Nunca que eu ia imaginar que o irmão gêmeo idêntico do Aspen fosse tão diferente do Aspen. Talvez, algum dia em um passado muito distante, eles já tivessem sido idênticos. Mas, Nico, com seus olhos negros cheios de mistério deixou bem claro que não é nada parecido com o Aspen, nem fisicamente, em que Nico parou nos vinte anos como se é do feitio de um sadic e o Aspen envelheceu cinco anos em um, tinha cara de vinte e sete, vinte oito anos. E nem vou comentar os olhos. A diferença neles é drástica, um era claro como uma tarde de nuvens e o outro é como a escuridão mais densa. Aspen não falava muito do irmão mais novo, nem dos seus pais. A única parente que nós conhecemos é a Louise, e depois que ela começou um rolo com o Vinicius está mais para uma sadic do que para uma humana. E a Louise também não sabe muito de seus parentes e progenitores. É como se tocar no assunto sangue do meu sangue fosse doloroso de mais para todos eles.

–Como está fora dos portões?

Pergunta Dexter sem maiores burocracias. Para primórdios como meus pais e meus tios um ladino não é nenhuma grande novidade. E parece que eles já se conhecem há muito tempo.

–Os Sauters atacaram com toda a força, Lorde Dexter.

Responde Nico com seu tom cordial, baixo e suave. Já deu para perceber que ele não fala muito. Isso é obvio. Na verdade muitas vezes parece que Nico nem se quer da o trabalho de respirar. Ele é um vivo tão frio quanto um morto. Parece que não sente nada. Seu mundo é outro, diferente do nosso. Um mundo onde é o silencio da floresta negra, seus perigos e encantos que impera. O irmão do Aspen passou tanto tempo sozinho que não quer mais sair de sua solidão.

–Está terrível?

Pergunta Angel, em uma pergunta claramente retórica. Onde a Sauters, a terror, horror, morte e dor. Sauter é sinônimo de morte. Mas, acho que minha tia estava apenas nutrindo uma esperança de que as pessoas estavam resolvendo consideravelmente bem, na medida do possível, esse problema.

–Sim, absolutamente terrível.

–Quem está tentando pará-los?

Pergunta o meu pai, fazendo uma careta como se já soubesse a resposta. Sauters aparecem, Worfs aparecem para tentar equilibrar tudo. Não somos os seus predadores, mas, temos um sistema de organização parecido, que é muito útil em massacres contra Sauters. Sobretudo, para dar um fim a essas pestes é preciso de mais de um lobo. Pelo menos a matilha é grande o suficiente para isso.

–Sua matilha. Os filhos de Ephrain se fingem de machos, mas correram dos Sauters deixando muitas vidas inocentes a mercê deles.

–Os filhos de Ephrain?

Indago incrédula. Ah! O que faltava. Os filhos de Ephrain aqui. A matilha de meu tio super desmiolado está em Onyx fazendo o que pelo amor de Boreh? Parece que meus parentes de Master gostam mesmo é de arrumar uma confusão atrás da outra simultaneamente.

Cam e Caryn suspiram pesadamente. Eles já sabiam.

–Chegou ontem à meia noite. Ephrain quase matou sua mãe achando que foi ela que tinha ferido o Caleb.

Explica meu pai, com um suspiro pesado, como de quem pede paciência.

–Por que eles vieram?

–Meu irmão quer meus territórios. Ele resolveu começar uma guerra civil entre nós dois. A nossa matilha é a maior que existe com uma minoria de parentes, enquanto a dele é feita apenas de seus filhos.

Suspira Cam, um pouco que irritado. Ele é obrigado a conviver com a ganância de meu tio desde que eles se conheceram há alguns séculos atrás, na Batalha de Honor.

–As pessoas têm que sair daqui. Mas com os Sauters do lado de fora a idéia se transforma em péssima.

Comenta Emma, nós trazendo de volta para a realidade. Estávamos no alto do muro dos castelos. A batalha entre Ivy e tio Alef era no ar. A chuva engrossava por minuto, a qualquer momento o que sentiríamos cindo do céu eram pedaços enormes de granizo. Afinal, não dá para engrossar mais do que já está essa chuva. Relâmpagos cortavam o céu cinza escuro, como os olhos de Caleb.

–Ela é a filha do Dark?

Indaga Nico, olhando fixamente para Emma. Olho para a Arya que levanta uma das sobrancelhas em desprezo. Frio como gelo ártico seria pouco para descrever a Arya agora.

