A Guardian's Diary 3 - Seasons of love

Capítulo 7 - Segundo mês: Primeiro ultassom


O saboroso cheiro de comida tirou Coelhão de seu sono em poucos segundos, o fazendo se levantar do ninho. Ele se espreguiçou com vontade, notando que Jack não estava ao seu lado, mas podia muito bem captar o som do garoto cantarolando baixinho na cozinha.

Aquilo era algo um tanto incomum, quase sempre o espírito do inverno deixava o trabalho na cozinha com o Pooka, já que adorava a comida desse e também porque ele mesmo dizia não ter muita prática cozinhando. Mas lá estava ele. Coelhão sorriu ao ver Jack cantarolando baixinho, a ponto de apenas suas enormes orelhas terem a capacidade de ouvi-lo, andando animado pela cozinha, levemente dançando no ritmo da musica.

“Ah!” Jack se surpreendeu quando sentiu dois enormes braços felpudos o envolverem por trás, mas já sabia quem era, é claro. “Bom dia.” Ele ergueu o rosto, dando um suave beijo nos lábios do Pooka.

“Bom dia.” Coelhão sorriu ao ouvir a voz animada de Jack, aquela voz que ele adorava tanto de ouvir logo de manhã. “O que está fazendo?” O guardião da esperança se aproximou do fogão, abrindo uma das panelas.

“Ah, eu fiquei com vontade de comer um pouco de macarrão.” Jack sorriu, deixando a colher de pau que tinha nas mãos em cima da pia. “Mas então fiquei com vontade de comer torta...” Ele apontou para a torta na mesa pequena, estava quase totalmente devorada, com apenas algumas fatias sobrando. “Então decidi comer ambos, já que ainda estou com fome...”

Coelhão riu.

“Não está meio cedo para comer algo assim?” Perguntou, brincando com os cabelos brancos do garoto.

“Cedo?” O guardião da diversão riu, dando um sorriso torto. “Quem disse que é cedo? Já é quase meio dia, seu canguru dorminhoco.”

“E porque não me acordou, seu moleque?” Coelhão soltou o garoto, deixando que esse desse mais uma olhada na panela.

“Acredite, eu tentei.” Jack sorriu e enfim desligou o fogão. “Mas quem disse que é fácil?” E se virou para o Pooka com um sorriso fofo. “E também, você fica uma graça quando dorme.”

Coelhão apenas virou o rosto, sentindo este ficar quente, mas por sorte, seu pelo não deixava transpassar seu rubor. Logo, com a ajuda do outro, Jack conseguiu enfim terminar o almoço, preparando uma ótima macarronada com legumes – afinal, Coelhão era um coelho ainda, não? Ele simplesmente não podia viver sem um bom legume – e molho de tomate. Sem contar ainda o que havia sobrado da torta para a sobremesa!

“E você diz que não sabe cozinhar direito.” Coelhão sorriu para o garoto após uma garfada.

“Ora, você esperava mesmo que eu não aprendesse um pouco com você?” Jack riu.

Os dois ficaram quietos enquanto comia, embora, vez ou outra, algum falasse alguma coisa que começava uma conversa comprida que era interrompida antes que a comida ficasse fria. Coelhão se surpreendeu ao ver Jack repetir três vezes e ainda ter espaço para o resto da torta, mas, era assim que uma pessoa grávida comia, não é? Ele se perguntou se Toothiana estaria fazendo o mesmo...

Após enfim terminar o ultimo pedaço de torta, Jack voltou a atenção para o bracelete verde em seu pulso, e logo seus olhos pularam para o bracelete azul cintilando no pulso do Pooka, sem poder conter um sorriso doce.

“Perdido em pensamentos, Snowflake?” Coelhão perguntou também com um sorriso, ao ver o que o garoto fitava.

“Dá para acreditar que ontem nós realmente nos casamos?” Jack perguntou, o rosto levemente azulado ao se lembrar do dia anterior. Coelhão apertou levemente a mão pálida e pequena de Jack em sua pata, fazendo com que ambos se sentissem felizes, sentindo um tocando o outro daquele jeito... “Alias...” O garoto riu levemente com o que pensara. “Agora que somos casados... Eu vou ter de usar o seu sobrenome?”

“Acho que sim...” Coelhão sorriu torto.

“Jackson Pascoal...” Jack riu falando seu novo nome em voz alta pela primeira vez, achando que esse soava meio estranho.

“Jackson Overland Frostison Pascoal.” O guardião da esperança falou a versão completa que Bloom havia criado para o espírito do inverno, o que fez com que esse ficasse mais azul ainda. “Eu gostei desse.”

