A Escolhida

Vinte e três


Haruno Sakura

Era Ascendente: dezoito de outubro de 1523, Domingo.

É difícil de acreditar que a adaga não acertou nem a mim, nem a Sasuke-kun. No momento em que o rebelde, cujo nome provavelmente era Hidan, lançou a adaga, eu literalmente pulei na frente de Sasuke-kun, para que a arma não o acerte. Felizmente eu não agi como uma tola heroína de literatura, e em vez de apenas retirá-lo do caminho, eu me lanço junto com ele para o chão, e o tilintar da adaga é ouvido contra a parede.

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— Sasuke-kun, você está bem? — ele não me responde, parecendo estar processando todo o acontecimento.

Ouço Naruto nos chamando para ir embora, e saio de cima de Sasuke-kun imediatamente. Ele me encara, ainda deveras estupefato por minha atitude, e puxo o seu braço para ajudá-lo a se levantar. Corremos para fora da sala enquanto Nagato parecia entrar em uma luta corporal contra o tal Hidan, graças aos deuses. Em menos de dois minutos correndo, encontramos Yahiko, o homem que nos levara até Nagato. Ele parece desconfiado ao nos ver correr e nos para.

— O que estão fazendo? — o seu tom de voz sai rude.

— Um tal de Hidan entrou na sala no meio da nossa conversa e atacou o Sasuke! — a voz estridente de Naruto soa bastante irritada, o que é compreensível.

Yahiko estreita os olhos, ainda parecendo desconfiado. Ele continua em nossa frente, barrando a saída.

— Como eu posso saber se isso é verdade? — o seu tom sai astuto e tenho vontade de dar um soco no meio de sua cara.

— Como isso seria possível?! — uso o mesmo tom astuto que ele para rebater sua pergunta com outra. — Achas que já tínhamos conhecimento do nome desse Hidan?

O meu questionamento parece funcionar, porque ele sai da nossa frente e começa a correr junto conosco, ficando ainda mais pálido do que já era.

— Precisamos encontrar um cavalo para tirar vocês daqui. — ele diz ainda com a coloração esbranquiçada, e os pelos dos meus dois braços se eriçam ao pensar em como seria aquele Hidan, já que até mesmo o imponente Yahiko parecia assustado.

Ele nos leva para fora do esconderijo dos rebeldes, e procura por algum comerciante de cavalos. Sasuke-kun pragueja baixinho – a primeira vez que o escuto dizer palavras assim, aliás – e Naruto resmunga algo como "não temos tempo para procurar cavalos".

— Merda, merda, merda. — Naruto fica repetindo a mesma palavra de forma constante enquanto esperamos Yahiko terminar de comprar o cavalo.

Ele nos entrega dois deles, um cavalo negro e outro esbranquiçado, com algumas manchas marrons, e não esperamos mais nenhuma fala. Naruto arregala os olhos por um momento e se assusta com os cavalos.

— E a sela? — ele indaga.

— Não temos tempo pra isso! — retruca Sasuke e sobe no cavalo com agilidade, enquanto puxa ele apenas com uma corda. — Sakura, suba. — ele estica a mão para me ajudar e subo no mesmo cavalo que ele.

Naruto sobe no cavalo negro, ainda praguejando, e não demoramos a sair do local.

— ELES ESTÃO ALI! — escutamos a voz alterada de Hidan, que segura a sua testa, tentando inutilmente estancar o sangue, a poucos metros de distância da saída do distrito. — CORRAM ATRÁS DELES!

Sinceramente, não faço ideia de onde saíram tantos rebeldes, mas tento não pensar muito nisso enquanto seguro Sasuke-kun para não cair do cavalo que corria muito rápido. A maioria dos rebeldes não conseguiram acompanhar o nosso ritmo por estarem a pé e não a cavalo, no entanto, os poucos que tinham um cavalo estavam a poucos metros de nós.

