Acordei meio tonta, com a bochecha gelada por causa da janela do avião. Havíamos pego um avião em Québec de volta para Manhattan, e eu iria de táxi até Long Island e então pegaria um trem até o Acampamento Meio-Sangue.

Ao meu lado, Hermes dormia profundamente, esparramado na poltrona e roncando suavemente. A voz do piloto ecoou pelo avião, informando que o pouso estava sendo iniciado.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

– Pai. Acorde.- chamei, cutucando-o.

Nada.

– Acorde!- repeti, empurrando-o levemente.

Nada.

– Levanta, homem!- exclamei, dando um peteleco em sua orelha, fazendo-o acordar assustado.

–Ai! Por que fez isso?- reclamou ele, me encarando, aparentemente chocado.

– O avião vai pousar, endireita a poltrona e coloca o cinto.- avisei, ajeitando meu cinto.

– Por isso eu detesto aviões, são cheios de regras tolas. De que vai me adiantar por o cinto se o avião cair?- reclamou, fechando a fivela.

– Segurança, ué.- dei de ombros, olhando pela janela.

– Tá, mas se o avião cair, que diferença vai fazer se eu estou de cinto ou não? Vou me espatifar no chão de qualquer jeito.- o deus insistiu, arrumando a poltrona.

– Nenhuma, pai. Não vai fazer a menor diferença. Principalmente porque você é um deus, então não iria se espatifar.- respondi, suspirando pesadamente.

Agora eu entendo como as pessoas devem se sentir conversando comigo. Eu sou igual ao meu pai.

Após o avião pousar, fomos até a lanchonete tomar um café e comer alguma coisa, então fomos pegar um táxi para ir até Long Island. O único problema é que todos os carros estavam ocupados, e não conseguíamos achar nenhum disponível.

– Mas que droga! O que eu preciso fazer para pegar um táxi neste país?- reclamou Hermes, quando o sétimo carro que verificamos estava esperando um passageiro.

– Tenha calma. Essa vida de deus está te deixando muito mal acostumado. Tem que ter paciência. Maia ficaria muito zangada se te visse assim.- censurei, em tom de brincadeira, fazendo-o revirar os olhos.

– Hey, táxi!- chamou, fazendo sinal para um carro que passava.

– Desculpe amigo, está ocupado.- o motorista falou pela janela aberta, passando reto.

– Ah! Por todos os monstros do Táraro!- exclamou, pondo as mãos na cabeça. Ninguém no mundo era tão apressado quanto Hermes.

– P-A-C-I-Ê-N-C-I-A.- repeti, sorrindo de canto.

Em fim, conseguimos achar um táxi disponível, mas quando estávamos entrando no carro, o celular de meu pai tocou.

– Alô? Sim. Não. Agora eu não posso. Mas....Só deixe eu levar minha filha.... Certo, mãe. Eu estou indo.- declarou, desligando o celular.- Era Maia. Eu tenho que ir.

– Certo. Tchau, pai.- concordei, abraçando-o.

– Desculpe, Izzy. Tchau.- despediu-se, beijando minha testa e fechando a porta do táxi.

–Long Island, por favor.- pedi, e o taxista começou a dirigir.

O tempo se arrastava, parecia que o mundo havia começado a rodar mais devagar, até que acabei caindo no sono. Em meu sonho, eu estava deitada em uma colina, sob o sol, observando as nuvens tranquilamente, até que sombras começaram a se juntar no horizonte, e uma voz gélida de mulher sussurrou em meus ouvidos.

Não adianta vocês se esconderem, pequeninos.

No sonho, eu me levantei e comecei a correr colina abaixo, mas as sombras continuavam a se juntar, até que eu caí e vi uma mulher a minha frente. Seu corpo e seu longo cabelo eram negros, formados por sombras. Seu olhos eram brilhantes, de um vermelho intenso.

Quer vocês queiram ou não, eu voltarei.

Então tudo ficou escuro, e eu despertei, suando frio, quando o taxista me chamou.

– Você está bem? Estava murmurando coisas sem sentido, e está suando.- perguntou o homem, preocupado.

