A Garota do Futuro

Capítulo 4


— Noite difícil hem! – Ronald exclama sentando-se ao lado de Felicity, que faltando quinze minutos para o fim do turno deu-se ao luxo de sentar-se.

Ela olha para o colega que a encara com expectativa, franzindo o cenho ela morde o lábio inferior curiosa, quase três semanas como colegas de trabalho, esta, com exceção ao dia que se conheceram, é a primeira vez que ele lhe dirige a palavra.

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— Eu vou sobreviver. – responde sorrindo minimamente.

— Me diga Megan, o que uma garota que é amiga de Thea Queen está fazendo aqui?

— Como você... – ela começa a dizer, mas para, chocada demais com a observação do colega para continuar sua indagação.

— Eu notei a intimidade com que se dirigiram uma à outra e também... – ele para, olhando-a nos olhos, ela percebe que ele pondera as próximas palavras.

— E também? – instiga-o a continuar.

— E também como você se preocupa com... Você sabe, o problema de...

— Olha, é... Ronald certo? – ela pergunta entredentes e ele assente – Desculpe se eu estiver sendo grossa, mas não vejo como isso seja da sua conta.

— Ok, ok – ele eleva os braços, apaziguador – não é minha intenção me intrometer, mas, já faz um tempo que isso vem acontecendo e eu vejo que cada vez mais ela está se enfiando num buraco mais fundo, e é realmente uma pena, ela é apenas uma criança. – esclarece com um sussurro. Felicity permanece a fitá-lo procurando sinceridade em suas palavras – É apenas bom saber que ela tem alguém para olhar por ela. – ele admite e Felicity assente satisfeita ao constatar a sinceridade do colega.

— Muito bem pessoal, ótimo trabalho hoje, estão dispensados. — o gerente grita ao fundo fazendo Felicity desviar o olhar para os colegas que preparam-se para sair.

— Obrigada pela preocupação – ela levanta-se –, e não se preocupe, senhorita Queen tem a quem olhar por ela. Se me der licença.

— Ãh, deixe-me acompanhá-la, por favor, é tarde para que ande sozinha.

— Oh, não, não se incomode, não estarei sozinha, Evelin sempre me acompanha.

— Ah, certo, boa noite.

— Boa noite Ronald.

— Ronnie, apenas.

— Ronnie. – ela repete com um meio-sorriso.

~’~

— Qual é o seu problema? – Thea esbraveja batendo o pé como uma criança mimada, escondendo-se atrás da poltrona, na defensiva, e se Felicity não estivesse tão irritada teria rido da reação da outra. Elas estão há quinze minutos gritando uma com a outra desde que Felicity deliberadamente questionara o comportamento e associações da amiga.

— Qual. É. O. Seu. Problema? – Felicity rebate pausadamente – Se esconder num banheiro de lanchonete? Você... Você tem noção do risco que está correndo? – Felicity indaga furiosa, com o rosto corado ela encara a menina, lábios em riste e os olhos azuis brilhantes.

Ela vai até o quarto, pega o uniforme de trabalho na pequena pilha de roupas sujas que estava prestes a lavar antes que Thea chegasse. Na verdade ela ficou surpresa de a menina chegar no dia seguinte ao pequeno confronto no banheiro da lanchonete, imaginou que Thea fosse fugir dela por um longo tempo. Ainda irritada ela pega o pacote transparente que tomara de Thea, pacote que depois de passado o choque inicial ela percebeu que também contem pastilhas coloridas facilitando no processo de identificação da droga, e segue a passos largos para sala encontrando Thea andando de um lado para o outro como um animal enjaulado.

— Estas coisas – fala aumentando o tom de voz, erguendo o braço em direção a Thea, a mão em punho amassando o pequeno pacote entre os dedos – vão te levar a ruína ou muito pior, podem te levar a morte.

— E quem se importa? – a menina grita com magoa – Meu pai e meu irmão que me abandonaram? Ou minha mãe que mal se lembra de minha existência? Que não se incomoda em me dar um bom dia ou boa noite?— grita com lábios trêmulos, forçando-se a não chorar, Felicity sente que a menina está descarregando toda a raiva e frustração que sente da mãe através do olhar duro em cima dela.

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— Eu me importo. – Felicity grita de volta, ela quer sacudir Thea, ou melhor, ela quer abraçar a amiga, um abraço forte e longo e fazê-la entender que não está sozinha, que ela, Felicity, está lá para confortar e apoiar, ser amiga, irmã e até mãe se ela deixar.

Ela dá dois passos em direção a Thea, mas para, chocada e decepcionada com as próximas palavras da garota.

— Pois não deveria. – Thea fala com frieza – Você não é nada minha, nada para mim.