— O que vamos fazer?! Não podemos ir até a carruagem, não temos tempo! — exclama Naruto desesperado, ao nosso lado, em seu cavalo.

— Eu tenho uma ideia. — Naruto olha interrogativo para Sasuke, depois que ele responde. — Apenas siga-me.

Sempre tive um ótimo senso de direção, e ele estava me dizendo que Sasuke-kun não está indo em direção ao distrito um, a capital de Konoha. Aperto um dos braços do moreno, para chamar a sua atenção, e tomo um susto quando vejo uma flecha não nos acerta por questão de centímetros.

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— Droga! Eles começaram a atirar flechas! — Naruto exclama.

Engulo em seco com isso. Se eles pensassem um pouco mais e mirassem nos cavalos, estaríamos perdidos. A sorte é que os rebeldes não pareciam ser realmente treinados para isso, levando em conta a falta de organização e precisão das flechas.

— Não estamos indo em direção ao castelo... — sussurro para Sasuke, tensa. — Tem certeza de que o seu plano vai dar certo?

— Não. — a voz de Sasuke sai mais desesperada que o normal e vejo um rio a poucos metros de nós.

Ele não iria... Sim, ele irá. Sasuke-kun aumenta ainda mais a velocidade do cavalo depois de dar algumas pontadas de calcanhar no animal. Apenas quando estamos a menos de dois metros é que Naruto percebe o que aconteceria.

— Teme... Está pensando em atravessar o rio com os cavalos?! — Sasuke não responde Naruto, apenas segura a minha mão, chamando a minha atenção.

— No momento em que pularmos no rio, pule do cavalo. — o seu tom de voz sai muito baixo.

Em menos de cinco segundos o cavalo pula em direção ao rio com uma velocidade inacreditável, e assim como a cena da adaga e Hidan, o tempo parece passar inacreditavelmente devagar. Escuto o som do cavalo de Naruto reclamando de sua intenção, e percebo que ele não iria pular nem que o loiro estapeasse o animal de todas as formas possíveis. Quando tento avisar a Naruto para que saia do cavalo antes dos rebeldes nos alcançarem, o cavalo em que estou em cima salta e desprendo as mãos de Sasuke-kun, caindo no meio do rio.

A sorte era que eu sabia boiar o suficiente para não afundar no meio do caminho.

Ainda que soubesse, a corrente me puxava para a esquerda, e a dor profunda que senti ao bater as costas em uma rocha no meio do rio não me ajudava a ter forças o suficiente para nadar na direção certa: a frente.

O cavalo de Sasuke-kun consegue chegar na metade do caminho, no entanto, ele pula em minha direção. Fico sem saber o que fazer. Sentindo uma dor ainda exagerada nas costas, observo Naruto com uma adaga em suas mãos, provavelmente estava escondida dentro de sua roupa, mirando em um dos dois rebeldes que conseguiram nos alcançar. Eu não sei se foi apenas pura sorte, mas o fato é que Naruto realmente consegue acertar um deles em cheio na barriga, e escuto o urro de dor do rebelde mesmo de longe.

Antes que eu continue observando Naruto ir em direção ao segundo rebelde, que estava em cima de um cavalo – com as mãos nuas – sinto algo encostar em mim, e percebo que é Sasuke-kun. Ele me puxa com dificuldade em direção a margem oposta a que Naruto e os rebeldes estão.

Ofegando, conseguimos sair do rio, ainda que muito mais a esquerda – por causa da correnteza – do que planejávamos. Naruto agora corre em direção ao seu cavalo, para não ser acertado pelas flechas desajeitadas do rebelde.

— Suba no cavalo e vá em direção ao castelo. — Sasuke diz com a voz rouca e arregalo os olhos para ele, assustada com o que acabara de dizer.

— De forma alguma! — exclamo indignada. — Você que tem que ir embora!

Ele não gosta da minha resposta, e solta um muxoxo de insatisfação. Ora essa, ele quem era a donzela em perigo, e não eu, dessa situação!

