O crepúsculo já se aproximava, os homens já estavam exauridos, e a batalha não parecia próxima do fim. Havia algum tempo, a vantagem parecia ter pendido para o lado de Gondor, Rohan e Durin, mas logo em seguida, um reforço orc inesperado surgiu. Legolas suspeitava de que eles haviam reunido todos os orcs que restavam na Terra-Média para um último ataque. Uma última tentativa de conquistar para a raça deles aquilo que Saruman havia prometido antes: supremacia.

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Nem Legolas nem Madlyn estavam feridos, mas estavam ambos no limite de suas forças. Eldarion havia tentado mudar a estratégia, comandando uma retirada para dentro dos limites da cidade, mas o sucesso fora limitado. Muitos orcs conseguiram entrar na fortaleza, a despeito dos portões reforçados com mithril, e muitos aliados ficaram do lado de fora, os dois elfos entre eles. A ideia de Eldarion permitiu que alguns dos homens recuperassem suas forças e voltassem com novo ânimo, mas às custas de sobrecarregar outros guerreiros, que agora estavam esgotados.

A esperança deles parecia estar começando a decair, seguindo o movimento do sol, quando eles finalmente ouviram a corneta de Ithilien soando ao longe.

— Graças aos Valar! — Legolas arfou.

Um ruído alto de vozes se fez ouvir quando centenas de homens de Ithilien montados a cavalo caíram sobre o exército orc, atendendo ao chamado de seu rei. Juntos, os três exércitos de homens somados à força dos anões eram mais que o dobro do contingente que restava dos orcs. A batalha estava ganha. Era só uma questão de tempo agora.

— Vamos nos reaproximar do palácio! — Legolas gritou para que Madlyn o ouvisse.

Ela se virou, golpeando um orc que se aproximara demais deles e assentiu para Legolas. Os dois correram, abrindo caminho da mesma forma que haviam feito antes. Atrás deles, o exército de Barahir* trucidava os inimigos sem a menor misericórdia. Legolas e Madlyn não tardaram em se ver seguros novamente dentro dos muros de Gondor.

Os dois respiravam pesadamente. Legolas estava exausto como nunca se sentira antes na vida. Perto daquilo, a batalha de Helm’s Deep não fora nada, para ele. Nunca antes ele havia lutado em tamanha desvantagem. Eldarion teria muito que contar para o filho sobre sua primeira batalha como rei.

Madlyn deixou a espada cair no chão, produzindo um ruído metálico alto, e se atirou nos braços de Legolas com uma risadinha nervosa. Ele demorou um pouco, mas enfim retribuiu o abraço, um tanto constrangido. Por alguns breves segundos, eles permaneceram assim, sem dizer nada, até que ouviram um pigarro alto e se afastaram rapidamente. Era Gimli que havia chegado. Havia um corte sangrando em sua testa e ele estava imundo, mas, a não ser por isso, parecia bem.

— Gimli! — Legolas exclamou, embaraçado. — É bom vê-lo de novo! Qual é a contagem final?

— Eu perdi a conta. — O anão respondeu secamente. Era óbvio que ainda estava irritado com Legolas.

O elfo ficou sem saber o que dizer e permaneceu apenas olhando para o anão. Os sons da batalha começaram a diminuir lá fora.

— Está começando a ficar quieto. — Legolas comentou, só para ter o que dizer.

— É. — Gimli concordou.

Então Madlyn gritou. Os dois se viraram para olhar. Um enorme orc a havia capturado. Ele a segurava com os dois braços, e por mais que ela se debatesse, não conseguia fazer nada para se libertar. A espada dela ainda jazia no chão, completamente inútil. Legolas agiu rápido, retirando uma flecha da aljava.

E então ele ouviu a rainha gritar no lado oposto, um grito de puro desespero, seguido do choro do príncipe recém-nascido.

Para Legolas, foi como se o tempo parasse. Seus olhos encontraram os de Madlyn apenas por um breve instante. Seu coração deu uma fisgada no peito e doeu como não fazia havia muito, muito tempo. E aí ele deu as costas e atirou no orc que tentava invadir o quarto da rainha pela janela.