Felicity a encara, sem palavras, a expressão dura no rosto da menina fazendo-a recuar, sentindo a dor no peito pela rejeição. Ela engole em seco e com dificuldade, os olhos ardentes impendido que as lágrimas escapem. Ela é a primeira a quebrar o contato visual e segue para o quarto, decidida a afastar-se. Por mais que ela amasse Oliver e Thea fosse a irmã dele e ela se sentisse na obrigação de cuidar dela, por mais que amasse Thea ela não iria deixá-la tratá-la assim, humilhá-la, reduzi-la a ninguém.

Quando ela se viu nesse problema, em um ano passado, em uma Starling que ela não conhecia, sem Oliver, sem Diggle, sem Barry, Caitlin, Cisco, sem Thea todos os amigos que agora fazem mais falta que nunca, ela sentiu medo, pavor com o que poderia acontecer com ela, ela queria desesperadamente voltar pra casa. Quando ela reconheceu Thea, tudo o que ela pensava era em afastar-se da menina por medo de mudar o futuro, mas depois conforme ela foi conhecendo a Thea adolescente, a menina de treze anos que deveria estar brincando e sorrindo com seus amigos, mas que está vivendo a maior parte do tempo no passado, esperando migalhas de atenção da mãe, a menina que tem tudo e não tem nada, ela passou a acreditar que viajar no tempo e encontrar Thea Queen não era apenas coincidência, sua passagem ali tinha um propósito, de ser o alicerce que a amiga necessita, de cuidar dela e não deixar que se perca no isolamento e no mundo das drogas, porém agora ela já não tem certeza e decide que o melhor é se afastar, Thea não quer ajuda e ela não quer fazer parte disso, não quer ver a menina se afundar cada vez mais a ponto de ser o motivo para que seu irmão cometa assassinato por ela. Não. Nada posso fazer a respeito disso. Pondera enxugando as lágrimas e abrindo as portas do guarda-roupa.

Ela permanece com as portas abertas, olhando para o interior do móvel, tudo ali fora Thea quem comprara com o dinheiro que a mãe tentando compensar a distância lhe dera.

— Merda! Não posso levar nada porque não são minhas, mas também não posso ficar apenas com a roupa do corpo. – murmura baixinho, irritada e decepcionada consigo mesma por ter comprado um aparelho celular de segunda mão com a primeira quinzena de trabalho ao invés de roupas novas – Mas era necessário Fel... – ela para ao sentir a presença de Thea no quarto. Ignorando a menina ela começa a recolher as peças de roupas.

— Me perdoa? – Thea pede fazendo-a paralisar ao virar-se e se deparar com a menina sentada no chão, apoiada na cama, os olhos vermelhos pelo choro e a expressão de arrependimento – Eu sou uma idiota egoísta. E-eu – funga engolindo o choro que ameaça voltar – não quis dizer nada daquilo Megan. – passa a mão pelo nariz irritando-o ao ponto de deixa-lo vermelho – Eu estav-estou com raiva e descontei a raiva em cima de você.

Subitamente a raiva de Felicity passa, consternada ela deixa as peças de roupas escorregarem por entre seus dedos e caírem no não. Ela caminha até Thea senta-se ao seu lado. Thea a olha por um momento e volta a fitar o vazio a sua frente – Sinto muito. – desculpa-se em tom baixo.

— Você pode descontar sua raiva em mim se quiser quando se sentir sobrecarregada, mas não a desconte em você mesma. – Felicity alerta pegando a mão de Thea e apertando – Mas nunca, nunca mais diga que não sou nada para você. – dá um leve empurrão de ombros na menina.

— Eu prometo. – responde sem conseguir olhar para loira, envergonhada por seu comportamento – Mas é tão difícil Megan, eu preciso relaxar, preciso esquecer tudo isso, é-é – ela respira fundo tentando controlar o anseio de chorar – não é só a minha mãe sabe? Ou a falta do meu pai e do meu irmão. – ela olha para Felicity que meneia a cabeça incentivando que continue – Todos esperam que eu seja perfeita, a menina super responsável que deve estar sempre sorrindo e não pode nunca errar. – suspira cansada – Isso é cansativo e é irritante.

— Eu sei. – Felicity anui puxando Thea para mais perto, esta encosta a cabeça em seu ombro – Mas ecstasy não é a solução e você sabe disso. – afirma com tom de censura na voz – Esse é apenas o primeiro passo para outras...

— Outras drogas mais pesadas. – diz num sopro de frustração – Eu sei. Obrigada por cuidar de mim Megan.

— Sempre Thea. Sempre. – repete ao ouvir o suspiro alto da menina.

~’~

— O playboy e a princesa. – Evelin sussurra o que faz Felicity desviar a atenção para a mesma direção que a colega e sente o coração acelerar ao deparar-se com Thomas Merlyn e Laurel Lance.

Laurel Lance. Ela sabia que havia essa possibilidade, de reencontrar a amiga, e esse momento chegou mais cedo do que esperava. Ela nunca imaginou que um dia isso iria acontecer, mas ela sente falta de Laurel Lace e toda sua arrogância. Laurel também a faz lembrar-se de casa e das noites no foundry e de todo o time, lhe faz ter saudades até dos bandidos.