–Sou sim, por quê?

–Você é a cara da sua mãe.

–Descobri isso hoje.

–São tão atentos que não se é de impressionar.

Comenta Nico com certo desprezo. Ele é irmão do Aspen mesmo. Apesar de que o Aspen nunca deixou claro se desconfiava das semelhanças de Emma com Beverly. Porém, Aspen sempre teve um amor grande de mais por Onyx e por sua causa, ele não a ofendia. Já Nico, não me parece bem com a civilização. Mas se eu morar-se na floresta negra, também não me daria bem com a civilização.

–Como é que vamos ajudá-los?

Pergunta-se Zoey, com o rosto penalizado. Se ela estava com pena, meu coração parecia chumbo de tanta preocupação no peito. Meus irmãos, sobrinhos e amigos estavam lá correndo sérios e reais perigos de vida enquanto eu estava aqui, quase segura pelos muros de Castle.

–Os predadores naturais deles estão presos nas montanhas, então só resta usar as mãos.

Suspira Dexter. Como eu vou conseguir chegar lá embaixo meu Deus? Como?

–Os odeio.

–É um sentimento compartilhado, Emma.

–Sim, eu sei.

–Sua mãe usava as arvores para prendê-los e seu pai abria a terra para engoli-los.

Informa Nico. O ladino não deve ter nem seus vinte e cinco anos ainda, como então ele já viu Beverly e Alef agindo. Não faz menos do que dezoito anos desde que eles se viram. Ah, não ser que ele não tenha vinte e cinco, tenha mais. Mas nesse caso o Aspen também teria mais.

–Pode ser, mas meus pais são meus pais, e eu não tenho metade da força deles junto.

Retruca Emma olhando fixamente para os Sauters.

–Quando minha mãe me transformou em corvo eu também achei isso. Mas, com o tempo descobri como anular temporariamente a maldição, sendo apenas o que ela não é.

Responde Nico bem pacientemente. Como assim ele se torna um corvo? Quer dizer, no nosso mundo tem dessas. Gente se transformando em animal, mas, o animal é um lobo, nunca ouvi falar de ninguém que se transforma em um corvo. Isso chama a atenção geral. Melhor, a atenção quase geral. Meus pais e os pais de Zoey parecem que já conhecem essa historia. Emma franze ambas as sobrancelhas negras e pergunta:

–Por que sua mãe o amaldiçoou?

–Por que ajudei alguém muito importante para mim.

–Ah! Ela é má então, que azar.

–Sim, Emma, minha mãe é a maldade personificada.

–Como sua mãe o amaldiçoou?

Interroga Arya, deixando Nico confuso. Ele repete a pergunta dela com cautela tentando entender o que exatamente Arya queria saber:

–Como minha mãe me amaldiçoou?

–É! Por que, pelo que me consta humanos não provocam maldições desse tipo.

–Minha mãe não é humana, Arya. Nem meu pai, se quer saber.

–O Aspen era.

–O Aspen nasceu sadic, Aryanna, ser humano foi também uma maldição da nossa mãe, suas doenças também. Assim como o fato que a Louise também é uma humana.

Responde Nico. Ok! Vamos parar o mundo, eu quero descer. Não, agora sei que vacas mugem e a chuva cai de cabeça para baixo. Isso é impossível! Como o Aspen era um sadic e virou humano? Pelo amor de Deus! Isso não é só confuso como é impossível até para um sadic. Está bem, talvez eu esteja sendo hipócrita. Mas esse dia já extrapolou sua cota de impossíveis.

–E por que ele tinha aversão a sadics?

Interroga Arya. Quando essa daí enfia algo na cabeça nada nem ninguém é capaz de tirar. Nico faz uma careta. Algo me diz que ele está se controlando para não esganá-la.

–Por que ele não se lembrava que era um.

–Eu prefiro a hipótese de que você foi transformado e ele não.

–Prefira o que desejar preferir, não é problema meu de qualquer maneira.

–E qual é o seu problema?

–Ter sido manipulado pelo meu irmão mais velho a ponto de prometer me submeter a um purgatório na Terra.

–Do que está falando?

–O Vladimir, muito conhecido como Aspen, me fez prometer que cuidaria de você, a viúva terrivelmente chata dele e da Central de Controle.

–Eu não sou chata!

–Pelo que me parece é!E fala de mais.

–Eu não me importo com sua opinião mesmo!

–Bom pra você.

–Gente, nós temos problemas maiores do que seus problemas pós Aspen.

