A Herdeira de Hécate

Capítulo 18 - Send Me An Angel


A Herdeira de Hécate

Here I am
Will you send me an angel
Here I am
In the land of the morning star

Capítulo 18 - Send Me An Angel (Scorpions)

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Eu jamais pensei que minha vida mudaria tanto da noite para o dia, esse foi meu primeiro pensamento enquanto entrava no chalé de Hécate.

O chalé era alto, bem alto, e largo. Uma porta dupla de metal roxo e as paredes eram de cristais das cores preto, roxo e laranja - cores que antigamente eram associadas à bruxas. Tinha uma imagem de Lua Nova sobre a porta, com uma bola de cristal logo ao lado e um número 20 entalhado como duas cobras logo abaixo.

Suspirei pesadamente, querendo que Nico estivesse ali ao meu lado para me ajudar. Mas eu não o vira desde o momento que nos separamos no Punho de Zeus. Será que ele vira tudo o que me acontecera? Será que ele me viu ser reclamada? Será que ficou tão desapontado ou chateado que está, no momento, me evitando? Eu não sabia, não havia nem o visto nos poucos minutos de comemoração que peguei. O chalé de Poseidon no momento estava uma farra, onde o time azul comemorava sua vitória. Fiquei pouco tempo lá, cumprimentando apenas poucas pessoas que se dignaram a não ter medo de mim depois de descobrir que sou filha de uma deusa ctônica com bênção de uma primordial.

Aliás, nem mesmo nos meus melhores sonhos - ou seriam pesadelos? - eu imaginaria algo assim. Mas eu precisava pensar, e por isso dei um tchau rápido para meus amigos e fui pegar minha mochila no chalé de Hermes. Lá nunca fora minha casa, e só esperava poder me adaptar no meu novo lar.

Suspirei novamente e fui em frente, mas não estava de todo preparada para o que encontraria. As paredes e o teto eram feitos para reproduzir o céu à noite, com todas as estrelas e a Lua negra brilhando logo onde deveria ser a lâmpada. Quatro camas comuns de solteiro deixavam uma espécia de cruz no centro do Chalé e eu sabia que ali estava representado a divindade das encruzilhadas.

Uma estante que ia do chão ao teto, cheia de livros, frascos abertos e outros fechados com alguns ingredientes que eu diria serem exóticos dentro. Ao lado da estante estava um pequeno caldeirão e eu sabia que ali eu poderia fazer as poções que eu quisesse, apesar de não ter conhecimento em nenhuma. Mas talvez pra isso tivesse os livros.

Onde deveria ser a janela, havia um grande vão arroxeado e eu fiquei curiosa para descobrir o que era aquilo. Havia um painel com o desenho de um cão com três cabeças logo acima da cama que ficava de frente à porta, onde se via escrito as palavras lunar, infernal e marinha, com três diferentes caligrafias. Lembrei-me que Hécate era conhecida como uma divindade tripla, além de ser a personificação da magia, dos encantamentos, das escolhas, da noite e da renovação.

É, aquele seria meu novo lar. Eu só esperava me acostumar fácil com aquele lugar. Coloquei minha mochila sobre a cama mais distante, sobre o painel do cachorro de três cabeças. Imaginava ser Cérbero, mas não me lembro se era realmente a Hécate que ele fazia companhia no Mundo Inferior. Virei-me para procurar aproveitar as coisas que o chalé me proporcionava, e me perguntei porque teria mais de uma cama se eu era a primeira filha mortal de Hécate na história. Suspirei; saber que ela era minha mãe jamais vai deixar de ser estranho. Mas talvez pudesse explicar metade das coisas que eu fazia.

Uma batida na porta me acordou dos meus pensamentos.

– Paige? Annabeth? - perguntei, atordoada ao vê-las ali.

Elas estavam mais pálidas - o que não eram um bom sinal.

Elas começaram a falar ao mesmo tempo, e de um modo desesperado, o que me deixou ainda mais confusa.

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– Epa, calma! - eu disse rapidamente, interrompendo-as. - Uma de cada vez, senão eu não entendo nada.

Elas se entreolharam, perguntando-se silenciosamente quem me falaria o que quer que fosse. E eu podia apostar que não era uma boa notícia.

– Bem, é sobre o Nico, ele... - começou Annabeth e no momento em que ouvi o nome de Nico, meus sentidos se aguçaram. Mas ela foi interrompida pelo som da concha anunciando o toque de recolher. Ela me lançou um olhar de desculpas. - Sinto muito, Cris, as harpias serão liberadas.

Annabeth saiu correndo de volta ao chalé de Atena. Olhei implorante para Paige, antes que ela fosse também. Paige suspirou derrotadamente e me puxou pelo pulso para a área aberta dos chalés - o de Hécate era o último.

– O que está acontecendo?! - perguntei, enquanto ela me arrastava correndo.

– As harpias realmente vão chegar, então você terá a noite inteira para cuidar dele. - foi tudo o que ela disse, antes de me deixar em frente ao chalé de Hades e voltar para o seu.

Fiquei quase dois minutos parada, tentando entender o que estava acontecendo. Até que um barulho, não muito longínquo, de asas de fez acordar.

Eram as harpias se aproximando.

E eu não estava muito a fim de virar comida de galinha.