“Estranhamente comprido demais...” O garoto passou as mãos pelo cabelo, virando o rosto levemente, mas havia um sorriso em seus lábios depois de repetir aquele nome varias vezes em silêncio. “Mas... Até que é legal...”

“É, acho bom gostar.” Coelhão riu, fazendo Jack erguer uma sobrancelha, sem entender o que o outro queria dizer. “Pois afinal, a partir de agora você vai começar a ser chamado de ‘Senhora Pascoal’.”

Jack quase engasgou com o suco que tomava no momento ao ouvir aquilo.

“Mas eu sou homem!” Ele retrucou. “Tá, eu sei, eu fui a noiva então...”

“Não só foi minha noiva.” O Pooka se aproximou do garoto, passando as mãos pelas bochechas geladas desse. “Mas vai ser para sempre a minha ‘esposa’.” Ele riu quando o menor balançou a cabeça sem jeito, um bico de irritação fingida em seus lábios.

Mas logo Jack não pôde se impedir de rir ao sentir os bigodes de Coelhão roçando sua pele enquanto este beijava suavemente seu pescoço pálido.

“É, e eu estaria mentindo...” Ele murmurou ergueu o rosto do Pooka para o seu. “Se dissesse que não gosto disso...” E tomou os lábios desse nos seus em vários beijos curtos e doces, sabor torta de morango que haviam dividido há pouco. “Será... Que as fotos do casamento... Já ficaram prontas?” Antes mesmo que Coelhão pudesse dizer algo, duas batidas na porta da casa chamou a atenção de ambos, que já tinham uma ideia de quem era. “Como ela consegue entrar aqui com os tuneis fechados?”

Coelhão deu de ombros enquanto se dirigia para a sala de entrada da casa, rapidamente atendendo a porta para quem eles já esperavam. Bloom estava lá, com aquele sorriso de sempre, os cabelos brilhando com todas as cores do arco-íris e uma caixa nas mãos.

“Ola Coelhão!” Ela disse animada. “Adivinha o que eu trouxe?”

“Estávamos agora mesmo falando sobre isso...” O guardião da esperança se afastou para que a espírito da primavera entrasse.

“E onde está Jack?”

“Estou aqui.” Jack sorriu para a amiga e notou a caixa. “Não me diga que são as fotos...”

“São sim!” Bloom assentiu animadamente. “Venham ver como elas ficaram!”

Dentro da caixa havia dois grandes álbuns de fotos, um de capa azul escura com detalhes de flocos de neve, e outro verde com desenhos de flores tribais – como as marcas que Coelhão tinha no pelo –, ambos feitos pela própria Bloom.

O álbum verde tinha as fotos do casamento, todos tirados por Bloom. A entrada, os votos, a troca de braceletes e quase umas dez do beijo; além de algumas fotos dos convidados com os noivos ou sozinhos. Já o álbum azul tinha as fotos da festa, ou seja, estava bem mais cheio. Havia várias dos convidados dançando – principalmente dos noivos, é claro, embora eles tivessem sumido depois de dançar uma valsa –, também tinham fotos dos enfeites e dos comes e bebes da festa, fotos de Jack atirando o buque e de todas as mulheres se agarrando para pegá-lo, além de mais fotos dos convidados e... Uma em especial...

“Então por isso quando nos beijamos você estava com gosto de chocolate.” Coelhão riu ao passar uma foto para Jack que o fez ficar azul.

Na foto aparecia Jack com uma mão cheia dos pequenos copos de chocolate com cerejas, seus olhos levemente arregalados de surpresa ao ter sido pego no flagra pelo espírito da primavera.

“Tenho culpa?” Jack deu de ombros. “Aqueles copos estavam deliciosos e logo eles iam acabar, então eu não queria perder a chance.” Ele fez uma careta quando Bloom começou a rir. “Você não ousou fazer mais cópias dessa foto, não é?”

“Eu? É claro que não Jack!” Bloom levantou as mãos em sinal de inocência, mas Jack sabia que ela estava mentindo. “Tá, eu fiz uma cópia, mas só uma! Para ficar comigo!” Ela piscou com uma risada. “Não se preocupe Jack, esses álbuns são seus então se você não quiser que mais ninguém veja é só colocar a foto ai dentro.”

“Na verdade, eu gostei dessa.” Coelhão disse, querendo irritar o garoto, mas também falando a verdade, gostava de como os olhos do espírito do inverno brilhavam na foto e a expressão surpresa deste chegava a ser muito fofa. “Vou colocar junto com aquela da camisola rosa.”

