A Liga Extraordinária Brasileira

O Ceifador (Parte 2)


— Bruno! — uma voz feminina vibrando do fim do túnel gritou o nome do ocultista. — Acorda, por favor! Acorda!

O espaço da qual Bruno se encontrava era um caminho de luz, ao final ele encontrou um dos orbes ao qual tanto almejava ter em mãos. O orbe da Vida, capaz de proceder à energia vital de qualquer ser, objeto ou “coisa”; ou seja, com a capacidade de trazer qualquer um de volta à vitalidade, ou mesmo tornar algo um ser vivente por um prazo curto de tempo. Quando se aproximou para toca-lo e obtiver todo o seu poder, a voz lhe chamou de volta, seu corpo foi arrastado para a escuridão do túnel oposto, ele gritou e berrou mais ainda quando o chão afundou e se viu caindo sobre mãos gigantes de névoa escura com garras ósseas sólidas como obsidianas, no centro da palma, o orbe da Morte.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Onde estou? — perguntou Bruno ao acordar.

“Você está em meu Reino...”.

A voz vibrava pelas garras de sombra e o ocultista berrava mais ainda e desesperadamente tentava se livrar das mãos do inimigo, tentava executar algum feitiço, mas nenhum sentia efeito. Sua voz foi abafada pela escuridão, e seus pulmões se encheram de algo denso, pareciam ser pedras em brasa queimando sua respiração; aflição, combustão e dificuldade de respirar não permitia o bruxo a pensar sobre nada.

“Quem é você? O que fez comigo?” perguntou mentalmente Bruno.

“Isto infelizmente é um pequeno efeito do meu poder, mas não se apresse, logo, logo, eu me apresentarei”.

O ocultista foi solto pelas mãos e caiu num poço sem fundo, acordando logo em seguida.

— Graças a Deus! — disse a voz feminina. — Você está vivo!

— Quem está aí? — perguntou eufórico levantando de seu estupor.

O ocultista havia sido aprisionado em uma cela de material vítreo parecido com o mesmo utilizado para aprender Lúcio e Jorge na base de operação em Iguaçu, metal reforçava o teto e o piso; o brilho de luzes de pedra quartzito que contornavam o rodapé, tornavam o ambiente sombrio como uma luminária de lava. Bruno piscou para ajustar a vista e o mesmo reconheceu a silhueta feminina a um metro da sua esquerda.

— Sou eu, Maria?

A fantasma estava caída sentada ao chão mantida presa em uma cela igual a do ocultista, seu rosto estava mais pálido e sem vida do que deveria ser, e parecia mais opaco para um fantasma, não o ser translúcido que a loira tinha de aparência.

— O que aconteceu com você?

— Isto não é o problema agora... — Maria apontou para fora da sala. — Observe!

— Mas que diabo é isto? — retoricou Bruno.

O cômodo que se encontrava era definitivamente enorme, talvez enorme seja um eufemismo. Uma fissura de aproximadamente dez metros ao teto permitia que a luz do sol penetrasse a fenda e iluminasse a câmera do teto alto até uma pequena parcela do fundo do solo. A fenda possuía paredes de mais de cinquenta metros, composta por enormes estalactites e estalagmites de puro quartzito, material variando do tom branco ao esverdeado vítreo por toda a extensão cavernosa. No terreno baixo, além das estalagmites, era rodeado por maquinários, aquário com substancia viscosas e plasmáticas brilhando em tons do dourado ao amarelo, tubos de aço provindo da parede transportando gases e líquidos. Ao terreno alto, além das estalactites, cabos de ferro e aço suspendiam carcaças de animais, ganchos, gaiolas e redes de apoio.

No entanto, o que mais assustava era um grande pedaço de quartzito vermelho pulsando em luz pendurado pelos cabos no meio da fenda. Tinha o formato cônico deformado, com duplo rombo no topo e espécies de canos de metal brotando do topo e conduzindo energia ao restante da caverna, como um processo de bombeamento. Quatro destes encanamentos estavam ligados a quatro prisões, duas delas bombeavam energia das celas de Bruno e Maria. A fantasma se encontrava sólida como quase viva, se não fosse sua cor altamente branca e seus lábios e olhos vermelhos rubros que o diferenciava dos vivos.

— Maria!

— O que?

— Isto é o que estou pensando?

— Sim, um grande coração.

— O morro está vivo?

— Não somente o morro, mas quase todo o relevo da baía de Guanabara.