Quando ele olhou de volta, a elfa havia desaparecido.

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~~ ♣ ~~

Era noite de festa em Gondor. Ainda que parte da cidade houvesse sido destruída, as baixas haviam sido mínimas e eles tinham muito para comemorar. Não apenas o rei Eldarion tinha saído vitorioso de sua primeira batalha, como também o reino tinha agora um novo herdeiro.

Canções ecoavam por todo o salão. Algumas relembravam os grandes feitos de Elessar, outras já eram improvisadas para falar a respeito da primeira vitória de seu filho. Em meio à confusão de vozes e de risos, era difícil ouvir qualquer coisa. Homens e mulheres dançavam, crianças corriam e choravam, guerreiros se embriagavam satisfeitos. O rei conversava animadamente com Elfwine e Barahir e com o regente de Aglarond. Gimli bebia com os outros anões, que estavam mais que contentes por ter o Senhor das Cavernas Brilhantes de volta, pelo menos por mais uma noite.

Apenas Legolas não sorria. Ele estava muito quieto, sozinho a um canto, perdido em pensamentos. Seu corpo já havia se recuperado quase completamente da batalha, o que não era surpreendente para um elfo. Seu espírito, porém, ainda estava terrivelmente ferido. Por mais que ouvisse os gritos de “Vencemos!” “Gondor!” “À vitória do rei!”, ele ainda se sentia derrotado.

Acima de tudo, as duras palavras de Gimli o perturbavam.

Quando não viu mais o orc nem Madlyn, Legolas fez menção de se lançar novamente à batalha para ir atrás dela, mas o anão o impediu, segurando seu pulso com firmeza. Legolas se voltou contra ele:

— Me solte!

— Você perdeu o juízo? Você não vai voltar para lá!

O elfo se desvencilhou com um puxão e encarou Gimli:

— Aquele orc levou a...

— Eu sei, eu vi.

— E por que você não fez nada?!

— Essa não é minha batalha!

As palavras atingiram Legolas como um soco.

— O quê?

— Não é a minha batalha, e nem a sua! Legolas, você nem sabe quem ela é!

— Ela nos ajudou!

— Ela é perigosa! Você se lembra de como ela agiu na Floresta das Trevas?

O elfo se calou. Uma confusão de imagens e de sentimentos o invadiram. Madlyn falando da morte iminente de Gimli como se não se importasse. Madlyn segurando o bebê recém-nascido. Madlyn lhe dizendo que era filha de Eöl, irmã do Traidor. Madlyn salvando a vida de Gimli. Ele não sabia em que acreditar. Ou o que pensar. E muito menos o que sentir. Ele se abaixou lentamente para tomar a espada da elfa nas mãos. Era a espada mais estranha que ele já tinha visto: negra como a noite. A lâmina cortou o dedo dele, que começou a sangrar. Gimli se aproximou e olhou para ele com piedade:

— Não é sua batalha, meu amigo.

— Não é minha batalha... — Legolas repetiu para si mesmo, buscando as estrelas com os olhos. Não as encontrou. O céu estava coberto de nuvens.

Uma mulher passou e lhe ofereceu uma taça de vinho. Legolas recusou com um gesto educado. Ao contrário do pai, ele nunca gostou muito de álcool.

O elfo recostou-se na parede fria e fechou os olhos, tentando ignorar a festa ao redor. Ele não queria que ela parasse, só não queria estar ali. Fazer parte dela. Afinal, ele não se sentia feliz. E não queria que ninguém visse isso.

— Não é a nossa batalha! — Legolas disse no tom mais autoritário que conseguiu construir, tentando dissuadi-la.

Mas Tauriel era corajosa e tinha firmeza em seus valores e naquilo em que acreditava. Ela não ia desistir. Ela sentia em seu coração que jamais poderia se perdoar se voltasse atrás naquele momento. Ela tinha certeza de que estava com a razão. E nada nem ninguém poderia fazê-la desistir. Nem mesmo Legolas.

