A Esfera da Herança

Fears and Tremors


HERMIONE

Eu ainda queria entender como concordara com tudo aquilo.

Rony virar auror. E ir para sua primeira missão, com um sorriso ridiculamente confiante no rosto, enquanto a tapada que eu era ficaria esperando que o maldito voltasse inteiro para casa ao fim do dia.

– Hermione.

Virei-me para olhar a figura solidária da Sra. Weasley.

– Sim?

– Sei que está ansiosa, querida - Molly veio até mim, segurando minha mão - mas eu sei que vai dar tudo certo. Rony não quer que você fique assim... sabe que está de deixando preocupada.

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Olhei para o rosto bonito de leves rugas de minha futura sogra. Não tinha percebido o como ela ainda tinha um ar tão agradável de bondade.

Pobre Sra. Weasley... tinha visto os filhos sofrerem mais do que qualquer mãe merecia ver.

E ainda tinha perdido um deles.

Minha garganta deu um nó quando pensei no que aconteceria àquela mulher se Rony... Meu Deus.

"Pare com isso, Hermione!", minha consciência só faltou tacar seu exemplar de Hogwarts, Uma História no lobo frontal do meu cérebro. "Se a mãe dele não está se estressando, garota, então você também consegue! Estamos falando do seu noivo, o bonitão, o animago que vira dragão, o auror Rony Weasley! Sossegue o facho!"

– Tem razão - balancei a cabeça, ensaiando um sorriso nervoso - acho que aquele mané sabe o que está fazendo.

Vi a Sra. Weasley rir, mais a vontade.

– Também acho... - ela suspirou, com um ar maravilhado no rosto - meu menino, auror... ainda não consigo acreditar... - Molly apertou minha mão - vocês cresceram tão rápido... e olhe só para você.

Encarar os olhos injetados e carinhosos da Sra. Weasley estava era me dando vontade de chorar. Ai, que mulher... parecia que eu ia ganhar mais uma mãe.

E eu talvez nunca recompensaria tanto cuidado...

Pensar nisto me fez ter uma súbita ideia.

– Ah... espere um segundo, Sra. Weasley... lembrei de uma coisa...

Subi correndo as escadas, animada, deixando Molly com a interrogação estampada no rosto.

Assim que peguei o que queria, desci novamente, sustentando o pacote nas minhas mãos.

Inclinei-o para ela, sorrindo.

Ela recuou vários passos quando viu o brilho dentro do pacote.

– Hermione... ficou louca?

Ri, deixando-a ainda mais espantada. A mesma reação de Rony... quem diria.

– Não... entrei no Torneio Tribruxo por um motivo. E esse motivo foi os mil galeões... para vocês.

– Nâo, não... depois de tudo que aconteceu... o dinheiro é seu, Hermione..

– Não é não... - insisti - pegue.

Ela franziu a testa, teimosa.

– Não vou aceitar.

E eu estreitei os olhos.

– E eu acho que o gramado do jardim precisa de uma aparada - satisfeita, vi Molly piscar quando a ventania que conjurei chacoalhou os talheres da cozinha - se é que me entende... - bufei - nem se atreva... vai aceitar e acabou.

A Sra. Weasley puxou o saquinho da minha mão, revirando os olhos.

Mostrei a língua para ela, e, para minha surpresa, a expressão carrancuda se desfez, substituída por uma risada. Foi legal, coisa de criança.

Era tão bom ver a velha senhora sorrindo de novo...

– Bom, agora que estamos combinadas - brinquei - vou dar uma mãozinha nas tarefas... e não discuta ... vou ajudar também e acabou.

– Parece que a Wicca subiu á cabeça de alguém - ela comentou, humorada.

– Subiu mesmo.

Passei o dia tentando auxiliar a Sra. Weasley nas tarefas de casa. Todos os demais Weasleys estavam no trabalho - exceto Jorge, que ainda se mantinha recluso em seu quarto.

Mas, num jeitinho inovador, tentei fazer isso usando os quatro elementos, o que provocou uma experiência ao mesmo tempo divertida e assustadora.

Tentei ignorar o olhar temeroso dela quando resolvi usar a água que eu conjurara para lavar a louça.

– Eu realmente posso fazer isso, querida... - ouvi-a murmurar, guinchante.

– Imagina - sorri, sentindo o torpor natural da minha forma Wicca - não vai ser trabalho algum...