A dez passos dos dois prisioneiros, um cristal circular abriu-se como lentes fotográficas, do interior do túnel saíram um esquadrão de espectros de sombras e seres necrosados, conduzindo um grande prisioneiro da qual carregava uma sacola de pano preenchida por alguém.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Guto. — disse o ocultista.

— E provavelmente Ulisses! — disse Maria. — Olhe o saco.

De dentro do saco, o corpo do jovem alienígena se debatia.

***

Enquanto a cem metros dos quatro prisioneiros uma explosão de fogos e luzes acontecia não muito distante, a um dos tuneis que conduziam a fenda central. Em meio a um esquadrão de mortos vivos, Jorge, o Negrinho Pastoreio, combatia com seus poderes provindo de seu lampião e do comando de seu exercito de formigas que rastejavam em grande quantidade no subsolo do morro. As pequenas criaturas nas mais diferentes espécies, desde as formiga lava-pé, até as formigas de fogo, atacavam em grande enxame, caíam sobre a cabeça dos inimigos e comiam a carne apodrecida dos mortos vivos até sobrar uma pilha de ossos.

O Negrinho Pastoreio acendia esferas de luz e fogo contra as pilhas de ossos e condenavam os espíritos ao descanso eterno e que seus corpos não retornassem a perturbar.

— Deus, conceda a estas almas o descanso merecido e o julgamento, seja ao paraíso ou a danação eterna. — rezou Jorge.

— Danação eterna! — gritou Lúcio.

Do outro lado do túnel, Lúcio em sua forma diabólica monstruosa combatia diretamente o feiticeiro Zuí, o Homem Diabo evocava demônios alados das fissuras ardentes do solo, a qual puxavam os espectros de sombra e o próprio bruxo. O feiticeiro Zuí, com suas veste tribal, que incluía uma tanga comprida rendada cobrindo uma calça de tecido branco, uma capa de penas negras e um cocar de penugem vermelho fogo, colares de conta em seu peitoral muito bem malhado para um senhor de idade. De suas mãos incrementadas por diversos anéis, disparava esferas de magia negra contra Lúcio que apenas se protegiam com seu próprio braço, pequenas ulceras surgiam sobre sua pele, mas o poder de regeneração do meio-demônio era mais forte e intenso.

— Vai ter que fazer muito mais do que estas esferas para me causar algum mal! — debochou o Homem Diabo, suas mãos se fecharam diante ao seu corpo e abriram lentamente formando uma esfera de fogo infernal, e arremessou contra o feiticeiro. — Aproveite o estágio no inferno!

Nem mesmo o escudo negro de energia protegeu o bruxo da esfera de fogo infernal. O feiticeiro foi atingido com sucesso na região abdominal e seu corpo começou a arde em chamas, brasas ardorosas vermelhas preencheram toda sua pele. Os demônios puxaram os pés de Zuí o enterrando. Até metade de sua cintura.

Lúcio riu, mas não se pode vangloriar por muito tempo.

Uma explosão de energia retumbou o canal, entulhos rochosos caíram entre Jorge e Lúcio, os separando, Jorge foi jogado para fora do morro, enquanto Lúcio foi arremessado para mais dentro da caverna, tombando em uma câmara circular. Zuí levitou até o meio-demônio, com o corpo coberto por uma áurea branca que também preenchiam os seus olhos leitosos, deixando mais sinistros. Estendeu o braço com extrema rapidez e um raio disparou de seus de dos atingindo Lúcio; O Homem Diabo contorceu de dor, enquanto o raio circulava pelo seu corpo, como uma corrente estática.

— Você acha que seus demônios iriam me levar ao inferno? — perguntou o feiticeiro Zuí.

Um dos demônios alados sobreviventes da explosão voou desajeitadamente em direção ao feiticeiro, o mesmo o agarrou em pleno ar e o carbonizou por completo até resta apenas cinzas para contar história.

— Demônios como você são como baratas para mim, eu mato qualquer uma com uma piscar de olhos. Seres nojentos das profundezas, de vocês eu possuo muitos, não será diferente de você garoto, o simples meio-demônio, metade humano, metade Diabo.

— Você não entende, eu não sou como os outros demônios! — comentou Lúcio ainda agonizando de dor ao chão.

O feiticeiro riu.

— Ah, eu entendo perfeitamente. — aproximou Zuí, se abaixou até o local em que se encontrava caído o Homem-Diabo. — Eu entendo perfeitamente como você é “especial”. O filho do próprio Lúcifer e de uma mera mortal, visitado pelo rei dos Infernos, uma aposta perdida, uma consequência de um plano maior. Você já ouviu falar que tenho influencia sobre o surgimento de boa parte das criaturas da mitologia brasileira? A Mula Sem Cabeça? O Lobisomem? A Boneca Viva?