É a nossa batalha! — Ela replicou. — Não vai terminar aqui. Com cada vitória, esse mal irá crescer! Se seu pai tiver sua vontade atendida, nós não faremos nada. Nós vamos nos esconder atrás de nossos muros, viver nossas vidas longe da luz e deixar as trevas se erguerem.

Legolas olhou sério para ela, em dúvida. Ele sabia que suas palavras eram verdadeiras. Mas Thranduil era seu rei. Legolas fora ensinado a obedecer, a não se deixar levar por suas emoções. Thranduil era a razão maior que ele conhecia. E agora ele se debatia entre seguir seu coração ou escutar essa razão suprema.

— Não fazemos nós parte deste mundo? — Os olhos dela imploravam por compreensão. Legolas engoliu em seco, já sabendo que ia ceder, apesar de tudo. — Diga-me, mellon, quando foi que nós deixamos o mal se tornar mais forte que nós?

“Se eu voltar, eu não vou perdoar a mim mesma”, ela havia dito. Legolas suspirou, torturado pelas memórias que ele havia tentado reprimir por tanto tempo. Ao abrir os olhos, deu de cara com Eldarion, que o observava. O elfo tratou de se endireitar:

— Eldarion...

— Vá, Legolas.

— O quê?

O rei lhe sorriu e pegou uma taça de vinho branco da bandeja que uma mulher passou carregando. Ele tomou um gole bem lentamente e pôs um braço sobre os ombros do elfo, guiando-o para fora do salão, longe do ruído provocado pelos convidados. Legolas o seguiu. A noite estava fria demais para aquela estação do ano.

— Eu vejo você, Legolas... Você não está feliz.

— Majestade, eu... — Eldarion ergueu a mão para calá-lo e Legolas obedeceu.

— Eu pensei ter dito para você não me chamar assim.

— Perdão.

— Onde está a elfa?

Legolas sentiu o rosto ardendo levemente.

— Um orc a levou.

— O quê? — Eldarion agarrou o ombro de Legolas, fazendo-o olhar para ele. — Como assim “um orc a levou”? — O outro não respondeu, virando o rosto. — E você não foi atrás?

— Gimli disse que não era minha batalha. — O elfo sentia a vergonha queimando-o de dentro para fora. Sentia-se um covarde agora. Não apenas um covarde, mas também um ingrato. Escória da pior espécie.

— Eu não estou reconhecendo você! — O rei o soltou, empurrando-o levemente. — Eu pensei que ela o houvesse rejeitado, ou algo do gênero! — Ele deu um passo adiante, afastando uma mecha de cabelo que lhe caía sobre os olhos. O gesto lembrava muito Aragorn. Tanto que o coração de Legolas pesou ainda mais. — Legolas, você precisa resgatá-la!

— Eu não...

Eldarion parecia irritado, e Legolas não compreendia o porquê.

— Em meu nome, se não for no seu próprio! Eu devo um grande favor a ela. Se não fosse por ela, talvez minha mulher e meu filho estivessem mortos agora.

Um frio enregelante tomou conta do interior de Legolas ao constatar a verdade do que ele dizia.

— Embora... Eu estou decepcionado, Legolas. Eu costumava pensar em você como o guerreiro mais honrado que eu conhecia, depois do meu pai. Agora, não tenho certeza. Você e Gimli. Vocês me decepcionam.

Legolas franziu a testa. Agora era seu orgulho que estava ferido.

— Eldarion...

O rei se voltou para olhá-lo. Legolas se empertigou:

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— Majestade. Eu peço permissão para partir imediatamente.

Eldarion sorriu.

— Concedida. A você e ao Gimli. E leve os homens que quiser com você.

— O anão fica. — A amargura no tom de Legolas surpreendeu até a ele próprio.

— O quê?

— Gimli fica. Me bastam dois ou três homens. Foram poucos os orcs que restaram.

— Eu nunca o vi indo a lugar algum sem Gimli antes. — Ele franziu a testa.

Legolas puxou o arco das costas.

— Esta não é a batalha dele.


Merece mesmo um dia só dele, não é, gente? Já está marcado no meu calendário aqui! Ano que vem, tem fanfic certeza! Vou comemorar todo ano agora! ♥