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Naturalmente, falei cedo demais.

A água que eu produzi golpeou a parede da pia e espirrou para todos os lados, encharcando nós duas.

Me assustei tanto que voltei á forma normal, fungando.

– Opa - falei, sacudindo a água dos ombros, enquanto era fuzilada pelo olhar "eu-te-disse"de Molly - eu posso secar...

– Deixe comigo, não se preocupe - ela até recuou quando fiz menção de levantar a mão.

Credo... que exagero.

Por fora, estava sem graça. Mas por dentro, morria de rir.

Quem diria... meus poderes tão assustadores, fazendo-me passar uma vergonha gostosa e divertida.

Infelizmente, isso me custou meu cargo de auxiliar doméstica, já que a Sra. Weasley praticamente me enxotou de volta para o quarto depois dessa, enquanto eu sufocava risinhos e uma cantiga de "foi mal, me dá outra chance, poxa".

Enquanto aproveitava o fim da manhãzinha de "castigo", na cama de Rony, fiquei pensando em algumas coisas que com as quais eu não me preocupava há muito tempo.

Aquela ladainha da profecia dos cavalos... aquilo me intrigava demais.

A Ordem da Fênix e os Comensais sabiam da profecia da Terceira Semente por que ela fora predita. mas aquela profecia dos textos cristãos não podia ser real... aquilo era predição de mais de três mil anos atrás...

Talvez fosse apenas um comparativo.

Uma charada... que provavelmente só a minha parte Wicca mais íntima já conseguira decifrar.

Por que diabos eu me levei a autodeclarar-me o "cavalo branco da vitória", afinal? Não era por que minha consciência Wicca tinha algum segredinho que eu não sabia?

Eu mal sabia o que dizia a profecia cristã até que fui lê-la por curiosidade numa livraria trouxa á alguns quilômetros de Ottery St. Cathpole, alguns dias atrás.

"Então ouvi a quarta criatura dizer:'venha'. E apareceu um cavalo descorado; o nome do cavaleiro era Morte e o Hades o seguia de perto."

Ai... essa coisa de dupla personalidade e profecias assustadoras era simplesmente horrível.

Santa Mãe... se a comparação do cavalo descorado da Morte significasse um novo Wicca, eu estava definitivamente enrascada.

Alguém acompanhando essa figura, então... céus.

E, sinceramente, estava de saco cheio de parentes longínquos querendo me matar.

Mas eu sabia que a ideia de um Wicca novo era impossível. Eu era a única descendente da Tríade viva. Afinal, a Wicca Sophie havia morrido antes mesmo de sequer se casar. Não poderia haver outro descendente.

Ou podia?

– Arg!

Levantei da cama, sacudindo a cabeça.

Não... já bastava. Eu não ia ficar remoendo isso. Era melhor continuar minha vidinha maluca e esquecer que havia ouvido falar dessa profecia insana.

– Hermione! - ouvi Molly chamar - o almoço está pronto!

– Já vou!

Que fosse... as profecias medonhas podiam esperar. Agora, tudo que eu queria era provar da deliciosa empadona de carne da Sra. Weasley e me preocupar bobamente com meu noivo psicopata.

_________________________O____________________________

– Vai, deixa.

– Não precisa, já falei.

– Deixa de ser má.

– Eu não sou.

– Se não me deixar ajudar, rompo meu noivado.

– Aí ele te mata.

– Chata.

– Sou mesmo.

Perdi. Comecei a rir.

Quem ouvisse, não ia acreditar nas futuras sogra e genra naquela briguinha boba.

A Sra. Weasley riu também.

– Rony ia achar que ficamos malucas - ela balançou a cabeça, continuando a enxugar o pano com a varinha.

Meu coração quase diminuiu a marca quando me lembrei dele.

Meu pobre ruivo, maluquinho, teimoso e adoravelmente pervertido... como estaria se saindo no estágio de aurores? Será que estava tudo bem?

– Sim - assenti, tentando não me preocupar - provavelmente acharia.

– Está bem, garota - ela me jogou duas luvas de cor borgonha - já que quer tanto ajudar, vá arremessar alguns gnomos lá fora. Estão ficando completamente rebeldes de novo.

Empurrei as luvas de volta, dando um sorriso perverso que felizmente fez a Sra. Weasley engolir o próprio sorriso humorado e petulante.

– Pode deixar... - falei - mas vai ser... do meu jeito.