“Eu te odeio...” Jack murmurou simplesmente, cruzando os braços fazendo uma careta séria, e teve de tentar se impedir de sorrir ao ouvir a risada de Coelhão ao seu lado.

“Mas, e então?” Bloom perguntou com um sorriso, o rosto apoiando em ambas as mãos. “Como vai a vida de casados?”

“Digamos que o mesmo de antes.” Jack deu de ombros, pulando para o colo de Coelhão, sorrindo de orelha a orelha. “Apenas que agora ele pode muito bem me chamar de ‘esposa’.” Ele riu levemente enquanto o Pooka brincava com seus cabelos brancos. “E eu posso chamá-lo de meu marido...”

Bloom sorriu, seu rosto levemente rosado ao ver os dois trocarem um beijo rápido e doce, mas ao mesmo tempo apaixonado.

“É, vejo que estão tão bem quanto antes.” Ela riu levemente. “E sua gravidez?”

“Vai indo bem, mas eu gostaria mesmo é de poder senti-lo.” Jack levou a mão para a barriga apenas levemente saliente, quase nem aparecia direito. “Mas pelo que sei vou ter de esperar até o quarto ou quinto mês...” Ele parou por um segundo, como que se pensasse em alguma coisa repentina. “Alias...” E rapidamente flutuou para longe, Coelhão já sabendo o que o outro tinha de fazer.

“Pelo jeito as coisas vão tão bem quanto podem.” Bloom se lembrou de algo então. “Alias, Tooth e Norte me mandaram chamar vocês dois para ir até a oficina dele. Eu não sei o que ele quer, mas quer ver vocês dois.”

–G

“O que foi, Norte?” Coelhão pergunto ao enfim chegar à oficina do guardião russo, colocando Jack, que estava em seus ombros, ao seu lado. “Aconteceu alguma coisa?”

“Não, não aconteceu nada.” Norte tinha um sorriso largo no rosto, como que se tivesse visto a coisa mais maravilhosa do mundo e não podia mais parar de pensar nela. “Apenas precisávamos que viessem aqui para uma coisa...” Ele colocou as mãos nas costas dos outros guardiões e os guiou por um corredor da oficina que levava ao que podia se chamar de uma enfermaria – a chance de alguém acabar se ferindo enquanto fazia os brinquedos até que era alta, o que explicava o porquê daquele lugar, e sem contar que era para o próprio bem estar dos guardiões.

“Tooth está bem?” Jack perguntou logo ao entrar na enfermaria que, diferente da grande oficina, era incrivelmente silencioso.

“Sim, está sim.” O russo pareceu alargar mais o sorriso – se é que isso era possível... – ao falar aquilo. “Na verdade ela está esperando vocês dois.”

Os três entraram em um dos quartos, encontrando Tooth, Emma e Sandy conversando animadamente sentados a uma maca, uma máquina com um monitor que parecia uma TV logo ao lado desses. E, é claro que quando viu os que haviam chegado, Emma foi a primeira a se dirigir a eles.

“Ah! Vocês chegaram!” A fada dos dentes se apressou para abraçar os outros dois guardiões, e Coelhão logo pôde notar que havia pequenas lágrimas nos olhos desta.

“Você está chorando?” O Pooka se sentia confuso. “Tem certeza de que está tudo bem?”

“É claro que sim, está tudo ótimo.” Ela deu uma risadinha e logo voltou a atenção dos outros para a máquina ali ao lado. “Acabamos de arranjar isso, e sabem o que é?” Ambos o guardião da esperança e o guardião da diversão balançaram a cabeça negativamente. “É um ultrassom.”

No mesmo instante Coelhão e Jack entenderam o porquê dos outros estarem daquele jeito, Norte incrivelmente feliz e Tooth com lágrimas nos olhos; e é claro que ambos ficaram animados, pensando na possibilidade de usarem a máquina.

“Então vocês viram o bebê?” Jack perguntou e Tooth assentiu veemente, abrindo um sorriso quase tão grande quanto o de Norte. “Porque não avisaram antes? Eu também queria ver!”

“Sinto muito, Jack, mas é que estávamos tão afobados para ver nossos bebês, então...” A fada dos dentes deu de ombros, se balançando animadamente no ar meio sem jeito.

“Espere um pouco! Bebês?” Coelhão se surpreendeu com o plural. “São o que? Gêmeos?!” Toothiana apenas assentiu, seus pés no chão, mas suas asas batendo freneticamente vez ou outra. “Meus parabéns!” E, com um sorriso torto, ele se voltou para Norte. “Mais trabalho para você, não?”

