu quarto, mas estava estupefato demais para pensar nisso. Suas pernas o levaram até a porta dos fundos, e ele entrou pela cozinha, subindo as escadas rapidamente e fechando a porta atrás de si, enquanto seus olhos vagavam pelo cômodo, já escuro demais, embora o sol ainda estivesse se pondo. O garoto não conseguia formular pensamentos concretos e lógicos, e seus pés começaram a se mover, fazendo-o andar em círculos, gesticulando sozinho, sem, realmente, emitir alguma palavra. Sua mão ainda agarrava o envelope com força, amassando-o nas bordas.

De repente, se sentiu fraco, e parou, com os joelhos estremecendo. Não caiu. Em vez disso, começou a tremer, os lábios entreabertos, sacudindo, até que, finalmente, se abriram em um sorriso trêmulo. Seus olhos se curvaram com pequenas rugas, e o sorriso se tornou mais pronunciado, a medida que ele balbuciava, até que seu rosto estivesse inteiramente coberto de lágrimas, que jorravam sem sua permissão, escorrendo por seu pescoço ou pingando no chão.

Naruto nunca sentira tamanha felicidade antes. Seu corpo estava sendo coberto por um sentimento quente, que se alastrava por cada célula, cobrindo-o. Ele se sentia revigorado, mais que isso – como se despertasse de uma boa noite de sono, e toda sua energia estivesse renovada. Sentia-se ridículo por estar chorando daquela maneira descontrolada, mas ele estava tão feliz! Não conseguia externar aquele sentimento, sentia-se transbordando, e tudo a sua volta brilhava em tons de laranja.

Hinata estava viva.

Hinata estava viva!

Por meses, Naruto sentiu-se à beira de um precipício, onde uma enorme escuridão se alastrava, tentando puxá-lo para dentro. Ele se sentia sem fôlego, afundando em uma tempestade, tentando manter-se a deriva. Ele experimentara o maior amor que poderia existir, e amara intensamente. E, quando ela se foi, parecia que seu coração jamais iria se recuperar completamente, porque havia um buraco que nunca poderia ser tampado. Naruto era um amontado de peças soltas, tentando se encaixar, com pedaços faltando, e partes rasgadas, apenas tentando se consertar.

Mas, naquele instante, naquele mínimo instante, Naruto sentiu uma explosão dentro de si, e tudo estava iluminado de novo. Suas peças estavam inteiras, e se encaixavam perfeitamente, deixando-o como novo. Não, era mais que isso – não era como se Naruto tivesse se consertado. Era como se nunca tivesse se ferido.

A mera possibilidade de Hinata estar viva lhe dava uma nova injeção de ânimo. Tinha a impressão que podia fazer tudo – ele queria fazer tudo –. Porque seu coração batia forte, e vívido, e ele não sentia mais dor. Não importava onde Hinata estivesse, ele a encontraria. A única coisa entre eles era a morte, e, agora que essa barreira não existia mais, nada naquele mundo seria capaz de impedi-lo.

Tentando se recompor dignamente, Naruto sentou-se na beira da cama, limpando o rosto com as costas da mão, e estendendo o braço para puxar a varinha, acendendo as lâmpadas do ambiente. O envelope, ainda em seu mão, tinha algumas manchas de lágrimas, mas o papel era grosso o suficiente para não absorvê-las. Excitado, rasgou a lateral para abrir, e, de dentro, puxou, com expectativa, um único papel, retangular.

Em seus dedos, analisou o pequeno bilhete. Não havia mais nada dentro do envelope, ou grudado no outro papel. Naruto transformou o rosto em uma careta confusa, e, virando o papel, se deparou com apenas duas linhas de inscrição, na caligrafia elegante de Hinata:

60 10 10 N

24 56 7 E

Se estava animado antes, agora estava perdido. Aqueles números não lhe diziam nada, muito menos as letras. Não impediu que um suspiro escapasse por sua boca. Era óbvio, de uma forma irônica, que Hinata apenas não facilitaria para ele, transformando tudo em um enigma até o fim. O Uzumaki sentia que aquele bilhete mostrava o caminho até ela, e ele não desistiria até descobrir como.

Pôs-se de pé, tornando a caminhar em círculos, agora colocando a cabeça para funcionar. Pensou nos possíveis significados que aqueles números poderiam representar para Hinata, e para ele. Naruto fizera parte do Esquadrão de Inteligência durante meses, e para alguma coisa ele tinha que servir.

