Capítulo 5- Queen ou Maid?! Pra Tudo Tem um Limite

No dia seguinte, depois das aulas, os Guardiões se reuniram no Royal Garden como de costume, embora Amu e Nagihiko não estivessem se falando. Ambos queriam acabar com aquela briga e fazer logo as pazes, mas nenhum dos dois sabia por onde começar, sem falar que nenhum dos dois queria dar o braço a torcer. Após terminarem suas tarefas diárias, os Guardiões foram liberados daquele clima tenso e puderam ir embora. Exceto por Rima, que continuava no Royal Garden depois que Nagihiko voltou da sala de arquivos.

– O que foi, Rima-chan? Esqueceu alguma coisa? - perguntou o Valete num tom um tanto inexpressivo. Ele realmente não estava com humor nem para dar falsos sorrisos hoje.
– Eu não. Mas parece que você sim, esqueceu alguma coisa, já que não está com aquele sorriso bobo de sempre. Qual o problema com você, hein? - perguntou a Rainha, também com uma voz tediosa
– Como assim "qual o problema", você sabe que eu e a Amu-chan estamos brigados, não sabe? - falou o garoto um tanto impaciente. Mas pensando bem, não havia mais ninguém no Royal Garden naquele momento.... era uma boa chance de falar com a garota - Né Rima-chan... posso te pedir um conselho? - perguntou o rapaz um tanto hesitante. Ele sabia que Rima jamais lhe daria conselhos de graça, ela iria no mínimo xingá-lo de travesti mentiroso inúmeras vezes, ou tentar bater no garoto
– Conselho, é... sobre? - perguntou a menina levemente interessada
– É sobre a Amu-chan - continuou o rapaz, estranhando a reação da amiga - Eu quero me entender com ela, mas não sei o que fazer...
– Sei... olha, ajudar eu até ajudo, mas não quero falar sobre isso com um mentiroso feito você - respondeu a Rainha secamente. Pronto aí estava, começaram os xingamentos
– Bem, o que quer fazer então, usar alguma outra pessoa como mensageiro?? - sugeriu o Valete num tom irônico
– Pode até ser... - respondeu Rima pensativa. Oh céus, ela levou isso mesmo a sério?! Tinha sido só uma piada! - Não quero falar sobre isso com você, mas posso falar com a Nadeshiko. Direi a ela o que fazer, e depois ela "te dá o recado".

Peraí, era sério mesmo?! Ela queria que Nagihiko voltasse a ser Nadeshiko, ali e agora?! Ele imaginou que a amiga o xingaria de uma variedade imensa de ofensas usadas para travestis e mentirosos, que bateria nele, mas não que ela pediria pra que ele voltasse a ser a Nadeshiko, afinal, a Nadeshiko era "a mentira" dele. Bom, mas se fosse só isso, talvez nem fosse tão ruim assim, afinal, o rapaz já estava mais do que acostumado a interpretar a doce e delicada Nadeshiko.

– Ah, certo... e você tem algum uniforme feminino aí sobrando pra que eu possa me trocar? - perguntou o Valete, cedendo à chantagem
– Não precisa do uniforme feminino, tenho algo melhor. Espere um pouco.

Rima se levantou, foi até o banheiro que havia no Royal Garden, e depois de alguns minutos, voltou.

– Deixei uma roupa lá, vá se trocar - disse Rima, parecendo estranhamente ansiosa
– Tá bem então... eu já volto - disse Nagihiko, com um horrível pressentimento.

O garoto foi até o banheiro, e suas piores suspeitas se confirmaram. Depois de vários minutos se perguntando se valeria ou não a pena vestir aquilo só para ouvir um conselho de Rima, que podia nem ser tão bom assim, ele acabou cedendo. Nagihiko prendeu seus cabelos num alto rabo-de-cavalo, despiu seu uniforme masculino, e colocou a roupa deixada lá por Rima, voltando assim a ser a Ex-Rainha Fujisaki Nadeshiko. Apesar de que ela não parecia nada com uma Rainha agora: Quando voltou ao Royal Garden, Nadeshiko trajava um vestido preto, que era mais curto do que a saia do uniforme escolar, com mangas curtas e fofas, com alguns detalhes de renda branca nas mangas e na barra da saia. Por cima do vestido, usava um avental branco com babados, calçava um par de meias brancas que iam até um pouco acima dos joelhos e sapatilhas pretas. E pra completar, usava uma tiara branca na cabeça. Sim, isso mesmo, Nadeshiko estava agora vestida como uma perfeita e graciosa maid. Só faltava ela carregar uma bandeja com taças pra completar. Ah, lá estava a bandeja, bem em cima da mesa onde Rima estava sentada, olhando fixamente para a Ex-Rainha, com um estranho sorriso no canto da boca.