— Sakura, vá log — a voz de Sasuke-kun é interferida por uma flechada que quase acerta em suas costas.

O rebelde que Naruto havia fugido tinha ultrapassado o rio com o seu cavalo e jogado a flecha em nossa direção quando estava terminando de atravessar o rio.

— Temos que sair daqui! — exclamo assustada, e Sasuke me empurra de uma forma rude e violenta para a frente.

No momento em que ele faz isso, não entendo. Era mais uma flecha do rebelde. Ele cai no chão de forma imediata e me jogo no chão para ver a sua situação, e vejo sangue. Mais sangue do que eu já tinha visto em toda a minha vida.

— Sasuke-kun! — o chamo desesperada, sem saber o que fazer ou dizer.

Havia tanto sangue...

— Sakura... — a sua voz sai fraca. — Você está bem?

Fico chocada com a frase que ele usa. A mesma frase que eu havia dito quando o empurrei para Hidan não acertá-lo. Os olhos de Sasuke-kun parecem nublados de dor e eu fico desesperada ao ver a minha situação. O rebelde havia acabado de descer do cavalo – a alguns metros da nossa direita – e corria em nossa direção, com uma espada em suas mãos. Felizmente as flechas haviam acabado. Mas o que eu faria com Sasuke ferido, praticamente desacordado, e sem nenhuma arma?

— NARUTO! — a minha voz sai o mais alto possível, mas não consigo averiguar se ele havia de fato ouvido, porque o rebelde havia chegado.

Era um rapaz novo, não parecia passar de dezoito anos. Ele parece ofegante e suas pernas tremem ao nos alcançar, ainda que o seus braços ajeitam a espada ameaçadoramente em nossa direção.

Me coloco na frente de Sasuke-kun, que agora já estava desacordado e com uma quantidade ainda maior de sangue espalhado pela sua roupa, e encaro o rebelde com fúria nos olhos. Meu olhar parece intimidá-lo, e ele desvia o olhar.

— Saia da frente, eu não pretendo machucá-la! — a sua voz sai trêmula.

Fico imaginando o porquê de alguém tão novo segurar uma espada, prestes a tentar assassinar o futuro rei do nosso país. Ele provavelmente era como Nagato, revoltado com a situação do seu distrito.

— Você não pode matá-lo... — a minha voz sai firme, ainda que por dentro eu não esteja assim. — Estávamos fazendo um acordo com Nagato para salvar o seu distrito.

Mesmo que ele não houvesse falado de onde era, suspeitei que fosse do distrito de Konan e Nagato, já que fazia parte dos rebeldes. Ele fica ainda mais trêmulo com a minha resposta, e segura a espada com força.

— Mas Hidan disse que... — ele não parece seguro de si, e percebo que eu podia fazer isso.

Eu podia convencê-lo a nos deixar em paz no momento. Ele não estava convicto de que isso era o certo.

— Você não sabe como é passar fome durante toda a sua vida! — ele diz desesperado, tentando achar alguma desculpa para continuar o que "deveria" fazer, na visão do tal Hidan.

— Claro que eu sei. Sou do distrito vinte e dois.

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.

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♦♦♦

Não havia sido tão difícil assim convencer o rebelde afinal. No momento em que eu tinha dito sobre o meu distrito, ele tinha sido convencido. Ainda que o distrito dele fosse o mais pobre, era no meu distrito onde as diferenças socio-econômicas eram mais comentadas. Provavelmente ele também percebera o meu sotaque vindo do vinte e dois. Ou talvez só queria acreditar nisso, para que não precise matar alguém.

Naruto nos ajudara a passar um Sasuke-kun desacordado pelo rio com a forte correnteza. Não fora algo recomendável a se fazer, mas não tínhamos tempo para chegar no distrito um, já que ele havia perdido muito sangue. Tentei fazer o máximo que sabia, estancando o sangue com parte do pano de meu vestido, mas não parecia ser o suficiente.