“Mas, agora, venha Jack.” Toothiana, após ser abraçada pelo espírito do inverno logo o guiou para a maca, um grande sorriso em seu rosto. “Não sou a única grávida aqui, não?” Ao ouvir isso, Jack se deitou na maca rapidamente, sem querer perder tempo. “Relaxe que eu cuido de tudo.”

“Estamos ambos de dois meses...” Jack murmurou enquanto a fada ligava a máquina. “Os bebês não estão muito grandes, mas, ainda assim, vocês conseguiram vê-los, não é?”

“Eles estão com três centímetros Jack, e com certeza os seus também. Mas, agora, relaxe e levante a camisa.” Jack fez como a rainha das fadas disse e ergueu a blusa, deixando sua barriga exposta. Sem mais delongas Tooth passou um gel ali, era gelado, mas como o próprio garoto tinha a pele fria, nem ligou para isso.

Logo Tooth, com uma destreza incrível com aquela máquina – como que se já trabalhasse com ela por anos –, começou a procurar o bebê; Jack fitava o monitor afobado, assim como Coelhão agora sentado ao seu lado. No começo, a imagem acinzentada e estranha confundiu os dois guardiões enquanto tentavam distinguir o que devia de ser seu bebê até que...

“Ali!” Jack chamou a atenção da fada dos dentes, apontando para algo no monitor. “O que é aquilo?”

“Oh, é seu bebê Jack!” Tooth sorriu, virando aquele instrumento na barriga pouco saliente do garoto para poder ver melhor o pequeno feto. “Você o encontrou!”

Jack deu um sorrisinho bobo quando pôde ver melhor seu pequeno milagre; era incrivelmente miúdo, dava para ver que parecia já um bebê, embora as perninhas fossem muito finas e a cabeça desproporcional para o corpo mínimo, mas, mesmo assim, ele podia ver uns dedinhos enrolados. O espírito do inverno simplesmente não pôde impedir lágrimas de aparecerem em seus olhos ao ver o bebê mexer, muito de leve, a cabeça.

Coelhão, ao lado de Jack, não estava melhor; é claro que em outro momento ele teria tentando segurar lágrimas – como na vigília que havia feito para Sandy –, mas naquela hora ele nem se importou com aquilo, apenas com a imagem no monitor e os dedos de Jack agarrando o pelo de seu braço levemente.

“Ora, quem diria...” Jack falou depois de seu silêncio. “Ele é um humano e não um coelho...” Ele se voltou para Coelhão com um sorriso torto que foi retribuído junto com um revirar de olhos do Pooka; e o garoto logo notou quando Emma se aproximou do monitor, passando a mãozinha miúda na imagem do bebê. “Seu sobrinho é menor que você, Emma.” A fadinha apenas riu, se dirigindo para o ombro do irmão mais velho.

“Aqui, vocês dois...” Norte se aproximou do ultrassom e começou a mexer em algo, confundindo os outros dois guardiões, mas não por muito tempo.

As grandes orelhas de Coelhão tremeram levemente, o pelo destas se eriçando ao ouvir aquilo, enquanto Jack estava paralisado na maca. Um suave, mas rápido “Tum-tum” soava do alto-falante da máquina, enquanto eram marcados por uma linha na tela do monitor.

Aí, Jack não aguentou, simplesmente deixou as lágrimas rolarem com vontade por suas bochechas, enquanto sentia a pata suave e quente de Coelhão afagando-lhe os cabelos e ouvia os batimentos do coração de seu bebê.

“Meio rápido, não?” Coelhão perguntou, um sorriso em seus lábios e os olhos lacrimejantes de emoção.

“É o correto para o coraçãozinho dele, ou dela.” Tooth riu levemente, limpando a barriga de Jack que sorria quase de orelha a orelha agora. “Pelo jeito é um bebê simplesmente perfeito. Meus parabéns, vocês dois!”

“Quando vamos poder ver se é menino ou menina?” Jack logo foi perguntando.

“Só lá pelo quarto mês.” Toothiana explicou com uma risadinha animada. “Pelo que sei, esse é a melhor fase da gravidez.”

Jack apenas continuou com aquele sorriso bobo no rosto, afagando a barriga com uma mão e a outra segurando a de Coelhão. Ele estava decidido a aproveitar cada mês de sua gravidez, mas agora, como ele queria que o quarto mês chegasse logo...