O refúgio era um lugar escuro e abafado, já estava aqui há alguns meses. Não gostava de ficar em lugares fechados por muito tempo, então subi para o térreo novamente. Mas a única coisa que trajava era um par de tênis preto, jeans surrados, uma camiseta amarela e uma jaqueta preta. No meu bolso havia uma bolita, da qual eu achara há alguns dias em minha casa.

Nesse meio tempo, fui visitar minha família várias vezes, mas apenas os observei, Luca me disse que seria muito perigoso manter contato com eles. Nisso eu descobri que minha avó havia falecido e minha mãe ficou devastada, meu pai pediu umas férias para confortá-la e meu irmão também. Quando soube que minha avó havia falecido, fiquei arrasada e Luca me ajudou a esquecer, agora estamos mais próximos do que uma vez fomos.

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Lembrei-me do que Luca havia me dito em ocasiões como essas.

—Por que quando quer ficar sozinha usa uma bolita e uma parede como consolo? - Virei-me em sua direção e sorri.

— Sei lá, acho que isso me tranquiliza. - Dei de ombros. - Gosto de ficar jogando bolitas na parede isso me faz pensar.

Ele se aproximou enquanto eu estava jogando a bolita em direção à parede. Não prestei atenção nessa jogada, porque estava prestando atenção nele. A bolita foi em direção ao jarro de plantas. Ele iria quebrar se a bolita não tivesse parado no ar. Quando percebi que a bolita iria se chocar contra o jarro, gritei um não bem dramático esticando minha mão em sua direção e nesse momento ela parou no ar. Como da primeira vez, achei que tivesse parado o tempo novamente, mas os pássaros cantavam, as pessoas do outro lado da rua continuavam andando. Olhei para Luca e ele também estava sem entender. Fui em direção a bolita e a olhei atentamente, era a única coisa parada no momento.

— Então é esse o seu poder especial. - Disse ele com um sorriso enorme no rosto. - Você é a única que consegue fazer isso.

Desde esse dia, quando subo ao térreo e fico sozinha, essa é a primeira coisa de que me lembro.

— Está aqui ainda? - Diz Luca aparecendo do refúgio e se pondo ao meu lado. Paro de jogar a bolita e ela para no ar, aprendi a dominar melhor esse novo poder, e olho para ele.

— Estou com saudades deles, Luca.

— Eu sei que está. No começo eu também havia ficado assim que nem você, mas depois de um tempo você se acostuma, vai ver. - Disse ele olhando para mim enquanto um sorriso tímido surgia em seu rosto.

— Fico pensando no que aconteceu com minha mãe depois que ela soube que minha avó morreu, meu pai, meu irmão... Eles nem ao menos se lembram de mim. - Lágrimas ameaçam a escorrer pelo meu rosto, pisco para afastá-las.

— Ei, não fica assim. - Diz ele colocando as mãos no meu rosto usando seus dedos para limpar as lágrimas de minhas bochechas. - Eles vão ficar bem. Eu prometo. - Olho para ele. Nós estamos próximos o suficiente para que eu sinta sua respiração. Ele se aproxima até não ter mais espaço entre nós, até nossas testas se encostarem, até nossos...

— Annie, estava que nem louca pro... Opa, desculpa! Cheguei em mal momento? Por que, posso voltar em outra hora. - Diz Megan entre risos. Levanto uma sobrancelha em sua direção. Eu e Luca já estamos separados e ele estava com uma careta no rosto.

— Não, nós só estávamos conversando. Vamos? - Digo me levantando do banco. Pego a bolita e a coloco de volta em meu bolso. Megan me agarra pelo braço e me arrasta de volta para dentro do refúgio. Olho para trás, para Luca, dou um sorriso e ele o retribui.

Megan me leva para sala onde está cheio de gente ao redor da mesa. Nela está um homem que eu nunca havia visto antes enquanto estava hospedada aqui no refúgio. Ele é alto, com uma pela morena e olhos grandes da mesma cor. Era careca e suas sobrancelhas eram grossas e preta escura.

— Quem é aquele homem? - Pergunto para Megan apontando para o homem.

— Ele é George Martínez, o líder do refúgio.

— E como eu não o vi até agora?

— Como líder do refúgio, ele tem que liderar praticamente todas as missões que acontecem aqui e quando você chegou ele estava em uma dessas missões por isso eu a estava te procurando.

Percebo que Luca já voltou para o refúgio, olho para ele e este sustenta meu olhar, ele acena com a cabeça e sorri, eu sei o que aquilo significa, ele quer que eu o siga, mas eu precisava ouvir o que George estava falando. Seu rosto estava sério então o assunto também era.