Lembra Zoey. A discussão deles me distraiu do real problema. Acho que quem vai esganar o casal de brigões nesse instante sou eu. Emma concorda distraidamente pensando em uma solução.

–Ok! Gênio, fale qual é a sua idéia?

–Esta falando comigo?

–Não! Com o fantasma do meu marido que voltou para me assombra.

Ironiza Arya revirando os olhos azuis quase cinza cor de gelo. Realmente não tem como saber se os olhos da minha quase prima são azuis ou cinzas. Nico que parece que não está acostumado com essas atitudes, principalmente de uma garota de um metro e meio de altura olha para mim e pergunta:

–Ela é sempre assim?

–Ela te acha atraente.

Responde Zoey por mim. Arya engasga com o nada, incrédula. A expressão do Nico parece ser a de um engasgo contido. Não sei se foi minha impressão ou vi algo malicioso em seus olhos.

–O...o q..Que?

Gagueja Arya com os olhos arregalados. Suas bochechas ficaram tão rubras que cerejas maduras ficariam com inveja. Nico também deu um rosado leve na face.

–É isso aí! Você o acha no mínimo gostoso.

–Mas...

–Viu só, não tem argumentos.

–Zoey não me julgue com você por modelo.

–Eu prefiro loiros de cabelo branco. E você sempre fica na defensiva quando está a fim de alguém. Todo mundo sabe disso.

Continua Zoey rindo um pouco. A Arya está vermelha até no couro cabeludo. Já o Nico parece nem querer acreditar em considerar a possibilidade.

–Zoey, deixa de ser sem noção, pelo amor de Boreh!

Intervenho, antes que alguém grude no pescoço da Zoey. A reação do Cyrus não seria nem um pouco agradável se isso acontecer-se.

–Que! Gente, eu sei das coisas, não tenho culpa.

–Parecer que esse lugar está ficando cada vez mais maluco.

Cometa Nico por fim, com um suspiro. Ele não tenta nenhum contato visual com a Arya que também não tenta nada.

–Esqueceram dos Sauters novamente.

Lembra Emma um pouco irritada. Muda o sobrenome, mas não muda a pessoa. È a vida. Sou uma Blood, e se a algo que eu sei é que podemos até ter algumas semelhanças brutais em valores, manias e afins, mas todos os Blood têm coração e personalidade diferentes. Exemplo? Vinicius é extremamente leal a Emma, o que é uma característica da nossa família em muito dos pais dele, mas é impulsivo, não pensa direito, algo que não é muito comum no lado Alado de nossa família, onde todos os filhos da Beverly tiveram educação rígida o suficiente para não sair explodindo coisas por ai e controlar bem seu lado neutro. Não que os meus primos angelicais não tão anjos assim não explodam coisas por aí e controlem seu lado neutro bem, mas, se fomos considerar que a grande maioria nunca matou ninguém então, digamos que controlam bem o seu lado neutro.

–Como é que vocês não perceberam que ela é filha do Dark?

Pergunta Nico. Para ele poderia até ser obvio e tal, mas simplesmente não queríamos admitir que a Emma fosse parecida com minha tia Beverly. Parece que temos um pouco de incredulidade parar acreditar no impossível. Mas, querendo ou não, o impossível sempre acontece.

–Pelo amor de Boreh! Quem se importa? Tem gente morrendo lá embaixo!

Irrita-se Emma batendo com força na parte do muro onde ela está escorada. O lugar desmorona e Emma tira as mãos do lugar. E Nico levanta ambas as sobrancelhas convencido do retardo compartilhado de toda a Onyx. Para nós nem todo obvio é obvio.

–Essa base só tem cego.

–Por que não o usamos como isca? Sauters gostam de quem fala de mais.

Propõe Arya levantando sua muralha invisível contra machos como Nico. Mas, por experiência de garota na cabeça de homens, muitos com esse mesmo olhar decidido e obstinado que o Nico e o Aspen compartilham, eu acho aconselhável que ela não faça isso. Coloque o excesso de testosterona, o desejo e um pouco de obstinação e só esses três componentes da um coquetel perigoso, adicione muito poder, e é algo explosivo, agora se colocar um pouco de uma mulher rebelde e resistente transformando a conquista em um desafio a coisa fica preta. E a Arya já tem sua grande cota de pretendentes obstinados a conquistá-la. É até engraçado ver quando chega um deles e ela faz aquela careta que diz claro como a luz do sol sai antes que eu arranque sua pele. Mas, normalmente a Arya age assim com quem tem mais chances de usurpar o trono que é do Aspen em seu coração.