— Não... Você não... Sabe!— agonizava Lúcio.

— Eu não sei? — riu o feiticeiro e segurou o queixo do meio-demônio não sendo afetado pelo raio que percorria seu corpo. — Quem não sabe é você, meio demônio. Você é fruto de uma aposta entre mim e seu pai, ele perdeu e teve que compactuar no seu surgimento. É claro, eu esperava que você fosse mais ameaçador as cidades brasileiras, mas você apenas fugia e se escondia... Minha pior criação...

Lúcio riu.

— Você não entende mesmo./ Que passa entre minha dor! — o rabo de Lúcio enroscou em torno do pescoço do feiticeiro Zuí, que começou a sufocar. Um dos pentagramas de magia surgiu na testa de Lúcio, de cor roxa, com a imagem de uma vareta e uma estrela. — De magia imune estou./ Mas sei que sou um bom ator! — terminou de rimar.

O corpo do feiticeiro foi rodopiado ao ar como uma varinha brilhante e arremessado com força ao chão, levantando nuvem de entulhos, pedras e poeiras.

***

— Soltem-no! — gritou Bruno de dentro de sua cela.

— Se acalme Bruno! — conversou Maria com o ocultista.

— Eu não posso ficar calmo, meu amigo está aprisionado naquele saco, eu já senti sensorialmente a magia daquele objeto, pode ser forte demais para ele.

— Você não vai consegui nada gritando, agora que tal primeiro arranjar um jeito de sair destas prisões?

— Já tem poder suficiente para atravessar a parede?

— Eu não sei ao certo, acredito que mesmo que recupere todas minhas forças, este tipo de cela está magicamente selado a intangibilidade. E seus recursos mágicos?

— Eles não conseguiram arrancar o livro e nem meus orbes, mas também não consigo evoca-los, tentei algumas magias que tenho ideia, mas elas não funcionam, parece que este campo reduz nossa essência mística.

Próximo aos prisioneiros, um círculo de luz rosa surgiu ao teto esquerdo da fissura, a rocha que o preenchiam se soltaram caindo sobre as prisões, mas não causando nenhum dano, nem as celas, nem a Maria e Bruno. Uma plataforma de quartzito desceu do círculo de luz. Um ser humanoide se encontrava em pé sobre a plataforma e a conduzia para o centro da gruta, por baixo das sombras do grande coração de quartzito, quando desceu, a plataforma subiu ao coração e fundiu ao grande coração.

Quando o humanoide caminhou em direção à luz, detalhes do seu corpo se tornavam visíveis, começando aos seus pés acinzentados, possuía unhas grandes e a pele parecia apodrecida. A descrição do pé se estendia pelo restante do seu corpo, o humanoide estava decomposto, algumas vezes surgiam fendas em sua carne revelando seu esqueleto, pequenas larvas e vermes as preenchiam; trapos desgastados e esburacados cobriam parte de seu tronco, mas não o suficiente para enojar qualquer um que observasse direto á suas ulceras.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Seu rosto deformado tinha alguns poucos fios cinza de cabelo, suas orbitas oculares eram vazios e preenchidos por escuridão, não havia lábios e seus dentes estavam sempre expostos em um sorriso bizarro. Perto dos outros mortos-vivos ele era mais alto, musculoso e tenebroso, além do detalhe que suas unhas, do pê e das mãos, pareciam compridos como galhos, o próprio se disfarçaria bem entre qualquer tronco velho seco de árvore.

“Seco...” pensou Bruno.

— Olá, ocultista Bruno! — disse secamente o Corpo Seco, em sua voz tão afiada quanto à lâmina de um facão arranhando a calçada de uma rua deserta a meia noite.

— Olá, Corpo Seco. — respondeu o ocultista.

— Ah! — Corpo Seco retesou seu corpo incomodado — Odeio este nome, me chame de Unhudo.

— Grato, mas eu prefiro continuar lhe chamando de Corpo Seco.

— Parece que temos um teimoso aqui... — Unhudo estendeu as mãos e Bruno agonizou, a prisão o bombardeava com sua própria magia. — Assim que ensinamos nossos prisioneiros a serem obedientes.

— Pare! — gritou Maria.