De repente, um estampido mental. Era isso! Animado, moveu a varinha e fez as malas em tempo recordo. Pegou a bolsa, já cheia de roupas e seus itens de feitiços de sobrevivência, como poções, e colocou sobre as costas. Deixou o quarto, com as luzes apagadas, e desceu as escadas em saltos, avistando seus pais e Nagato reunidos na cozinha. Deveriam ser quase sete da noite, e os três pares de olhos se voltaram para ele.

— Onde vai, filho? – Kushina perguntou, sentindo-se triste por Naruto já ter que partir tão cedo. O loiro se aproximou e depositou um beijo demorado no alto da cabeça da mãe.

— Preciso resolver uns assuntos, mãe. Mas não se preocupe, eu volto. Talvez demore algumas semanas, mas eu, com certeza, volto. – respondeu com animação, e também deu um beijo em seu pai, que riu da empolgação do filho. Quando ele voltara, perceberam como estava cabisbaixo, e vê-lo novamente cheio de energia era tranquilizador. Naruto era um bruxo, afinal, e ele tinha compromissos com sua outra vida também.

— É bom te ver tão motivado, pirralho. – Nagato não perdeu a chance de provocá-lo, e Naruto não se importou em lhe dar a língua, passando por ele e cutucando suas costas.

— Nós ainda temos muito para conversar, idiota. – os pais sorriram para a cena, vendo seus dois filhos se deram bem de novo, depois de tantos anos. Era como ter a família inteira novamente, como tinha que ser.

Naruto se despediu novamente de cada um deles e caminhou para fora da fazenda, o campo aberto e vasto. Olhou para cima, para o céu já escuro, onde milhões de estrelas despontavam, pontos brancos e brilhantes sobre ele. Sorriu para o nada, e brisa tocou seu rosto, como uma mãe que incentiva o filho. Naruto estava com medo, mas ele tinha de fazer isso – não poderia viver sem seu coração.

Com um pensamento, estava viajando, o corpo todo repuxado, e, no piscar de olhos seguinte, estava no centro da sala que conhecia tão bem. A jornada já havia se encerrado, e restavam apenas alguns bruxos ali. Quando aterrissou, o mais próximo gritou de susto, procurando pela varinha, mas Naruto o acalmou antes que sofresse alguma azaração, uma vez que era impossível bruxos não credenciados aparatarem no meio do quartel-general da seção de Inteligência do Ministério, e bruxos credenciados não precisavam aparatar no meio do quartel-general da seção de Inteligência do Ministério.

— O que está acontecendo aqui?! – Ibiki entrou pela porta eufórico, com a varinha em punhos, e, quando seus olhos pousaram sobre Naruto, ele suspirou aliviado, baixando a guarda – Você quer me matar do coração, garoto? Venha, entre.

— Desculpe. – o Uzumaki respondeu, sorridente, e caminhou para seguir o comandante.

Entraram no escritório de Ibiki, que mais parecia como uma grande sala de controle de um submarino. Mesas com botões brilhantes, gráficos reproduzidos no ar, telas com dados estatísticos e um grande mapa realístico, que mostrava, em tempo real, todo o hemisfério norte do globo. Naruto nunca se cansava de admirar todos os troféus de guerra exibidos em estantes pelo cômodo. Ibiki voltou a se sentar em sua cadeira, de costas para Naruto, enquanto buscava algo em um dos mapas.

— Em que posso ajudá-lo, garoto? Já quer voltar à ativa? – o comandante estava realmente sendo muito compreensivo quanto a folga de Naruto.

— Em breve, capitão. – o homem virou-se, surpreso com a resposta – Mas eu vim aqui lhe pedir ajuda para uma missão. – puxou do bolso o papel com os números, entregando a Ibiki – O que o senhor pode me dizer destes números?

Ibiki puxou o papel, sem questionar, e analisou-o por alguns segundos, em silêncio. A medida que passava, sua testa se vincava mais, ressaltando a cabeça totalmente raspada e a bandana que deixava presa sobre ela. Seu rosto se voltou para Naruto, ainda pensativo.

— Bom, são estranhos, mas, à primeira vista, me parecem coordenadas. – o rosto de Naruto se iluminou como luzes de natal.

— Coordenadas! É isso!

Naruto correu para o painel de mapas, empolgado demais para dar satisfação para o capitão, que o fitava, confuso. O Uzumaki não poderia estar mais feliz que naquele momento – era algo que deveria ter imaginado sozinho. Hinata era inteligente o suficiente para se comunicar com códigos, e logicamente deixaria sua localização como um.

Buscou nas projeções os números correspondentes, e, quando os encontrou, não pode deixar de se surpreender. Helsínquia, Finlândia. Não conseguiu encontrar uma ligação entre Hinata e aquele lugar, mas ele aprendera, com o tempo, que tudo que ela fazia tinha um motivo. Oculto, mas existia.