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— Atenção aqui pessoal, acabo de voltar de uma missão, da qual fiquei fora por muito tempo. Descobri coisas muito importantes nessa missão que preciso dividir com todos vocês. Como devem saber A Origem era uma organização do governo criada há alguns anos a partir de um exército de pessoas com o dever de nos caçar. Naquela época, com a falta do que caçar a organização se extinguiu, mas havia um agente d'A Origem verdadeira que não se conformou com o programa sendo extinto e decidiu criar seu próprio exército. Seu nome é... Thomas Cianci. - Ao ouvir o nome de meu pai entrei em choque.

Como assim meu pai era o tal agente? Então, todas aquelas vezes que ele ficava semanas fora de casa, ele estava caçando pessoas com eu? Quem realmente era ele? Será que meu pai se lembrava de quem eu sou?

George olha para mim, assim como todos nessa sala, inclusive Megan. Todos me olhando com algo que parecia incredulidade e ódio, qual dos dois eu não sei. Procurei Luca pela multidão, ele estava encostado na parede. Falei para ele, mesmo sem ele poder me ouvir, que eu não sabia o que estava acontecendo, que não sabia de nada daquilo, mas se ele me entendeu, não demonstrou.

— Para detê-los nós precisamos ficar unidos. - Gritou George. - E precisamos daquele que possui o poder especial... Mas como não sabemos quem essa pessoa é...

— Eu sei quem é. - Gritou Luca se encaminhando para a mesa. Ele não olhou para mim. - A pessoa que tem o poder especial é aquela cujo o pai nós estamos procurando, Annie Cianci...

'<>'

Depois de tantas discussões e depois de eu explicar que não era traidora e/ou informante de meu pai, todos concordaram em aceitar minha ajuda. Luca, depois de falar que eu tinha o poder especial, foi para o seu quarto. Decidi ir até lá e falar com ele.

Chegando em seu quarto, a porta estava entreaberta, mas eu não entrei, eu bati até que ele respondesse.

— Entra... - Entro e me sento na cadeira em frente a cama onde ele está deitado.

— Luca, eu juro pra você que não sabia que...

— Que o que? Seu pai era um idiota? O responsável por toda esta situação? - Grita ele. Sua voz está grossa e áspera. Quando ele falou eu me assustei, era a primeira vez que via Luca daquele jeito e espero não ter que ver mais.

— Meu pai não é idiota! E sim, eu não sabia que ele era responsável por toda essa situação! Não sabia nem de mim antes Luca, como esperava que eu soubesse algo assim sobre ele? - Grito também

— Está bem... Certo, me desculpe. Com tudo isso que está acontecendo espero que eu saia fora de mim mesmo, principalmente você que descobriu quem seu pai realmente é. - Diz ele abaixando a voz e saindo da cama.

— Não precisa se desculpar, afinal foi você quem fez o povo não me odiar.

— O povo não odeia você, Annie. - Diz ele se aproximando de mim. Dou um sorriso tímido.

— Preciso ir, estou cansada e preciso descansar. - Estou quase na porta quando ele pega meu braço e me vira em sua direção.

— Saiba que você precisa fazer o que é necessário mesmo que ele seja seu pai. Você precisa saber da verdade e deve ir atrás dela, somente a verdade nada mais do que a verdade. Ele mentiu para você e sua família, você precisa de uma explicação. - Ele está perto o suficiente de mim para que eu sinta seus batimentos se acelerando e suas mão em meu rosto estão úmidas.

— Se você vai me beijar, faça isso logo. Você está me deixando nervosa. - O sorriso ainda em meu rosto. Ele ri e é exatamente isso que ele faz.

Seu beijo é suave e delicado como se ele tivesse medo de me quebrar, mas eu gosto. Ele coloca as mão em minha cintura e me empurra para mais próximo de si, fazendo com que não tenha mais nenhum espaço entre nós, acabo soltando um riso em sua boca. Até que um grande barulho faz com que nós nos separemos. Um alarme soa alto e pessoas começam a gritar. Luca olha para mim e grita o mais alto que pode.

— Vamos! - Saindo de seu quarto chegamos até a sala e lá a visão mais terrível de todas. Pessoas feridas e mortas no chão e homens com roupas cinzas e grandes armas em suas mãos apontadas para a cabeça de pessoas do refúgio. Escuto uma voz, sinto um aperto no peito, por que conheço aquela voz.

Em cima da mesa, onde há algumas horas estava George, estava meu pai.