Por isso eu fiz a coisa mais decente que alguém normal faria na minha situação - e eu sei que não sou normal, mas deixe esse pequeno detalhe de fora. É, eu corri pro chalé de Nico. E eu nem mesmo bati pra entrar, tão desesperada eu estava pra fugir daqueles seres estranhas e cheios de penas de galinha. Argh, odeio galinha!

– Cristal, o que faz aqui?!

Paralisei, ainda virada de frente para a porta negra. Acho que me esqueci de que tinha gente no chalé. Sabe, acho que a lerdeza de Percy pode ser passada pela umidade do ar. Virei-me um pouco envergonhada - meus olhos rosados por baixo das lentes podia ser uma prova -, mas não tirei meus olhos do chão.

– Deculpe, Nico, mas é que as harpias estavam...

Calei-me assim que levantei meu olhar. Nico estava sem camisa, e isso por si só já me tirava o ar, mas, dessa vez, não fora isso que mais me chamara a atenção. Fora o corte superficial, mas longo, que cruzava o tronco dele desde o ombro esquerdo até o quadril direito. Mordi o lábio inferior para evitar um gemido de susto.

– Entendi o que Paige e Annabeth estavam desesperadas para falar. - murmurei para mim mesma, mas percebi que ele ouvira assim que sua expressão formou uma careta.

– Eu pedi para aquelas duas não falarem nada com você. - ele disse, parecendo irritado.

– Por quê não? - sussurrei o pedido, tão ofendida quanto me senti na Casa Grande.

Nico suspirou derrotadamente e se sentou na ponta da cama, onde percebi ter um kit de primeiros socorros para semideuses. Aproximei-me calmamente dele, esperando uma resposta e analisando o corte para pensar em como poderia ajudar.

– Você acabou de ser reclamada e foi a primeira novata a ganhar uma Capture a Bandeira em séculos. - ele disse e me assustei ao ver que não havia um tom amargo em sua voz, apenas uma pequena tristeza. - Não podia tirar seu dia de glória.

Balancei a cabeça em negação e coloquei a mão em seu rosto para que ele olhasse para mim. - Não importa o que aconteça, eu sempre vou me preocupar com você. Você realmente acha que eu não notei seu sumiço?

Ele sorriu levemente e eu tive certeza. O sorriso de Nico era raro, mas era lindo.

– Tudo bem, da próxima vez que alguma coisa acontecer, você será a primeira a saber.

Sorri também. - Muito melhor! - olhei novamente para seu corte, e para o kit de primeiros socorros. - Agora... O que que eu posso fazer?!

Só então eu reparei que ele tinha um algodão com néctar em mãos.

– Ahn... Pode deixar que eu faço isso. - eu disse e ele me entregou o algodão.

Agachei-me à sua frente respirei fundo, para não deixar transparecer minha agonia pelo ferimento ou deixar que ele soubesse que apenas o fato de que ele estava sem camisa já tirava completamente o meu ar. Dei-lhe um pouco de ambrosia para que ele não sentisse dor e passei o algodão sobre o ferimento, tomando todo o cuidado possível e o limpei. Quando já não tinha mais sangue seco em volta do machucado, peguei uma longa faixa do kit e envolvi seu tronco por completo, deixando o corte livre de infecções até que se curasse completamente.

– Prontinho. - eu disse, depois de guardar o kit no banheiro e lavar as minhas mãos.

– Obrigado, Anjo. - ele disse e eu corei ao ouvir o apelido.

– Ahn, acho melhor você deitar, vai ser melhor pra recuperação. - eu disse, tentando disfarçar.

Nico se ajeitou melhor na cama e se cobriu levemente. Sentei-me na lateral da cama e o observei de olhos fechados, sorrindo. Eu sabia que ele não dormiria assim tão rápido, mas era bom poder observar seu rosto sereno. Eu não sabia quanto tempo fiquei ali, apenas observando-o, mas logo um sorriso disfarçado de formou em seus lábios.

– Assim eu não consigo dormir. - ele sussurrou com a voz rouca.

– É, eu sei. - eu disse. - Sonhe com os anjos, Nico. - e dei-lhe um beijo na testa.

– Se eu sonhar com você, já vou estar sonhando com um anjo.

Paralisei, um pequeno sentimento de esperança crescendo em meu peito, mas eu logo o sufoquei, para evitar que mais tarde o da decepção surgisse.

– Você está delirando, Nico, é melhor eu ir. - eu disse e me levantei, apesar de não ter a menor vontade de ir.

Mas eu realmente iria, se ele não tivesse segurado meu pulso e me olhado com aquela profundeza obscura de seus orbes.

– Não estou, não. - ele disse. - E você mesma disse que estava fugindo das harpias, e elas só sairão daí de manhã.

Suspirei sabendo que ele estava certo. Olhei em volta, à procura de um banco ou um sofá onde eu pudesse ficar, mas senti meu pulso sendo puxado e logo eu me encontrava deitada ao lado de Nico, por baixo das cobertas e com a cabeça sobre o lado não machucado de seu peito. Eu tinha total consciência de seu braço ao redor da minha cintura, mas eu não tinha força de vontade o suficiente para me afastar dele.

Suspirei, sentindo o cansaço de um dia cheio finalmente me atingindo.

– Boa noite, Nico. - eu sussurrei, e fechei os olhos, aproveitando o calor que seu corpo semi-nu irradiava.

E a última coisa que tive consciência foi dele beijando minha testa carinhosamente e sussurrando.

– Boa noite, meu Anjo.