O sol foi nascendo, mas Cindy já estava acordada há muito tempo, sentada em um sofá na sala comunal. Não parava de pensar na sua visão, em ouvir os dois garotos falando, mesmo Gina não ouvindo nada. Estava preocupada. Temia estar com alguma doença bruxa ou outra coisa parecida. Mas sabia que não estava nessa escola por acaso. Talvez seus pais não tenham percebido, mas achou que aquele velhinho simpático que veio visitá-la nas férias não a queria só como uma simples aluna, e sabia que logo ele ia pedir para falar com ela a sós, só não sabia quando e nem imaginava por que.

O sol foi ficando mais forte. Logo aquele salão ia ficar cheio de alunos. Um por um, foi desendo os alunos pela escada que levava aos dormitórios, Cindy avistou Hermione e seus amigos. Percy, o monitor chefe que também era um dos irmãos de Gina, reuniu os alunos do primeiro ano, perguntando se eles estavam com algum problema e os levaram ao salão principal para tomar café. No caminho, mais surpresas. Pessoas transparentes e que podiam atravessar paredes andavam calmamente pelos corredores, Gina disse que eram os fantasmas de Hogwarts. Cindy ficou apavorada, mas Gina disse que eles eram queridos, a não ser um fantasma chamado Pirraça, que não tinha esse nome por acaso. Além dos fantasmas, Cindy descobriu que os quadros que enchiam as paredes velhas da escola também falavam e se mexiam. Ela já estava ficando irritada, nada era normal naquele lugar.

Quando chegaram ao salão principal e sentaram em uma das quatro mesas compridas, uma professora alta e magrela, a mesma professora que os receberam quando chegaram à escola, passou pela grande mesa da Grifinória entregando os horários das aulas. Sua primeira aula seria poções.

Depois do café, a caminho das masmorras, onde ficava a sala de poções, Gina contava a Cindy sobre o professor de poções:

– Ele é muito brabo, chato e rigoroso. Meus irmãos me falaram que ele adora dar detenção e descontar pontos das casas.

– Descontar pontos das casas? – perguntou Cindy – Existem casas aqui?

– Aii Cindy, você não prestou a atenção, né! Casas são como se fossem tipos de dormitórios, estamos na Grifinória, mas existe mais três: Lufa-lufa, Corvinal e Sonserina, e existe uma competição entre elas, e os professores podem dar ou descontar pontos da nossa casa pelas nossas ações. Entendeu?

Cindy concordou com a cabeça. A sala de poções era uma sala escura, tinha mesas com caldeirões, estavam todos muitos assustados. O mais estranho é que tinha alunos com símbolos diferentes em suas vestes. Em vez de vermelhas e com um leão, eram amarelas e com um texugo.

– Eu sou seu professor de poções, Severo Snape – disse um homem entrando na sala batendo a porta – Não tolero brincadeiras, conversas, nem criancices. Para quem quer, posso ensinar como mudar de aparência, enganar a mente, ter sorte ou até matar. – fez uma pausa dramática – Hoje vamos começar com uma poção bem fácil, abram na página 54.

Todos os alunos começaram a abrir suas mochilas e ir para as mesas, só que Cindy acabou ficando sem lugar.

– Desculpe, mas prof. Snape – chegou a garota perto da mesa do professor, morrendo de medo dele- falta uma cadeira.

Nesse momento, veio mais uma surpresa. Ele parou e começou a olhá-la, observar suas feições, como se tivesse se lembrando de algo. Por algum momento ela pensou em ter o visto sorrir, mas ele sacou a varinha com rapidez ao perceber que ela o encarava e fez aparecer uma cadeira. Ela pegou a cadeira e saiu, mas sentiu que ele ainda a observava.


****


Na hora do almoço, uma garota muito bonita chegou perto de Cindy e entregou um bilhete. Surpresa, ela agradeceu e abriu:

Querida Cindy, gostaria de conversar com a senhorita. Sei que muitas dúvidas devem estar rondando a sua cabeça, por isso lhe convido para tomar um chá comigo, a fim de termos uma conversa vai ser muito esclarecedora. Venha ao meu escritório, quinta, às 6, venha sozinha.

P.S a senha é “gota de limão”

Dumbledore

– O que é isso?- perguntou Gina.

– Acho que o diretor quer me ver.

****


Ás seis horas da tarde de quinta, Cindy se despediu de Gina e foi em direção ao escritório de Dumbledore. Tinha perguntado a Percy onde ficava, então foi fácil achar, principalmente pela estátua que tinha bem na frente.

– É só dizer à senha que a escada aparece, mas a final, porque você quer saber como se chega ao escritório do diretor? O diretor não deve ser incomodado por besteiras, qual quer problema fale para mim, o monitor. – disse Percy, que nem se quer teve sua pergunta respondida

Falou “gota de limão” para a estátua, e esta começou a subir, fazendo uma escadaria de pedra em forma de caracol acompanhá-la. Quando subiu, se deparou uma bonita porta a qual se abriu quando Cindy se aproximou.