__________________________ O __________________________

O dia já começava a escurecer quando finalmente terminei o "serviço".

O que foi um modo de falar. Eu me diverti tanto que mal podia dizer que trabalhei.

Vi pequenos bruxos chegarem de todos os cantos do vilarejo de Ottery St. Cathpole para assistirem a performance da Wicca que arremessava os gnomos com uma rajada de vento, como se fossem meros saquinhos cor-de-pele.

Aquilo mais pareceu um futebol americano com gnomos do que uma desgnomatização. Foi hilário.

As crianças simplesmente caíam na risada quando eu jogava cada um dos gnomos no alto. A maioria fazia um coro de "joga logo" e "tchau, gnomos" que me fazia rir toda hora, quase tirando minha concentração e me fazendo voltar á forma normal.

Aquilo foi tão bom... ver pessoas - mesmo que fossem pessoas pequenininhas - ao meu redor, vendo-me na forma Wicca, sem medo algum, sem me julgar, apenas se divertindo com algo que, de outra forma, pareceria aterrorizante.

Foi fantástico. Me senti segura e confiante como há tempos não ficava.

Se aquilo era uma amostra do como as pessoas me encarariam como Wicca, então tudo em meu futuro talvez seria ainda melhor do que eu pensava.

Quando o último gnomo aterrissou violentamente no fundo do bosque, houve um coro de "ahhhh" de todas as crianças penduradas no pequeno muro do quintal.

– Acabou - sorri para elas, sentindo os elementos se esvaírem de meu corpo.

– Faz de novo! - disse uma delas, com cara chorosa.

– É, faz de novo, moça!

– Por hoje é só, crianças.

Elas pareceram chateadas, mas aos poucos começaram e voltar para casa, se despedindo de mim e indo embora, conversando animadamente umas com as outras.

Sorri, suspirando. Tinha sido uma experiência legal, no fim das contas.

Voltei para casa, decididamente mais leve e despreocupada.

E, em breve, ficaria ainda mais leve e muito despreocupada quando Rony voltasse para casa.

Enquanto entrava, ainda sentindo um delicioso torpor de alegria me invadindo, lembrei da noite passada, e de nossa conversa... e daquela loucura que Rony havia feito.

A lembrança fez minhas veias se inundarem de carinho e meus olhos arderem.

Eu achava que nada podia destruir aquela leveza maravilhosa que parecia me tirar do chão.

Mas toda aquela sensação boa se esvaiu assim que entrei na Toca e percebi o ar tenso que pairava na sala de estar.

– Sra. Weasley?

Molly estava acocorada na poltrona, com a cabeça baixa. Assim que entrei, ela ergueu a cabeça.

Vi nos olhos dela tudo que andara temendo nos últimos dias.

– O que aconteceu?

Ela sacudiu a cabeça, parecendo não conseguir falar. Mas me ergueu um papel de carta.

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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Segurei o papel, começando a ler as palavras escritas ansiosamente no pergaminho.

Quando terminei, senti meu estômago despencar num abismo sem fundo.

Parecia que o meu pior pesadelo havia acabado de começar.

Hermione,

Sinto informar que não conseguimos ter nenhum contato com a equipe de estagiários que partiu em direção á floresta do Deão desde ás duas horas da tarde. Mandamos diversas corujas espiãs, mas nenhuma delas voltou ainda.

Tampouco consegui entrar em contato com meu pai, que está coordenando a missão.

Ele havia estipulado que terminariam em menos de oito horas, mas até agora, não recebi uma úncia mensagem dele, embora eu tenha também mandado minha própria coruja para contata-lo.

Estamos aguardando quaisquer notificações ou respostas da equipe. Se não houver nenhum contato simultâneo até amanhã á tarde, enviaremos aurores de busca.

Peço que não reja mal a isso. Não é a primeira vez - e tampouco será a última - em que aurores estagiários desaparecem por algum tempo. Por isso que o Ministério ainda está esperando antes de mandar um grupo de resgate.

E eu sei exatamente o que está sentindo... meu pai também está lá.

Mantenha a calma... e a fé. principalmente a fé.

Por que se tem algo que eu posso afirmar, é que não será uma pequena missão mal-sucedida que vai conseguir derrubar aquele dragão do seu noivo.

Ainda mais o resto daquela patota.

Carinhosamente,

Oliviene Stark