— Que fofo, o príncipe herdeiro está pegando a ex do melhor amigo. – Ronald ironiza ao passar por Felicity e Evelin arrancando a loira de seus devaneios.

— Ele tinha que ser tão idiota? – Felicity pergunta retoricamente.

— Ele não está errado na verdade. – Evelin diz encolhendo os ombros e assim como Felicity olha na direção da mesa em que o casal está, Ronald aproximando-se logo em seguida para atendê-los.

— Como assim?

— Essa é terceira vez que os dois aparecem juntos, é para se imaginar que tá rolando algo né, ainda mais por estarem nessa área, tão longe da parte rica e fofoqueira da cidade.

Felicity se põe a pensar nas palavras dos colegas, tirando o fato dela não entender o que tem a ver Laurel e Tommy estarem no Glades, ela sabe que eles não estão de todo errados, só não imaginava que o romance teria começado tão logo após o desaparecimento de Oliver. Logo? Bem, um ano não é muito tempo. Debate consigo mesma.

— É melhor eu voltar ao trabalho, e você também, mais clientes chegando. – Evelin aponta um homem de meia-idade que sentara-se à mesa próxima a de Tommy e Laurel. Suspirando Felicity se vê obrigada a passar pelos dois e implora mentalmente que Tommy não a reconheça.

— Bem vindo ao Big Belly, em que posso lhe ser útil? – com caneta e caderneta em mãos ela diz, oferecendo um sorriso para o homem de terno e gravata que a faz lembrar-se dos tempos de QC.

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— Um chili cheese fries para viagem, por favor.

— Claro senhor, mais alguma coisa? – o homem apenas balaçnça a cabeça em negação – Certo a espera hoje está sendo de quinze minutos. – ela informa antes de se voltar para a divisa entre a cozinha e a área para clientes.

— Senhorita Cutler?— a voz grave a faz retesar e praguejar baixinho.

— Hey, senhor Merlyn. – força um sorriso ao virar-se e encarar o homem que já se encontra em pé. Ela olha para Laurel que alternar o olhar entre Tommy e ela, mas não com o desprezo que ela imaginava que fosse receber, mas com curiosidade.

Talvez seu desprezo só fosse direcionado àquelas que se aproximassem de Oliver.

— É um prazer revê-la novamente. – diz com extrema educação.

— O prazer é meu senhor Merlyn, senhorita. – meneia a cabeça cumprimentando Laurel.

— Laurel Lance. – a morena se adianta.

— Fe-Megan Cutler. – titubeia, nervosa ao estar frente a frente com Laurel. – Estão sendo bem atendidos? Desejam mais alguma coisa? O que posso fazer por vocês? – balbucia agitada.

Quanto mais tempo ela olha para Laurel, mais ela sente saudade de casa, sentimento que ela tenta reprimir desde que percebera que pode não voltar para casa.

— Sim, não e no momento nada, obrigado. – Tommy assegura enquanto senta-se, rindo do diálogo desenfreado da loira.

— Certo, então – diz afastando-se sem olhar para trás querendo sair o mais depressa possível – eu vou... é melhor eu... – tropeça em uma cadeira – Ouch! – exclama envergonhada e se vira com pressa para sair dali.

Belo show Felicity, agora vão achar você é maluca. Irrita-se consigo mesma pela vergonha que se fez passar.

— Ei Megan, o que foi aquilo. – Evelin questiona ao finalmente encontrar Felicity no banheiro.

A loira levanta o rosto enquanto pega uma toalha de papel para secá-lo.

— Aquilo foi Felicity Smoak tomando conta da situação. – diz com pesar, encarando a morena pelo reflexo no espelho.

— Que?

— Ninguém, esquece.

— Certo, hm... Então.

— Eu não sei o que deu em mim... – e ela realmente não sabia, ver Laurel não deveria ter mexido tanto com ela, elas acabaram formando uma amizade, sim, mas não como a que ela teve/tem com Thea, e mesmo assim, ela não reagiu como uma idiota ao encontrar a menina

Mas Thea agora é uma pessoa totalmente diferente, não é a mesma Thea de daqui a quatro anos, ou dez, já Laurel, Laurel a fez lembrar-se de tudo o que ela deixou para trás, de tudo o que ela perdeu.

— Deve ter sido a proximidade com o bonitão. Hurf! E quem não ficaria nervosa perto de um homem daqueles? – Evelin exagera abanando-se.

— É claro. – Felicity concorda perdida em pensamentos.

Já no apartamento, ela adormece após horas de insônia e muitas lágrimas derramadas que ela teve que suprimir no restante do turno de trabalho. Ela pensou em cada um de seus amigos. Mas ela pensou principalmente em Oliver. Onde ele estaria? O que estaria fazendo? Estaria pensando nela como ela pensava nele? Como ela daria qualquer coisa para estar ao lado dele novamente, sentir o calor de seu corpo protetor, e os beijos que a faziam querer cada vez mais dele. Como ela desejaria estar em casa.