– Afinal, onde estou? – pergunto olhando para os lados. Meus sentidos estão estranhos, sinto como se não estivesse em um corpo físico. A mulher, cuja se chamava Anonyme, continuou parada.

– Em um sonho lúcido, quem sabe? – ela diz secamente. – Pode ser uma alucinação, ou algum delírio; na verdade, isso não importa muito...

Aparentemente, estou dialogando com uma pessoa avoada. Aproximo-me mais de Anonyme, ficando ao seu lado. Faço uma pergunta:

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– Você disse que eu tinha que consertar algo... Mas o que é na verdade?

– Você tem que consertar Mimi, ou melhor: o coração dela.

– Eu ainda não sei como poderei fazer isso...

–... Isso exige sabedoria... – ela se vira e me olha com seus olhos cansados. Parecia querer falar de algo que não se lembrava, ou não deveria falar. Ela traga o cigarro e o apaga. – A verdade, é que ela esta enlouquecendo...

– Enlouquecendo? – repito.

– Sim; na verdade, ela já enlouqueceu... O coração dela está descontrolado...

De repente, ouço um grito no fim do lado escuro da estrada. Era estridente e aterrador, como se fosse um gesto desesperado. Logo, o grito deu lugar a uma risada forçada e apática, provinda de uma voz miserável. Tomo um susto e dou um passo atrás. Era um som enlouquecedor; pensei estar em um pesadelo. Uma parte da pele de Anonyme cai sobre o chão, revelando parte de seu rosto real: era como se fosse fumaça compressa em uma parede invisível, modelada para parecer uma pessoa. Ela toca a parte afetada da pele e suspira fundo:

–... Isso ocorreu por causa de algo, que não consigo lembrar... – ela diz – Mas sei que isso começou há muitos anos, seguido de outros acontecimentos ruins, os quais ainda me lembro... Pergunto-me o motivo de não ter sido eu que enlouqueci, em vez do coração de Mimi. Isso também exige sabedoria... Chegará certo tempo em que não poderei prendê-lo mais...

Mesmo com aquelas afirmações, algo ainda não estava elucido: quem era ela afinal? Um alter-ego? Amigo imaginário? Acabei de ouvir coisas que nunca ouvi antes. Existem mais coisas a qual quero entender...

– Eu sei que está confuso... – ela diz secamente – Mas não há como ser mais direta... Existe algo que você deve fazer; antes que ela se vá...

– Então me diga! – grito, completamente confuso – Estou aqui a um bom tempo e você só me diz filosofias! Isso é um pesadelo ou algo assim?! DIGA O QUE DEVO FAZER!!

Anonyme levanta; ela se vira para mim e levanta uma de suas mãos até minha cabeça. Eu não pude sentir seu toque.

–... Você pode fazer Mimi lembrar-me o que ouve aquele dia em que o coração dela quebrou? Ela confia mais em você do que em mim...

–... Mas afinal, quem é você? – pergunto. Minha visão está se tornando embaçada novamente; não consigo ver mais seu rosto...

– Nada de mais, apenas uma “mente cansada”; construída e influenciada por um caso de extrema necessidade. Eu não posso mais cuidar disso...

– Ainda não entendo...

–... É porque isso também exige sabedoria... Logo, saberá que eu não gostei muito da idéia de você se aproximar dela. Talvez, haja um motivo, certo?

Tudo se torna branco e lúcido. Abro lentamente meus olhos.

Acordo após um sono pesado, completamente estirado em uma cadeira. Mimi me observa estática, sentada sobre minha cama e meu lençol. Em seu rosto, jazia um dos sorrisos mais tolos que já vi.

– Mimi – digo, tentando encará-la com seriedade. – Existe algo que deve me contar?

O sorriso em seu rosto desapareceu.

“Existe sim...”