— Parece que eu vou para a Finlândia. – murmurou, mais para si que para Ibiki, que também escutou.

— Filândia? Que diabos está acontecendo, Uzumaki? – se aproximou, com a mão em seu ombro. Embora confuso, não podia negar que se sentia satisfeito em enxergar ali o mesmo garoto que admitira há quase dois anos em seu esquadrão. Vivo, cheio de energia e determinação.

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— Capitão, receio não poder lhe dizer agora. – Naruto não sabia até onde terceiras pessoas poderiam saber, e decidiu manter tudo sigiloso – Mas peço que acredite em mim. Se eu estiver certo, estou partindo em busca de algo bom, muito bom. – sua voz era sincera, e Ibiki assentiu, acreditando no rapaz.

— Então nos vemos logo, garoto. – Naruto sorriu, agradecendo, e, no momento seguinte, aparatou.

Agradeceu que a Brigada de Aurores tivesse partido em uma missão para a Finlândia, no ano anterior, de modo que ele já havia estado no país. Quando seus pés pousaram, ele estava em uma pequena viela, de prédios de pedra e lamparinas acesas. Puxou a varinha, conjurando um localizador, e caminhou até que estivesse nas coordenadas corretas. Andou por cerca de meia hora, agradecendo que estivesse, ao menos, na cidade correta, e, quando atingiu os pontos exatos, se encontrava no centro da cidade, o comércio já fechado, a lua cheia brilhando no céu. Olhou em volta, confuso, parte de si xingando a Hyuuga, como nos velhos tempos – tinha de ser tudo tão misterioso? –. Por fim, seus olhos pousaram contra um muro de pedra do lado oposto, livre de orvalho, com inscrições pequenas entalhadas a mão. Sorriu quando enxergou novas coordenadas, e rapidamente as localizou, aparatando para lugares próximos, agradecendo por serem países que já estivera, e, pensando, momentos depois, que, assim como tudo na vida de Hinata, era um plano muito bem arquitetado.

A partir daquele momento, Naruto iniciou uma caçada humana particularmente cansativa. Cada nova localização indicava um novo par de coordenadas, que o levava a um novo país. Naruto ponderou ter visitado cerca de cinco ou seis lugares diferentes, e, entre descansar e dormir, viajou por longas semanas.

Em meio a suas viagens terrestres, quando aparatava em lugares distantes demais, ou que não havia estado ainda, Naruto pensava em Hinata. Na maior parte do tempo, admitia, mantinha a garota em sua mente. Lembrava-se da sua voz vezes o suficiente para não se esquecer, e do seu rosto, e do seu toque. Gostava de devanear, alimentar fantasias, sobre quando a encontrasse, e as perguntas que faria, e as coisas que faria. E, então, dormia sorrindo.

Era verdade que não tinha entendido porque aquele jogo de rato e gato. De alguma maneira, Hinata não queria ser encontrada por outras pessoas, que não fosse Naruto – o que, certamente, ajudava com seu ego –. Mas fingir a própria morte? Aquilo não parecia o tipo de coisa que a Hyuuga faria, mesmo que quisesse desaparecer. E também havia Itachi, que parecia tão atormentado quanto o próprio Naruto. Se Hinata estava viva, e tinha planos de sobreviver ao ataque, por que não havia dito para o Uchiha, a quem tanto prezava?

E se...

E se Hinata não soubesse que sobreviveria? E se ela estivesse arquitetando um plano, um plano com poucas chances de dar certo, e, por este motivo, não queria dar esperanças a ninguém? Era do feitio da garota esconder esse tipo de coisa para poupar aqueles a quem amava. Itachi havia dito que era preciso que alguém aparatasse para que o choque dos artefatos mágicos não destruísse tudo ao redor. E se Hinata conseguisse, de alguma maneira, aparatar para outro lugar, enquanto a detonação não a atingisse? Até Naruto admitia que as chances eram pequenas, quase inexistentes. Mas, e se Hinata conseguisse? Ela estaria debilitada demais para voltar, e precisaria se recompor, por algumas semanas, ou quem sabe meses. E, então, ela gostaria que Naruto a encontrasse, apenas ele, por algum motivo que ele não sabia explicar.

Ou sabia.

Hinata o amava. O amava da maneira que ele a amava. E isso era mais que suficiente para querer que estivessem juntos o quanto antes.

Eram tantas perguntas em sua mente, mas ele não se importava com elas. Só se importava com ter Hinata de volta.