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– Então... por que justo maid?! - perguntou Nadeshiko, incapaz de esboçar um falso sorriso, tamanha era sua indignação
– Não sei do que está reclamando, essa roupa é uma graça, você está "linda" assim - debochou Rima - Agora, menos papo e mais ação, empregada. Vamos, me sirva um pouco de chá - mandou a Rainha
– Ah, céus... Rima-chan, você tem umas fantasias bem estranhas, sabia? E por que essa porcaria dessa saia tem que ser tão curta,hein?! - comentou Nadeshiko enquanto servia o chá com uma das mãos, enquanto que com a outra, puxava a saia mais para baixo. Era realmente curta aquela saia, provavelmente a saia mais curta que Nadeshiko já vestira
– Quieta. Quer o conselho ou não quer?? - falou Rima, que parecia estar adorando humilhar "a amiga" daquele jeito
– É o único motivo de eu estar fazendo isso - respondeu Nadeshiko - Cara, isso é bem pior do que as ordens sem noção do Hotori-kun... quando penso que as coisas não podem piorar, elas pioram
– O que tem o Tadase? O que ele te manda fazer?? - perguntou Rima curiosa
– Nada, isso não importa agora - respondeu depressa Nadeshiko. Ela que não ia dar mais idéias de ordens sem cabimento para aquela garota com fetiches tão estranhos e maliciosos
– Ei, você é minha empregada agora, tem que fazer o que eu mando. Responda minha pergunta - ordenou Rima séria
– As ordens do Hotori-kun só diz respeito ao Valete. E eu sou a Ex-Rainha Nadeshiko agora, se quer saber sobre o Hotori-kun, vá perguntar pra outra pessoa - respondeu a Ex-Rainha astutamente
– Humm... muito esperta, Nadeshiko. Tudo bem, essa eu deixo passar - falou Rima, como se estivesse fazendo um imenso favor à amiga, tomando um gole de chá logo em seguida - Mas sabe... você não parece a mesma desde que brigou com a Amu. Aquele seu sorrisinho hipócrita me irrita, mas você parece ainda mais estranha sem ele. Quer que o Nagihiko faça as pazes com a Amu e volte a namorá-la, não quer?
– É óbvio que sim - respondeu a Ex-Rainha, incapaz de esconder sua impaciência
– Sabe, mesmo depois que a Amu e o Nagihiko começaram a namorar, ela ainda me parecia meio confusa às vezes... não por causa do Tadase, e sim por causa do Ikuto - comentou Rima - Mas a Amu é assim porque está rodeada de garotos incríveis e charmosos, e com personalidades e histórias tão diferentes, que ela não sabe quem escolher. Ela age assim agora, pois acredita que, mesmo se por acaso ela gostar do Ikuto, ficar com ele, e depois não der certo, ela ainda poderá voltar pro Nagihiko... ele tem que mostrar à ela que não é assim que funciona. Ele tem que deixar claro pra Amu que ele não estará sempre à disposição dela, e que, se ela pode seguir em frente e acabar gostando de outro, ele também pode vir a se interessar por outra pessoa.
– Então... está dizendo que eu... digo, que o Nagihiko deve dar uma de difícil? - perguntou a Ex-Rainha
– É, mais ou menos isso. Mais chá, empregada - falou Rima secamente
– Tá... o que você quis dizer então? - perguntou Nadeshiko, enchendo novamente a xícara de Rima
– Eu quis dizer que, além dele "dar uma de difícil", ele devia fingir estar interessado em outra garota. Se a Amu sentir que está perdendo ele, vai vir correndo se desculpar e fazer as pazes na mesma hora - explicou Rima
– Outra garota né...? É, pode até ser que funcione, mas... o Nagihiko não gosta de mais ninguém além da Amu-chan, quem poderia ser?? - indagou a Ex-Rainha
– Qualquer uma. Tem tantas garotas nessa escola que são fãs do Nagihiko, mande ele escolher uma que lhe agrade e pronto, isso é o de menos - falou Rima, como se não tivesse problema nenhum escolher alguma menina aleatoriamente e usá-la só pra chamar a atenção de Amu - Mas ele terá que passar algum tempo com essa garota em questão, principalmente quando estiver perto da Amu, pra que ela sinta ciúmes. Entendeu?
– É, acho que sim... obrigada, Rima-chan. Mandarei "o Nagihiko" fazer isso - agradeceu Nadeshiko, com aquela voz melosa e delicada, lhe dando um doce sorriso
– Agora sim parece você... você fica mesmo melhor com esse sorriso doce e enjoativo no rosto... Nadeshiko - falou Rima, sorrindo também
– Hahahahahaha... é porque a sua idéia me deu esperanças. Mas já chega de usar essa roupa de maid, ninguém merece isso, viu... eu vou me trocar. Ah, e vê se não conta sobre isso pra ninguém, ouviu?? - pediu a Ex-Rainha
– Não se preocupe, será o nosso segredo - respondeu Rima, com um sorriso um tanto maldoso.