— E o que temos aqui... — Unhudo aproximou da prisão da fantasma, e tocou a proteção vítrea. — A Loira do Banheiro, conseguiu se desligar do seu corpo material, mas não conseguiu atravessar ao Além... Bom, eu tenho uma solução.

— Não escute ele... — sussurrou Bruno caído ao chão de sua prisão, em posição fetal, tentando se recuperar da descarga elétrica.

— Ah! Mas ela vai achar minha proposta interessante... — disse Unhudo.

— Que proposta? Do que ele está falando?

— De se juntar aos meus aliados, em troca... Eu lhe concedo a liberdade que o seu companheiro ali... — apontou Unhudo para o ocultista que se recuperava. — Não pode lhe cumprir

— Ele... É... Um vigarista... — arfou Bruno entres as palavras. O ocultista não se sentia bem, a falta de magia combinado ao ataque do Corpo Seco deixou-lhe impotente, como uma bateria, toda sua energia foi consumida, mas de repente, estava sendo forçada a carregar além de sua capacidade elétrica, uma sobrecarga de poder.

— Os oito orbes de magia, cada um podendo controlar uma esfera de poder, Bruno lhe falou sobre as capacidades que elas podem fazer? — perguntou Unhudo a Maria.

— Não... Quer dizer... Não sobre tudo. — disse Maria, hipnotizada ao assunto de Unhudo e ao mesmo tempo, distraindo-o e ganhando tempo para que não atacasse novamente o ocultista, que poderia desenvolver um plano para que tirassem os dois dali. Ela mesma tentava pensar em algo, mas se sentia inútil sem sua invisibilidade e intangibilidade.

— Os Oitos Orbes da Magia: Existem desde o princípio do surgimento da vida, os índios contam uma lenda, os negros contam outro mito, os cristãos também tem sua versão da história, essa é a que considero a mais engraçada, pois transformaram os orbes em maçãs do pecado em um bosque... — Unhudo riu. — Enfim, o Primeiro Ser, após a criação, redistribuiu seus poderes em oito rochas e as atirou na Terra, para que se perdessem, e esse conhecimento apenas encontrasse as mãos de quem as merecessem, e servissem ao seu propósito...

Unhudo pausou para mudar a posição do peso do corpo a outra perna.

— Acontece que Aquele Primeiro Ser não previu... Que ironia... Que os homens encontrariam fácil as suas rochas, o primeiro foi justamente o primeiro homem, Adão, que mordeu o primeiro fruto... — Unhudo mais uma vez parou pensativo, tentando imaginar qual dos orbes foi o fruto mordido, provavelmente o Orbe da Razão. — Isso é outra longa história para outra hora, que você pode ler em Genesis. Os oitos orbes são divididos em esferas de poderes que moldam a realidade a sua forma: o da Energia, capaz de manipular qualquer energia de transformação, física ou química; o da Matéria, capaz de manipular qualquer elemento da natureza; o da Emoção, capaz de controlar qualquer instinto animal; o da Razão, capaz de controlar a onisciência animal; o da Ordem, capaz de comandar qualquer ser vivo, pensante ou não; o do Tempo, que permiti se enxergar além do passado e do futuro... E os mais importantes os Orbes da Vida e da Morte...

Unhudo se contorceu para frente, e com a mesma rapidez, se esticou para trás, como se desejasse expelir algo de seu peitoral necrosado, e justamente era isso que ele estava tentando fazer, uma esfera, um orbe negro e denso, material tão negro, que paradoxalmente brilhava e irradiava energia. Corpo Seco deixou a mostra como uma espécie de broche, mas preso ao seu peitoral esquerdo, onde deveria existir seu coração.

— Separados eles não produzem efeitos muito extraordinário, um tem o poder de aliviar dores e curar doença, até mesmo trazer mortos de volta a vida e ter seu corpo restaurado; outro tem o poder que me permite comandar o exército de mortos-vivos, serem provindo do inferno presos em seus corpos putrificados, ou criar mazelas e pragas a qualquer inimigo. — disse Unhudo apontando a Bruno, fatigado e cansado — No entanto, unidos, eles controlam a porta do que você pode chamar de Céu ou Inferno, tanto faz qual seja a sua crença, a pós-vida é tudo igual, e isso permite até mesmo que eu desafie o Grande Senhor, o poderoso Deus, Olodumaré, Yamandú...

Unhudo fechou seu punho ossudo e levou ao céu.