A última coordenada era misteriosa para Naruto. Em algum lugar próximo de Silícia, mas era uma localização estranha, que não levava a nenhum lugar na cidade. O Uzumaki já estava viajando há pouco mais de um mês, e algo lhe dizia que aquele era o destino final. Andou por todos os arredores, e, finalmente, quando perguntou a um casal de camponeses em um condado próximo do litoral, eles informaram que havia um pequeno vilarejo turístico, que fazia viagens para as praias afastadas e para as ilhas isoladas, próximas as florestas baixas dos arredores.

Naruto sentia-se mais que eufórico quando se dirigiu para o vilarejo. Seu coração batia mais rápido, quase como um ímã que o puxava diretamente para sua outra metade – e ele não via a hora de estar completo novamente.

Caminhou. Fazia sol, o fim de tarde se aproximando, e ele conseguiu encontrar trilhas fechadas, pouco acima do nível do mar. A paisagem era enebriante, um lugar em que gostaria de morar. O mar era como um grande espelho, calmo, puro. De certa maneira, Naruto não pode deixar de comparar com o próprio espírito da Hyuuga. Quando se encontrassem novamente, não haveria segredos, ou máscaras. Apenas eles.

Naruto não sabia onde estava quando as copas começaram a se fechar ao redor dele, tampando a luz solar, mas ele sabia que estava no lugar certo. Aconteceu naturalmente, seus pés o guiando para onde seu coração mandava. A trilha se fechava, e as raízes arranhavam seu calcanhar. Mas, quando Naruto avistou uma precipitação rochosa, com uma abertura abaixo, seu coração se acalmou, e ele sorriu. Sorriu verdadeiramente, um sorriso singelo, brilhante. Não estava nervoso, como imaginou que estaria. Suas mãos não suavam, e seu peito não estava doendo de ansiedade. Um reencontro que, de tão esperado, parecia natural demais.

Naruto avançou, certo do que fazia, andando tão automaticamente quanto respirar. Abaixou a cabeça, desviando de um tronco, até que a entrada da caverna parecia acessível. Tudo ao redor era verde, de um verde intenso e vívido, e Naruto riu sozinho da piada interna. De alguma maneira, aquilo parecia exatamente algo que Hinata faria.

Ele entrou.

Era surpreendentemente claro, refletido pelas paredes lisas interiores da caverna. O chão continha musgo úmido, e o ar era limpo e fresco. Seus olhos se ajustaram, e, no fundo, a viu.

Sentada com as pernas cruzadas, ela o fitava, sorridente. Seu rosto estava mais cheio, e as bochechas, mais coradas. Sua pele estava mais branca, com alguns machucados cicatrizando em seus braços expostos. Usava uma calça preta e botas de coturno. Não havia marca alguma em seu antebraço. Seu cabelo estava maior, com a franja saltando pelos olhos, jogada para os lados, e seus olhos – ah, os olhos! – estavam brilhando. Um brilho único. Naruto deixou-se surpreender. Era como se a estivesse vendo pela primeira vez.

De repente, todos os anos valeram a pena, apenas para aquele momento. Todas as brigas, todos rancores, todas as dores, todas as lágrimas. Naruto sabia que amava Hinata, com todo seu coração e alma – encontrá-la foi a maior prova disto, porque ele sempre voltaria para ele. Mas, naquele momento, Naruto se apaixonou novamente, por aquela garota sentada, o fitando cheia de emoção. Ela era diferente, diferente de tudo que amava, e, por isso, ele a amou mais ainda.

— Você demorou muito. – sua voz reverberou por toda a caverna, e ela sorria. Usava um broche já desgasto, de cores opacas, que Naruto conhecia bem – Tinha que ser grifinório mesmo.

Naruto sorriu mais largamente, se aproximando em passos curtos e lentos. Quanto mais andava, mais seu rosto se tranquilizava. Seu peito estava calmo, e nada doía. Nenhuma ferida aberta, nenhuma mágoa. Somente amor – o consumia, queimava. Era quente, e era bom.

— Você complicou muito as coisas. – respondeu, com seu velho tom zombeteiro – Tinha que ser sonserina mesmo.

Hinata sorriu, se levantando e sacudindo as roupas. Ela parecia ainda mais baixa, e, quando Naruto recostou seu braço na cintura da garota, encaixou-se perfeitamente, como se esperasse por aquele molde. E, quando sorriram um para o outro, seus rostos se aproximando sem cautela, souberam que se pertenciam. E, quando seus lábios se colaram, foi como se nunca tivessem sido separados. Nenhuma dor ou ferida, nenhum rancor. Apenas doce e macio.

Naruto se afogou naquele beijo, e poderia nunca mais voltar a superfície e respirar. Ele não notaria. Porque, vermelho e amarelo, ou verde e prateado, não importava. Onde Hinata estivesse, aquela seria sua Casa.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.