Esbocei um sorriso de canto.

– Está tudo bem. Foi só um pesadelo.

– Ótimo. Nós acabamos de chegar.- anunciou ele.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

– Certo...- murmurei, remexendo em minha bolsa.- Aqui está.

Desci no ponto de táxi e caminhei até a estação de trem, mas tive que esperar meia hora, pois havia me atrasado e o trem para a "fazenda de morangos" acabara de partir. Fui até a lanchonete mais próxima e comprei um hambúrguer com batatas fritas para comer em quanto esperava.

Depois do que pareceu uma eternidade, chegou a hora de embarcar. A viagem foi relativamente rápida, eu fiquei sentada olhando pela janela, em quanto a paisagem voava lá fora. Eu sempre amei viajar de trem. Era algo que eu e minha mãe fazíamos bastante, pois era seu meio de transporte favorito. Tudo lá fazia eu me lembrar dela, das músicas que cantava para me fazer dormir, das noites de filme com pipoca...

Enxuguei uma lágrima solitária que escorria por minha bochecha e fechei os olhos, mergulhando em pensamentos. Logo o trem parou, e eu caminhei tranquilamente da estação até a colina meio sangue, o que deve ter sido um pouco menos de um quilometro.

Chegando lá, subi a respirando fundo e observando a luz do sol banhando os chalés, os campistas correndo de um lado para o outro, os sátiros tocando flauta e a lava caindo pela parede de escalada. Eu estava em casa.

Desci a colina correndo e fui até meu chalé, cumprimentando meus irmãos e primos pelo caminho. Guardei minha bolsa em meu baú, e fui tomar um banho rápido.

Loque que terminei de me arrumar fui até a arena, onde Lizard, Evanlyn, Miranda, Alec, Clary e Mike conversavam na arquibancada.

– Hey, Izzy!- exclamaram sorrindo ao me ver.

– Eai, cambada! Tudo bem?- falei, sentando com eles.

– Como foi a viagem?- questionou Miranda, aproximando-se.

– Foi incrível. Ah, eu já ia esquecendo. Clary, sua mãe mandou algo para você,- falei, entregando-lhe o pacotinho azul.

– Sabia que ela mandaria por você.- murmurou, enquanto desfazia o laço. Do embrulho, ela tirou um anel de prata, enfeitado com um floquinho de neve feito de cristal.

– Que gracinha.- murmurou Lizard, aproximando-se para ver melhor.

– É um anel normal ou tem alguma propriedade mágica?- indagou Alec, olhando para o anel com curiosidade.

– É bem básico. Ele torna quem o usar invisível.- declarou, segurando o anel entre dois dedos e prendendo-o na corrente de prata que usava no pescoço, ao lado do pingente em forma de boneco de neve.- Meu presente de aniversário.

– Que legal! - falei, olhando para o céu.

Ficamos mais algum tempo conversando, até que chegou a hora do jantar. Fizemos nossa oferenda e fomos para nossas respectivas mesas.

Depois do jantar tivemos cantorias ao redor da fogueira, então fomos para os chalés dormir.

Quando fechei os olhos, estava de volta a campina, e sombras envolviam o céu, deixando tudo nas trevas, a mesma mulher de antes me observava, rindo de meu desespero.

Seu medo não vai salvá-la, filha de Hermes, nem a seus preciosos amigos.

– Que é você?!- perguntei, gritando.

Ouvi novamente seu riso frio, que me provocava arrepios.

Essa não é a pergunta certa, pequena semideusa.

Acordei suando frio novamente, com a respiração ofegante. Me vesti e corri para fora. O sol acabava de nascer, mas todos os filhos de Apolo já estavam despertos. Fui até o chalé 7, onde apenas Lizard estava sentada em sua cama, rabiscando distraidamente em seu bloco de desenhos.

– Bom dia Izzy. Por que acordou tão cedo?- questionou a loira, com um sorriso divertido.

– Eu preciso da sua ajuda com algo. É importante.- falei, sentando-me ao seu lado.

– O que aconteceu?- perguntou ela , com preocupação evidente no olhar.

– Eu venho tendo uns sonhos muito estranhos.