— Mas principalmente... Conceder que a minha bela senhora, possa ir à pós-vida, ou se desejar, tornar viva novamente, e não como estes débeis mortos-vivos, mas como uma delicada mulher novamente, e viverá imortalmente à nova era, a Era de Unhudo! — Corpo seco estalou os dedos, fez uma reverencia a Maria, sua prisão sumiu. A fantasma recuperou sua cor, tornando-se visível, Unhudo estendeu sua mão a ele. — O que me diz? Junte-se a mim e ganhe sua carta de alforria ou morra junto com seu namoradinho?

— E Ulisses? Guto? — perguntou Maria, pensando no negócio que poderia fazer com Unhudo a favor de seus outros amigos.

— O extraterrestre? Tem uma oferta especial de busca a ele, alguém está muito interessado em sua espécie.

— Quem?

— Ah! Alguém que pagou muito, inclusive financiou a construção desta base.

— O serviço militar? — perguntou Bruno, já recuperado, observando sua amada de frente com a aberração.

— Não! — gargalhou Unhudo. — Aqueles idiotas são nossos inimigos, mas os coitados nem tem ideia da trama mundial que o seu amiguinho interplanetário causou.

Era muita informação para Maria processar. Trama mundial? Isto era algo para não questionar agora, mas encontrar uma forma de liberta os seus amigos, aproveitando que estava livre... Ou quase livre.

— E Guto?

— O gigante? — riu descaradamente Unhudo. — Baltazar!

Guto se aproximou de Unhudo, sendo o dobro do tamanho do inimigo posicionado ao seu lado, Maria desejava que ele voltasse à consciência e esmagasse em ossos o Sr Corpo Seco, mas havia algo de diferente no gigante, ele parecia mais sombrio, seus olhos estavam completamente vermelhos, caninos a mostra e até mesmo a sua sacola era sombria e mais cheia.

— Guto? — perguntou Bruno. — Mas...

— O Velho do Saco! — interrompeu Unhudo, apoiando um braço na outra mão, e apoiando o seu queixo esquelético. — Claro! Não tão velho assim como já foi um dia, digamos que com a ajudinha do Orbe da Morte e um pouco da magia do feiticeiro Zuí, conseguimos transformar Baltazar em uma massa de músculo poderosa, tornando membro efetivo da equipe, e também, agente duplo ao nosso favor.

— O traidor! — comentou Bruno.

***

— Você acha que estas cordas vão segura-lo? — perguntou Lúcio grosseiramente. — Observa se você amarra esta porcaria direito, mais forte nesse laço!

— Por quanto tempo terei que aturar a sua versão “monstro”? Está insuportável. — comentou Jorge que criou um laço santo de luz e prendeu o corpo do feiticeiro Zuí. — Geralmente termino de amarrar minhas vítimas e levo ao julgamento de Nossa Senhora, ela tem uma personalidade justa, sabe quando alguém se redimiu dos seus pecados ou não, depois eles são “soltos”, mas entregue a justiça do homem.

— Ei pensei que você matava os fazendeiros, baderneiros e etc. — gargalhou o Homem Diabo. — Que merda...

— Para onde devemos prosseguir? — interrompeu Jorge. — Quero ter garantia que o velhote aqui não acorde.

O Negrinho Pastoreio levou o corpo desmaiado do feiticeiro e com ajuda da força do Homem Diabo, fez uma prisão de pedras, que desmontaria no primeiro movimento brusco, algo preventivo, caso o feiticeiro livra-se das cordas sagradas de luz. Lúcio apontou em direção à entrada da caverna feita após o seu arremesso, depois apontou para o lado contrario.

— Naquela direção o túnel pode desabar graças ao estrago da batalha, sugiro criar uma passagem do lado oposto, eu posso abrir caminho.

— Que beleza, mais pedra derretida.

— Desta vez terei que usar os punhos! — comentou Lucio. — Aliás, o que aconteceu do seu lado da batalha que o fez demorar tanto para me auxiliar?

— Demônios, espectros e mortos vivos pulverizados, a explosão me jogou para fora, mas não me causou nenhum mal, fiquei temporariamente desacordado, mas estou bem.

— Tem certeza, magrelo?

— Tenho, agora continue abrindo passagem! — ordenou Jorge.

***

— Você esperava o que? A lenda é do Velho do Saco, Baltazar não tem afeição de velho, e nem mesmo se tornou um, e sabe qual o alimento preferido dele? Crianças, delas que ele retira a juventude. — Unhudo bateu nos ombros de Baltazar, precisando esticar seu braço ossudo para alcançar. — É claro que ele não precisa mais desta força vital, mas infelizmente não podemos reverter à situação de sua sacola, sem ela suas forças se esvaem como ar soltando de uma bexiga.