Então, Nadeshiko voltou ao banheiro para trocar de roupa.
Enquanto isso, Amu e Tadase conversavam no portão da escola...

– Hinamori-san... ainda não fez as pazes com o Fujisaki-kun? - perguntou o Rei
– Que nada... ontem nós conversamos depois da reunião dos Guardiões, mas ao invés de nos entendermos, brigamos mais ainda - lamentou-se a Coringa
– Ele parecia estar pior mesmo hoje... o que aconteceu dessa vez? - perguntou o garoto
– Eu tentei explicar que eu não gostava do Ikuto, que é o Nagi que eu amo e que só parei a luta porque não queria ver ninguém ferido, ou que o Nagi acabasse fazendo alguma besteira da qual se arrependeria mais tarde, mas ele não quis acreditar... e depois, não sei porque, mas a conversa tomou um rumo diferente - lembrou a garota
– Como assim um rumo diferente? - perguntou Tadase
– Bem... não sei bem como, mas começamos a falar sobre a Nadeshiko... eu disse a ele que essa história de ele ser duas pessoas ao mesmo tempo ainda me confunde e me incomoda muito, e... sem querer, acabei falando umas coisas horríveis pra ele... nossa, acho que nem a Rima diria coisas tão cruéis assim... sem querer eu o chamei de Nadeshiko, e... e acabei comparando ele com o Ikuto... disse que não queria um namorado que agisse como uma menina por metade do tempo, e que ao menos o Ikuto era um homem completo - contou Amu, lembrando das palavras horríveis que dissera ao rapaz, e cobrindo o rosto com as mãos em seguida.

Realmente, Amu ainda não entendia o que dera nela pra dizer tais coisas ao garoto que amava... fala sério, nem Rima diria coisas tão cruéis assim!! (Tá, talvez a Rima dissesse sim, mas esse não era o caso agora) A garota estava mesmo muito envergonhada por lembrar das coisas que havia dito no dia anterior, ainda estava com o rosto bem vermelho, enterrado em suas mãos. Tadase a olhava boquiaberto, não conseguia acreditar que a amiga havia realmente dito tais atrocidades ao garoto que sempre a amara. Depois de algum dempo em silêncio, em que tentava absorver a informação, o Rei disse:

– Hinamori-san... você tem idéia das atrocidades que falou? Fujisaki-kun gosta de você há tanto tempo... antes de se confessar pra você, ele conversou comigo várias vezes, me pediu conselhos, pediu ajuda... acho que ele realmente sempre gostou de você, desde que era a Fujisaki Nadeshiko-san. Por isso que, desde aquela época, ele se tornou a sua "melhor amiga", porque queria estar perto de você, te proteger e cuidar de você, ainda que não pudesse ficar com você, pois naquela época ele ainda tinha que fingir que era uma garota - explicou Tadase - Sabe, não foi escolha do Fujisaki-kun interpretar o papel de uma menina doce e delicada por tantos e tantos anos... é uma tradição de família, ele teve que fazer isso por ordem dos pais. Você sabe disso, não é? E jogar na cara dele algo que ele foi obrigado a fazer contra sua vontade... desculpe te dizer isso, mas foi muito cruel
– Eu sei, eu sei! Sei que o que eu fiz foi horrível, uma tremenda barbaridade, e me sinto péssima com isso!!! - respondeu Amu exasperada - Quero pedir desculpas e fazer as pazes com ele o quanto antes, mas... não sei como falar com ele, não sei nem por onde começar... e se ele ainda estiver zangado comigo?? Além do mais, tem aquela história do baka do Ikuto! Droga, por que aquele neko estúpido tinha que aparecer pra atazanar minha vida, hein?!
– É, quanto a isso, acho que o melhor que você tem a fazer é pedir desculpas - aconselhou Tadase
– Peraí, por que EU tenho que me desculpar?! Nada daquilo foi culpa minha, a culpa foi do Ikuto!! - protestou Amu
– Hinamori-san, tente ver as coisas pelo ponto de vista dele: Imagine, por exemplo, se a Utau gostasse do Fujisaki-kun. Imagine que ela aparece do nada e começa a abraçá-lo bem na sua frente, e tenta beijá-lo, e ele não faz nada pra impedir. Como você se sentiria? - perguntou o Rei
– É... acho que... ficaria com ciúmes... - respondeu Amu, meio hesitante
– Só ciúmes?? - perguntou Tadase
– E também... acho que... ficaria com um pouco de raiva... ahhh, tá legal, eu ficaria furiosa, iria querer matar um, satisfeito?! - respondeu a Coringa, um tanto corada
– Pois foi assim que ele se sentiu. Agora, imagine se isso acontecesse, daí se você atacasse a Utau para impedí-la de beijar o Fujisaki-kun. Vocês duas começam a lutar, e justo quando você está vencendo, ele pára a luta e entra na frente da Utau, te impedindo de atacar. Como você se sentiria? - voltou a perguntar o Rei
– Me sentiria... muito mal... não ficaria só com raiva, mas ficaria... magoada também.... e muito triste... daria a impressão de que o Nagi gosta del.. OMG o que foi que eu fiiiz????!! - exclamou Amu, finalmente compreendendo o motivo da reação do Valete
– Não é nada agradável, não é? - comentou Tadase calmamente, como se isso não fosse nada - É por isso que eu te disse que você deveria pedir desculpas, não só pelo incidente com o Tsukiyomi Ikuto, mas também pela história da Fujisaki Nadeshiko-san
– Sim, você tem toda razão... obrigada Tadase-kun, você me ajudou muito, muito mesmo!! - exclamou Amu, feliz e esperançosa novamente.