–E de baixinhas birrentas também.

Retruca Nico. A Arya parecia que ia grudar no pescoço dele e apertar com todas as suas forças. Ela nunca suportou que a chama-se de baixinha, apesar de ser baixa. Não que isso seja um defeito, em uma luta sempre subestima a Arya pelo seu tamanho. Isso até alguém dar alguma coisa que ela consiga arremesso, aí sai de baixo, é um furacão a solta e ninguém para a não ser com um bom analgésico.

–Eu não sou baixinha, sou uma GBE.

–Garota de baixa estatura? Isso funcionava com o Aspen, comigo não rola essa sigla, você é baixa como um arbusto de Fichen conforme-se.

–O odeio.

Resmunga a nossa pequena e implacável Raven, fazendo uma careta selvagem, enrolando o cabelo longo e negro como a noite em um coque, e pegando uma adaga da botas coturno preta. Também pudera né, ser comparada ao menor arbusto de Onyx é mais do que uma ofensa. Agora estou com medo de que a Arya tenha algum ataque básico de loucura e tente matar o Nico.

–Eu disse, começou o jogo de sedução.

Comenta Zoey, sorrindo. Isso que dar ser concebida em um relacionamento que começou com brigas. E continua com brigas. Parece que é algum fetiche dos dois presais mais poderosos de minha família. Brigarem e se amarem depois. E consequentemente aumentaram sua prole. Não que a de Dexter e Angel seja maior do que a de meus pais.

–De onde essa menina tirou essas idéias?

Pergunta Nico aos meus tios que estão vermelhos como um pimentão maduro.

–Bem, digamos que eu e o Dex brigávamos muito antes de ficamos juntos.

–Brigávamos? Brigam até hoje!

Discorda Caryn com um pouco de maldade. Minha mãe puxou meu avô ítalo nesse aspecto.

–Temos de manter nossa relação quente não é, Angie meu amorzinho.

–Não me chama assim na frente das crianças.

Reclama minha tia, vermelhinha, dando um beliscão no meu tio. Dexter beija seu pescoço, e Angel sorri. Quando eles não estão brigando são fofos que dói.

–Onde é que estão as crianças?

–Arya, não é por que você tinha uma vida sexual...

–Pode para! Minha vida pessoal e principalmente sexual não interessa a vocês.

–Parece que o Aspen faz mesmo muita falta. Ou você já arranjou outro admirador? Tipo esse, lindo, de olhos negros, cabelos negros, que até me lembra um corvo.

–O nome da sua mãe pode até significar anjo, Zoey, mas o seu não significa cupido.

–Fajuto ainda, falso e mal feito.

Concorda Nico, mal humorado agora. A primeira vez em que eles concordam em algo. Mas, nem devem ter percebido por que ambos estão muito ocupados olhando feio para a Zoey e para suas conspirações de juntar casais impossíveis.

–Vocês vão se pegar mais cedo ou mais tarde.

–Prefiro o nunca, Zoey.

–Então concordamos pela primeira vez em algo.

Concorda Nico com Arya pela segunda vez. Eles não estão contando direito. Talvez a Zoey tenha razão e uma afeta o outro.

–Terminaram de discutir crianças? Pois, tem gente morrendo lá embaixo!

Lembra Emma quase agarrando o pescoço de um.

–A propósito cadê o meu pai?

–Por acaso não é aquele lobo ali tentando proteger o lobinho menor?

Pergunta Nico apontando para o vulto negro e enorme correndo em direção a um lobo branco que está na mira de um cinco Sauters. Olho para minha mãe do meu lado. Os olhos arregalados dela confirmam. Não sei como, mas minha mãe consegue reconhecer qualquer lobo de nossa matilha, especialmente se for um dos filhos dela. Espremo os olhos para ver o lobo menor. Ah, santo Deus meu! Tenho o irmão gêmeo mais retardado da Base. Mais retardado do que Vinicius, do que Nico... Meu irmão Zayn detém o titulo do mais retardado. Sério? Tinha que ser o único Delta da nossa família a ir enfrentar o tal do Sauter? Tinha? Tinha mesmo? É claro que tinha. Só mesmo o Zayn para dar esses sinais de demência mental. Mas quem disse que eu estou me importando. Dei meu próprio surto de demência mental e para o desespero total da minha mãe pulei da muralha.