– Estava esperando a sua chegada! – falou o diretor- entre, por favor, Cindy.

A garota entrou. A sala do diretor era a mais interessante que havia visitado, ela tinha muitos objetos curiosos, diferentes e estranhos. O diretor estava sentado em uma escrivaninha, e atrás dele havia um pássaro, vermelho, que Cindy, no primeiro momento, pensava que nunca tinha visto um desses antes, mas depois ela achou-o bem familiar. Ele fez sinal para que se sentasse na cadeira em frente a sua mesa, onde duas xícaras de chá estavam postas.

– Você sabe por que você está aqui?- perguntou o diretor, pegando a xícara que estava a sua frente. Cindy negou com a cabeça – Bem, alguma vez alguma cosia estranha aconteceu com você, algo que você não conseguisse explicar?

– Sim, mas isso acontece com todos os bruxos quando são menores, eles não conseguem controlar a sua magia, Gina disse que já fazia vários truques antes de vir para a escola e...

– Vejo que você esta bem amiga da Senhorita Weasley, que bom, eles são ótimos bruxos. – interrompeu Dumbledore- Sim, todos os bruxos conseguem fazer magia quando menorer, mas você é diferente. Você nunca se perguntou por que fui pessoalmente à sua casa? Sabe, para os outros nascidos trouxas, mando meus caros colegas explicarem para os pais que existe magia, mas com você foi diferente, tem alguma ideia por quê?

Cindy havia conhecido magia a pouco tempo, não sabia o que era “normal” para um bruxo, se é que existia normalidade naquele mundo. Ela não fazia à menor ideia do por que. Queria que o diretor falasse logo.

Dumbledore pegou um livro que estava em cima de sua escrivaninha.

– Vou ler uma estória para você enquanto você bebe o seu chá, uma lenda bruxa, resumida, é claro. Acho que vai ser muito esclarecedor – sorriu o diretor- O nome da lenda é “A Fênix”.

Estava frio e nevando muito numa aldeia trouxa onde vivia uma família bruxa. Ninguém sabia muito sobre ela, só sabia que era composta por uma mãe e uma filha bebê, ninguém sabia sobre o pai, talvez tivesse morrido, talvez fugido. O bebê, com menos de um ano, vivia doente, principalmente no inverno, mas hoje estava calma, brincava alegre em frente a lareira. A mãe nunca falara com nenhum vizinho, de vez em quando recebia visitas, no resto, viviam as duas sozinhas. A garotinha tinha uma estranha marca vermelha na nunca, deformada, de nascença.

Nessa noite, alguma coisa atormentou essa família. Uma ‘coisa’ entrou na casa e atacou–as. Não se sabe o que ele queria, nem o que ele pretendia fazer, só se sabe que ele matou a mãe, primeiro. Quando o bebê viu isso começou a chorar, talvez tivesse entendido que naquele momento iria morrer, sem ao menos saber por que. Só que quando a coisa foi atacá-la, alguma coisa deu errado.

Luzes vermelhas se espalharam para todos os lados. Fogo, dor, a coisa foi obrigada a recuar e agora tremia, apavorada. Foi então que apareceu ela, grande e majestosa, bem em cima do bebê, uma fênix. Ela atacou a coisa, que conseguiu fugir por um fio, mas estava toda machucada.

A fênix saiu, deixando a criança sozinha. E desde deste dia, a criança ficou conhecia com a descendente das fênixes. Ninguém sabe qual seriam os privilégios dessa descendência, mas sabe-se que ela conseguiu vencer a morte. ”

Quando Dumbledore terminou de falar a ultima frase, Cindy tocava em sua nuca, como se algo estivesse errado.

– Você tem a marca, não é?- perguntou Dumbledore.

– Tenho... – disse a garota, bem baixinho – Mas o que é uma fênix?

– Isso é uma fênix Cindy – disse ele apontando para o pássaro a suas costas – Uma coisa que você tem que entender: fênix são criaturas extremamente raras e inteligentes. São poderosas também, suas lágrimas tem poder curativo, podem suportar pesos muito maiores do que elas e são muito fiéis aos seus donos. Lindas a fênix, não?

– Q-quer dizer que e-eu sou uma fê-fênix? – perguntou Cindy, apavorada

– Acho que sim. Que tal provarmos? – o diretor se levantou e pegou uma navalha e fez um pequeno corte em seu braço- Vamos, querida, é só chorar.