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No meio do caminho, a cavalo, encontramos Yahiko, indo com algumas pessoas a nossa procura. Ele nos ajuda a levar Sasuke-kun até a melhor curandeira do distrito.

Ela parecia já a nossa espera, já que alguns capangas de Yahiko tinham ido na frente, e logo nos guiou até um quarto para cuidar de Sasuke. Fez uma careta ao ver a quantidade de sangue em sua roupa, mas não disse nada em relação a atender o futuro rei ferido.

— Eu posso dar um jeito nisso. — ela responde por fim, ao terminar de analisar a situação de Sasuke-kun.

Eu e Naruto suspiramos aliviados. Graças aos deuses.

— Mas as costas dele irá ficar com uma cicatriz horrível.

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♦♦♦

Já era noite quando a curandeira havia saído do quarto onde estava cuidando de Sasuke-kun.

— O paciente está estável. Não há infecção ou inflamação exagerada no momento. — a curandeira, cujo nome havia descoberto ser Tsunade, responde assim que Naruto indaga sobre o estado de Sasuke.

Fico encantada com a sua atitude profissional. Ela não parece nem um pouco abalada com a quantidade de sangue e nem pelo fato de Sasuke-kun ser quem ele é, e continua explicando mais algumas descrições técnicas – e tenho certeza de que Naruto não compreende nada, assim como eu – para nós enquanto continua com um semblante imponente.

— ... ainda que tenha perdido bastante sangue, isso não vai ser problema algum no momento. A sorte é que vocês estancaram o sangue de uma forma muito eficiente. — não pude deixar de ficar feliz ao ouvir isso. — Ele já está acordado e já o informei que ficara sentindo-se fraco e nauseante durante alguns meses, além de uma possível inflamação e uma cicatriz horrível, mas nada fora isso.

Naruto também parece feliz com o relato de Tsunade, e vejo os seus lábios repuxarem um sorriso sincero, mas não tão grande como o o meu.

— Achei que ele tinha perdido mais sangue do que parecia, afinal... — meu pensamento sai em voz alta e a curandeira me observa descaradamente.

— Isso é completamente normal. — ela me informa com um sorriso contido. — Dado a sua palidez e desespero em relação ao ocorrido, imagino que nunca tinha visto alguém se machucar dessa forma.

Antes que eu possa respondê-la, Naruto nos interrompe com um pigarreio deveras alto e um pouco rude. Ela olha para o Uzumaki com o cenho franzido – provavelmente irritada com a falta de jeito dele – esperando a sua fala.

— Posso ver o Teme? — ele indaga para Tsunade, e ela sibila algo como “vá logo, moleque”.

— O jeito como você está lidando com essa situação... — comento admirada. — É inacreditável. Sei que você recebe por isso, mas ainda sim não consigo deixar de me sentir estupidamente encantada com o seu jeito para a medicina, Tsunade-sama.

Tsunade parece um pouco desconcertada com toda a admiração inclinada a si, o que faz as suas bochechas ficarem ligeiramente avermelhadas com o meu comentário. Logo após franze o cenho, tentando disfarçar o constrangimento, e abana as mãos, em um sinal de descaso.

— Faz parte da vida de todo curandeiro, não é nada demais. — ela resmunga e sinto a vontade de rir. — Se está tão admirada assim por minha profissão por que não vira uma?

Seria realmente uma ótima forma de viver a vida, no entanto, eu não tinha condições de arcar com as despesas do treinamento de um curandeiro. Sorrio para Tsunade e escuto o tom elevado de Naruto – dizendo algo desnecessário para Sasuke-kun – e percebo que já é hora de interferir.

— Não acho que tenho jeito nem condições para isso... Mas obrigada. — quando giro a maçaneta para entrar no quarto onde Sasuke-kun está, escuto a resposta de Tsunade.

— Não existe limites para uma pessoa esforçada. Nem mesmo o dinheiro ou a falta de jeito.