A Estrada

O Fim e o Começo da Estrada


Mariana narrando

Não posso acreditar que ele escolheu se matar. Sei lá... poderiam haver outras soluções, não acho que Sabrina Iria se sustentar sabendo que seu noivo não vai estar mais lá com ela.

Ler a carta não me consola nem um pouco.

Pensar que eu achava que ele tinha uma vida de rei. Todas as regalias que alguém poderia querer e no fim termina assim, se matando por três pessoas. Simples três pessoas que talvez nada fizessem por merecer tamanho sacrifício.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Que desperdício.

Nem a história que Luanna contou me convence do contrário.

Ele era meu amigo! Morrer? Assim? É algo que dificilmente eu nunca vou aceitar.

Não, não. Preciso esfriar a cabeça.

Só houve um caixão simbólico. Nada foi encontrado de ninguém. Nem de Lucas, nem dos Bittencourt. Menos mal, acabou por levar o vírus que impregnava nossa igreja com ele.

Pode ser que ele esteja em paz agora? Sinceramente não faço a mínima ideia. Desde Jonas até hoje, Lucas se tornou um homem atormentado. Atormentado por achar uma maneira de consertar o seu passado. Dizer ao seu pai que o ama, falar com sua mãe, dar um abraço... se bem que, falar com sua mãe antes de morrer, isso ele conseguiu.

Mãe... será que meus familiares estão preocupados sabendo que me meti em tamanha enrascada.

Acho que vou ficar de castigo um bom tempo!

Um tempo antes de chegar em casa, o italiano que os acompanhava deixou o número de seus informantes aqui no Brasil. Como uma forma do Lucas dizer que estará conosco. Os homens deles estarão eternamente a nossa disposição.

Nunca fui de reclamar, mas talvez essa fosse uma regalia que eu não fosse precisar tão cedo. Em todo o caso, guardei o cartão na minha gaveta e antes de voltar pra casa fiz uma ligação...

– Sá. Você recebeu?

– Sim, eu recebi. Posso ser sincera? Estou triste, mas não surpresa. A essa altura do campeonato, não acha que já sofremos demais? Acabou, amiga. Nós três estamos livres.

– Tem razão. – Finalmente caio na real. Ele realmente fez isso pra nos proteger. Não ia haver paz, a menos que ele se apagasse.

– Tá machucada? Eles te fizeram mal? Aposto que os homens do meu marido fizeram eles pagar muito pesado pelo que eles fizeram.

– Bem, digamos que tenha sido um belo show de fogos de artifício. Tô sim. Bem arrebentada. A Desgraçada da Gabrielle me bateu bastante até que o Lucas chegasse. Nem sei por quanto tempo mais aguentaria toda aquela tortura.

– Quem poderia imaginar que esses dois poderiam estar envolvidos...

– E agora, Sabrina? O que vai fazer?

– Criar o meu filho, Mari! Eu Tô grávida!

– Sério?! Mas os tiros...

– Não, meu amor. Um milagre de Deus salvou essa criança.

– E o posto do Lucas? Quem você acha que...

Chill out, meu amor. Se meu filho quiser assumir que seja assim. Eu vou cria-lo exatamente como a cartilha dos Marchelleti manda. Seja homem ou mulher. E se algum dia, essa sementinha quiser assumir os negócios da família, eu não vou impedir. Pois sei que ele vai estar fazendo aquilo que o coração mandar.

– É lindo, Sabrina. Mas cê acha que isso vai acontecer?

– Deixe estar. É hora de velar o nosso amigo que se foi.

Palavras ditas. Palavras feitas.

***

Alguns dias depois

Nada sobrou. Então a máfia toda, Sabrina, Nicole, Luanna e eu estávamos olhando para apenas um caixote de madeira.

Um cerimonial lindo. As bandeiras da Itália, do brasão da família (Dois dragões entrelaçados) e do Brasil foram enterradas ao lado do pai dele.

Salva de tiros e acabou.

Lucas poderia descansar em paz...

***

Dois anos de luta depois...

Era de se esperar que a AIDS matasse a Luanna em bem pouco tempo. Mas não esperávamos que esse tempo fosse passar tão rápido. Pois nos divertimos muito nesse meio tempo, viajamos a todos os lugares, incluindo a Itália para ver a Sabrina que decidiu ficar junto a sua sogra em Nápoles... que cidade linda…. Que filho lindo que eles tiveram! Literalmente a cara e o sorriso faceiro e sincero do pai. Até o mesmo jeito atrapalhado ele puxou do velho Lucas.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Nunca ficamos tão maravilhadas em toda nossa vida. Tantas viagens e logo foi se notando. As carnes estavam sumindo, Luanna estava ficando mais magra, mais fraca e com o organismo ainda mais vulnerável.

A vida de caos que ela teve estava cobrando o seu preço.

Mas, ela não foi embora sem mudar a vida de muita gente.

Luanna fundou grupos, deu palestras, espalhou a palavra. Passou para o mundo que estávamos precisando de mais amor e menos religião. Mais palavras bonitas e menos guerras. Menos guerrinhas estúpidas de minorias. Mais compreensão e aceitação.

Não deixou de pregar a palavra e arrastar multidões com ela. Mas diferente desses caras, nenhum centavo era cobrado. A única coisa que ela podia fornecer era sua história de redenção. Era a história de que é possível vencer o vício. Era possível vencer a dor e acima de tudo, era possível vencer na vida, mesmo tendo uma doença que a matasse pouco a pouco. Ela guerreou contra as adversidades e se saiu bem, suponho eu...

Luanna foi enfraquecendo, enfraquecendo, até que uma pneumonia acabou a derrubando e a morte veio no dia 14 de abril de 2015, as 14h32min após 22 anos muito bem vividos.

Viveu e deixou viver.

Viveu e marcou a sua geração.

Viveu e conquistou a sua redenção.

Aliás, se eu pudesse embrulhar essa história e mandar para presente pra alguém, talvez escrevesse no cartão: “Que possa ser a sua redenção, assim como foi a deles e também a minha”.

Aprendi a me aceitar como eu sou, mesmo gordinha e exagerando na Nutella. Nunca precisei de academia ou de nada. Apenas precisei dos meus amigos e do meu Deus. É nele em quem resguardo a minha força.

Namoro e estou noiva. Me caso no fim desse ano com alguém que me aceita como eu sou e não por que eu sigo os padrões desse mundo. Está casando com a Mariana de verdade e não com alguém que finge sorrir quando chora.

Está casando com alguém que soube viver. Ou pelo menos acha que sabe. Quem sabe um dia, não é?

Lá no fundo, por mais que isso seja bastante triste, todos tiveram o seu final feliz. Não foi um final lá muito “Disney”, mas foi um bom final, embora eu discorde de muitos termos dele.

Talvez eu não seja um personagem tão carismático nessa história toda, mas quem sabe assim, fique com um gostinho de que servi ao meu proposito e agora eu também penso em descansar em paz. Não sei o que vocês pensam disso (Aliás, nem sei o que você leitor, deve estar pensando a essa altura do campeonato com tudo terminado).

No fundo estamos tentando percorrer a mesma estrada.

A Tal da “longa estrada da vida”.

Falei demais. Acho melhor ficar por aqui.

A gente se esbarra por aí um dia.

Tchau.

Fim

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.