— Mas... Por quê? — perguntou Maria.

— No início era apenas para capturar informações do idiota do Sargento Brandão, e a localização do quartzito. Então, como já tinha em conhecimento do sistema de criação da Liga Extraordinária Brasileira, então mexi os pauzinhos e reuni vocês cinco juntos, cada um com habilidades especificas ao meu serviço.

— Do que você está falando?

— Estou falando de usar o poder de vocês como fonte de energia ao meu gigante, ao Grande Gigante de Guanabara! — comentou Unhudo. — A magia do Ocultista para servir como sangue, a fé do Negrinho para da alma, e a escuridão do demônio para dá uma pitada de força bruta, até mesmo arrancarei um pouco da energia do alienígena, ele me parece um espécime bem inteligente.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

***

A cinquenta metros de onde se encontrava Corpo Seco, seus capangas, Bruno, Maria e Baltazar com Ulisses aprisionado, uma das paredes que revestia a fenda era rachada.

— Parece que nossos convidados se aproximam! — disse Unhudo e virou-se ao seu exercito — preparem-se para surpreendê-lo, deixe que com a magia do orbe eu mesmo cuido de nossas duas próximas baterias, somente o encurralem. E Baltazar, aprisione Ulisses, e fique de olho na fantasma, ela não poderá fazer muito enquanto enfraquecida.

— É uma armadilha! — gritou Bruno, mesmo tendo ideia que o som de sua voz não seria escutada.

Baltazar pegou Maria pelo braço e a afastou de sua prisão, abriu o seu saco e retirou o corpo enfraquecido pela escuridão atordoante do jovem alienígena que o aprisionava. O esquadrão de mortos-vivos e espectros de sombras se agrupou em torno da parede da qual continuava sendo perfurada pelas mãos de Lúcio, uma nova luz surgiu do túnel, entre o calor e o vapor exalado pela passagem, uma sombra surgiu na forma do Homem Diabo.

— Vocês não têm escapatória! — anunciou Unhudo a sombra de Lúcio. — Podem optar por voltarem, mas o meu exército ira detê-los, e eles são muitos!

Corpo Seco não blefava quanto à situação, seu orbe brilhava e da terra ao seu lado, surgia vários mortos vivos e espectros negros reivindicados das sombras; pobres almas que assim como Unhudo, não tiveram o descanso eterno e vivem no limbo entre a Terra, o Céu e o Inferno, presos a corpos materiais ou etéreos. Mas a sombra de Lúcio não se movia, Bruno se concentrava em bater em sua prisão para tentar despertar Ulisses, ao mesmo tempo em que acompanhava sua visão ao ataque iminente aos seus outros dois companheiros, e que sua amada lutava para se livrar das mãos de Baltazar, mas não conseguia ficar intangível, nem mesmo invisível.

— Então? Não irão reagir? Estão se rendendo? — perguntou Unhudo. — Tudo bem, então nós podemos concordar que o jogo está ganho!

Corpo Seco gargalhou e estendeu a mão as névoas, uma fumaça negra estendeu de sua palma até se fundir com a sombra do Homem Diabo, algo se debatia, Unhudo puxava com força, mas o corpo de Lúcio resistia e gritava guturalmente.

— Não é a melhor opção resistir aos meus poderes agora! — comentou Unhudo. A sombra se desfez como vapor e o corpo enlaçado e esperneado do feiticeiro Zuí surgiu alarmado pela garra de escuridão do seu companheiro, a expressão no rosto de Corpo Seco mudou se para de uma caveira assombrada — Zuí?

A cem metros da entrada aberta da fenda, um demônio de mais de três metros, tomado pelo fogo, abriu passagem por trás das prisões de Bruno e Ulisses, o extraterrestre estava caído, mas o ocultista teve que ser rápido para se abaixar enquanto o Homem Diabo atravessava as prisões com seus braços, arrancando metal e vidro. Baltazar assustado com a montanha de massa não teve como reagir ao soco potente desferido contra ele, que o fez soltar o braço de Maria.

Esferas de energia e fogo saltaram da primeira abertura, estourando sobre a costa dos mortos vivos e espectros distraídos com o surgimento do Homem Diabo. Negrinho Pastoreio com seus olhos e mão queimando em luz surgiu dos escombros atacando todo o seu exército.

— É uma armadilha! — gritou Unhudo desta vez.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.