Cindy se levantou, foi até o outro lado da mesa, pegou o braço do diretor, que sangrava. Começou a chorar, e não precisou fazer nenhum esforço para isso. Quando viu, o corte começou a desaparecer até que pareceu que nunca houvera corte nenhum. Ela ficou pálida, e voltou para a cadeira do outro lado da mesa. Esperava por uma explicação lógica para isso.

– Bom, - disse Dumbledore, percebendo o assombro da aula- no mundo mágico nem todas as lendas são realmente lendas, mesmo esta não sendo uma lenda relativamente famosa, acho que é uma das muitas que realmente são verdadeiras. Você é misteriosa e poderosa, talvez a bruxa mais poderosa que já existiu, você só precisa descobrir seus poderes, e particularmente não acho que eles se limitam somente na fênix. Deve ter mais, vamos lá, pense.

– Eu acho que consigo ler mentes. – disse Cindy, lentamente. O diretor deu um pulo na cadeira, e se aproximou da garota, como se quisesse entender melhor. – Esses dias conseguir ouvir o que dois garotos estavam conversando, mesmo estando muito longe, e mesmo ninguém mais ouvindo.

– Interessante... Sinto que a mais, é só você pensar...

– Meus olhos às vezes mudam de cor, para vermelho. Eu me sinto quente o tempo todo, e no inverno eu sempre doente e franca, tanto que meus pais tiveram que colocar uma lareira no meu quarto, adoro fogo... Você acha que significa alguma coisa, diretor?

Dumbledore se levantou. Foi em direção a lareira, agora sem fogo.

– Tente acendê-la.

– Como eu faço isso?

– Apenas tente, sinta.

Cindy olhou para a lareira e fechou os olhos. Pensou em fogo. Pensou em como o fogo fazia se sentir bem, pensou em como o fogo era magnífico. Encarou a lareira de novo. Queria muito que as chamas crescessem, queria, queria...

E com um estalo, uma pequena chama apareceu na lareira, deixando Cindy pálida.

– Acho que você é capaz de muito mais, mas por hoje, já foi um choque e tanto. Deveremos nos ver mais vezes, aos poucos, seus poderes vão aparecendo e tudo será explicado, pelo menos quase tudo – disse Dumbledore sorrindo, ele parecia feliz e orgulhoso, muito orgulhoso – Aviso você sobre nosso próximo encontro. Agora, é melhor você ir para sua casa, você parece cansada.

– Tchau professor e... obrigada por me ajudar. – disse Cindy, se levantando da cadeira - Professor, será que posso contar para alguém?

– Só se você quiser, mas talvez não seria inteligente contar para todo mundo, não é? – disse o professor e piscou para a morena.

Cindy saiu do escritório do professor perturbada. Como poderia ser? Como dentre milhões de bruxos ela. Como?

Então começou a relembrar de coisas que tinha feito algumas vezes, coisas inexplicáveis, que talvez agora tivessem explicação.

Entrou na sala comunal louca para contar para Gina sobre a visita, mas não achou a garota em lugar algum. Sentou numa poltrona, mas sua cabeça estava a muito longe daquele lugar.

– Olá! – falaram duas vozes. Cindy saltou da cadeira, levando um susto e viu dois garotos ruivos e idênticos sentados do seu lado, sorrindo, deveriam ser Ferd e Jorge, irmãos de Gina – Como você está se sentindo?

Cindy encarou-os com cara de “Hã?”, afinal Gina tinha dito que os irmãos dela muito legais e engraçados, mas não pareciam muito preocupados com as pessoas, principalmente com as amigas dela. Eles adoravam pregar peças nos outros e rir, e isso deixou Cindy desconfiada.

– Tudo bem – sussurrou Fred- Nós já sabemos de tudo.

– Como vocês...

– Nós temos um mapa que mostra tudo e todos de Hogwarts a todo o momento... – disse Jorge

– E nós vimos que você entrou na sala do Dumbledore, então pensamos que você poderia ter feito alguma coisa... - completou Fred.

– Demos o nosso jeito e conseguimos ouvir tudo. – disse Jorge, fazendo a cara de Cindy, que era de pavor e desconfiança, mudar para braba e agressiva- Mas não e preocupe, somos confiáveis - e piscou para a garota, “Ai, Santo, será que todo mundo está afim de piscar para mim hoje?” -e até podemos te ajudar se você quiser...

– Aham, sei... – disse Cindy, irônica, revirando os olhos- Argh! Sério, vocês são muito metidos... – mudando seu tom para agressivo - Mas tudo bem, - agora se acalmando - agora que já sabem, não tem o que fazer... Só não contem pra ninguém. Afinal é bom ter alguém para contar as coisas.

Então Cindy começou a contar para eles tudo que havia acontecido, pois eles só tinham ouvido, mas não visto os detalhes. Ela se esqueceu completamente que estava procurando Gina, pois ela estava se divertindo muito com os comentários dos gêmeos.