Na empolgação de ver uma "luz no fim do túnel", Amu acaba se atirando nos braços do Rei, abraçando-o fortemente. O garoto fica um tanto surpreso, mas retribiu o abraço, corando um pouco. Mal sabiam eles que estavam sendo observados...

– Ali, viu só? Parece que a Amu é mais indecisa do que pensávamos - comentou Rima há alguns metros de distância, apontando para Tadase e Amu
– Não acredito... eu já havia conversado com o Hotori-kun sobre ela, mas ele me garantiu que só a via como uma amiga... e eu perguntei à ela antes de ficarmos juntos, mas Amu-chan sempre afirmou que só sentia admiração pelo Hotori-kun... então por quê...?! - murmurou o Valete, incapaz de acreditar no que seus olhos viam
– Bem, eu não sei quanto ao Tadase, mas parece que a Amu sente mais do que admiração por ele, afinal - comentou Rima com a voz mais calma do mundo, como se falasse do tempo
– Né, Rima-chan... eu não levava muita fé nesse seu plano, mas talvez não seja má idéia afinal - disse Nagihiko, lutando para se controlar
– Bem, nesse caso, darei início ao plano, então - falou Rima calmamente.

E sem mais nem menos, Rima segurou o rosto do rapaz entre suas pequenas mãos, forçando-o a se inclinar, e o beijou. O garoto ficou tão chocado com a repentina ação da amiga, que não teve qualquer reação, apenas ficou ali parado, se deixando ser beijado. A Rainha abriu um pouco um dos olhos, olhou de esguelha para o lado e, após alguns segundos, em que Rima confirmou que haviam sido vistos por Amu e Tadase, ela o soltou.

– R-Rima-chan... p-por que fez isso..?! - perguntou o Valete, levando os dedos aos lábios, com o rosto extremamante corado
– Eu lhe disse pra encontrar alguma garota e pedir a ela que fingisse ser sua nova namorada por uns tempos, não disse? Pois então, eu serei a sua falsa namorada - respondeu a garota, como se fosse a coisa mais natural do mundo uma amiga dizer isso após roubar-lhe um beijo
– M-Mas Rima-chan... por que logo você?! E também, não precisava ter me beijado... - murmurou o Valete, ainda tentando assimilar o que estava acontecendo
– Você não vai encontrar ninguém melhor do que eu, acredite - disse a garota com simplicidade - Além do mais, se não nos beijarmos, ninguém acreditára que somos namorados
– Mas Rima-chan... pensei que você me odiava. Por que está fazendo tudo isso só pra me ajudar?? - tornou a perguntar o Valete, ainda tão envergonhado quanto confuso
– Ah, eu te odeio sim. Odeio com todas as minhas forças, seu mentiroso. É por isso que você terá que me pagar por esse favor depois - respondeu a Rainha de cara emburrada
– "Pagar", é...? O que quer dizer com isso?? - perguntou Nagihiko, com medo da resposta
– Ah, não se preocupe, você não terá que fazer nada de mais... a Nadeshiko é que vai. Vi uma fantasia de líder de torcida numa loja outro dia que ficaria uma gracinha nela - respondeu Rima com um sorriso maldoso e debochado ao mesmo tempo
– Você tem mesmo uns fetiches estranhos, Rima-chan - concluiu o Valete, falando mais consigo mesmo do que com sua nova falsa namorada
– Não fale assim com sua falsa namorada - censurou a garota - Agora vamos embora, antes que a Amu e o Tadase venham até aqui e comecem com o interrogatório.

E sem dizer mais nada, Rima segurou a mão do garoto e o arrastou rua afora, ainda com um sorriso estranho no canto da boca.