Sinto um forte cheiro de álcool. Bem, pelo menos é melhor do que o cheiro de podridão anterior. Contemplo Jill olhando atentamente em minha direção como se estivesse esperando apenas me esperando acordar. A policial estava agora sem boina, mostrando o seu cabelo castanho partido de lado, com um copo de café enfumaçado em uma de suas mãos e uma pistola que parecia ser 9 mm na outra. Levanto-me rapidamente com um pulo.

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–Calma. –Disse apontando a pistola para cima.

–O que aconteceu? – Coloco imediatamente as mãos no rosto e sinto uma forte dor de cabeça. A primeira coisa que verifico é se minha calça está rasgada no local onde aquela criança, se é que a posso chamar assim, me mordeu. O ponto está completamente normal, sem marca alguma de mordida ou sangue, o que me confirma que tudo não passara de um sonho. A próxima pergunta é: como vim parar aqui? -Eu não sei ao certo... Sofri um acidente. Hm... Sherry. -Sua filha?

–Eu não sei onde ela está. Ela... sumiu.

Olho em volta e percebo que estou em um bar. Há um balcão principal que fica no centro em forma de um quadrado onde há várias estantes com garrafas e bancos em volta. Um pouco mais à esquerda, há algumas bancadas ao lado de um fogão. Em cima de uma delas, está a cafeteira que foi provavelmente usada por Jill. No demais, algumas poucas mesas compõem o restante do local. Elas dão a impressão de que os clientes saíram de lá às pressas, com várias garrafas e copos em cima delas. Na última, um rádio pequeno de cor vermelha chama a minha atenção. As paredes de um tom bege claro apresentam duas janelas de vidro que mostram a névoa e as cinzas constantes sobre a cidade.

–Jill, não é.

–Sim. –Ela falou olhando através da janela buscando enxergar algo.

–O que aconteceu aqui? -Penso em perguntar o que aconteceu a ela, se realmente caiu da moto, se viu a menina vestida de roxo...

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Volto meu olhar para William. Não faço ideia do que aconteceu, mas provavelmente ele percebeu as mesmas coisas que eu, isto é, a ausência de pessoas, a névoa densa, as cinzas e o fato de nada dessas coisas terem saído nos noticiários. Ao que parece, continuam anunciando Raccoon City como uma cidade pacata, porém turística. Até porque esse era o objetivo de William a chegar aqui. Talvez ele não tivesse visto os cachorros nem os corvos gigantes.

–Não sei ao certo. Acho que essa bendita névoa está impedindo as pessoas de saírem de suas casas. De qualquer modo, devo investigar.

–E eu preciso encontrar Sherry.

Penso rápido. Não posso deixar que William se arrisque, mas também tem a sua filha que estava perdida em meio à cidade. Talvez se ele tivesse uma arma... Sim, era isso! Eu imediatamente soube o que fazer. Ando até a bancada ao lado do fogão e abro a terceira gaveta de baixo pra cima. Como achei que estaria, encontro uma beretta 9 mm e uma caixa de balas também 9 mm com 12 projéteis.

–William, eu vou investigar essa droga, enquanto isso você procura por Sherry. –Falo enquanto vou na direção dele. –Use isto, a cidade está um tanto perigosa.

William pega a arma e as balas com um olhar estranho. Não sei se ele entendeu porque precisa disto, mas... uma hora ou outra entenderá. Provavelmente mais rápido do que eu ou até ele mesmo imagina.

–Ok...

–Encontre-a o mais rápido possível e venha pra cá, ou algum local seguro. Eu o encontrarei.

–Certo.

Certeza, eu não tenho a mínima ideia de como encontrá-lo, mas o repentino ‘sei o que fazer’ está me seguindo desde que acordei. É como se as respostas para os problemas que encontro viesse facilmente, como um rio flui através de sua correnteza. Se William estiver com a mesma coisa, não será difícil sairmos daqui ileso e ainda com a filha dele.

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–Cuidado. –Disse dando um último olhar para William enquanto cruzo o local e vou em direção à porta. Ele assente com a cabeça.

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Espero mais um pouco e decido vasculhar o local. A única coisa que encontro é um energético. Guardo no bolso e sento em uma das mesas. Começo a planejar o que e como fazer. Talvez voltar pelo caminho por onde havia visto Sherry desaparecer... mas aquilo teria sido apenas um sonho, não algo real. Será que aquele caminho existia de fato? E se eu ainda estivesse sonhando? Afinal, que droga de cidade fica com tanta névoa e tanta cinza se não havia nenhum vulcão por perto? Pelo que sei, não há vulcão próximo a Raccoon, nem em Arklay. Como explicariam aquilo?

De repente, o rádio que estava em cima da última mesa começa a chiar. A princípio, é algo quase imperceptível. Então o chiado começa aumentando gradualmente. A droga desse barulho está começando a confundir novamente os meus sentidos. Olho repentinamente para trás, uma janela foi quebr... mas, mas... o que é isso? Não consigo acreditar no que vejo: um vulto negro, semelhante a um pássaro quase que do mesmo tamanho que eu mesmo acabou de quebrar a janela e está sobrevoando sobre mim. Mas... não pode ser possível!

Eu agi sem pensar. Imediatamente, empunho a beretta que Jill me deu e aponto para a criatura negra. Dou quatro tiros consigo acertar três, o suficiente derrubar aquilo. Ainda ofegante, olho para a criatura que ainda se mexe e dou um chute, o que a faz parar. Agora só consigo pensar em uma coisa...

–Sherry!

O rádio para de chiar. Parecia que ele detecta a presença de monstros, sei lá... talvez seja uma boa ideia levá-lo. Pego o pequeno rádio estranho e vejo um buraco no meio. Coloco no outro bolso e decido refazer o caminho do sonho. Afinal, se existem aquelas criaturas e tudo está tão anormal, é possível que o sonho me revele alguma coisa, algum caminho a seguir. Se eu encontrar alguma coisa, estarei certo. Ou, na pior das hipóteses, aquilo não teria sido um sonho, o que deixa as coisas ainda mais estranhas, pois no sonho eu morri.

Eu sou um cético. Escritor de ficção, nunca acreditei em metade do que escrevi, embora vez por outra escrevo coisas que são ilógicas humanamente. Sou completamente obcecado por ciência e coisas que fazem completamente todo o sentido em minha mente, nunca acreditando em intuição. Mas passar por uma situação dessas me faz pensar... talvez tudo não passe de um sonho, ou minha mente está me enganando com alguma história que eu estou escrevendo. Nada parece fazer sentido. Acho que então vou optar pelo que sempre faço em meus livros: deixar a história fluir através das páginas. Vou refazer o caminho.